Pobre Luís! Sua inexperiência amorosa levou-o ao mais doloroso dos sentimentos. "Cada um mata aquilo que adora" — dizia o nem sempre ultrapassado Oscar Wilde. E Luís foi nessa. Não soube explicar à amada que há homens cujo amor não suporta o impacto de um carnaval e sentiriam a angústia do ciúme mesmo que enfrentassem as lides carnavalescas de braço com a mulher que querem e que sentem sua. Não soube explicar e depois não soube livrar-se das provocações da amada, porque toda mulher é assim mesmo e é nas reações do homem que busca o alimento do seu amor.
Rosa Maria não tomou a ausência de Luís ou não a sentiu — melhor dizendo — em suas verdadeiras proporções: Luís sumiu por amor, por nutrir pela amada um misto de superconfiança nela e mesquinha insegurança em si mesmo. Vieram as Cinzas, voltaram a se encontrar e ela pôs-se a provocar.
Ó Senhor, é preciso todo um mundo de renúncias íntimas para suportar o que diz a amada, após o reencontro. Pobre Luís, não tinha ainda aprendido a grande lição! No reencontro a amada mostra-se alegre como um passarinho e já aí começa o ciúme a maltratar o homem. Ela deixará escapar frases soltas, pequenas provocações que o homem, para proteger o seu amor por ela, deve deixar que batam contra o escudo do estoicismo.
Ela dirá, por exemplo, "há muito tempo que o carnaval não esteve tão animado". Ao homem, nesta circunstância, resta balançar a cabeça, concordando, mas nunca perguntando: "Você achou, é?". De maneira nenhuma. Passe incólume, amigo, se ama de fato quem o ama.
Ela virá com novas armas. Haverá um momento de pausa na conversa e ela vai cantarolar baixinho: "Tristeza... por favor vai embora!". Algumas, depois de cantarolar, ainda acrescentam: "Chi, esta música não me sai da cabeça". Agüente firme, irmão, e se ânimo sobrar, diga: "Esse samba é lindo, realmente".
Sei que o ciúme está fazendo de você o "palhaço das perdidas ilusões", mas até aí você vai indo bem. Chegará o momento em que ela, a troco de nada, vai dizer: "Lá onde você passou o carnaval tinha televisão?". Responda que não, mesmo que houvesse, pois ela arrematará: "No Baile do Monte Líbano eu fui focalizada diversas vezes". Finja que não vê o olhar que ela estará usando contra você e faça de si a estátua da renúncia, quando ela informar que a fantasia dela fez muito sucesso: "Era aberta de um lado e deixava a perna toda de fora. Recebi elogios totais".
Sei que é hora do bofetão, amigo, mas — por favor — não deixe que o fantasma do ciúme invada o seu castelo. Para que sua amada continue a ser a sua amada, respire fundo e esqueça, ela poderá insistir com mais umas duas ou três, no estilo "que beleza é ver o sol nascer no carnaval", mas está cada vez amando mais você. E então, quando ela telefonar com aquela mesma voz dengosa que tinha em janeiro, você estará de parabéns: venceu a batalha, irmão!
Mas lembre-se: vencer uma batalha não é vencer a guerra. Aguarde, que outros carnavais virão.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.
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