O pastor ficou satisfeito de não ter sido pressentido e seguiu caminhando junto ao muro, até atingir a esquina, onde parou indeciso.
Não parecia ter um caminho premeditado e, se alguém estivesse a observá-lo, acharia que fugira por fugir, apenas para entregar-se à aventura.
Afinal o pastor resolveu-se pela direita. Dobrou a rua e foi seguindo lampeiro, gozando sua liberdade. Foi aí que pareceu vislumbrar alguém do sexo oposto no jardim de uma bela residência. Parou e ficou observando.
Depois de alguns segundos atravessou a rua e tentou empurrar o portão do jardim. Devia estar trancado, mas isto não era problema para um pastor que, momentos antes, dera uma bela prova de destreza, galgando um muro bem mais alto.
Era um pastor danado aquele. Recuou um pouquinho, tomou distância e, pimba... pulou o portão e foi entrando pelo jardim tranqüilamente, para namorar à vontade. O que aconteceu lá dentro eu não vou contar que não estou aqui para dedurar pastor nenhum, mas que ele demorou lá dentro um tempo comprometedor, isto eu não vou negar.
O que eu sei é que passada quase uma hora (pelo menos uns 45 minutos, ele ficou lá dentro e os dois podiam ser vistos por um observador mais atento entre as sombras dos ciprestes que se prestavam muito para cenas românticas) mas — como eu dizia — passado o tempo comprometedor, o pastor voltou pelo mesmo caminho, isto é, pulou o portão, como um ladrão vulgar, e saiu para a rua.
Foi então que o pastor parou no poste e tornou a observar em volta, para ver se havia alguém. Não havia, e ele, sem a menor cerimônia, "regou" a base do poste e foi em frente.
Era, realmente, um pastor bacana. Um belo exemplar de cão pastor alemão.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival
de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e
ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização
Brasileira, 1996.
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