Era uma vez um leão. Este leão trabalhava num circo que havia num reino distante e era considerado pelo povo do reino como um dos leões mais ferozes do mundo.
Tal era o cartaz do leão que, quando ele trabalhava, o circo enchia mais que discurso de Flávio Cavalcanti, na televisão.
Um dia — foi num domingo — o povo daquele reino, que vinha sendo vítima dos reformadores contumazes de todos os reinos, países, principados e republiquetas, ouviu dizer que o leão ia aparecer em um número novo. E então todo mundo foi ao circo, ver a coisa, e se distrair um pouco.
Mas eis que, de repente, o feroz leão deu um pulo dentro da jaula e arrebentou as grades, fugindo para a rua. O pânico estabeleceu-se imediatamente. Todo mundo correu, menos um rapaz franzino que estava parado numa esquina, esperando a namorada.
O leão avançou para o rapaz que, sendo muito valente, puxou um canivete que tinha, para fazer ponta em fósforo e economizar o palito. E só com aquele canivetinho, ele matou o leão. A fera pulou em cima dele e ele teve tanta sorte que acertou uma canivetada na jugular do leão, que morreu de anemia ali mesmo.
Foi uma coisa espetacular. Logo o povo todo correu para festejar o rapaz e veio a imprensa, veio o rádio, a televisão e até as altas autoridades.
Um ministro perguntou logo, diante da coragem do rapaz, se ele era chefe de esquadrilha de aviões de combate. Mas o rapaz não era. Um oficial de Marinha quis saber se o rapaz era piloto de submarino suicida. Mas o rapaz não era. Não pertencia a qualquer das forças armadas daquele reino.
— Mas então, que é que você é? — perguntou o diretor do maior jornal dali.
— Eu sou operário — respondeu o rapaz.
E no dia seguinte, todos os jornais do reino publicavam em manchete:
" Leão acuado e indefeso morto por feroz agente comunista".
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975
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