quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A cachaça é nossa

Esta aqui no circunspecto matutino: "Em virtude do grande interesse que diversas firmas importadoras no exterior têm demonstrado através de cartas e solicitações, o Itamaraty enviou para os escritórios; do SEPRO, em Nova Iorque, Londres e Berna, amostras de aguardente brasileira, fabricadas em vários Estados e de várias marcas".

A gente lê uma coisa dessas e fica a imaginar a cara enjoada daquela turma do Itamaraty, que só bebe champanha e uísque do bom, tendo que elogiar a nossa proverbial cachaça, para os estrangeiros interessados nela.

O sucesso da cangibrina no exterior é ponto pacífico. É só os gringos provarem o chamada capote-de-pobre para ficar freguês. Principalmente se for daquela pura que-só-alma-de-moça-donzela.

Mas a notícia dá mais detalhes. Diz ainda: "Por outro lado, o Ministério das Relações Exteriores pediu às firmas exportadoras e fabricantes brasileiros, que estejam interessados, o envio de mostruários e preços de suas cachaças". E então vem a idéia de traduzir o produto para o inglês, que é língua universal e vai ajudar a vender o produto.

Estive aqui a relembrar algumas marcas de cachaça e, para ajudar a indústria nacional, tratei de fazer algumas traduções para colocarem nos rótulos das garrafas destinadas ao exterior.

Por exemplo: "Eye of Water" (Olho d'água), "Crying at the slope" (Chora na Rampa), "Extra Grandmother" (Vovó Extra), "Big Shrimp" (Pitu), "Any One" (Qualquer Uma), "Memories of One Nine Hundred Forty" (Recordações de 1940), "Old Monkey" (Macaco Velho), "Virgin's Tear-drop" (Lágrima de Virgem), "Be quiet Lion" (Sossega Leão), "Exhalation of the Panther" (Bafo da Onça), etc, etc.

E puxa... será um bocado bacaninha ver os gringos tomando "track of lemon" (batida de limão).

Não há brasileiro que não se sinta orgulhoso ao ver um "lord" cheio de bacanidade num sofisticado clube londrino, pedindo ao garçom "aquela que matou o guarda", com o maior sotaque britânico.

— Please, waiter... give me that one who kül the policeman!
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975

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