quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O revolucionário

Foi no dia posterior à crise. Na véspera já chegara em casa reticente, falando com meias palavras. A mulher achou-o esquisito, mas não quis entrar no assunto diante das crianças.

Foi à noite, quando foram se deitar, que perguntou, com um tom de ansiedade na voz, por que ele estava assim. O Rio explodia de boatos, contavam-se misérias, por isso a mulher já estava predisposta a ouvir o que ouviu.

Ele falou em perseguição política, na possibilidade de ser preso. Ela engoliu em seco, sem compreender: o marido nunca pertencera a qualquer partido político, como é que podia sofrer perseguições políticas?

— "É por causa do Gouvea" — o marido explicou.

O Gouvea andava metido com os comunistas, andou aceitando favores de alguns, ele ficara comprometido.

Gouvea — é preciso que se explique — era o chefe da firma onde o marido trabalhava. A mulher ficou tão chateada, que quase não dormiu.

Ele, porém, virou para o lado e disse, num bocejo:

— "Deixa isso pra lá, Jupira, se acontecer alguma coisa nós veremos". E dormiu.

No dia seguinte saiu um pouco mais cedo, com ar preocupado. A mulher despediu-se dele com um suspiro. Ali pelo meio-dia, veio o telefonema. O Coronel Pereira queria falar com ele. A mulher explicou que o marido já tinha saído; se o Coronel Pereira queria deixar o recado. O Coronel disse que passaria no escritório, com uma patrulha. Mal o Coronel desligou, ela tratou de prevenir o marido:

— "Querido — falou chorosa — um Coronel quer falar com você".

Ele falou baixinho, do outro lado da linha: — "Já fui informado. Querem me prender. Não se preocupe, querida. Ficarei uns dias fora, escondido".

Nem a mulher soube onde ele se escondeu e foi melhor assim. Se o tal Coronel telefonasse ou aparecesse pessoalmente, poderia arrancar dela o segredo.

Depois que a coisa amenizou, reapareceu em casa. Foi uma festa. As crianças pularam de contentes, a mulher deixou cair grossas lágrimas, quentes de alegria. Ninguém o tinha procurado, não é mesmo? Então, o perigo passara. Se o Gouvea, que era o Gouvea, não fora molestado, muito menos seria ele, que se comprometera apenas por causa do Gouvea.

Às perguntas sôfregas da mulher, respondeu com um pedido:

— "Não vamos falar mais nisso".

Ela concordou, mas na hora de ir dormir, ao lhe dar o clássico beijo na testa, tornou ao assunto:

— "Meu bem, onde você esteve escondido durante toda esta semana?".

Estivera na casa de um tio do Gouvea, em Jacarepaguá. Aliás, não mentia muito. A casa fora mesmo de um tio do Gouvea que a vendera ao Gouvea. Passara toda a semana lá: ele com uma loura que eu vou te contar, e o Gouvea com a maior morena. Fora uma farra e tanto. E antes de dormir pensou:

— "Puxa, se um dia ela descobre que o tal Coronel Pereira era o próprio Gouvea disfarçando a voz, eu tô roubado".
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975

Crescei-vos e multiplicai-vos

Conforme vocês sabem, os cientistas ingleses foram os primeiros a estudar e a descobrir remédios anticoncepcionais.

Deu até bode e quem não for capenga de memória deve se lembrar da bronca que instituições moralistas deram nos médicos que conseguiram fabricar pílulas de grande eficiência na difícil tarefa de evitar a chamada procriação.

Mas cientista — vocês sabem como é — não dá muita bola para Associações de Pais de Família, Centros de Senhoras Zelosas e outros mafuás do gênero.

Continuaram o seu trabalho nos laboratórios e aperfeiçoaram a coisa de tal maneira que — dizem — chegaram a resultados quase perfeitos nisso de pílulas anticoncepcionais.

Mas, agora, vem um "big" professor inglês e traz a novidade.

Até aqui as pílulas eram tomadas pelas mulheres, coisa, aliás, que não se compreendia, pois o homem — pelo menos que eu saiba — tem grande responsabilidade em operações chamadas conceptivas.

O professor, que se chama Alan Parker, e é titular da cátedra de Fisiologia da Universidade de Cambridge, ao iniciar uma Conferência de Planificação Familiar, largou brasa na novidade, explicando que as primeiras experiências feitas com pílulas anticoncepcionais para homens causaram efeitos seguríssimos e que a pílula vai funcionar direitinho.

Ora, nessas coisas de ciência, sempre que eu quero melhores esclarecimentos, recorro à veneranda Tia Zulmira, senhora com larga experiência em laboratórios de diversas universidades célebres por suas pesquisas científicas. Apareci no casarão da Boca do Mato na hora do almoço e ainda peguei beira de mesa para enfrentar um badejo ao primo anzol, preparado nas alcaparras pela genial arte culinária de titia, cujo ecletismo é incalculável.

Após o esplêndido repasto, enquanto Tia Zulmira sentava em sua cadeira de balanço de junco da índia, para tricotar casaquinhos, aguardei o momento oportuno e falei sobre a nova descoberta. Ela parou o seu trabalho, pousou as agulhas de tricô no seu regaço, e depois falou:

— Não vai dar certo, meu filho. Pílulas anticoncepcionais para os homens poderão causar grandes aborrecimentos. No dia em que o remédio fracassar, o marido jamais saberá quem andou errado: a mulher ou a pílula.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: GAROTO LINHA DURA - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975

Primeira transmissão ao vivo na TV

A primeira transmissão televisiva ao vivo - Olimpíadas de Berlim - 1936
Experiências pioneiras datam do século passado, mas só por volta de 1920 os primeiros aparelhos de televisão começaram a aparecer. A telinha, no entanto, não teria avançado para ser o que é hoje sem o esforço do inglês John Logie Baird (1888-1946), que resolveu aproveitar as ondas de VHF (Very High Frequency) para transmitir imagens.

A primeira transmissão ao vivo na TV foi um discurso de Adolf Hitler, em 1936, na abertura dos Jogos Olímpicos de Berlim. Sem dúvida um péssimo exemplo para ser espalhado espaço afora. Explica-se. A potência dessas ondas é tão grande que, sabe-se hoje, elas continuam a se propagar pelo espaço indefinidamente.

Baird não viveu o suficiente para ver, em 1957, a primeira transmissão via satélite, feita pelo satélite russo Sputnik.

Fonte: Wikipédia; Revista Superinteressante.

Bode expiatório

Foi a Bíblia que estigmatizou o bode como vítima inocente. No Levítico, um dos livros do Antigo Testamento, está escrito que o Senhor disse a Moisés que Aarão – seu irmão mais velho – deveria sacrificar um bode e oferecê-lo a Deus. Com isso expiaria os seus pecados e os de todo o povo de Israel.

Desde então, cumprindo o mandamento divino, matar um bode para se livrar dos pecados virou um hábito. Para tanto, organizavam um ato religioso que contava com a participação de dois bodes. Em sorteio, um deles era sacrificado junto com um touro e seu sangue marcava as paredes do templo.

O outro bode era transformado em “bode expiatório” e, por isso, tinha a função ritual de carregar todos os pecados da comunidade. Nesse instante, um sacerdote levava as mãos até a cabeça do animal inocente para que ele carregasse simbolicamente os pecados da população. Depois disso, era abandonado no deserto para que os males e a influência dos demônios ficassem bem distantes.

Ao longo da história percebemos que várias minorias ou grupos marginalizados foram utilizados como “bode expiatório” de algum infortúnio ou fracasso. Em certa medida, os judeus foram ironicamente alvo de sua própria tradição. Primeiro, ao serem culpados pela Peste Negra, na Baixa Idade Média, e – muito tempo depois – perseguidos na Europa pelos movimentos antissemitas que vigoraram no século XX.

Os judeus pararam de fazer essa cerimônia há muito tempo, mas a imagem do bode expiatório perdurou como uma espécie de culpado inocente, aquele responsável pela culpa dos outros. Como a origem é muito antiga, a expressão não existe só em português, tendo equivalentes em várias outras línguas. Os italianos dizem capro spiatorio, os franceses, bouc émissaire, os ingleses, scapegoat, e os alemães, sündenbock.

Coitado do bode, que não tem nada a ver com isso.

Fontes: Brasil Escola; Revista Superinteressante.

Dor de crescimento

A criança se queixa de dor nas pernas durante a noite, mas no dia seguinte está brincando normalmente. A chamada “dor de crescimento” é um mal que aparece no último estirão de crescimento da criança, em geral entre os 10 e os 14 anos.

Não se cresce continuamente, o tempo todo. Uma criança tem duas ou três fases de esticamento veloz. “Nesse período, os ossos crescem muito rápido”, explica o ortopedista Sérgio Nicoletti, da Universidade Federal de São Paulo.

“Os músculos, os tendões e os ligamentos nem sempre acompanham o desenvolvimento com a mesma velocidade. Isso causa um descompasso e essas estruturas podem tensionar-se demais, provocando dor.”

O mal ocorre com mais freqüência nas pernas, principalmente nos joelhos, porque esses ossos são os que crescem mais rápido. Mas não chega a constituir uma doença. E nem precisa de tratamento. Por mais que se façam exames ou radiografias, nenhuma anomalia é registrada.

Quando termina a fase de estiramento, a dor desaparece. Tudo o que os médicos podem fazer é indicar um analgésico para os meninos e meninas.

Fontes: Revista Superinteressante; Crescer.