quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A bolsa ou o elefante

Começou a história com a senhora prometen­do ao filhinho que o levava para ver o elefante. Prometi­do é devido, a senhora foi para o Jardim Zoológico da Quinta da Boa Vista e parou diante do elefante. O garotinho achou o máximo e não resta dúvida que, pelo menos dessa vez, o explorado adjetivo estava bem empregado. Mas sabem como é criança, nem com o máximo se conforma:

— Mãe, eu quero ver o elefante de cima.

Taí um troço difícil: ver o elefante de cima. Mas se criança é criança, mãe é mãe. A senhora levantou o filho nos braços, na esperança de que ele se contentasse. Foi quando se deu o fato principal da história. A bolsa da se­nhora caiu perto da grade e o elefante, com a calma paquidérmica que deu cartaz ao Feola, botou a tromba pra fora da jaula, apanhou a bolsa e comeu.

E agora? Tava tudo dentro da bolsa: chave do carro, dinheiro, carteira de identidade, maquiagem, enfim, es­sas coisas que as senhoras levam na bolsa. A senhora fi­cou muito chateada, principalmente porque não podia ficar ali assim... como direi?... ficar esperando que o ele­fante devolvesse por outras vias a bolsa que engolira. Era uma senhora ponderada, do contrário, na sua raiva teria gritado:

- Prendam este elefante!

Pedido, de resto, inútil, porque o elefante já estava preso. Mas, isso tudo ocorreu numa segunda-feira. Dias depois ela telefonou para o diretor do Jardim Zoológico, na esperança de que o elefante já tivesse completado o chamado ciclo alimentar.

Não tinha. Pelo menos em relação à bolsa, não tinha. O diretor é que estava com a bronca armada:

— O que é que a senhora tinha na bolsa? O elefante está passando mal, — disse o diretor.

E a senhora começou a imaginar uma dor de barriga de elefante. É fogo... lá deviam estar diversos faxineiros de plantão.

— Se o elefante morrer teremos grande prejuízo — garantia o diretor — não só com a morte do animal como também com o féretro. A senhora já imaginou o quanto está custando enterro de elefante?

A senhora imaginou, porque tinha contribuído para o enterramento de uma tia velha, dias antes. E a tia até que era mirradinha.

Deu-se então o inverso. Já não era ela que reclamava a bolsa, era o diretor que reclamava pela temeridade da refeição improvisada. Para que ele ficasse mais calmo, a dona da bolsa falou:

- Olha, na bolsa tinha um tubo de "Librium”, que é um tranqüilizante.

Até agora o diretor não sabe (pois ela desligou) se a senhora falou no tranqüilizante para explicar que não era preciso temer pela saúde do elefante, ou se era para ele tomar, quando a bolsa reaparecesse.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

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