Tínhamos uma namorada, no tempo em que o Dr. Getúlio era considerado o salvador da pátria, que um dia brigou com a gente porque esquecemos de elogiar seu vestido novo. Anos depois, em circunstâncias muito mais amenas, confessou o seu desespero, ao notar que aceitáramos a briga e não déramos mais sinal de vida.
Houve uma outra que, bastava nos ver contente, amável, dedicado ao seu lado, para começar a entortar a situação. E parecia satisfeita, quando — num arroubo de incontida machidão — pedíamos o nosso boné e sumíamos de sua vista.
Aí ficava desesperada, telefonava chorando e muitas e muitas vezes, na noite da reconciliação, pedia que tivéssemos paciência com ela, que a compreendêssemos, etc., etc.
A gente compreendia uns tempos, e lá vinha a desajustada com os mesmos golpes.
Dessa, como de muitas outras, o homem cansa. Na sua última falseia mandamos um presente desses de derreter "vedette" e fomos apanhar perereca em outros brejos.
Amigos comuns cansaram de tentar uma reconciliação que, só de pensar, nos provocava um tédio profundo. Ela ficou a tentar mil e um pequenos golpes, na esperança de recuperar toda uma situação que desfrutou sem precisar de golpe nenhum e hoje não desfrutará mais, nem com um grande golpe, amparada pelas Forças Armadas e os novos marechais de pijama.
"Mulher é um caso sério" — costumava dizer Gumercindo Ponte Preta, pai de Mirinho. E, não raro acrescentava: "Mulher é bom para quem tem muitas". Já Altamirando é um predestinado. Faz tanta sujeira com mulher, que elas acabam, indefectivelmente, passando o primo para trás.
Ultimamente ele arranjou uma namorada que parece adorá-lo. Ao menor aceno, ela aparece dócil, carinhosa, amante.
Mas resolveu passar o primo pra trás aos sábados. Diz Mirinho que é batata. Já fez a experiência diversas vezes. Todo dia ela topa, mas aos sábados inventa que tem que ir ao aniversário de uma tia. Como não acreditássemos nessa fatalidade sabatina, no último sábado fez a experiência em nossa frente. Antes já havíamos constatado o amor da pequena por Mirinho...
No sábado ele telefonou e convidou para um programa dos mais aceitáveis. Ela murmurou de lá que era uma pena, mas a tia fazia anos e ela tinha que ir à festinha.
— Essa tua tia já deve estar com uns 180 anos — protestou Mirinho. Ela desconversou, gaguejou um pouco e — para provar mais uma vez que mulher é bom para quem tem muitas — manteve a recusa. Iria ao aniversário da tia.
— Tá certo — exclamou Mirinho; e com aquele seu cinismo habitual: — Faço votos para que sua tia seja muito feliz e esta data se reproduza por muitos e muitos sábados.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.
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