domingo, 2 de outubro de 2022

Ontem ao Luar (Choro e Poesia)

Ontem ao luar - Por sua semelhança com a canção "Love Story", do filme homônimo, a polca "Choro e Poesia" voltou a ser sucesso na década de 1970. Esse retorno rendeu-lhe mais de dez gravações, só que com um detalhe: todas traziam apenas o título "Ontem ao Luar", que recebeu de Catulo da Paixão Cearense quando, em 1913, o poeta lhe pôs uma letra, à revelia do autor.

E o que é pior, várias dessas gravações tal como edições da partitura, somente registravam o nome de Catulo, omitindo o de Pedro de Alcântara.

Em 1976, graças aos esforços de uma neta de Alcântara, sua autoria foi restabelecida através de uma decisão judicial. "Choro e Poesia" tem duas partes, ambas construídas com variações de um mesmo motivo, usado com muita engenhosidade especialmente na segunda parte, em tom maior.

Ontem ao Luar (Choro e Poesia) (polca, 1907) - Pedro de Alcântara e Catulo da P. Cearense - Interpretação: Vicente Celestino



----Am-------------------------- B7
Ontem ao luar / Nós dois em plena solidão
E7
Tu me perguntaste
-----------------Am
O que era a dor de uma paixão
A7 -------------------Dm
Nada respondi, calmo assim fiquei
B7 -----------------------------------(E7)
Mas fitando o azul / Do azul do céu a lua azul
-------------Am---------------------------- B7
Eu te mostrei, mostrando a ti os olhos meus
------------------------E7--------------- Am
Correr sem ti uma nívea lágrima e assim te respondi
A7----------------- Dm-------------------- Am
Fiquei a sorrir por ter o prazer de ver a lágrima
---(B7)-- (E7)--- Am--- E7
Dos olhos a sofrer

A--------------------- B7
A dor da paixão, não tem explicação
E7------------------ A
Como definir o que só sei sentir
Dm ------------A ------------Gbm
É mister sofrer, para se saber
---------------Bm------ E7 ------A -----E7
O que no peito o coração não quer dizer
A---------------------- B7
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
E7 -----------------------A
De noite a chorar na onda toda azul
-------Dm-------------- A-------- Gbm
Pergunta ao luar, do mar a canção
--------------B7------- E7---------- (A) (E7) (A) (E7)
Qual o mistério que há na dor de uma paixão
-----A----------- Gb7------------ Bm
Se tu desejas saber o que é o amor e sentir
----------E7------------------ A------------ Dbm7
O seu calor o amaríssimo travor do seu dulçor
------------------ E7
Sobe o monte a beira mar ao luar
------------E7-------- A
Ouve a onda sobre a areia lacrimar
--------------A------Gb7------ Bm------------------ E7
Ouve o silêncio a falar na solidão do calado coração
----------------A -----------A7
A pena a derramar os prantos seus
D ----------Dm -----A -----------Gb7------- Bm
Ouve o choro perenal / A dor silente universal
-------------E7---------------- A F A
E a dor maior que é a dor de Deus



Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora Publifolha; A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

quinta-feira, 12 de maio de 2016

A Origem dos Mitos sobre Gatos Pretos


“Para se transformar num mago, você deve amarrar um gato preto e jogá-lo vivo dentro de uma panela de água fervente. Deixe-o cozinhar até que a pele descole totalmente dos ossos.” - Infâmia localizada na internet.

A história de vida do gato preto é impressionante. Adorado por uns, sacrificado por outros, o gato preto sobreviveu a tudo apenas para reclamar o lugar que mais gosta de ocupar: um lugar quente, junto à janela.

As superstições acerca dos gatos nasceram desde cedo. Um dos primeiros povos a atribuir uma aura mística ao gato foram os egípcios que o idolatravam, tendo mesmo um Deus com a sua forma física, Bast. Em honra desta divindade, os egípcios mantinham gatos pretos em casa e davam-lhes honras reservadas a faraós, mumificando-os depois de mortos.

Mas foi na Idade Média que o gato viu a sua sorte mudar. Apesar de prestarem um importante serviço ao homem, caçando os ratos que eram considerados uma praga, a verdade é que havia uma legião de gatos vadios que faziam das cidades o seu território. A superpopulação terá sido o primeiro motivo pelo qual o gato deixou de cair em graça para passar a cair em desgraça.

A Idade Média ficou marcada pela superstição, bruxaria e febre religiosa. O gato, como animal independente e solitário, captou a atenção tanto de pagãos como cristãos.

No paganismo, o gato representa sabedoria e proteção, mas na magia negra, o gato preto macho personifica o diabo. No tarot, no baralho de Rider Waite , a Rainha de Paus é representada com um gato preto aos seus pés, significando energia instintiva, mas domesticada.

O gato é um animal que caça durante a noite e era na Idade Média acolhido por pessoas solitárias. Os gatos vadios eram os animais de estimação de mendigos e pobres, o que não abonou em relação à imagem do gato. Os olhos penetrantes que iluminam as noites contribuíram provavelmente para a catalogação do gato como espírito demoníaco. A cor preta era a cor das trevas e do mal, o que tornou os gatos desta pelagem os mais perseguidos pelos cristão e inquisidores. A sua associação às práticas pagãs, apenas provocou um maior distanciamento entre os cristãos e o gato. O facto de o gato ser muitas vezes sacrificado em rituais pagãos tornou-o num símbolo a combater.

Depressa começaram a surgir histórias que ligavam os gatos à bruxaria. Reza a lenda que por volta de 1560, em Linconshire, filho e pai foram assuntados por um gato preto que lhes cruzou à frente. O animal mancava e tinha vários arranhões e dirigiu-se para a casa de uma mulher que os habitantes da região suspeitavam que fosse bruxa. No dia seguinte, a mulher apareceu com uma ligadura no braço e tinha passado a mancar.

Outra história relatada conta que um agricultor cortou a orelha de um gato durante a noite. O homem acreditava que o gato estava assombrando a sua propriedade. No dia seguinte, o agricultor regressou ao local e encontrou parte da orelha de um humano. Na Alemanha, as histórias sobre a dualidade bruxa/gato preto são comuns. Uma mulher após ter sido acusada de bruxaria e condenada à fogueira, transformou-se em gato preto enquanto ardia. Foi assim que surgiu o mito de que as bruxas se transformam em gatos pretos durante a noite. É foi também desta forma que se encontrou justificação para perseguir estes animais.

Em paralelo com as lendas surgem também outros fatos históricos que na altura serviam de base de sustentação a muitas superstições. O Rei Carlos I de Inglaterra tinha um gato preto. O monarca acreditava que o seu gato lhe trazia sorte. Coincidência ou não, o gato morreu um dia antes de o Carlos I ter sido preso por Oliver Crommwell. O monarca foi acusado de traição e mais tarde decapitado.

Surpreendentemente, o gato preto sobreviveu a décadas, se não séculos de perseguição. A sua pelagem negra, pela qual era perseguido, era também uma vantagem quando caçava à noite, fundindo-se com a escuridão. Naquele tempo, não faltava alimento para os gatos, uma vez que os ratos abundavam pelas cidades e campos.

Pela altura do Renascimento, a Igreja Católica tinha já abrandado a caça aos hereges. Esta foi uma boa notícia para o gato por duas razões: por um lado os cristãos tinham conseguido reduzir a prática do sacrifício de animais, e em particular dos gatos com pelagem preta e por outro, deixaram de ser perseguidos pelos próprios cristãos.

Mas, da Idade Média resistiram as superstições profundamente enraizadas na cultura popular. Apesar de em alguns países ser mais comum associar o gato preto a um mau presságio, são várias as superstições que lhe são favoráveis em outros.


sexta-feira, 8 de abril de 2016

Gatos "Católicos" Enforcados


A ignorância humana, da qual nos ocupamos agora aqui, é a da "Grande Renascença" na Europa do século XVI, a "tal Reforma", quando os protestantes usaram gatos, bichanos enfeitados com vestimentas de bispos católicos e os enforcavam.

Quando em 1517 Martin Luther pregou suas 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, um movimento de reforma surgiu, o protestantismo. Os gatos, de alguma forma, "representantes" do catolicismo, e sempre vítimas do abuso do homem, tornaram-se um símbolo chave para os protestos de ingleses reformistas. Muitas vezes os gatos representavam sacerdotes e clérigos, como em um episódio terrível que envolveu a crueldade ocorrida em Cheape, Inglaterra, como nos conta uma crônica do tempo:

"Em 08 de abril, sendo então domingo, um gato vestido com um traje de clérigo católico, com suas patas dianteiras amarradas, foi enforcado em Cheape, perto da cruz na freguesia de São Mateus" (Stow Chronicle p. 623 notas de rodapé, Jardine, 1847, p.46 ).

Os protestantes também queimaram efígies do papa recheadas com gatos vivos que, coitados, gritavam de dor e espanto, que agradavam demais as multidões loucas.

Então, nós éramos representantes da Igreja Católica? A mesma religião que nos dizimou na época daquele papa Gregório IX em 1227?

Faz favor! Até no Carnaval, todos os anos, a gente se esconde pra não virar couro de tamborim ... Humanos?


Fonte: Cats in the Reformation