quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Comigo não

Diz que quando foi feita a batida policial na tal Boate Étoile aconteceram muitas coisas curiosas. Um dos componentes da plebe ignara, cuja ficou no sereno da coisa observando a manobra policial, conta à flor dos Ponte Pretas episódios do evento. Diz que, quando a Polícia entrou parecia que lá dentro tudo estava normal. Pares sentados nas mesas, bebericando, e pares a rodar pelo salão, a dançar de rosto encostado.

Só quando acenderam a luz é que as autoridades perceberam que vários dos rapazes que fumavam cachimbo ou charuto, nas mesas, eram senhoras masculinizadas. Assim como os homens que, com gestos másculos apertavam suas damas na pista de dança, eram todos madamas disfarçadas, berrando com voz grossa que aquilo era um absurdo. Houve até madama disfarçada que quis sair no braço com os guardas.

Contornada a primeira dificuldade, que foi serenar os ânimos das "valentes" senhoras, o delegado mandou que fossem em cana todos os presentes, para o que havia um tintureiro lá fora, à guisa de condução. E então deu-se o desfile aos olhos da plebe ignara: senhoras com botina de soldado, senhoras de gravata, senhoras até de bigodinho tipo alegria-de-suburbana. Uma das senhoras, na hora de embarcar na viatura, protestou, dizendo:

— Quando eu chegar em casa minha mulher vai ficar danada. — Dito o que, arregaçou um pouco as calças de brim coringa e subiu pro tintureiro.

Na delegacia ficou-se sabendo que as madamas machonas só se tratavam pelo sobrenome, para dar um ar mais machão à coisa, isto é, só se chamavam de Azevedo, Moreira, Gonçalves, etc., exigindo o maior respeito para com suas namoradas, todas muito frágeis, mas também em cana.

Vai daí o delegado começou a registrar o nome das madamas no livro de ocorrências. Primeiro respondeu uma de charuto na boca, dizendo chamar-se Barroso; depois de uma outra de bigodinho fino à Clark Gable, que se identificou como sendo o Magalhães e assim sucessivamente. Até que o delegado chegou ao final da fila, perguntando à figurinha que estava encolhida:

— E você aí, como é seu nome?

— Paulo — foi a resposta.

— Paulo??? — estranhou o delegado: — Quer dizer que a senhora é a única que não se identifica pelo sobrenome?

— Seu delegado — respondeu o coitado —, o senhor tá enganado. Eu não sou mulher não. Eu sou o garçom da boate.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

Flávio, o implacável artilheiro

O centroavante Flávio fez a alegria de muitas galeras. Mais precisamente, do Internacional, Corinthians, Fluminense, Porto (Portugal), Pelotas, Santos, Figueirense, Brasília e Wilstermann (Bolivia). Ao todo, atingiu a espantosa marca de 603 tentos, nove dos quais marcados em rápida passagem pela Seleção. Mas foi nos clubes que conseguiu seus feitos mais notáveis: a artilharia do Campeonato Paulista de 1967, dos Cariocas de 1969 e 1970, do Gaúcho de 1977. Sem falar no Brasileirão de 1975, quando marcou dezesseis vezes com a camisa 9 do Internacional.

Flávio Almeida da Fonseca, também conhecido como Flávio Minuano, Flávio Bicudo ou simplesmente Flávio, nasceu em Porto Alegre, RS, em 09/09/1944. Foi um centroavante artilheiro, goleador de diversas competições. Quando menino, era músico (tocava saxofone) e entregava jornais, profissões que trocou depois pela de jogador de futebol.

Começou no Real Madri, equipe de várzea da cidade de Porto Alegre, de onde ele se transferiu para o Sport Club Internacional em 1959. Logo no teste que fez para tentar ingressar nas equipes infantis do Inter, marcou 3 gols em 35 minutos. Ingressou no time principal do Internacional em 1961, sendo campeão gáucho aquele ano e ganhando o apelido de Flávio Bicudo, com o qual foi convocado para a Seleção Brasileira em 1963.

Em 1964 transferiu-se para o Sport Club Corinthians Paulista, onde jogou até 1969 sem conquistar nenhum título paulista, mas sendo o artilheiro do estadual de 1967 com 21 gols (superando Pelé) e sendo autor de um dos gols que quebrou o tabu de 11 anos que o Corínthians ficou sem ganhar do Santos Futebol Clube. Foi neste período que ganhou do locutor Geraldo José de Almeida o apelido de Flávio Minuano, numa alusão ao vento minuano, característico do Rio Grande do Sul.

De São Paulo, Flávio transferiu-se para o Fluminense Football Club em 1969, sendo campeão carioca logo no primeiro ano. Era uma época de clássicos com o Maracanã lotado e mais de 171.000 pagantes na final deste campeonato, um Fla-Flu sensacional, em que o Fluminense venceu por 3 a 2, de virada, com Flávio sendo o grande herói da conquista. Pelo Fluminense, Flávio foi ainda campeão do Campeonato Brasileiro em 1970 e do Campeonato Carioca de 1971, marcando 92 gols em 115 partidas disputadas neste período. No Campeonato Brasileiro de 1970 não pode jogar as últimas quatro partidas, vindo a perder a artilharia nacional na última rodada, por diferença de um gol.

Após a sua passagem pelo Fluminense, Flávio se transferiu para o Futebol Clube do Porto, de Portugal, onde manteve a fama de matador, marcando mais de 70 gols por este clube.

Voltou para o Brasil e para o Internacional em 1975, reestreando num grenal (dia 13 de julho) em que marcou um gol logo aos 4 minutos, ajudando a construir a vitória do Inter por 2 a 1. Quatro semanas depois, na decisão do campeonato gaúcho, em novo grenal, Flávio marcou na prorrogação o único gol da partida, dando ao Inter o título de heptacampeão. Nos meses seguintes, foi artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1975, ajudando a construir o primeiro título nacional de um clube gaúcho.

Em 1977, transferiu-se depois para o Esporte Clube Pelotas, pelo qual foi artilheiro do campeonato gaúcho. Ainda jogou depois em outros clubes até 1981, sem o mesmo sucesso de antes. Atualmente, Flávio trabalha com escolinhas infantis de futebol em São Paulo, no distrito de Ermelino Matarazzo.

Flávio afirma ter feito 1.070 gols em toda sua carreira. Sobre o milésimo gol, ele fala: "Foi quando eu jogava pelo Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, em uma partida contra o Caxias no Alfredo Jaconi. Acho que foi empate de 3 a 3. O pessoal lá comemorou, teve um oba-oba, mas foi uma coisa superficial. O Brasil não ficou sabendo".

Títulos

Pelo Internacional: Campeonato Gaúcho: 1961, 1975, 1976 - Campeonato Brasileiro: 1975; pelo Corinthians: Torneio Rio-São Paulo: 1966; pelo Fluminense: Campeonato Carioca: 1969, 1971 - Campeonato Brasileiro: 1970.

Artilharia

Pelo Corinthians: Torneio Rio-São Paulo: 1965 (13 gols) - Campeonato Paulista: 1967 (21 gols); pelo Fluminense: Campeonato Carioca: 1969 (15 gols), 1970 (18 gols); pelo Internacional: Campeonato Brasileiro: 1975 (16 gols); pelo Pelotas: Campeonato Gaúcho: 1977 (13 gols).

Fontes: Revista Placar; Wikipédia.