sexta-feira, 8 de abril de 2016

Gatos "Católicos" Enforcados


A ignorância humana, da qual nos ocupamos agora aqui, é a da "Grande Renascença" na Europa do século XVI, a "tal Reforma", quando os protestantes usaram gatos, bichanos enfeitados com vestimentas de bispos católicos e os enforcavam.

Quando em 1517 Martin Luther pregou suas 95 teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, um movimento de reforma surgiu, o protestantismo. Os gatos, de alguma forma, "representantes" do catolicismo, e sempre vítimas do abuso do homem, tornaram-se um símbolo chave para os protestos de ingleses reformistas. Muitas vezes os gatos representavam sacerdotes e clérigos, como em um episódio terrível que envolveu a crueldade ocorrida em Cheape, Inglaterra, como nos conta uma crônica do tempo:

"Em 08 de abril, sendo então domingo, um gato vestido com um traje de clérigo católico, com suas patas dianteiras amarradas, foi enforcado em Cheape, perto da cruz na freguesia de São Mateus" (Stow Chronicle p. 623 notas de rodapé, Jardine, 1847, p.46 ).

Os protestantes também queimaram efígies do papa recheadas com gatos vivos que, coitados, gritavam de dor e espanto, que agradavam demais as multidões loucas.

Então, nós éramos representantes da Igreja Católica? A mesma religião que nos dizimou na época daquele papa Gregório IX em 1227?

Faz favor! Até no Carnaval, todos os anos, a gente se esconde pra não virar couro de tamborim ... Humanos?


Fonte: Cats in the Reformation

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O Moleque Festeiro


Na encosta de uma serra muito alta e a pique, de Santa Maria de Taguatinga, entre barrocas e cardos, morava um homem muito rico e mau, que fizera voto de entoar uma ladainha, todas as noites pela passagem de São João.

Eram verdadeiras festas, muito concorridas, em que o pecado das danças livres excedia à devoção religiosa. O homem residia só e jamais conhecera os carinhos de uma esposa ou a alegria do sorriso de um filho …

Como companheiro tinha apenas um molecote, um cão e um gato preto. O menino era o emissário perpétuo por quem mandava os convites para as festas de São João. Era só nessa ocasião que abria a bolsa e deixava os patacões correrem a mãos cheias; nos outros dias não aliviava a lágrima de um pobre ou de uma viúva necessitada.

Certa vez, o pequeno mestiço partiu em busca dos convivas e voltou só: ninguém o acompanhara. As casas dos amigos estavam fechadas e ninguém respondera a seu chamamento.

O homem indignou-se e disse ao menino que fosse buscar quem quer que fosse, rico ou pobre, até mesmo o Pé-de-Garrafa, se o encontrasse. Era imprescindível o cumprimento do voto. No caminho apareceu um cavaleiro elegante, muito bem vestido, tinha esporas de prata e estava em traje de festa.

Ao convite do emissário do homem rico, respondeu afirmativamente e acompanhou-o ao sítio das barrocas e dos cardos. Era um só convidado, porém a festa começou logo.

Depois da ladainha dançou muito, fazendo tinir as esporas, que tiravam fogo no assoalho. Nunca o homem rico e miserável vira um convidado assim: só ele enchia a sala, devorava todos os manjares e dançava por uma súcia inteira. Acabada a festa, o cavalheiro misterioso convidou o homem rico para uma festa em seu palácio e desapareceu, quando a aurora vinha raiando.

Um mês depois um pajem veio buscar o homem rico para a festa do dançador misterioso do São João. Os olhos do homem rico foram vendados e os dois se puseram a caminho. Chegariam à meia-noite. O palácio do anfitrião não era longe de Santa Maria de Taguatinga. Barrancos e valados, brenhas e barrocais, matas e tabuleiros transpuseram os dois caminhantes.

Afinal chegaram, a venda caiu e uma elegante habitação maravilhou o hóspede da casa da encosta ao sopé da serra da Taguatinga.

Atravessado o pórtico dourado, penetraram em um grande salão e ali, maliciosamente, estavam enfileirados os vestidos curtos e os sapatinhos de salto alto de Formosa, as impudicas "toilettes" da Baía e os "maillots" cariocas. Noutra sala o homem rico viu uma porção de cavalheiros conhecidos: o Cel. F. F., o Major C. B. e Sr. H. M., etc., etc., pessoas há muito falecidas. Um cheiro de enxofre espalhou-se neste momento, por todo o palácio …

E o homem rico compreendeu tudo:

Estava no palácio do diabo …



I. G. Americano do Brasil: Lendas e Encantamentos do Sertão. - Edições e Publicações Brasil, São Paulo, 1938, pp. 49-50. - Fonte: Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962.