Uma história nos conta que Hind, o famoso assaltante, o mais famoso desde Robin Hood, encontrou um espectro na estrada num sítio chamado Stangate-hole, no condado de Huntingdon, lugar onde usualmente cometia seus roubos, e famoso por muito assalto de estrada, desde então.
O espectro apareceu na forma de um simples vendedor rural de gado. E como o diabo conhecia muito bem os lugares em que Hind se escondia e que freqüentava, chegou a uma hospedaria, pôs o cavalo na cocheira e fez com que o hospedeiro carregasse a mala que trazia, que era muito pesada, até o quarto que alugara.
Quando se viu no quarto, abriu a mala, retirou o dinheiro, que parecia estar contido em vários pequenos embrulhos, e o colocou em não mais do que dois sacos, distribuídos de maneira a pesar igualmente dos dois lados do cavalo e a chamar tanta atenção quanto possível.
E raro que as hospedarias que abrigam ladrões não sejam freqüentadas por espias, para que proporcionem aos primeiros as necessárias informações. Hind soube do dinheiro, olhou o homem, olhou o cavalo, para que os pudesse reconhecer. Apurou a direção para onde se dirigia o comerciante. Esperou-o e encontrou-o em Stangate-hole, bem no fundo da garganta entre as duas colinas, e o fez parar, dizendo-lhe que devia entregar o dinheiro.
Quando Hind mencionou o dinheiro, o vendedor simulou surpresa, fingiu cair em pânico, tremeu, demonstrou bem o medo, e num tom digno de compaixão disse:
-Não passo, como o senhor vê, de um homem pobre! Na verdade, senhor, não disponho de dinheiro. (Assim o diabo mostrou que podia dizer a verdade, quando isso lhe servia.)
-Seu velho vagabundo! - disse Hind. - Você não tem dinheiro? Vamos, abra os seus alforjes e dê-me os dois sacos, um de um lado da sela e outro, de outro. Como é que você pode não dispor de dinheiro e, contudo, seus sacos são muito pesados para ficarem, os dois, de um lado só? Vamos, entregue o que tem, ou eu o farei em pedaços neste mesmo momento.
Ao dizer isso, é claro que Hind se excedeu, pois pronunciou ameaças que não podia cumprir.
O pobre diabo lamentou-se e chorou, e repetiu que o salteador deveria estar enganado; devia tomá-lo por outra pessoa, porque ele, de fato, não tinha dinheiro.
-Vamos, vamos - disse Hind venha comigo.
E tomou o cavalo do vendedor pelas rédeas e o conduziu para dentro da mata, muito densa de ambos os lados da estrada, porque o negócio tomaria tempo e seria perigoso concluir na estrada aberta.
Quando se achava no interior da mata, disse:
-Vamos, senhor Vendedor de Gado, desmonte e dê-me os sacos neste exato minuto.
Em poucas palavras, fez o pobre homem desmontar, cortou as rédeas e as cilhas do cavalo, abriu os alforjes, onde deu com os dois sacos.
-Muito bem - disse Hind -, aqui estão eles, e tão pesados quanto antes.
Atirou-os ao chão e abriu-os com a faca: num ele encontrou uma corda para enforcar, ou baraço, e noutro deparou com uma peça de estanho sólido na forma exata de uma forca. E o camponês que se achava atrás dele disse:
- Eis o seu destino, Hind. Tome cuidado! Se Hind ficou surpreso com o que achou nos sacos - pois não havia um só centavo de dinheiro no saco onde deu com a corda -, mais surpreso ainda ficou ao ouvir o vendedor chamá-lo pelo nome, e virou-se para matá-lo, pois julgou ter sido reconhecido. Mas o sangue lhe gelou nas veias quando, virando-se (como eu disse) para matar o camarada, não deparou com mais do que o pobre cavalo.
Caiu ao chão e ali permaneceu por um tempo considerável. Não lhe foi possível dizer quanto tempo, porque estava sozinho, mas deve ter sido questão de muitos minutos. Voltando a si, por fim, partiu aterrorizado ao mais alto ponto e envergonhado, pensando no que tudo aquilo significava.
Indiquei que não havia dinheiro num dos sacos, mas havia uma moeda no outro, moeda essa que a história diz que era escocesa: uma moeda na Escócia intitulada de um "quatorze", o que corresponde em inglês a treze pence e meio penny para pagar o carrasco. É possível supor que daí tenha derivado o dito popular, até hoje em uso, de que treze pence e meio penny é o soldo do carrasco.
O espectro apareceu na forma de um simples vendedor rural de gado. E como o diabo conhecia muito bem os lugares em que Hind se escondia e que freqüentava, chegou a uma hospedaria, pôs o cavalo na cocheira e fez com que o hospedeiro carregasse a mala que trazia, que era muito pesada, até o quarto que alugara.
Quando se viu no quarto, abriu a mala, retirou o dinheiro, que parecia estar contido em vários pequenos embrulhos, e o colocou em não mais do que dois sacos, distribuídos de maneira a pesar igualmente dos dois lados do cavalo e a chamar tanta atenção quanto possível.
E raro que as hospedarias que abrigam ladrões não sejam freqüentadas por espias, para que proporcionem aos primeiros as necessárias informações. Hind soube do dinheiro, olhou o homem, olhou o cavalo, para que os pudesse reconhecer. Apurou a direção para onde se dirigia o comerciante. Esperou-o e encontrou-o em Stangate-hole, bem no fundo da garganta entre as duas colinas, e o fez parar, dizendo-lhe que devia entregar o dinheiro.
Quando Hind mencionou o dinheiro, o vendedor simulou surpresa, fingiu cair em pânico, tremeu, demonstrou bem o medo, e num tom digno de compaixão disse:
-Não passo, como o senhor vê, de um homem pobre! Na verdade, senhor, não disponho de dinheiro. (Assim o diabo mostrou que podia dizer a verdade, quando isso lhe servia.)
-Seu velho vagabundo! - disse Hind. - Você não tem dinheiro? Vamos, abra os seus alforjes e dê-me os dois sacos, um de um lado da sela e outro, de outro. Como é que você pode não dispor de dinheiro e, contudo, seus sacos são muito pesados para ficarem, os dois, de um lado só? Vamos, entregue o que tem, ou eu o farei em pedaços neste mesmo momento.
Ao dizer isso, é claro que Hind se excedeu, pois pronunciou ameaças que não podia cumprir.
O pobre diabo lamentou-se e chorou, e repetiu que o salteador deveria estar enganado; devia tomá-lo por outra pessoa, porque ele, de fato, não tinha dinheiro.
-Vamos, vamos - disse Hind venha comigo.
E tomou o cavalo do vendedor pelas rédeas e o conduziu para dentro da mata, muito densa de ambos os lados da estrada, porque o negócio tomaria tempo e seria perigoso concluir na estrada aberta.
Quando se achava no interior da mata, disse:
-Vamos, senhor Vendedor de Gado, desmonte e dê-me os sacos neste exato minuto.
Em poucas palavras, fez o pobre homem desmontar, cortou as rédeas e as cilhas do cavalo, abriu os alforjes, onde deu com os dois sacos.
-Muito bem - disse Hind -, aqui estão eles, e tão pesados quanto antes.
Atirou-os ao chão e abriu-os com a faca: num ele encontrou uma corda para enforcar, ou baraço, e noutro deparou com uma peça de estanho sólido na forma exata de uma forca. E o camponês que se achava atrás dele disse:
- Eis o seu destino, Hind. Tome cuidado! Se Hind ficou surpreso com o que achou nos sacos - pois não havia um só centavo de dinheiro no saco onde deu com a corda -, mais surpreso ainda ficou ao ouvir o vendedor chamá-lo pelo nome, e virou-se para matá-lo, pois julgou ter sido reconhecido. Mas o sangue lhe gelou nas veias quando, virando-se (como eu disse) para matar o camarada, não deparou com mais do que o pobre cavalo.
Caiu ao chão e ali permaneceu por um tempo considerável. Não lhe foi possível dizer quanto tempo, porque estava sozinho, mas deve ter sido questão de muitos minutos. Voltando a si, por fim, partiu aterrorizado ao mais alto ponto e envergonhado, pensando no que tudo aquilo significava.
Indiquei que não havia dinheiro num dos sacos, mas havia uma moeda no outro, moeda essa que a história diz que era escocesa: uma moeda na Escócia intitulada de um "quatorze", o que corresponde em inglês a treze pence e meio penny para pagar o carrasco. É possível supor que daí tenha derivado o dito popular, até hoje em uso, de que treze pence e meio penny é o soldo do carrasco.
Daniel Defoe (1660-1731), o célebre autor de As aventuras de Robinson Crusoé foi um dos mais prolíficos escritores que se conhece, com mais de 500 títulos publicados. Entre os inúmeros gêneros que abordou (religião, política, sociologia, história, ficção, poesia) no seu jornal The Review (que ele escrevia praticamente sozinho). Defoe acreditava profundamente na reencarnação e escreveu Contos de Fantasmas baseado em entrevistas ou relatos conhecidos. Segundo ele, os episódios aqui relacionados – com exceção dos que estão agrupados sob o título de "Falsos fantasmas" – são todos verdadeiros e, em alguns deles, ele estaria disposta a ir em juízo, levando testemunhas e provas concretas. "A aparição da senhora Veal" é um dos exemplos.
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