Foi  noutro dia, num prédio da Rua Barata Ribeiro. Quando chegou a Polícia,  naquela viatura da Polícia Secreta Portuguesa, que quando encosta no  meio-fio todo mundo manja, os vagabundos que circulavam pela redondeza  pararam logo para ver o bicho que ia dar. Que qui foi, que qui não foi -  ficou-se sabendo que era um marido cretino,  interessado em dar flagrante de adultério na mulher. Ora, uma bossa dessas dá mais renda que Fla-Flu. 
Enquanto as autoridades subiam  em companhia do cocoroca enganado, juntou mais gente em baixo que mosca  em banheiro de botequim. E foi aí que a nossa reportagem descobriu um  fato interessante na psicologia das multidões: tava todo mundo torcendo  pela adúltera. 
Quando ela apareceu no  asfalto, nervosa e pálida, foi aquela salva de palmas, consagradora. Ao  passo que o marido apontado por um dos circunstantes com o grito  esclarecedor de "o corno é aquele ali", foi saudado com uma vaia firme e  de certa forma surpreendente.
Mas isto deixa pra lá. Eu só contei porque o episódio me pareceu deveras interessante, e dele me lembrei por causa da notícia que acabo de ler  aqui no jornal. É sobre o novo código penal na Argélia. Aqui no Brasil,  entre as muitas reformas que a "redentora" prometeu e que não fez  ainda, estava incluída a do Código Penal. Daí, eu me interessei pelo que  o jornal dizia; principalmente por este trecho: 
"O adultério tornou-se ontem um  crime sob a lei argelina; e a mulher será punida duas vezes mais  fortemente que o homem. O novo Código Penal dispõe que a mulher que  cometer o adultério é passível de dois anos de prisão. Já para o homem a  pena máxima é de um ano. O novo código pune ainda o homossexualismo com  uma pena de três anos de prisão".
Está aí um troço que aquela  turma daquela tarde, na Rua Barata Ribeiro ia vaiar na certa. Por que  metade da pena para o homem, se para o pecado do adultério são precisos  um homem e uma mulher? Ora, numa disputa dessas é muito difícil dizer  qual dos dois está pecando mais.
Desconfio que o código argelino  está injusto. E sabem por quê? Primo Altamirando, quando leu a notícia,  elogiou muito e ainda me chamou a atenção para o detalhe dos três  anos, que pega o bicharoca na Argélia. E com aquela desfaçatez peculiar  ao seu deformado caráter, comentou:
— "Coitada da adúltera que se  meter com uma bicha lá na Argélia. Vai pegar cinco anos de cana. Dois de  adultério e três de frescura".
______________________________________________________Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival  de besteira que assola o país /  Stanislaw Ponte Preta; prefácio e  ilustração de Jaguar. — 12. ed. —  Rio  de Janeiro; Civilização  Brasileira, 1996.
