Deu até bode e quem não for capenga de memória deve se lembrar da bronca que instituições moralistas deram nos médicos que conseguiram fabricar pílulas de grande eficiência na difícil tarefa de evitar a chamada procriação.
Mas cientista — vocês sabem como é — não dá muita bola para Associações de Pais de Família, Centros de Senhoras Zelosas e outros mafuás do gênero.
Continuaram o seu trabalho nos laboratórios e aperfeiçoaram a coisa de tal maneira que — dizem — chegaram a resultados quase perfeitos nisso de pílulas anticoncepcionais.
Mas, agora, vem um "big" professor inglês e traz a novidade.
Até aqui as pílulas eram tomadas pelas mulheres, coisa, aliás, que não se compreendia, pois o homem — pelo menos que eu saiba — tem grande responsabilidade em operações chamadas conceptivas.
O professor, que se chama Alan Parker, e é titular da cátedra de Fisiologia da Universidade de Cambridge, ao iniciar uma Conferência de Planificação Familiar, largou brasa na novidade, explicando que as primeiras experiências feitas com pílulas anticoncepcionais para homens causaram efeitos seguríssimos e que a pílula vai funcionar direitinho.
Ora, nessas coisas de ciência, sempre que eu quero melhores esclarecimentos, recorro à veneranda Tia Zulmira, senhora com larga experiência em laboratórios de diversas universidades célebres por suas pesquisas científicas. Apareci no casarão da Boca do Mato na hora do almoço e ainda peguei beira de mesa para enfrentar um badejo ao primo anzol, preparado nas alcaparras pela genial arte culinária de titia, cujo ecletismo é incalculável.
Após o esplêndido repasto, enquanto Tia Zulmira sentava em sua cadeira de balanço de junco da índia, para tricotar casaquinhos, aguardei o momento oportuno e falei sobre a nova descoberta. Ela parou o seu trabalho, pousou as agulhas de tricô no seu regaço, e depois falou:
— Não vai dar certo, meu filho. Pílulas anticoncepcionais para os homens poderão causar grandes aborrecimentos. No dia em que o remédio fracassar, o marido jamais saberá quem andou errado: a mulher ou a pílula.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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