Diz que na Itália está uma fofoca danada. Depois de tantos anos, volta a Igreja a ser contra a ciência, achando que o progresso desta é uma ofensa ao Altíssimo. É uma briga velha, que fez muito sábio da antigüidade virar churrasco na mão do padre.
Agora é por causa do cientista italiano que conseguiu fecundar um óvulo humano em tubo de ensaios. A "Pretapress", num de seus despachos desta semana, já noticiou o fato. O órgão do Vaticano "Osservatore delia Domenica" espinafrou o cientista Dianeli Petrucci, que foi quem conseguiu isolar o óvulo e fazer nele uma inseminação artificial, acusando o distinto de trair as Leis que o Criador colocou na natureza em geral e no homem em particular.
E com grande sucesso — acrescentamos nós, que nada temos com a briga e estamos aqui somente para relatar. Se entramos na coisa foi sem querer, como Pilatos no "Credo" ou Al Neto na imprensa.
Dianeli Petrucci, logo que foram publicadas as espinafrações ao seu trabalho de laboratório, onde, inclusive, dizia-se que o embrião humano pode ter alma desde o momento de sua concepção, concedeu entrevista aos jornalistas que foram ouvir sua opinião a respeito das restrições, todos doidos para uma fofoca. O cientista decepcionou os repórteres, ao explicar que não tomaria conhecimento de nada e continuaria o seu trabalho.
Agora, você aí, sente o drama, vá! Já tinham inventado a tal de inseminação artificial, que era um desperdício bárbaro, e eis que neste momento um sábio trabalha com afinco para firmar a geração de chocadeira, digna substituição da atual geração Mustafá, que tem pai e mãe mas ninguém diz. Parecem todos de chocadeira também.
O que nos consolou nisto tudo foi a opinião do abominável Primo Altamirando. O nefando parente é um chato, mas tem um certo equilíbrio nas suas observações.
Quando lhe mostramos o noticiário sobre o que está se passando na Itália, ele leu com ar desinteressado e depois perguntou:
— Que é que tem isso?
— Que é que tem? — repetimos. — Ora, Mirinho. A humanidade é preguiçosa. Se esse italiano descobre um método de fabricar crianças em laboratório, vai ser chato.
Altamirando deu uma gargalhada e nos acalmou com esta oportuna observação:
— Não seja trouxa, rapaz. Por mais eficaz que seja o método novo de fazer criança, a turma jamais abandonará o processo antigo.
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Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.
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