segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O pastelzinho

Uma noite, duas semanas antes do casamento, conversava com alguns amigos no café. Súbito, um deles baixa a voz e faz-lhe a pergunta:

— Sabe onde é que se decide um casamento?

— Não.

E o outro:

— Na primeira noite. A primeira noite é tudo e o resto não tem importância.

Sérgio ouviu, sem fazer comentário. O outro era casado, bem casado, e tinha a autoridade de quem conhecia o problema. Continuou e mudaram de assunto. Mas quando, uma hora depois, desfez-se o grupo, o amigo o levou até a esquina. E, lá, repete:

— Não te esqueças: — é preciso caprichar na primeira noite. Bye, bye.

O impressionado Sérgio balbuciou:

— Bye, bye.

EMOÇÃO

Morava na rua Adriano, no Méier. A caminho de casa, no lotação, ia pensando na advertência do amigo, que passava por ser uma enciclopédia amorosa. E Sérgio, que era por natureza um emotivo, sujeito a angústias inenarráveis, começou a entrever possibilidades nupciais as mais desagradáveis. Durante a noite sonhou repetidas vezes com o amigo, que lhe repetia sinistramente: — “Olha a primeira noite. Capricha, capricha!”. Acordou banhado em suor.

Mais tarde, no trabalho, permanecia o mal-estar. E a situação parecia-lhe grotesca, hedionda: faltavam duas semanas para o casamento e já estava nervoso. Durante uma semana não pensou noutra coisa. Acabou indo a um médico. Chega lá e abre o coração:

— Doutor, o que há é o seguinte: — vou me casar daqui a uma semana. Tenho medo, justamente, do meu sistema nervoso, das minhas inibições.

O médico insinua:

— Quer um calmantezinho?

E ele, de olho aceso:

— Talvez fosse negócio, não, doutor?

Mas o outro volta atrás:

— Não precisa. Pra quê? A solução é ter confiança em si mesmo, procurar distrair as idéias.

Agoniado, quer saber: — “E não vou tomar nada?”. O médico, cheio de otimismo, deu-lhe o conselho:

— Faz o seguinte: — no dia do casamento, evita salgadinhos e doces. O ideal seria um bife, um bom bife. Carne assada, sangrenta. Nada de pastéis, de empadinhas, de coisas apimentadas.

Ao lado, o noivo escutava:

— Compreendo, compreendo.

Saiu crente do consultório que a chave da lua-de-mel era o aparelho digestivo. Ao descer do médico, dá de cara, por uma dessas fatalidades cômicas, com o tal amigo. Este diz-lhe, em tom cavo e voz profunda:

— A primeira noite é tudo!

NÚPCIAS

Eis a verdade: — a conversa com o médico dera-lhe ânimo novo. Passou a pisar mais firme, a olhar os outros de cima para baixo e, no telefone, ao despedir-se da pequena, encostava a boca no fone:

— Um beijinho bem molhado nessa boquinha!

Entre parênteses, a garota, com dezoito anos, jeitosa de corpo e de rosto, era, como dizia o próprio Sérgio, um “doce-de-coco”, um “arroz-doce”. Educadíssima ou, segundo se comentava, “muito espiritual”, era incapaz de usar expressões de gíria, de dar uma gargalhada ou, simplesmente, cruzar as pernas. Fisicamente era um tipo fino, de poucas cadeiras, uma linha muito aristocrática. Ele dizia: — “Nunca espirrou na minha frente. E outra coisa: — não transpira! Te juro que nunca vi a Dalva suada”.

De fato, nenhuma pele mais isenta de espinhas, de manchas, mais fresca, mais cheirosa e mais suave. Custava crer que essa imagem de graça intensa, essa flor de espiritualidade tivesse nascido e, pior do que isso: — ainda morasse na Saúde.

Muito carioca, estabanado, Sérgio mudava diante da noiva assim doce e assim macia. Sem querer, ele a tratava com relativa e involuntária cerimônia. O chamado “beijo bem molhado” era a máxima liberdade verbal que se permitia. Mas, na véspera do casamento, ela o chamou de lado. No seu jeito manso, começou:

— Vou lhe pedir um favor, meu filho.

Abriu-se:

— Pois não!

E ela:

— Eu não queria que você falasse mais em “beijo molhado”. Acho tão sem poesia!

Pela primeira vez, Sérgio quis resistir:

— Mas, meu bem, escuta cá: — por quê?

Explicou:

— É o seguinte: — quando você fala assim eu penso logo em saliva.

O outro animou-se:

— Mas por isso mesmo! A graça do beijo está, justamente, na saliva, meu anjo. — E insistia, já inspirado: — Na mistura de saliva.

Dalva encerrou a discussão com a sua doçura irredutível:

— Eu não penso assim.

Sérgio transigiu, imediatamente:

— Está bem, coração. Todo o meu interesse é de te agradar.

A TRAGÉDIA

No dia, houve o casamento, no civil e no religioso. Na igreja, de joelhos diante do altar, ele julgava ouvir, alternadamente, a voz do amigo e a do médico. Uma dizendo: — “A primeira noite é tudo”. E a outra: — “Nada de salgadinhos! Nada de doces!”. De fato, desde as primeiras horas do dia que observava um extremo rigor de alimentação. Renunciara ao leite, que podia fazer mal ao fígado; alimentara-se, sobretudo, de frutas acima de qualquer suspeita: — bananas e mamão. Não almoçara, porque a hora do almoço coincidira com a do civil. Ao sair da igreja, sentia fome. Chegara de volta à casa dos sogros com fome. Viu os salgadinhos, os doces e, a despeito de uma tentação violenta, manteve-se irredutível. De vez em quando, pessoas da casa passavam com pratos de sanduíches, de pastéis, de doces. Perguntavam:

— Aceita um?

Respondia, heróico:

— Não, obrigado.

Ficou, assim, inexpugnável, até o fim. A noiva que, por natureza, tinha um apetite de passarinho, não tocou em nada. Minto: — aceitou um pastelzinho. Ele ainda teve vontade de sugerir-lhe: — “Não faça isso!”. Calou-se, porém. Por fim saíram, de táxi alugado, para um hotel no centro, onde tinha alugado um apartamento no décimo segundo andar para a lua-de-mel. Ao entrar no carro, Dalva balbucia: — “Não sei, mas não estou me sentindo bem”. Sem dizer nada, guardou para si a intuição:

— “Foi o pastelzinho”. No meio do caminho, novo lamento: — “Estou me sentindo tão mal!”. Falara de dentes trincados. Disse ainda: — “Tomara que a gente chegue logo, tomara!”. Sentindo a angústia do ser amado, comandou o chauffeur. — “Quer andar mais depressa?”. Ao lado, Dalva crispava-se toda, gelada de dor. Sérgio baixa a voz:

— Queres que eu compre elixir paregórico?

— Não diz isso: Não diz nada. Só quero é chegar, meu Deus!

Ia balbuciando: — “Não sei se agüento! Não sei se agüento!”. Ele finalmente diz: — “Foi aquele pastelzinho, não foi?”. Ela arquejava, chamando a atenção das pessoas.

Sobe o elevador com o marido, que apanhara a chave. Lá em cima, exigiu: — “Não entra, fica no corredor!”. Ele espera uns vinte minutos. Nada. Empurra e vem, então, lá de dentro, o berro: “Não!”. Da porta, pergunta: — “Queres elixir paregórico?”. Outro “não” violento.

Mais meia hora e quer forçar a situação. Entra. Mas quando Dalva percebe que o marido está ali, alucina-se. Ele a viu correr em direção da janela, trepar no parapeito e atirar-se lá de cima, do décimo segundo andar, deixando no ar o seu grito em flor.

Meia hora depois, chegam parentes, amigos, simples conhecidos. Diante da morte de uma noiva, em sua primeira noite, insinuou-se, em todos os espíritos, a idéia de um tenebroso crime sexual. O sogro de Sérgio agarrou-o pela gola e o sacudiu, aos berros:

— Ela matou-se por que?

Respondeu, num soluço imenso:

— Uma cólica a matou! Foi o pastelzinho!

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A coroa de orquídeas e outros contos de A vida como ela é... / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Atitudes do perfeito cavalheiro

1. Ao andar na calçada com ela, você fica para o lado da rua: esta tradição vem dos tempos antigos onde as mocinhas, ao caminhar pelo lado interno da calçada, eram protegidas pelas sacadas e balcões das casas e, assim, não corriam o risco de serem atingidas por vasos ou qualquer coisa atirada pela janela. Hoje o cavalheiro, ao andar pelo lado de fora, a está protegendo do tráfego e eventualmente de poças de água atingidas pelas rodas de carros.

2. Na escada rolante, existe ordem dos fatores: ainda no sentido de proteção, ao entrar em uma escada rolante que sobe o homem deve dar a passagem à dama, mas quando for o sentido inverso, ou seja, a escada desce, é o cavalheiro que vai na frente. E por que isso? Se a mocinha se desequilibrar, o rapaz estará lá para segurá-la. Sinta-se um herói por isso.

3. Ela se senta antes: é sempre muito elegante puxar a cadeira para uma moça se sentar. Mostra que você a quer confortável e à vontade. Em restaurantes, porém, onde o maitre ou o garçom fazem essa distinção, você deve aguardar para que ela sente primeiro, sem dar muito na cara.

4. Abra a porta do carro: aqui é um ritual interessante que faz um sucesso tremendo no primeiro encontro, mas não deve ser esquecido nos seguintes. Espere a daminha fora do carro. Quando ela chegar, abra a porta do seu carro, deixe que ela se acomode confortavelmente. Feche a porta, contorne o carro POR TRÁS, e só então entre. De Fusca a Ferrari, a regra é a mesma.

5. Segure a porta para ela: em qualquer pesquisa que você ler, 90% das mulheres acham que um homem que segura a porta para ela passar é o máximo. E você não deve praticar isso só com quem conhece e não só com mulheres. Demonstrar respeito e educação pelos outros não arranca pedaço.

6. Ofereça seu casaco: em tempos de aquecimento global (onde a temperatura muda a todo instante) e de moda com os ombros para fora, essa regra é mais atual do que nunca. A mocinha, no sentido de ficar sensual para você, poderá usar uma peça de vestuário mais aberta e, se o tempo mudar, seguramente vai passar frio. Se você notar que sua companhia feminina está desconfortável com o clima, imediatamente ofereça seu casaco a ela. Mesmo que ela recuse, repita a oferta se notar que a temperatura está caindo. Lembre-se: você é um homem, logo você pode sentir frio. Ela não.

7. Ofereça seu lugar: mais uma regra que deve ser aplicada para qualquer mulher, conhecida ou não, e também para idosos e portadores de deficiência (digo tudo isso, porque mesmo nos locais onde existem assentos reservados a esse público, muita gente não respeita). No caso das mulheres, uma atitude dessas mostra que você está colocando o bem-estar dela acima do seu e sabe o que isso significa na cabeça feminina, não é?

8. Faça o pedido no restaurante: hoje as mocinhas trabalham, têm seu dinheiro e são mais independentes. Dividir a conta no restaurante é atitude comum e não ofende ninguém (menos no primeiro encontro, rapaz. Lembre-se que você quer impressionar). Acontece que, apesar de tudo isso, ainda é de bom tom o homem fazer o pedido do casal, uma vez que denota um interesse em deixá-la mais confortável e mais à vontade, não tendo que se preocupar com esses chatos detalhes operacionais da refeição.

9. Se estiver chovendo, você segura o guarda-chuva: aqui acontece aquela oportunidade maravilhosa de andar agarrado um ao outro, mas o objetivo é mantê-la seca. Sendo assim, se o guarda-chuva for pequeno demais para os dois, você, macho da espécie, deve se molhar mais. Com certeza, você passará aquela imagem de que se preocupa com os outros, especialmente pelo conforto dela.

10. Acenda o cigarro dela: mesmo em uma época de cruzadas antitabagista, ainda vale a pena resgatar uma tradição dos filmes dos anos 40 e rapidamente pegar seu isqueiro quando a ver colocando um cigarro na boca. Se não é cavalheirismo, pelo menos é charmoso pacas.

Fonte: insoonia

Oito verdades sobre as mulheres

1 – Ela nunca vai gostar da sua mãe.

Essa é a verdade máxima que é necessário encarar. Mesmo se ela não for do tipo mãe à moda antiga – que se mete, liga todos os dias – e até elogia a comida da sua mulher, não existe espaço para sua mãe na vida conjugal. Até porque ninguém é perfeito e ela um dia vai escorregar e te tratar como “filhinho”.  Claro que isso não exclui um relacionamento cordial e até afetuoso, mas não confunda isso com amor. Então, para garantir sua sanidade mental, aja como um juiz e mantenha distância entre as duas.

2 – Você vai transar bem menos depois do casamento.

Não se espante com essa informação e nem ache que é porque o amor acabou. Como se sabe, a energia sexual, a libido, pode ser canalizada para diversas outras tarefas, como a atividade intelectual, prática de esportes. E nisso as mulheres são craque. Depois de trabalhar feito louca, ouvir reclamação do chefe, correr para cumprir um prazo, pegar trânsito, arrumar a casa, você acha que ela vai pensar em fazer sexo, meu amigo?

3 – Uma manicure será muitas vezes mais importantes do que você.

Não é TPM (tensão pré-menstrual) e acontece mais vezes por mês. Chama-se na verdade Tensão Pré-Manicure. Ataca pelo menos uma vez por semana quando o esmalte começa a descascar, a cutícula resseca e começa a ficar aparente e parece que todos os problemas do universo estão concentrados nos dez dedos da sua mulher. Entenda e respeite isso.

4 – As mulheres não acham normal os homens terem barriga.

A mulher não enxerga nenhuma vantagem na barriga masculina: é comprovadamente maléfica à saúde (o aumento da circunferência está associado a maior incidência de doenças coronárias), é feio e atrapalha na hora de fazer sexo. Se você ainda não achou grave e não pretende se livrar da sua, leia novamente o item 2 desta matéria.

5 – Ela acha que você não sabe tomar banho.

Para elas, existem dois tipos de homens, os que tomam banho em cinco minutos e os que demoram mais de meia hora. O resultado disso é o mesmo: a higiene não foi bem-feita. Isso porque parece que homens não aprenderam a tomar banho e, desde meninos, prestaram atenção apenas aos bichinhos na banheira. As áreas mais críticas são a íntima, pescoço, pés e cabelos.

6 – Ela não gosta de suas saídas para jogar futebol com os amigos.

Se sua mulher nunca reclamou das suas saídas para jogar futebol com os amigos e, depois, fazer aquele churrasco e beber muito mais que um copinho de cerveja, desconfie. Ou ela tem outros (ou “outro”) interesse que não seja você, ou de tanta cerveja e picanha, sua barriga já chegou ao patamar do item 4.

7 – Ela nunca vai gostar dos elogios feitos à sua secretária.

Este item é muito delicado. Sua mulher pode até conhecer a moça, seu marido e os filhos; ou a funcionária ter 50 anos apenas de profissão, mas não adianta, é com ela que você passa a maior parte do tempo. Ou seja, se a moça não for do tipo arrasa-quarteirão (capaz de causar ciúme a uma freira), e ela que domina sua agenda, sabe de todos seus compromissos e de muitos segredos. E, claro, não faria nada para perder o emprego.

8 – Ela odeia que você escute mais a opinião dos comentaristas esportivos do que as dela.

Você acha ruim que ela repita ou reclame várias vezes sobre a mesma coisa. Mas por que aguenta ouvir 500 vezes o mesmo assunto ser discutido nos inúmeros programas esportivos da televisão? Muitas vezes os caras parecem mais ranzinzas do que qualquer mulher de mau humor. E mais: entre os programas matinais, os jogos da tarde e as discussões noturnas, você deve passar pelo menos umas seis horas ouvindo as mesmas informações. Fora quando vai ao banheiro e leva o rádio ou escuta as transmissões no carro. Por isso, ela não entende porque custa tanto a você passar duas horas no supermercado ou no shopping fazendo companhia.

Fonte: http://piras.wordpress.com/

Aprenda a compor pagode

As músicas de pagode, devido as suas letras extremamente complexas e inteligentes, são muito difíceis de compor. Buscando auxiliar os pagodeiros na difícil tarefa de criar as tão elaboradas musicas, O Lombrigão (Bacana da net), fez um esquema de auxílio para composição de músicas de pagode.

Para utilizá-lo, basta seguir da primeira coluna até a oitava, pegando aleatoriamente os textos dos retângulos de cada coluna, montando assim a maravilhosa letra do seu pagode.

Curiosidades inúteis do futebol

Um chute forte, de 90 km/h, percorre os 11 metros entre a marca do pênalti e o goleiro em 440 milésimos de segundo.

Durante uma partida, um jogador corre de 10 a 13 quilômetros. Em 1970, essa marca variava de 5 a 7 quilômetros.

Em fevereiro de 2004 a Nike lançou a mais leve camisa da Seleção Brasileira na história. O modelo pesava, seco, 155 gramas. O uniforme da Copa do Mundo de 2002 pesava 188 gramas, e o da Copa do Mundo de 1994, 215 gramas.

Depois de cabeceada, a bola viaja a uma velocidade de 50 a 60 km/h.

O gol mede 7,32 x 2,44 metros.

O primeiro jogo de futebol no Brasil foi disputado em 14 de abril de 1895, na Várzea do Carmo (SP). As 2 equipes eram de ingleses radicados em São Paulo. O Placar foi Companhia de Gás 2 x 4 São Paulo Railway.

Um ano antes, Charles Miller, paulista filho de ingleses, retornou da Inglaterra, onde fora estudar, trazendo 2 bolas, livros de regras e experiência como jogador do time inglês Southampton.

Bicho, no futebol, começou a ser usado em 1923. Trata-se da gratificação dada aos jogadores de um time por uma vitória ou um empate numa partida.

O primeiro jogo de futebol com transmissão colorida no Brasil foi um 0 X 0 de um amistoso entre uma seleção de Caxias do Sul e o Grêmio. Disputado no dia 19 de fevereiro de 1972, era parte da programação da Festa da Uva da cidade. Essa experiência da TV Difusora de Porto Alegre foi retransmitida pelas TVs Rio, do Rio de Janeiro e de Brasília, e pela TV Record, de São Paulo.

Cerca de 51 mil pessoas poderiam ficar de pé num campo de futebol.

Fonte: www.vocesabia.net

Deu mãozinha no milagre

É o milagre que ajuda o padre ou é o padre que ajuda o milagre? Pelo menos em tese, o milagre deveria ajudar o padre. Entretanto, o piedoso Padre Poclat, do bairro de Senador Canedo, em Goiânia, resolveu que — na prática - pode ser contrário.

O telegrama vindo de lá diz assim: "Por ter umedecido uma imagem de Jesus Cristo, fabricada em gesso, para fazê-la chorar, o Padre Poclat foi advertido pelo Arcebispo de Goiânia, Dom Fernando Go­mes que lhe determinou a cessação imediata de explora­ções sobre a imagem, sob pena de ser castigado pela Igreja".

Diz que o vivíssimo sacerdote, diante da vazante em seu templo, resolveu ser mais realista do que o rei (ou mais divino do que Deus, se preferem) e anunciou, du­rante a missa, que a imagem de Nosso Senhor Jesus Cris­to, ali entronizada, começara a chorar de desgosto. Foi o quanto bastou para que a plebe ignara ficasse mais assa­nhada que um galo velho no galinheiro das frangas. Uma grande romaria mandou-se para o local.

Mas parece que o Arcebispo — embora não sendo Alziro Zarur, que fala com Jesus em vários programas de rádio, todos patrocinados — desconfiou do milagre e man­dou sindicar. O resultado foi o já descrito: uma bronca do Arcebispo para a qual o Padre Poclat teve uma resposta realmente desconcertante: mandou dizer ao superior que o "milagre" se transformara numa situação de fato "que nem Dom Fernando pode mais deter".

É a coragem de afirmar de que fala Eça de Queiroz em "A Relíquia". O negócio é ter peito para afirmar; o resto pode deixar que a crendice popular funciona me­lhor do que o melhor dos public relations.

O exemplo desse milagreiro de araque serve para ilustrar a teoria do escritor português e serve também para ilustrar o dito que Tia Zulmira costuma repetir, precisamente para casos como esse do Padre Poclat: "Certos padres, quando pe­dem para Deus, estão pedindo para dois".
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

O primeiro uso das impressões digitais

Em 28 de julho de 1858, impressões digitais foram usadas pela primeira vez para fins de identificação por um funcionário da administração britânica. Mas a polícia só incorporou o método em investigações 31 anos depois.

Era irritante! Toda semana, sir William Herschel, que trabalhava na administração civil inglesa em Calcutá, fazia o pagamento dos funcionários indianos. E toda vez era a mesma coisa: havia mais gente para receber que o número real de empregados. 

William não conseguia diferenciar as pessoas nem pelo nome e muito menos pela aparência. Elas lhe pareciam todas iguais. Até que, enfim, teve uma brilhante ideia: arquivou a impressão digital de cada um dos empregados. A partir daí, quando eles recebiam o salário, tinham que, além de assinar um papel, deixar a marca dos dedos indicador e médio, que seriam comparados à impressão arquivada.

A identificação era perfeita e ele nunca mais teve problemas. Sua intenção maior era fazer uma pressão moral e não tanto um apurado trabalho de comparação das digitais. Esta idéia, entretanto, não foi inédita. Já no século 14, na Pérsia, há registros de papéis oficiais que continham, ao lado da assinatura, uma impressão digital como comprovante de autenticidade. Ninguém sabia ainda que a digital é uma absoluta prova de individualidade. 

Quanto mais impressões digitais William colecionava, mais ele se convencia de que se tratava de uma identificação única, sem margens de erro. Sua suposição estava certa. Todos nós temos nosso próprio  e exclusivo modelo digital. Cada particularidade do desenho da pele das mãos é única, e este modelo não sofre  modificações com o passar dos anos, nem é transferido geneticamente. Isto significa que todas as pessoas, incluindo as que já morreram e as que nascerão, podem ser diferenciadas uma das outras através da impressão digital.

Nem mesmo uma cicatriz no dedo é capaz de alterar a identificação. A polícia só precisa de uma parte da superfície, seja uma curvatura, um nó ou mesmo um redemoinho das finas linhas do dedo, para realizar o trabalho de investigação. Mas, desde a iniciativa de Herschel em 1858 até seu uso para fins policiais, passaram-se décadas. 

A polícia usava o método de Alphonse Bertillion, que identificava um suspeito através da medição do antebraço, da coxa, da circunferência do crânio, da distância entre os dois olhos. Se isto não bastasse, o método previa outros 243 critérios. Porém, um erro da Justiça aboliu este método. Um homem foi executado como assassino de uma prostituta.

Após sua morte, seu advogado apresentou restos de uma xícara de café que havia sido destruída na cabeça da vítima. Embora o homem executado tivesse enorme semelhança física com o verdadeiro assassino, as impressões digitais nos cacos da xícara comprovaram que seu cliente não poderia ser o autor do crime. Este caso teve tamanha repercussão que a impressão digital acabou sendo definitivamente adotada pela polícia. 

A datiloscopia, como é chamado o sistema de identificação por meio de impressões digitais, foi empregada pela primeira vez na Alemanha em 1903, pelo departamento criminal de Dresden. Em 1914, quase todos os países já utilizavam este sistema.

Fonte: http://www.odebate.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=14979&Itemid=17

A moça e a calça

Foi no Cinema Pax, em Ipanema. O filme em exibição é ruim: “O menino mágico.” Se mágico geralmente é chato, imaginem menino. Mas isto não vem ao caso. O que vem ao caso é a mocinha muito da redondinha, condição que seu traje apertadinho deixava sobejamente clara. A mocinha chegou, comprou a entrada, apanhou, foi até a porta, mas aí o porteiro olhou pra ela e disse que ela não podia entrar:

- Não posso por quê?

- A senhora está de “Saint-Tropez”.

- E daí?

Daí o porteiro olhou pras exuberâncias físicas dela, sorriu e foi um bocado sincero: - Por mim a senhora entrava (Provavelmente compeltou baixinho:...e entrava bem.) Mas o gerente tinha dado ordem de que não podia com aquela calça bossa-nova e, sabe como é... ele tinha que obedecer, de maneira que sentia muito, mas com aquela calça não.

- O senhor não vai querer que eu tire a calça.

Nós, que estávamos perto, quase respondemos por ele: - Como não, dona! – Mas ela não queria resposta. Queria era discutir a legitimidade de suas apertadas calças “Saint-Tropez”. Disse então que suas calças eram tão compridas como outras quaisquer. O cinema Pax é dos padres e talvez por causa desse detalhe é que não pode “Saint-Tropez”. A calça, de fato, era comprida como as outras, mas embaixo. Em cima era curta demais. O umbigo ficava ali, isolado, parecendo até o representante de Cuba em conferências panamericanas.

- Quer dizer que com minhas calças eu não entro? – Quis ela saber ainda uma vez. E vendo o porteiro balançar a cabeça em sinal negativo, tornou a perguntar: - E de saia?

De saia podia. Ela então abriu a bolsa, tirou uma saia que estava dentro, toda embrulhadinha (devia ser pra presente). Desembrulhou e vestiu ali mesmo, por cima do pomo de discórdia. No caso, a calça “Saint-Tropez”. Depois, calmamente, afrouxou a calça e deixou que a dita escorresse saia abaixo. Apanhou, guardou na bolsa e entrou com uma altivez que só vendo.

Enquanto rasgava o bilhete, o porteiro comentou:

- Faço votos que ela tenha outra por baixo.

Outra calça, naturalmente.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: PONTE PRETA, Stanislaw. Primo Altamirando e elas. 3.ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. p.140-142.

Arinete, a mulata

Começou num ônibus de São Gonçalo (RJ). Lá vinha ele sacudindo a carcaça pelos buracos niteroienses, naquele calor da tarde. Os passageiros suados e sonolentos, jogados uns contra os outros, no desagradável conta­to da promiscuidade dos coletivos.

O soldado da Polícia Militar, Aroldo, era o único passageiro cujo coração pul­sava além do indispensável para continuar vivendo até as palpitações de novas esperanças. É que no coração do guarda Aroldo já vivia essa esperança, na figura de Arine­te, mulata boa que Deus a conserve no esplendor de tanta saúde. Nome todo: Arinete da Conceição, como convém as mulatas. E lá ia o velho ônibus de São Gonçalo (RJ), castigado pelos buracos niteroienses.

De vez em quando o braço nu de Arinete encostan­do na farda do Aroldo. Foi quando ela abriu a bolsa para retocar a maquiagem. Ao abri-la o espelhinho preso por dentro revelou lá no fundo a maior 45. Aroldo viu a pisto­la. Meteu o olho no espelhinho de novo e lá estava o refle­xo: a maior 45.

Tinha que cumprir o seu dever e deter a mulata. Ia ser triste, prender aquilo para fins outros que não os que trazia em mente. Mas vem cá: e se prendesse a mulata e depois ficasse amiguinho dela e coisa e tal? Hem? Estava precisando de um pretexto, não estava? Não pensou duas vezes. Deu a voz de prisão e aí foi aquele delírio no Mara­canã. Arinete era boa de tudo, inclusive de bronca. Falou que a arma era dela e daí? Que não era bandida não, mas tinha pistola para se defender dos vagabundos.

A plebe ignara em volta, cansada de tanto assalto, que assalto naquela zona é que nem quadro ruim no Mu­seu de Belas-Artes — tem às pampas — a plebe ignara, eu repito, ficou logo a favor do guarda. Arinete da Concei­ção berrou mais alto: que em carro de radiopatrulha ela fazia um escândalo mas não entrava; que estava quieta no seu canto e ninguém, ouviu?, ninguém podia acusá-la de nada.

Aroldo Soares (o guarda) então propôs: "E se formos de braço dado até a delegacia, como um casal qualquer?" (Palavra de honra, tá aqui no jornal e não me deixa men­tir). Arinete topou e assim foi: braço dado e a maior 45 na bolsa. Ao subdelegado Joel Machado, do 12 Distrito de Niterói, explicou que achara a pistola na rua: "E fiquei com ela pra mim pra proteger minha beleza. Graças a Deus nunca precisei usá-la, mas se for preciso eu uso".

O subdelegado explicou que não podia; a arma tinha que ser confiscada e — depois de sindicar — soube que Arinete tem mesmo ficha limpa. É doméstica correta e seus patrões não têm queixa dela. Foi liberada e saiu bamboleando aquilo tudo de mulata, para o seu domicílio.

Ao guarda Aroldo resta a esperança de muito breve­mente andar de novo de braço dado com Arinete. Já en­tão ela irá desarmada e o casal não estará caminhando rumo ao distrito. De jeito nenhum. Seu destino é outro, seu destino é outro.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.