O abominável primo Altamirando tinha um encontro marcado com uma pioneira social aí, dessas que prevaricam com certa regularidade. O ignóbil parente conhecera a distinta dama do nosso “society” noutro dia, quando o marido estava em São Paulo, fazendo um negócio imobiliário. Com aquela conversa que lhe é peculiar, Mirinho trouxe a dama para o seu plantel e vinha vivendo um romance legalzinho com ela.
Toda noite faziam programa juntos. Ora era uma dançadinha num dos inferninhos da Zona Sul, ora era um jantar mais caprichado nesses botecos de nome francês, ora era um discreto cineminha. Depois Mirinho ia com ela pra casa dela, que a dama reside só com seu distraído marido que, além de distraído, estava em São Paulo.
Não é pra me gambá não — como diz Ibrahim — mas o primo estava levando um vidão; não somente porque a dona é boa às pampas, como também vinha financiando os programas. Ora: mulher sem despesa é o ideal de Mirinho Durante esses dias aí da crise, ele passou numa tranquilidade invejável.
Mas, eis que, ontem, o marido voltou. Mirinho telefonou na hora do almoço, para ver se pegava a gordura de graça, mas a dona falou baixinho ao telefone, com ar de conspiradora:
— Depois eu te falo, bem. Ele voltou — e desligou o aparelho.
A tarde, Mirinho tornou a ligar:
— Escuta, queridinha, eu te apanho aí às 7 e vamos jantar juntinhos, tá?
— Mas querido — ponderou ela — Eu não posso. Meu marido voltou.
— Ali isto não tem importância — garantiu o primo. — Ele vai dormir fora de casa.
A mulher deve ter arregalado os olhos do lado de lá da linha, porque perguntou, visivelmente intrigada:
— Como é que você sabe que ele vai dormir fora de casa?
— Nada não. É que eu telefonei para um cara meu cumpincha, que trabalha na Polícia, e disse pra ele que teu marido é comunista.
Fonte: Jornal "Última Hora", de 10/04/1964 — Coluna de Stanislaw Ponte Preta / Desenho: Jaguar.
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