A matrona, totalmente a par das máximas do cardeal, não encontrando, certo dia, a seu alcance, o objeto cotidiano o qual era obrigação sua fornecer, imaginou travestir como uma menina um belíssimo menino do coro da igreja do chefe dos apóstolos; colocaram-lhe uma peruca, uma touca, saiotes, e todo o aparato falso que se devia impor ao santo homem de Deus. Todavia, não se lhe pôde conferir o que realmente ter-lhe-ia assegurado semelhança total com o sexo que ele imitava; mas essa circunstância muito pouco embaraçava a alcoviteira…
– Ele não pôs as mãos lá nestes dias, – dizia àquela dentre suas companheiras que a ajudava na trapaça ele só visitará, com toda a certeza, o que assemelha essa criança a todas as meninas do universo; assim, nada devemos temer…
A mãezinha se equivocara; decerto ignorava que um cardeal italiano era homem de tato muito delicado, e gosto apurado o bastante para se enganar em semelhantes coisas; chega a vítima, o grande padre a imola, mas ao estremecer pela terceira vez:
- Per Dio santo, - exclama o homem de Deus – sono ingannato, questo bambino è ragazzo, mai non fu putana!
E ele verifica… Contudo, nada acontecendo de muito embaraçoso para um habitante da santa cidade nesse lance aventuroso, sua eminência prossegue, dizendo, talvez, como esse camponês a quem se serviu trufas como batatas: Enganai-me sempre assim. Mas quando a operação terminou:
- Senhora, – diz ele à aia – não vos censuro por vossa confusão.
- Monsenhor, desculpai-me.
- Como vos disse, não vos censuro, mas quando isso acontecer-vos de novo, não deixai de advertir-me, porque… O que eu não vir no primeiro momento, verei neste aqui.
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SADE, Marquês de - Contos Libertinos
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