domingo, 31 de julho de 2011

Bram Stoker, o criador de Drácula

Mundialmente conhecido como o autor do livro Drácula, Abraham "Bram" Stoker nasceu Dublin, Irlanda, em 1847. Aos 16 anos ele ingressou no Trinity College da Universidade de Dublin e filiou-se na Sociedade Filosófica, onde escreveu seu primeiro ensaio, Sensationalism in Fiction and Society.

Tornou-se, mais tarde, presidente desta sociedade e auditor da Sociedade Histórica. Graduou-se em bacharel, com honras, em 1870, indo trabalhar, assim como seu pai havia feito, como funcionário público no Castelo de Dublin, mas continuou estudando meio-período para desenvolver seu mestrado, defendido em 1875.

Stoker era fascinado pelo mundo do teatro (ele ficou impressionado com o ator Henry Irving, que futuramente seria uma figura decisiva na sua vida) e ofereceu-se, sem remuneração, para ser crítico de teatro do jornal Dublin Evening Mail. Suas críticas começaram a aparecer em vários jornais, fazendo com que Stoker fosse bem-recebido nos círculos sociais de Dublin (ele chegaria a conhecer os pais de Oscar Wilde).

Em 1873 foi oferecido a ele a editoração do novo jornal Irish Echo, mais tarde rebatizado como Halfpenny Press, por meio-período e sem remuneração. O fracasso comercial deste jornal o faria pedir demissão em 1874 e, então, ele mergulharia no mundo do teatro, começando a escrever suas primeiras peças de ficção, contos e seriados, que eram publicados nos jornais locais. Seu primeiro texto na linha do terror foi The Chain of Destiny, apresentado como seriado no periódico Shamrock, em 1875.

Neste momento, a figura de Henry Irving entra definitivamente na vida de Stoker. Irving assumiu a direção do Lyceum, em Londres, e convidou Stoker para ser o gerente do teatro. Muitos estudiosos acreditam que a forte figura de Irving, praticamente "sugando" tudo de Stoker, pode ter sido a inspiração para a criação da imagem forte e dominadora do personagem Drácula. A amizade/sociedade entre Stoker e Irving duraria até a morte deste último, em 1905.

Outra figura que pode ter inspirado diretamente o texto de Drácula foi sua esposa, Florence Stoker. Ela era uma das mais lindas e disputadas mulheres de Dublin, tendo sido, inclusive, prometida pelos seus pais para ser a esposa de Oscar Wilde.

Florence escolheu Stoker por causa da segurança do emprego público dele, situação que se alteraria quando ele foi para Londres dirigir o Lyceum. A bela e dominante Florence estava longe de ser a típica esposa dos padrões ingleses da época, ou seja, submissa ao marido: ela se impunha na relação, situação que deixava Stoker constrangido. O domínio de Drácula sobre as mulheres era uma crítica à sua própria vida doméstica.

Durante seus primeiros anos em Londres, Stoker escreveu seu primeiro livro de ficção, uma coletânea de histórias para crianças (Under the Sunset), publicada em 1882. Seu trabalho no Lyceum o obrigava a escrever, sendo que seu primeiro romance publicado, The People, em 1889, nasceu como um seriado para o teatro e foi transformado em livro em 1890.

Os estudiosos não chegaram a uma conclusão das reais razões de Bram Stoker escrever uma obra como Drácula. Podemos notar uma mudança de estilo e temáticas a partir de 1890, pois seus textos ficaram mais ricos e o sobrenatural e o terror ganharam um espaço maior, em particular no conto The Squaw.

Aparentemente, Stoker tomou sua decisão de escrever sobre vampirismo depois de um pesadelo na qual ele viu um vampiro se levantando do túmulo. Ele tinha referências literárias, pois tinha lido Carmilla (1872), de Sheridan Le Fanu, e o conto The Vampyre (1819), de John Polidori, além de tomar conhecimento de discussões sobre o sobrenatural, discussões estas comuns no final do século XIX na Inglaterra.

Mas a inspiração final surgiu nas suas pesquisas sobre um nobre do século XV que viveu na região da Transilvânia, localizada na Romênia, que impediu a penetração dos turcos na Europa, conhecido como Vlad, o Empalador (ou Vlad Tepes), pois este empalava (perfurava com uma madeira pontuda) seus inimigos. O nome Drácula foi tirado do pai deste nobre, chamado Vlad Dracul (este último termo significava diabo ou dragão). E a forma de contar a história através de personagens diferentes em diferentes documentos (diários, cartas, recortes de jornal, etc.) foi inspirada no livro The Moonstone, de Wilkie Collins.

Muitas características da vida de Stoker e da Inglaterra do final do século XIX foram retratadas em Drácula. Já citamos a forte presença de Henry Irving e as dificuldades de Stoker em conviver com Florence - Drácula tinha uma presença poderosa e dominava as mulheres; a presença de um grande número de estrangeiros na Inglaterra, resultado da imigração que ocorreu no período, assustava o homem inglês - não coincidentemente Drácula era estrangeiro, trazendo doenças e desgraças para a "limpa" vida inglesa; sexo e sangue são temas presentes no livro - as doenças venéreas eram o grande temor do homem inglês da época, pois tanto a gonorréia quanto a sifílis eram contraídas através de relações sexuais e contato com sangue, além de não existir cura para ambas; a ciência era fascinante na época - e o confronto entre o sobrenatural Drácula e o mundo científico de Van Helsing deu a vitória a este último.

Publicado em 1897, Drácula recebeu uma acolhida dividida entre a crítica da época, com alguns elogiando a obra como uma poderosa peça de fascinação lúgubre e outros criticando-a pela estranheza da temática e de certa crueza na abordagem. A mãe de Stoker elogiou a obra vigorosamente, comparando-a ao livro de Mary Shelley, Frankenstein. Na época do lançamento do livro, Stoker realizou uma leitura do texto em quatro horas no Lyceum, sendo que o evento foi apresentado completo, inclusive com anúncios, como Dracula, ou The Un-Dead, para proteger a trama e o diálogo de furto literário. Foi a única apresentação dramática de Drácula durante a vida de Stoker.

Nunca mais Stoker escreveria uma obra tão importante como Drácula. Aliás, sua carreira literária entraria em decadência, apesar de ter produzido um grande número de textos na virada dos séculos XIX e XX. Um incêndio no Lyceum destruiu a maior parte do guarda-roupa, adereços e equipamentos, deixando as condições do teatro precárias. A saúde de Henry Irving, já em declínio, piorou. O teatro seria transferido para um sindicato, fechando de vez em 1902.

Irving morreria em 1905. A partir daí, Stoker teria grandes dificuldades para escrever, pois sua saúde também piorara: ainda em 1905 ele teve um derrame e, em seguida, contraiu a doença de Bright, que afeta os rins. Sua saúde foi declinando cada vez mais até sua morte, em sua casa, ocorrida em 12 de abril de 1912.

Florence Stoker herdou os copyrights do marido e deu permissão para o teatrólogo Hamilton Deane transformar Drácula em peça de teatro, o que daria grande fama ao texto de Stoker, precedendo seu futuro sucesso nas telas do cinema - meio este que transformou Drácula num dos mais famosos e conhecidos personagens do século XX.

Por: Orivaldo Leme Biagi, Doutor em História pela UNICAMP, Professor das Faculdades Atibaia (FAAT) e Membro da Academia Literária Atibaiense (ALA).

Bernardo Guimarães

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, romancista e poeta da segunda geração romântica, nasceu em 1825 e morreu em 1884. Como ficcionista, a capacidade incomum para retratar os costumes regionais o levou à adoção de uma linguagem atravessada por saborosas expressões do interior e, mais do que isso, pelo próprio pitoresco da oralidade provinciana.

Assim, uma de suas contribuições mais importantes foi a de minar o excesso declamatório vigente na época em que viveu. Com Escrava Isaura, romance de denúncia antiescravocrata, o escritor se tornou popular até nossos dias.

Aventurou-se, também, como José de Alencar, pelo romance histórico, folclórico-lendário, indianista e psicológico, mas, contrariamente àquele, com sua poesia, realizou paródias do indianismo com o intuito de, ridicularizando-o, deixá-lo para trás.

Poemas satíricos, obscenos e bestialógicos, filiando-o à corrente satânica do ultra-romantismo, consolidaram o lado boêmio do escritor.

Afastando-se de um lirismo açucarado de muitos poetas de então, ele emprega todo um vocabulário de práticas sexuais explícitas que choca a moralidade conservadora reinante.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com/2008/11/bernardo-guimares.html

John Landis

John Landis, cineasta, nasceu em Chicago, Illinois, EUA, em 3 de Agosto de 1950. Aos 17 anos trabalhou como carteiro nos estúdios da Fox. Frequentemente escala diretores e produtores como atores em pequenas papéis em seus filmes. Dirigiu os videoclips das músicas Thriller e Black or White, ambos de Michael Jackson.

Landis é um caso peculiar na lista dos mestres do terror. De fato, o cineasta trabalhou tantas vezes no gênero como fora dele e não há dúvidas que o seu gênero de predileção é antes de tudo a comédia.

Essa forma de distanciação poderia ter feito de Landis um detestável realizador do gênero, mas, felizmente, o realizador nunca deixou dúvidas sobre o seu amor pelo gênero do fantástico, fazendo sempre prova de um grande respeito para com ele. Assim, John Landis deu-nos alguns dos melhores exemplos da fusão entre o riso e o medo, entre a comédia e o terror.

A sua carreira começou com o chanfrado Schlock em 1973, escrito e realizado pelo cineasta. Este low budget  deixou claro de imediato a fusão de gêneros que marcará a sua filmografia. A partir daqui, Landis alternaria puras comédias e filmes de terror paródicos. Seguiram-se, portanto The Kentucky Fried Movie, Animal House, o mítico Os Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers), o não menos mítico Um Lobisomem Americano em Londres, Os Ricos e os Pobres", a sua participação em The Twilight Zone: The Movie, o famoso vídeo para Michael Jackson Thriller, as comédias Into the Night, Spies Like Us, Três Amigos, Cheeseburger Film Sandwich e Um Príncipe em Nova Iorque.

Como se pode verificar, John Landis contribuiu muito mais para o gênero da comédia do que para o do terror, mas Um Lobisomem Americano em Londres valeu-lhe uma merecida entrada no clube fechado dos realizadores do cinema fantástico.

Como praticamente todos os realizadores de gênero da sua geração, a entrada nos anos 90 foi complicada para o cineasta e os seus ensaios no cinema foram pouco convincentes, obrigando-o a desenvolver trabalhos para a televisão. No cinema, sucederam-se o fraco Oscar - Minha Filha Quer Casar, a simpática comédia vampiresca Innocent Blood, ou para esquecer Um Tira da Pesada 3", o desnecessário Blues Brothers 2000 e o inconseqüente Susan's Plan.

O seu trabalho para a televisão, como escritor, realizador e produtor, foi mais empolgante nomeadamente com a fabulosa série Dream On.

Será, portanto um pouco abusivo considerar John Landis um mestre do terror, mas há que reconhecer que muitos dos seus filmes, terror ou não, entraram no inconsciente coletivo dos fãs de filmes do gênero e, pensando bem, a sua participação nas duas temporadas de Masters of Horror parece perfeitamente lógica.

Filmografia

2007 - Don Rickles documentary
2006 - Great sketch experiment, The
2004 - Slasher (TV)
1998 - Plano de risco (Susan's plan)
1998 - Os irmãos cara-de-pau 2000 (Blue brothers 2000)
1996 - Os babacas (Stupids, The)
1994 - Um tira da pesada 3 (Beverly Hills cop 3)
1992 - Inocente mordida (Innocent blood)
1991 - Oscar - Minha filha quer casar (Oscar)
1988 - Um príncipe em Nova York (Coming to America)
1987 - As amazonas na lua (Amazon women on the moon)
1986 - Três amigos! (Three amigos!)
1985 - Os espiões que entraram numa fria (Spies like us)
1985 - Um romance muito perigoso (Into the night)
1983 - No limite da realidade (Twilight Zone: The movie)
1983 - Trocando as bolas (Trading places)
1981 - Um lobisomem americano em Londres (An american werewolf in London)
1980 - Os irmãos cara-de-pau (Blue brothers, The)
1978 - Clube dos cafajestes (Animal house)
1977 - Kentucky fried movie, The
1973 - Schlock

Fontes: FanatiCine; Adoro Cinema - Personalidades.

Recalcitrante

O trocador olhou, viu, não aprovou. Daquele passageiro, escanchado placidamente no banco lateral, escorria um fio de água que ia compondo, no piso do ônibus, a microfigura de uma piscina.

- Ei, moço, quer fazer o favor de levantar?

O moço (pois ostentava barba e cabeleira amazônica, sinais indiscutíveis de mocidade), nem-te-ligo. O trocador esfregou as mãos no rosto, em gesto de enfado e desânimo, diante de situação tantas vezes enfrentada, e murmurou: - Estes caras são de morte.

Devia estar pensando: todo ano a mesma coisa. Chegando o verão, chegam os problemas. Bem disse o Dario, quando fazia gol no Atlético: problemática demais. Estava cansado de advertir passageiros que não aprendeu viajar no coletivo. Não aprendem e não querem aprender. Tendocomprado passagem por 65 centavos, acham que compraram o ônibus e podem fazer dele casa-da-peste. Mas insistiu:

- Moço! O moço!

Nada. Dormia? Olhos abertos, pernas cabeludas, ocupando cada vez mais espaço, ouvia e não respondia. Era preciso tomar providência.

- O senhor aí, cavalheiro, quer cutucar o braço do distinto, pra ele me prestar atenção?

O cavalheiro, vê lá se ia se meter numa dessas. Ignorou, olímpico, a marcha do caso terrestre. Embora sem surpresa, o cobrador coçou a cabeça. Sabia de experiência própria que passageiro nenhum quer entrar numa fria. Ficam de camarote, espiando o circo pegar fogo. Teve pois que sair de seu trono, pobre trono de trocador, fazendo a difícil ginástica de sempre. Bateu no ombro do rapaz:

- Vamos levantar?

O outro mal olhou para ele, do longe de sua distância espiritual. Insistiu:

- Como é, não levanta?

- Estou bem aqui.

- Eu sei, mas é preciso levantar.

- Levantar pra quê?

- Pra que, não. Por quê. Seu calção está molhado de água do mar.

- Tem certeza que é água do mar?

- Tá na cara.

- Como tá na cara? Analisou?

Ferrou-se de paciência para responder:

- Olha, o senhor está de calção de banho, o senhor veio da praia, que água pode essa que está pingando se não for água do mar? Só se...

- Se o quê?

- Nada.

- Vamos, diz o que pensou.

- Não pensei nada. Digo que o senhor tem que levantar porque seu calção está ensopado e vai fazendo uma lagoa aí embaixo.

- E daí?

- Daí, que é proibido.

- Proibido suar?

- Claro que não.

- Pois eu estou suando, sabe? Não posso suar sentado, com esse calorão de janeiro? Tenho que suar de pé?

- Nunca vi suar tanto na minha vida. Desculpe, mas a portaria não permite.

- Que portaria?

- Aquela pregada ali, não está vendo? "O passageiro, ainda que com roupa sobre as vestes de banho molhadas, somente poderá viajar de pé."

- Portaria nenhuma diz que passageiro suado tem que viajar de pé. Papo findo, tá bom?

- O senhor está desrespeitando a portaria e eu tenho que convidar o senhor a descer do ônibus.

- Eu, descer porque estou suado? Sem essa.

- O ônibus vai parar e eu chamo a polícia.

- A polícia vai me prender porque estou suando?

- Vai botar o senhor pra fora porque é um... recalcitrante.

O passageiro pulou, transfigurado: - O quê? Repita, se for capaz.

- Re... calcitrante.

- Te quebro a cara, ouviu? Não admito que ninguém me insulte!

- Eu? Não insultei.

- Insultou, sim. Me chamou de réu. Réu não sei o quê, calcitrante, sei lá o que é isso. Retira a expressão, ou lá vai bolacha.

- Mas é a portaria! A portaria é que diz que o recalcitrante...

- Não tenho nada com a portaria. Tenho é com você, seu cretino. Retira já a expressão, ou...

Retira, não retira, o ônibus chegou ao meu destino e eu paro infalivelmente no meu destino. Fiquei sem saber que conseqüências físicas e outras teve o emprego da palavra "recalcitrante".
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Fonte: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - De Notícias & Não-Notícias Faz-se a Crônica - 2a. edição - Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1975.

Adesão

Diz que era um camarada que ia viajando num trem, no interior de São Paulo. Ia para a sua cidade, para visitar os parentes. No vagão, em que viajava, iam tam­bém os componentes de uma chatíssima embaixada futebolística.

Iam aos berros, alegres, comunicativos e, pelo que o homem pôde ouvir, vinham de uma cidade, próxi­ma, onde venceram um jogo pelo escore de 3 x 2, ga­nhando com isso uma taça de péssimo gosto, a qual — de vez em quando — enchiam de cerveja e bebiam fartamen­te, como faziam os nababos de outros tempos, só que não era cerveja, era champanhe, e também não era na taça, era nos sapatos daquelas "vidas tortas" da belle époque.

O homem vinha imaginando essas coisas, quando um dos jogadores, ao passar rumo ao banheiro, derramou cerveja em sua calça. O homem ficou muito do furioso e levantou-se, para ver se dava um jeito de enxugar. Passou à frente do jogador, entrou no banheiro e trancou a por­ta. Depois tirou a calça, esfregou um lenço e pendurou na janela, para acabar de secar. Foi aí que deu galho, isto é, numa árvore à beira da estrada de ferro, ficou presa a cal­ça a balançar, como a lhe dar adeus.

O homem ficou no banheiro, abilolado. A próxima cidade era a sua cidade, mas como desembarcar nela, sem calça? E estava sentado naquele negócio, chateadíssimo, quando percebeu que o trem ia parar. Abriu a janelinha, desconsolado, no justo momento em que o comboio pa­rava. E foi então que percebeu: o time de futebol ia desembarcar também ali, na sua cidade.

O homem não con­versou. Num instantinho tirou o paletó e a gravata, vestiu a camisa ao contrário, dando a impressão àqueles que o vissem de frente que era a camisa de um goleiro, e desem­barcou no meio dos jogadores, a berrar: — 3 a 2!!! 3 a 2!! — depois correu e entrou num táxi.

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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Vacina controladora

Conforme vocês sabem, o problema da natali­dade se está tornando crucial e como a humanidade ado­ra entortar os caminhos, descobriram a pílula que resol­veria o problema mas criaram o problema do uso da pílu­la.

E, enquanto os políticos e religiosos discutem se po­dem ou não podem tomar a pílula, os americanos, sem­pre apressadinhos, inventaram a vacina.

Agora passemos a palavra a Mr. Frank Norestein, pre­sidente do Conselho de População de Nova Iorque, ór­gão que nenhum de vocês imaginava que existia, mas que existe. Mr. Frank anunciou ao mundo que o controle da natividade, muito mais breve do que se pensa, poderá ser obtido através de vacinas que terão garantia de seis meses a um ano de imunização.

Diz o distinto que o atual ritmo de natividade vem num crescendo tal, que, mais cedo ou mais tarde, até mesmo as entidades religiosas serão levadas a aceitar uma solução médica para tão sério problema.

Aqui o guia espiritual de vocês, que não acredita em nada sem antes consultar a sábia Tia Zulmira, esteve no casarão da Boca do Mato, contando para a velha e experi­ente ermitã o que se propala sobre a vacina, e indagando em seguida o que titia acha disso.

Ela retirou o pince-nez, coçou o nariz, e explicou que os anticonceptivos já existem às pampas e muitos deles são batata. Apenas, razões de ordem religiosa obri­gam a medicina a não caprichar demasiado na fórmula, restringindo com isto a ação dos laboratórios, razão pela qual, de vez em quando, uma consumidora de anticonceptivo penetra pela tubulação.

— De qualquer maneira — acrescentou a veneranda senhora — a melhor vacina para controle de natividade era a que eu adotava, no meu tempo.

— Qual era?

— Cada um dormia num quarto.

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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

O salto da pulga

Estudiosos da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, resolveram o mistério de como pulgas saltam tão longe e tão rápido.

Estudos anteriores já haviam revelado que a energia necessária para catapultar uma pulga a uma distância 200 vezes maior do que o comprimento do seu corpo tinha sua origem em uma estrutura elástica, semelhante a uma mola, presente no organismo do inseto.

Filmagens feitas com câmeras capazes de capturar objetos se movendo em alta velocidade revelaram que o segredo está na forma como as pulgas usam suas pernas traseiras – como alavancas de múltiplas partes.

"Finalmente descobrimos que as pulgas não pulavam se estava escuro", explicou Sutton. "Então, desligávamos as luzes, posicionávamos a câmera para colocar a pulga no plano (de filmagem), acendíamos a luz e a pulga saltava".

Esse ‘efeito alavanca’ permite que as pulgas pressionem suas patas no chão e a liberação repentina da ‘mola enrolada’ projeta o inseto para a frente e para cima, afirmam os cientistas na revista científica Journal of Experimental Biology.

Pulga é o nome comum dos insetos sem asas da ordem Siphonaptera. As pulgas são parasitas externos que se alimentam do sangue de mamíferos e aves. Estes animais podem transmitir doenças graves como o tifo e a peste bubônica.

Elas afetam normalmente animais de estimação, como o gato, o cachorro, entre outros. Elas dependem do hospedeiro para se alimentarem e se protegerem, permanecendo toda a sua vida. Além de provocarem incômodo pelas picadas, transmitem vermes, parasitas sanguíneos e podem induzir a processos alérgicos, diminuindo a qualidade de vida dos animais.

O tamanho de uma pulga dependendo da espécie pode chegar a 5 mm de comprimento.

Fonte: G1 / Wikipédia

Urubus e outros bichos

O primeiro urubu de exportação negociado pelo Brasil foi para a Holanda. Não sei para que é que os súdi­tos da Rainha Juliana queriam um urubu, se o país lá deles é de uma impressionante limpeza. Em todo o caso, como o urubu foi exportado para Amsterdã, limitei-me a dar a notícia.

Depois, outros urubus foram exportados para outras tantas capitais européias. Isto sem contar certos urubus do Itamarati que — verdade seja dita — não foram exportados propriamente. Atravessaram a fronteira "a ser­viço ", para ser recambiados mais tarde.

Mas deixa isso pra lá. Se volto ao assunto é porque leio aqui um telegrama vindo de São Paulo no qual se con­ta que há representantes de jardins zoológicos da Alema­nha, da Holanda e da Itália, nas cidades de Santos, São Paulo e Manaus preparando a compra de diversos urubus.

O fato de haver um representante da Holanda entre os compradores de urubu deixou Bonifácio Ponte Preta (o Patriota) regurgitando de alegria cívica, uma vez que — como ficou dito acima — a Holanda foi a primeira nação a adotar urubu brasileiro. O detalhe deixou o Boni tão exci­tado que chegou a recitar de orelhada um poema de Fa­gundes Varela que começa assim: "Pátria querida, pátria gloriosa, Continua fitando os horizontes..." E depois, olhos marejados de patriotismo, acrescentou:

— Se a Holanda quer mais urubu é porque o nosso urubu está agradando na Europa.

Só não disse que a Europa curvou-se mais uma vez ante o Brasil, porque Bonifácio não é acaciano. É patriota.

Entretanto, se esse detalhe do telegrama impressio­nou o Boni, a mim o detalhe do mesmo telegrama que mais impressionou foi o final, onde se lê: "Os europeus querem também comprar animais embalsamados".

Acho que este negócio também é interessante para nós, mas os europeus vão desculpar: terão que esperar um pouco para adquirir animais embalsamados. Por um dever democrático é preciso que antes eles cumpram os seus respectivos mandatos no Senado.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. —  Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Os pensamentos do Lalau

Sérgio Porto
- No Brasil as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer.

- Antes só do que muito acompanhado.

- Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo "eu sou coronel, eu sou coronel", o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: "Fora esse, qual o outro mal do qual o senhor se queixa?"

- Ser imbecil é mais fácil.

- Está dando mais do que cará no brejo.

- Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de minissaia.

- O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa.

- O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não.

- Desligou o telefone com uma violência de PM em serviço.

- Mais monótono do que itinerário de elevador.

- Macrobiótica é um regime alimentar para quem tem 77 anos e quer chegar aos 78.

- Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói.

- Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante.

- Sempre ouviu dizer que o homem totalmente realizado é aquele que tem um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Tinha um filho, plantou uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever um livro sobre isso.

- Quem não tem quiabo não oferece caruru.

- Mania de grandeza é a desses suplementos literários que têm um aviso dizendo que é proibido vender separadamente.

- Pode-se dizer a maior besteira, mas se for dita em latim muitos concordarão.

- Homem que desmunheca e mulher que pisa duro não enganam nem no escuro.

- Todo homem previdente sorri sem falha no dente.

- Mulher expondo teoria sobre educação infantil é solteira na certa.

- Menino mijado, bode embarcado e chefe de Estado, nunca fica despreocupado.

- Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!

- Esperanto é a língua universal que não se fala em lugar nenhum.

- Pra quem gosta de jiló, coruja é colibri.

- Era desses caras que cruzam cabra com periscópio pra ver se conseguem um bode expiatório.

- O terceiro sexo já está quase em segundo.

- As coisas que mais contribuem para avacalhar a dignidade de um homem são, pela ordem, bofetão de mulher e tombo de bunda no chão.

- Caetano Veloso confunde velocidade com trepidação.

- Hoje em dia ninguém é bonzinho de graça.

- A polícia prendendo bicheiros? Assim não é possível. Respeitemos ao menos as instituições!

- O primeiro nome de Freud era Segismundo. Aliás, não só seu primeiro nome como também seu primeiro complexo.

- Às vezes é melhor deixar em fogo lento do que mexer na panela.

- Mais inútil do que um vice-presidente.

- Mais mole que bochecha de velha.

- A polícia anda dizendo que prende um bandido de meia em meia hora, então a gente fica desconfiado que eles assaltam de 15 em 15 minutos.

- Ninguém se conforma de já ter sido.

- Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo.

- Mulher enigmática, às vezes é pouca gramática.

- Quando um amigo morre, leva um pouco da gente.

- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro, nem toda tosse é catarro, nem toda mulher eu agarro.

- Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não sabe o que é lógica.

- A diferença entre o religioso e o carola é que o primeiro ama a Deus, o segundo, teme.

- Pediatra sempre capricha na pronúncia quando anuncia sua especialidade, pra evitar mal-entendidos.

- Nem todo gordo é bom, muitos se fingem de bonzinhos porque sabem que correm menos.

- Tinha tal pavor de avião que se sentia mal só de ver uma aeromoça.

- Mulher e livro, emprestou, volta estragado.

- O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.

E para terminar:

- Da minha janela vejo o pátio de um colégio e quando a campainha toca para o intervalo das aulas eu paro de trabalhar e fico olhando, como se estivesse no recreio também.

- O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário, ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio (ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/s/sergio.htm

sábado, 30 de julho de 2011

Desastre de trem

Quando se conheceram ele foi franco:

— Eu sou muito bom, mas tenho um defeito.

— Qual?

Ele pareceu vacilar antes de responder:

— Sou ciumento.

E o era, de fato. Um ciumento sóbrio, que não dava a perceber, mas que se mordia por dentro. Por isso mesmo, por causa desse temperamento, é que não se casara nunca. Explicava aos amigos:

— “Eu me conheço. Sei o gênio que tenho”. Completara quarenta e cinco anos em solidão. Dir-se-ia um solteirão solícito e irremediável. Mas, um dia, foi a uma festa e lá conheceu Valquíria, jovem viúva de vinte e dois anos. As amigas da pequena cochichavam, entre si: “Vinte e dois, fora os que mamou”. Mas o fato é que aparentava essa idade ou pouco mais. E, conversa vai, conversa vem, houve um grande interesse, profundo e recíproco. Valquíria era baiana e morena, muito viva, muito alegre.

Dias depois, Antoniel dizia: “Se não fosse a diferença de idade...”. O fato é que estava apaixonado e, pela primeira vez na vida, Valquíria parecia animá-lo com olhares. Olhares, sorrisos e uma série de pequenas atenções, fúteis, mas significativas. E foi então que Antoniel revelou que era ciumento e perguntou se ela não tinha medo.

— Medo? — Estranhou. — Mas se eu até gosto!

— Sério?

— Natural!

Casaram-se seis meses depois. Pelo gosto de Antoniel, teria sido uma cerimônia muito simples e íntima. Confessava: “Sou contra exibição, contra carnaval”. Valquíria, porém, exigiu pompa, carro enfeitado com flores de laranjeira e festa em casa. Antoniel submeteu-se com bom humor: “Você é quem manda, meu anjo”.

O CASAL FELIZ

No fundo, porém, e sem nada dizer à esposa, Antoniel fazia comentário interior: “Diferença de idade é espeto”. Era esse o seu grande medo. Os dias, as semanas, os meses voavam, porém, sem que nenhuma desinteligência surgisse entre os dois.

Valquíria não se cansava de espalhar: “Eu sempre gostei de homem muito mais velho do que eu”. Na intimidade, com o marido, uma de suas distrações prediletas era procurar cabelos brancos na cabeça de Antoniel. Fazia essa pesquisa com verdadeiro deleite, e exclamava:

— Achei mais um!

Arrancava-o e fazia exibição, com uma alegria de menina, e ainda mexia com ele:

— Estás ficando velhinho!

O esposo ria também, com um fundo de melancolia. Fazia cálculos: “Quando Valquíria tiver trinta e cinco, eu terei cinqüenta e oito”. Essa aritmética de anos o amargurava. Continuava o seu exasperante monólogo interior: “O homem com cinqüenta e oito anos é uma múmia, não dá mais no couro. Ao passo que a mulher de trinta e cinco...”. Em casa com a mulher, fazia a blague: “Tenho ciúmes de ti”. E, como ele não conseguia evitar uma certa gravidade involuntária ao dizer isso, ela encarava:

— Eu te dou motivo?

Era obrigado a reconhecer:

— Não. Nunca.

A VIAGEM

Era verdade. Jamais Valquíria sugerira, com o seu comportamento, qualquer dúvida, qualquer suspeita. Ela dizia, numa comparação trivial, mas exata, que sua vida era “um livro aberto”. Só saía com o marido, a não ser quando, uma vez por semana, visitava sua mãe na cidade. Já, então, sozinha, porque as ocupações do marido o retinham no subúrbio. E, após a lua-de-mel, combinaram em termos definitivos:

— Você vai de manhã — dissera ele. — Passe o dia com sua mãe e volte de tarde.

E assim, quando Valquíria ia fazer a visita filial, o marido a deixava na estação, onde a esposa apanhava o trem elétrico e ele seguia para o trabalho. Durante três anos, viveram uma felicidade tranqüila e sempre igual. Antoniel podia dizer: —
“Foi um alto negócio o meu casamento”. E insistia: — “Um negocião”.

Até que chegou uma terça-feira, dia em que Valquíria, como fazia sempre, devia ir ver a mãe. Quando Antoniel acordou nessa manhã, já a mulher estava diante do espelho, pintando-se. Tomara um banho muito demorado, perfumara todo o corpo com água-de-colônia Flor de Maçã. E agora passava batom nos lábios. O marido mal desperto teve um bocejo e comentou:

— Você parece que vai a uma festa!

— Por quê?

Novo bocejo:

— Porque está se embonecando toda!

E passou. Quarenta minutos depois, ele já escovara os dentes, fizera a barba e tomara banho; puderam tomar café juntos. Quando a mulher se levantou, ele deixou escapar o galanteio:

— Você hoje está uma uva!

Pouco depois, ele a levava à estação.

Quando o trem encostou, Antoniel lembrou, antes que ela embarcasse:

— Dá lembranças à tua mãe!

A CATÁSTROFE

Partiu o trem e Antoniel ainda esperou que ele desaparecesse na primeira curva. Só então dirigiu-se para o emprego. Mais tarde, ele se lembraria da primeira pergunta que fez ao contí¬nuo ao entrar no escritório:

— Que dia é hoje?

— Quatro.

E Antoniel, apanhando umas cartas em cima da mesa, repetiu sem ter de quê: “4 de março de 1952”. Dir-se-ia que, sem saber, sem sentir, estava dando uma importância toda especial à data, como se ela devesse ficar marcada na sua vida, e para sempre. Quanto tempo se passou até que se recebesse a notícia? Talvez uns vinte minutos ou pouco mais. O fato é que con¬feria umas faturas quando ouviu uma voz (talvez do contínuo) dizendo a uma moça do escritório:

— “Parece que houve um desastre de trem”.

A mesma voz sublinhava: — “Um desastre horrível”.

Uma coisa se gravou, desde logo, no espírito de Antoniel; o desastre de trem.

Fosse de avião, de automóvel, de ônibus, ele não se levantaria, como se levantou, não iria interrogar o rapaz:

— Desastre de trem?

De manga de camisa, deixou o escritório. Estava ainda calmo, embora de uma calma intensa, uma calma apaixonada. Mas, no mais íntimo de si mesmo, havia certeza, definitiva, irrevogável certeza: o desastre ocorrera com o trem em que viajava Valquíria. Podia ser outro. A toda hora e em toda parte, milhares de trens deslizam nos trilhos do mundo, em todas as direções. Mas ele sabia, por uma intuição mágica e apavorante, que, entre todos, o destino escolhera aquele trem e não outro qualquer. Passou por um botequim e se deteve; o rádio de lá irradiava, justamente, as notícias do desastre. Foi recebendo o impacto de cada notícia: “Cem mortos”, “setenta e cinco mortos”, “oitenta mortos”. Uma coisa queria saber no tumulto das informações contraditórias. E soube que era, de fato, o trem de Nova Iguaçu.

O MARTÍRIO

Guardou para si o desespero. Podia recorrer a um amigo, a um parente ou, mesmo, tentar a simpatia e a solidariedade de um desconhecido. Mas fora arrancado da sua normalidade. Dir-se-ia que uma loucura prodigiosamente sóbria e lúcida se apoderava dele. Uma hora depois, estava no local do desastre. E ele próprio ia juntando do chão braços sangrando, pernas, cabeças. Houve um momento em que, olhando um morto decapitado, seu estômago se contraiu numa náusea violenta. Ao mesmo tempo, experimentava uma obsessão amarga.

E, então, ouviu que, atrás de si, alguém dizia: “Ali tem uma mulher sem cabeça”. Recuou então, fugiu, como um criminoso. Estava num tal estado mental que repetia para si mesmo: “É ela! É ela!”. Não discutiu, não verificou racionalmente a hipótese delirante. Foi para casa e enfiou-se lá, num medo atroz de que um amigo, um conhecido ou um parente trouxesse a verdade.

A MUTILADA

Anoitecia e ele não acendeu a luz. De vez em quando, do fundo de sua febre, pensava: “Eu acho que já estou louco”. E, súbito, escuta um rumor. Sim, não há dúvida: alguém introduz a chave na fechadura, alguém abre a porta. Aperta a cabeça en¬tre as mãos: “Quem seria?”. A criada, não, que tinha folga às terças-feiras. Ele se crispa e caminha, pé ante pé, ao encontro do recém-chegado. Este aperta o comutador e Antoniel tem uma espécie de uivo: “Você!”. Era Valquíria, sim, inteira, intacta, linda. Agarrou-se a ela, beijou-a na boca. Durante o beijo, porém, lembra-se do desastre.

Reflete num segundo, num décimo de segundo: “Ela devia estar morta ou mutilada”.

Durante três ou quatro minutos, sem uma palavra, ouviu a mulher contar que passara um dia agradabilíssimo com a mãe. Ele a interrompeu, com surdo sofrimento: “E a viagem? Não houve nada? Nenhum atraso de trem?”. Valquíria, sem nada perceber, e com alegre frivolidade, respondia: “Nada”.

Antoniel raciocinava: “Saltou antes do desastre”. E para quê? Segurou-a pelos dois braços, gritou-lhe a notícia do desastre: “O trem espatifou-se. Cem mortos!”.

Apavorada, ela começou a chorar, na sua pusilanimidade de adúltera. E, de fato, saltara antes do desastre; passara o dia longe de tudo e de todos, sem uma notícia do mundo. Voltara, ainda deliciada, de automóvel; e não vira ninguém, não sonhara com ninguém nem lera o jornal ou escutara o rádio. Às terças-feiras era o seu dia de amor. O marido gritava como um possesso:

— Tu devias estar sem braços, sem pernas! — E baixando a voz, arquejante: “Ou sem cabeça. Sem cabeça, como aquela mulher”.

Valquíria poderia ter gritado. Mas o medo a petrificava. Ele, sentado, exausto da própria cólera, repetia numa monotonia delirante: “Sem cabeça... sem cabeça...”.

Puxou-a pelo braço: “Vá dormir. Quero que durma”. Atirou-a na cama; deitada de bruços, ela ficou soluçando. Sentado na cama, Antoniel esperou que, vestida, de sapatos, dominada pelo cansaço, ela dormisse afinal. Então, num ar tétrico, foi ao quintal e apanhou a machadinha. Voltou, arquejando. De novo, no quarto, contemplou-a, com certo espanto e sem amor. E pensou na mulher sem cabeça, do trem.

Ergueu então a machadinha e desfechou-lhe um golpe só, na altura do pescoço.

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A coroa de orquídeas e outros contos de A vida como ela é... / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

A inocente

Sempre enxergara otimamente. Dizia mesmo:

— Graças a Deus, tenho uma vista fantástica!

A namorada fazia insinuação: — Você, meu filho, enxerga até demais!

Riam os dois. A menina o acusava de ver maldade onde não havia tal.

Num ciúme danado de tudo e de todos, Balduíno fazia toda sorte de reclamações. — Pensa que eu não vi, hein?

E ela: — Mas viu o quê, filho de Deus?

— Você olhando para aquele cara!

— Ah, que blasfêmia! Olha Balduíno, olha que Deus castiga!

Um dia, ele começou a ter uma série de perturbações visuais. Eram pequenos pontos na visão que, com o correr dos dias, se multiplicavam. Assustou-se. E vamos e venhamos: quem não tem medo de ficar cego? Correu para o oculista.

Escolheu um bem caro, na prevenção de que a tabela alta lhe significasse uma esmagadora eficiência clínica. O homem o submeteu a um milhão de exames. No fim de tudo, chegou à conclusão:

— Vamos tirar os dentes!

— Todos?

— Todos.

Assoviou: — Papagaio!

Em quatro ou três sessões, ficou com a boca vazia; uma boca de velha. E o pior ainda não foi isso: o pior é que não havia um só foco dentário, um único granuloma, nada. Ficou furioso: disse horrores e foi em cima do especialista. Com a mão na frente, escondendo publicamente os beiços murchos, concluiu:

— Fizeram comigo um papel sujíssimo.

UM HOMEM TRISTE

Não apareceu mais para a namorada. Ela mandava recados, verdadeiros S.O.S, mas Balduíno foi irredutível. Desenvolveu-se, nele, uma altivez, uma dignidade, um pudor de desdentado. A mão estava sempre na frente, servindo de folha de parreira. Aprendeu a difícil arte de não sorrir, em hipótese nenhuma. Ninguém mais triste, ninguém mais fúnebre.

Ele, subjugado pelo complexo de desdentado, não olhava para as mulheres. Ia de casa ao trabalho e vice-versa, numa vergonha que já era doença. Que poderia mesmo transformar-se em loucura. Reclamavam:

— Toma jeito, rapaz! Sossega!

Ele, porém, sem nada dizer, tramava a própria salvação.

Recorreu a um dentista, sempre na base de que “o mais caro o melhor”. Quando soube que o Dr.fulano cobrava trezentos cruzeiros a hora, esfregou as mãos de contente. E fez o comentário:

— Esse é dos meus!

Lá compareceu, no sonho de uma dentadura dupla.

Fizeram um orçamento principesco: doze contos! Segundo seus cálculos, uma dentadura de doze contos seria a mais cara do Rio de Janeiro. Calculava: “Vou ficar com uma boca de anjo!”.

O dentista chamou um protético, tiraram os moldes, e Balduíno, na cadeira do dentista, pedia uma dentadura genial, que fosse uma obra de arte, para já.

Ponderaram:

— Não pode ser assim, não, que diabo!

— Ué!

— Claro! Primeiro tem que deixar as gengivas murcharem. Depois, então, é que tiraremos o molde.

A ESTRÉIA

No dia que saiu do gabinete com o aparelho, parecia ter um ovo na boca. Gemia:

— Como dói esse troço!

Fora, porém, divertido. O dentista explicara que nos primeiros dias era assim mesmo. De qualquer maneira, e embora com o céu da boca em petição de miséria, andou pela cidade com outra aparência. Olhava de cima os demais, como se viajasse num andor. Essa sensação de andor não o abandonou mais.

Seu horário normal de entrar em casa era nove horas. Apareceu às onze, depois de circular vastamente. Ainda não podia falar direito, mas usou o sorriso de maneira abundante. Uma moça que, aliás, ia acompanhada, talvez pelo marido, retribuiu o seu olhar.

Ele voltou para casa com uma certa pena, e fazendo a seguinte reflexão: “Ah, se não estivesse acompanhada!”.

Tece que mostrar à família os dentes novos. Mandavam:

— Ri!

Ele ostentava, deleitado, a superabundância de dentes.

Numa última dúvida, fez uma enquete com o pessoal:

— Está parecendo postiço, está?

Houve uma unanimidade feroz. Todos afirmavam que não, que não pareciam absolutamente postiços. E uma coisa o empolgava de maneira particular: — o preço do serviço, que atingia o total invejável de duzentos contos.

CONQUISTADOS

Mudou por completo. Dir-se-ia outra pessoa, seja física ou psicologicamente. Ria de tudo, ria por coisa nenhuma. Às vezes, diante de uma piada boba ou idiota, fazia um escândalo:

— Essa é a maior! Essa é a maior!

Queria um pretexto para o riso escancarado.

As senhoras, meio assustadas com essa exuberância, diziam

— Você deve gostar de uma boa pândega!

Ele não dizia que sim, nem que não. Antes, fugia das mulheres, não as olhava. Agora, em função dos dentes novos, não podia ver uma pequena: ou dava em cima ou dizia que dava em cima. Não importava muito o namoro, a conquista. O que interessava realmente era a possibilidade de surgir como um galã irresistível ante os conhecidos.

Soprava para um, para outro:

— Viste aquela?

— Vi.

— Que tal?

E o amigo:

— Um espetáculo!

Ele suspirava:

— Não me dá uma folga. O dia todo. Assim não é possível.

Qualquer mulher que passasse por ele, já sabe. Apregoava logo:

— Que bola ela me deu, viste?

Fazia questão, sobretudo, das sérias, das inatacáveis e, em especial, das casadas. Contava episódios arrepiantes em meio da admiração geral. Alguém argumentava:

— Mas não é possível, não pode ser!

— Por quê, ora essa?

E o outro:

— Porque eu conheço aquela senhora, é honestíssima. Doida pelo marido!

Balduíno recostava-se na cadeira: atirava, no meio dos parvos, a sua teoria predileta:

— A mulher é séria até o momento em que deixa de ser!

BATOM NO LENÇO

Na Rua José Antunes, onde ele morava, veio residir d. Branca, casadinha de fresco. Era doce, linda e tudo o mais que se possa atribuir a uma jovem em lua-de-mel. Com cinco dias de casados, ela e o marido quase não saíam. Uma vez ou outra, quando o esposo não estava em casa, d. Branca surgia um momento na janela.

Numa dessas vezes, coincidiu que Balduíno passasse. De noite, na esquina, ele deblaterava:

— É o cúmulo!

— O quê?

Parecia realmente enjoado:

— Eu não diria nada se, enfim, tivesse mais tempo de casada... Mas não fez nem quinze dias e quando acaba...

Contou, para o auditório embevecido, a história abominável:

— Só vocês vendo a bola, meninos, que ela me deu! Uma pouca-vergonha! Por isto é que não me caso; porque não sou besta!

Durante seis meses não fez outra coisa.

Deixou mesmo de se interessar pelas outras mulheres. Era como se só existisse a pobre da d. Branca na face da Terra. Cada noite trazia uma novidade e concluía sempre com um comentário:

— Não se pode fiar em mulher nenhuma! É tudo a mesma coisa!

Seu maior êxito, porém, foi quando exibiu, para a roda de amigos desocupados, o lenço sujo de batom. Lambia os beiços, o miserável; chamava os amigos para ver e sondava:

— Vê se o batom já saiu, vê!

Os outros, em brasas, queriam saber:

— Mas que foi? Que foi?

Ele, teatral, revelou, baixando a voz e olhando para os lados, que dera um beijo tremendo na infeliz senhora.

Queriam detalhes, perguntavam que tal etc. E ele, já num princípio de tédio, de fastio daqueles lábios de mulher:

— Mais ou menos.

O CÂNCER

Por pura coincidência ou castigo sobrenatural? Eis o que ninguém saberá jamais. O certo é que a notícia correu: “Balduíno está com câncer na língua!”. Foi a tudo quanto era médico, mas não evitou a operação.

Um dia, o marido de d. Branca invadiu o quarto do moribundo. Recebera uma carta anônima e, dentro do envelope de ofício, um lenço sujo de batom. Fora de si, queria saber se era verdade ou se...

Balduíno estava de novo sem os dentes, a boca de velho. O marido perguntava: “É verdade? Diga! É verdade?”. Sem língua, não podia falar. Pediu um lápis; já no limite entre a vida e a morte, escreveu:

— É verdade.

Estava morrendo sem dentes e sem língua. O marido partiu. A esposa estranhou que ele chegasse cedo e ia fazer uma observação amiga qualquer. O pobre-diabo, então:

— Teu amante confessou.

D. Branca quis gritar, fugir, mas nem uma coisa, nem outra. Imóvel e muda, recebeu quatro tiros. Seu medo se extinguiu na morte.

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A coroa de orquídeas e outros contos de A vida como ela é... / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Escorpião de banheiro

Viviam como cão e gato. E eram brigas diárias e tremen­das. Numa das vezes, foi até interessante: — Belchior deu um murro, de mão fechada, na testa de Elvira. A pequena virou por cima das cadeiras. Ergueu-se, ainda vesga da pancada e da que­da. Mas não teve dúvidas maiores: — apanhou o aparelho de rádio e o varejou contra Belchior.

Este abaixou-se e o projétil acertou em cheio na cristaleira, com um estrondo inimaginável. A esta altura dos acontecimentos, os vizinhos em massa inva­dem a casa. A própria radiopatrulha encostava na porta. Subju­gados, os cônjuges ainda esperneavam. Belchior dava arrancos frenéticos:

— Te arrebento! Te parto a cara!

E ela, feito uma fúria:

— Palhação! Cretino!

Para os vizinhos, a pancadaria recíproca e cotidiana era mo­tivo de fascinação e, além disso, de náusea. Há cinco anos leva­vam essa vida e ninguém entendia que continuassem juntos. Ponderaram:

— Vocês não combinam. Por que não se separam?

Ambos concordavam:

— É o golpe! É o golpe!

Mas a separação vinha sendo adiada através das semanas, dos meses e dos anos. Dir-se-ia que, apesar das incompatibili­dades, existia entre os dois um vínculo qualquer, misterioso e fatal. Por fim, tanto os parentes de Belchior como os de Elvira já rosnavam:

— Isso é falta de vergonha! De brio! No duro que é!


MARINA


Até que, um dia, Belchior conheceu Marina. Com esse no­me de letra de Dorival Caymmi, era um amor de pequena, miú­da e linda, doce de sentimentos e de modos e, de resto, educa­díssima. Acostumado com Elvira, que era violenta, desbocada e neurastênica, adorou a suavidade de Marina. No segundo ou terceiro encontro, a menina pergunta: — “Você é casado?”. Ele hesita na resposta. Mas toma coragem e diz:

— Olha, meu anjo. Quero ser leal contigo. Não sou casa­do, mas vivo com uma pessoa assim, assim, separada do mari­do. Compreendeu?

— Compreendi.

E ele:

— Aliás, quero te dizer o seguinte: — essa pessoa é uma jararaca, uma lacraia, um escorpião de banheiro. Não gosta de mim, nem eu dela. Antes de te conhecer, eu já estava resolvido a chutá-la. E, agora que te conheço, mais do que nunca, natu­ralmente.

Marina deu-se por satisfeita. No dia seguinte, Elvira sai de­pois do almoço. Quando volta, ao cair da noite, vê escrita, na parede, a lápis, com a letra do marido, a seguinte mensagem: “VAI-TE PARA O DIABO QUE TE CARREGUE. ADEUS!”.

Elvira, que abominava o companheiro, devia achar o fato uma delícia. Em vez disso, porém, rolou no chão, espumando em ataques. Quando os vizinhos entraram de roldão, atraídos pela gritaria, ela apontou a parede: — “Olha o que aquele ca­chorro escreveu!”. Os vizinhos lêem e relêem atônitos. Elvira soluça:

— Mas ele há de voltar! — E repetia com uma certeza faná­tica: — Há de voltar!


FELICIDADE


Consumada a separação, a felicidade de Belchior foi uma dessas coisas convulsas e patéticas. Como primeira medida, ba­teu o telefone para Marina:

— Estou livre! Livre!

Do outro lado da linha, a pequena chorava:

— Deus te abençoe!

De noite, Belchior, ainda delirante, reuniu os amigos no bar. Bebeu toda a noite. Fez, aos berros, as confidências mais comprometedoras. Em dado momento, com o olho injetado e a bo­ca torcida, esbravejava, numa reminiscência de leitura:

— A consciência não existe! A única consciência que eu re­conheço é o medo da polícia! — Alarga o colarinho, afrouxa o laço da gravata e uiva: — Foi o medo da polícia que me impe­diu de matar Elvira!

Voltou para casa carregado e vomitando nos amigos.


O ANJO


Lera na adolescência um romance ordinaríssimo, que se cha­mava Anjo de redenção. E agora, vendo Marina e sua meiguice consoladora, fez sua tentativa literária ao dizer: — “Tu és o meu anjo de redenção!”. Ela baixou os olhos, arrepiada, e disse:

— Eu faço o que posso!

Apresentou a menina aos pais. E, depois, veio sôfrego sa­ber a opinião dos velhos. A mãe beija-o na testa:

— Uma simpatia!

E o pai, grave:

— Dessa gostei!

Mais quinze dias e houve o pedido oficial. Na tarde em que ficaram noivos, Belchior leva a pequena para a varanda; drama­tiza: — “Quando te conheci, estava na seguinte situação: ou ma­tava ou me matava. Tu me salvaste a vida”.


O IDÍLIO


Pareciam feitos um para o outro. De quinze em quinze mi­nutos, Belchior descobria uma nova afinidade com a menina. De resto, coincidiam em tudo, de uma maneira impressionan­te. Gostavam dos mesmos filmes, das mesmas músicas, das mes­mas paisagens e dos mesmos doces. Ele, que fora tão infeliz na sua anterior experiência sentimental, a ponto de quebrar a ca­beça da amante com um rádio de pilha — agora parecia nave­gar num mar ou, por outra, num lago azul. Viviam sem rixas, sem bate-bocas, numa calma talvez parecida com o tédio. Pouco a pouco, porém, sem que Belchior percebesse, uma certa melancolia se insinuou na sua alma. A noiva acabou estranhando:

— Estou te achando meio assim, triste.

— Eu?

— Você. Anda meio esquisito. Que é que há?

Protestou, rubro:

— Esquisito por quê? Pelo contrário. Nunca me senti tão bem. — Pigarreia e exagera: — “Eu sou o sujeito mais feliz do mundo. Tenho você, quer dizer, tenho tudo”.


A OUTRA

E, de fato, Belchior era ou devia ser o sujeito mais feliz do mundo. Amava e era amado, livrara-se de uma mulher histérica e desequilibrada, que lhe arruinava a vida, a alma, o fígado. Pois bem. Apesar disso, ou por isso mesmo, deu para andar depri­mido, insatisfeito. Explicava vagamente: — “Deve ser esgota­mento”. Nas proximidades do casamento, encontrou-se com um velho amigo, o Peçanha. Este o chamou de lado:

— A Elvira anda jurando que você volta! Diz que quer ser mico de circo se você não voltar!

Pulou, malcriadíssimo:

— Ela é besta! Não quero ver essa cara nem pintada! Isola!

Estaria certa? Estaria errada? Ninguém podia saber. Havia, porém, quem julgasse ver, no caso Belchior e Elvira, um desses sombrios mistérios do sexo, sem explicação possível.


NOITE DE NÚPCIAS


Finalmente, há o casamento. Na igreja, quando Marina pas­sou a caminho do altar, houve um deslumbramento. Na sua graça frágil e intensa, era uma imagem realmente inesquecível. Após a cerimônia, voltam os dois para a casa dos pais de Marina, on­de passariam a residir. Às onze horas, despede-se o último con­vidado; os velhos, depois de abençoarem o casal, recolhem-se. Marina, transfigurada, sussurra: “Espera um pouco que eu te cha­mo, Belchior. Espera”. Nesse instante, bate o telefone e Belchior, surpreso e inquieto, vai atender. Era Elvira. Está dizendo:

— Olha! Eu te espero. A chave está debaixo do tapetinho. Vem, agora!

E desligou. Belchior encostou-se à parede, com a vista tur­va e as pernas bambas. Houve, nele, uma brusca e violenta nos­talgia da mulher que era o seu ódio e seu desejo. Naquele justo momento Marina entreabriu a porta e avisou:

— Pode vir, meu bem!

Ele, porém, não pensava mais na noiva. Dir-se-ia um mag­netizado. Sem rumor, desliza pela escada, rente à parede. Meia hora depois, desce de um táxi na porta da antiga residência. In­sinua a mão debaixo do capacho, apanha a chave. Entra. Em pé, no meio da escada, com o quimono rosa em cima da cami­sola, os pés nas sandálias de arminho, Elvira o espera. Não há uma palavra entre os dois. Belchior enlaça a pequena e, com raiva e gana, a beija muitas vezes. Então, Elvira ri, pendendo a cabeça: — “Meu!”.

E foi esse orgulho que a perdeu. As mãos de Belchior des­cem e se fecham sobre o pescoço macio. Aperta até o fim, sem saber que a estrangulava, sem saber que a estava matando. De­pois, abraçado ao cadáver, diz arquejante:

— Não te enterrarei nunca! Ficarás comigo aqui!

E pousa a cabeça sobre o coração que não bate mais.

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Nelson Rodrigues. A vida como ela é… São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

George Romero


George Romero é o mais lendário e aclamado realizador de filmes de zumbis (considerados um gênero próprio pelos fãs nos EUA), com títulos como A Noite dos Mortos-Vivos, Despertar dos mortos e O Dia dos Mortos no seu currículo de escritor/cineasta.

Recentemente, Romero apostou em remakes da sua obra, e assim estreou em 2005 o filme Terra dos mortos para voltar a fazer as delícias dos fãs do gênero. Alguns anos antes, o nome de Romero tinha sido considerado para realizar a adaptação do jogo de vídeo Resident Evil, mas acabou por ser retirado do  projeto em detrimento de Paul W. S. Anderson.

Continuando a retomada iniciada em 2005, Romero rodou o filme Diary of the Dead, lançado em 2007. O filme foi produzido com um orçamento menor que o Terra dos mortos. Existem boatos de que ele realize uma continuação direta para Diary of the Dead.

George A. Romero (por Gabriel Paixão)

"Meus filmes sobre zumbis foram tão longe que eu fui capaz de refletir os climas sócio-políticos de décadas diferentes. Eu tenho um conceito de que eles têm uma pequena parte de uma crônica, um diário cinemático do que está acontecendo”.

Se fôssemos capazes de resumir em uma única palavra o que George A. Romero representa para o gênero terror, ela seria nada menos do que Mestre. Considerado como o pai dos filmes modernos sobre zumbis, Romero sempre foi respeitado, homenageado e referenciado neste sub-gênero que ajudou a promover com excelência.

Sua figura simpática, acessível e por vezes tímida na vida pessoal se transforma em um homem com o pulso firme de uma pessoa que sabe o que quer, quando está dirigindo uma produção e tornando-a mais um sucesso.

George Andrew Romero (sim, o A é de Andrew), nasceu no dia 4 de fevereiro de 1940, na cidade de Nova York, Estados Unidos, com descendência cubana, e entrou na renomada universidade Carnegie-Mellon em Pittsburgh no estado da Pennsylvania. Depois de graduado, Romero passa a dirigir pequenos curtas e comerciais.

Ele e alguns amigos formaram a produtora Image Ten Productions no final dos anos 60. Fizeram uma espécie de "vaquinha" levantando cerca de 10 mil dólares para cada um e produzir o que se tornaria um dos filmes de terror mais celebrados de todos os tempos: A Noite dos Mortos Vivos (1968).

Filmado em preto e branco com um orçamento de um pouco mais de 100 mil dólares, a visão de Romero, combinada com um roteiro sólido de autoria própria com auxílio do co-fundador da Image, John A. Russo, trouxe para a produtora um excelente retorno financeiro, alçando status de cult. A importância da produção foi tamanha que em 1999 o filme foi indicado para entrar no registro nacional de filmes do congresso dos Estados Unidos.

Antes de retornar aos mortos-vivos os próximos filmes de Romero foram menos aclamados e conseqüentemente menos vistos, mas não menos curiosos. Nesta fase estão filmes como Estrnhas Mutações (1973) e Martin (1977). Apesar de não obterem o sucesso atingido com A Noite..., estes filmes tem sua assinatura nas críticas e comentários sociais, normalmente relacionados com o terror. Como a maioria de seus filmes, eles foram rodados na cidade favorita de Romero (Pittsburgh, Pennsylvania) ou arredores.

Até que chega 1978 e Romero retorna ao gênero dos zumbis com o filme que conseguiu superar o resultado obtido anteriormente com A Noite dos Mortos Vivos. Despertar dos Mortos foi produzido sem o envolvimento da Image Ten, até então detentora da franquia, pois devido a um erro da produtora na hora de registrar A Noite... acabou transformando-o em um filme de domínio público, como resultado Romero e os investidores originais não receberiam nenhum dinheiro sobre os lançamentos em vídeo.

Filmando em um shopping na Pennsylvania durante a madrugada, Romero conta à história de quatro pessoas que escapam de uma série de ataques de zumbis e se trancam dentro de um lugar em que pensam que é um paraiso até que se tornam vitimas de si mesmos, da cobiça e de uma gang de motoqueiros.

Filmado com um orçamento de apenas 500 mil dólares (dizem que a cifra de 1,5 milhões divulgada foi apenas uma jogada de marketing para ajudar os produtores nas negociações com os distribuidores), o filme arrecadou mais de 40 milhões no mundo inteiro e foi nomeado como um dos filmes mais "cults" de todos os tempos pela revista Entertainment Weekly no ano de 2003. O filme também marcou o início de uma amizade e parceria duradoura entre Romero e o brilhante artista em maquiagem e efeitos Tom Savini.

Despertar dos Mortos abriu as portas para Romero trabalhar com maiores orçamentos e elencos mais estrelados. O primeiro filme desta fase foi Cavaleiros de Aço (1981), onde trabalhou com o ator Ed Harris e em seguida Creepshow (1982) que marcou a primeira, mas não a última, adaptação de um trabalho do escritor Stephen King. Creepshow fez sucesso suficiente para que fosse habilitada uma continuação em 1987 também roteirizada por Romero.

A carreira de Romero deu uma declinada com o encerramento da então trilogia dos mortos com o filme Dia dos Mortos (1985). Sem o mesmo brilhantismo de seus dois filmes anteriores sobre zumbis, a produção derrapou na mão dos críticos que o consideraram bem "nhé", não tendo o sucesso esperado na bilheteria e fazendo com que Romero voltasse ao assunto quase 20 anos depois.

Na seqüência Romero dirige Comando Assassino (1988), sobre um homem tetraplégico e um macaco treinado que vira aos poucos seu instrumento de vingança. Ganhou prêmios em alguns festivais, mas não foi muito celebrado pelo público médio. Depois reparte uma adaptação de um conto de Edgar Allan Poeno filme Dois Olhos Satânicos (1990) com o diretor Dario Argento e em seguida mais uma adaptação de Stephen King com o interessante e subestimado A Metade Negra de 1993.

Sem obter o mesmo reconhecimento em termos de bilheteria dos seus filmes de zumbis, Romero só voltaria à cadeira de diretor após um hiato de sete anos com o filme A Máscara do Terror, sobre um homem cuja face se torna gradualmente uma máscara branca, que também não foi bem e entrou no hiato novamente, desta vez por mais cinco anos.

Mas um pouco antes, em 1998, Romero foi contratado pela produtora de games Capcom para rodar um comercial de 30 segundos para promover o popular game Resident Evil 2, acontece que o comercial foi divulgado nas semanas que seguiram do lançamento jogo e se tornou muito popular no Japão, fato este que fez com que a Capcom formalizasse um convite para que Romero dirigisse a versão cinematográfica do game. Como bem sabemos Romero recusou, em suas palavras: "Não quero fazer mais um filme de zumbis e não quero fazer um filme baseado em alguma coisa que não é minha...". Entretanto um pouco depois o diretor reconsiderou e chegou a escrever um roteiro, embora tenha recebido vários elogios, foi descartado para dar lugar ao tratamento de Paul W. S. Anderson.

Romero demonstrou admiração pelo diretor Zack Snyder após os bons resultados do remake de Despertar dos Mortos, lançado no Brasil como Madrugada dos Mortos (2004), fato este que contribuiu para o retorno do diretor em transformar a trilogia em quadrilogia, não antes de se aventurar no mundo dos quadrinhos ao escrever uma minissérie pela DC Comics em 6 partes chamada "Toe Tags Featuring George Romero" (com arte de Tommy Castillo e Rodney Ramos).

Em 2005 finalmente sai Terra dos Mortos e com criticas positivas e bom retorno financeiro, Romero anunciou mais um filme sobre zumbis: Diary of the Dead, mas rumores que, no começo do mês outubro de 2006, o diretor teria sido hospitalizado por um colapso preocuparam os fãs. Surpreendentemente na metade deste mesmo mês o mestre se sentiu bem o suficiente para continuar sua mais nova obra. Atualmente o filme se encontra em pós-produção para lançamento em meados de 2007.

Curiosidades

- George Romero é casado com a atriz Christine Forrest que conheceu nos sets de Season of the Witch e que quase sempre faz ponta nos seus filmes;

- Foi candidato para dirigir uma versão cinematográfica do livro "A Dança da Morte" de Stephen King, adaptado por Rospo Pallenberg, mas o filme nunca se materializou. Ao invés disto foi adaptada pelo próprio King em uma minissérie de TV;

- Também foi contatado para dirigir Cemitério Maldito, mas desistiu devido a diversos atrasos, passou o bastão para o amigo Tom Savini, que também caiu fora até que finalmente Mary Lambert ficou com o trabalho;

- Começou a fazer filmes quando ainda tinha 14 anos em uma câmera de 8mm;

- Romero colaborou com a empresa de games Hip Interactive na produção de um jogo chamado City of the Dead, mas o jogo foi cancelado devido a problemas financeiros da empresa;

- Segundo George Romero seus 10 filmes favoritos são: Irmãos Karamazov (1958), Casablanca (1942), Dr. Fantástico (1964), Matar Ou Morrer (1952), As Minas do Rei Salomão (1950), Intriga Internacional (1959), Depois Do Vendaval (1952), Repulsa Ao Sexo (1965), A Marca Da Maldade (1958) e Os Contos de Hoffman (1951), muito embora afirme que foi este último que o fez ter vontade de fazer filmes;

Filmografia

2005: Terra dos mortos (Land of the dead)
2000: A Máscara Do Terror (Bruiser)
1993: A Metade Negra (Dark half, The)
1990: Dois olhos satânicos (Due occhi diabolici)
1988: Comando assassino (Monkey shines)
1985: O Dia dos Mortos (Day of the dead)
1982: Creepshow - Show de horrores (Creepshow)
1981: Cavaleiros de aço (Knightriders)
1978: Despertar dos mortos (Dawn of the dead)
1977: Martin (Martin)
1974: O.J. Simpson: Juice on the loose (TV)
1973: Exército de Extermínio (The Crazies)
1972: Season of the Witch / Hungry wives
1971: There's always vanilla
1968: A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the living dead)

Fontes: Wikipédia; George A. Romero.

Sir Arthur Conan Doyle

"O mundo está cheio de coisas óbvias, que ninguém, em momento algum, observa!."  (Conan Doyle)

Todo livro é uma onda sonar. A comparação pode parecer esdrúxula, mas não existe analogia mais exata. O escritor cria sua onda no mundo; ela se choca em vários lugares e produz novas ondas que retornam ao escritor. Nunca se tem controle — o mínimo que seja — sobre esse retorno, e o fato dele existir é o que torna escrever, ao menos para mim, uma atividade tão interessante.

No caso de Conan Doyle, essa onda tornou-se um vagalhão totalmente incontrolável — e até indesejável! — pelo escritor. Já dura 120 anos e prova que uma personagem pode extravasar seu criador e torná-lo escravo de suas vontades.

Doyle nasceu na Escócia, mais precisamente na cidade de Edimburgo, no dia 22 de maio de 1859. Era filho de um pintor, Charles Doyle, e de Mary Foley Doyle, ambos de descendência irlandesa.

Entrou na Universidade de Edimburgo em 1876, visando formar-se em medicina. Lá conheceu o Dr. Joseph Bell, cirurgião, cujos métodos de diagnóstico serviram de espelho para que Doyle criasse o detetive mais famoso do mundo. Em sua autobiografia, o escritor narra um episódio dessa peculiar figura:

"Bell era um homem excepcional, tanto no intelecto quanto no físico. Era magro, rijo, moreno, com um rosto comprido e nariz reto, penetrantes olhos cinzentos, ombros angulosos e um jeito desengonçado de caminhar. Tinha uma voz aguda e dissonante. Cirurgião de grande habilidade, seu ponto forte, entretanto, era o diagnóstico - não só da doença, mas da ocupação de índole do paciente. Por algum motivo que nunca atinei, selecionou-me, num grupo de estudantes que freqüentava a sua clínica, e fez de mim o secretário da ala, o que significa que eu tinha que classificar os seus pacientes, fazer anotações simples sobre cada caso e conduzi-los, um de cada vez, para a ampla sala onde Bell ficava sentado, rodeado de enfermeiros e alunos. Tive então muitas oportunidades de estudar os seus métodos e de verificar que, com freqüência, bastavam-lhe umas poucas olhadelas para saber mais, sobre o paciente, do que eu descobria com minhas perguntas. Vez por outra, os resultados chegavam a impressionar, embora em uma ou outra ocasião ele se enganasse. Um de seus casos mais notáveis foi quando ele se dirigiu a um paciente vestido à paisana:

"Quer dizer, meu amigo, que você serviu o exército?"
"Sim, senhor."
"E não faz muito tempo que deu baixa?"
"Não senhor."
"Um regimento de Highlands?"
"Sim, senhor."
"Acantonado em Barbados?"
"Sim, senhor."

"Como podem ver, cavalheiros", explicou-nos, "embora se trate de um homem respeitador...ele não tirou o chapéu. Não se tira, no exército. Entretanto, se ele tivesse dado baixa há muito tempo, teria assimilado hábitos de civil. Ele tem um ar de autoridade, e é, evidentemente, um escocês. Quanto a Barbados, o problema dele é elefantíase - doença das Índias Ocidentais, e nem um pouco britânica". Para sua platéia de Watsons, tudo pareceu milagroso, até a explicação, quando então tornou-se muito simples. Não é de admirar que, após ter observado um personagem desses, eu tenha usado e ampliado seus métodos mais tarde, quando me propus a criar um detetive científico, que resolvia os casos devido ao seu mérito próprio, e não à estupidez do criminoso. Bell interessava-se vivamente por essas histórias de detetive, e até dava sugestões - as quais devo dizer, não eram muito práticas.”

Graças aos comentários elogiosos dos amigos sobre suas cartas, Conan Doyle achou que poderia perceber algum dinheiro com literatura e se animou a escrever seu primeiro conto: “O Mistério de Sassassa Valley”. Ele foi publicado anonimamente pela miserável quantia de três guinéus no Chamber’s Journal, em 1879. O texto já continha a idéia do escritor sobre a aparição de uma “besta demoníaca”, tema usada na mais célebre história de Sherlock Holmes, “ O cão dos Baskervilles”. Sobre a publicação desse primeiro conto, afirmou Doyle:

“Para minha imensa alegria e surpresa, ela foi aceita pelo Chamber's Journal, e recebi 3 guinéus. Pouco me importou o fracasso de outras tentativas. Eu havia vencido uma vez, e consolava-me pensar que venceria de novo. Anos se passaram até que eu chegasse de novo ao Chamber's, mas em 1879 publiquei um conto, A História do Americano (The American's Tale), na London Society, recebendo por ele módico cheque...".

Nos anos de 1880 e 1881, o escritor trabalhou em um navio de caça a baleia e em um outro, como médico de bordo. Viajou pelo Ártico e pela costa ocidental da África, angariando valores um pouco menos insignificantes para ajudar a família.

Ao retornar instalou um pequeno consultório em Portsmouth, onde, devido a escassez de Conan Doyle e Houdineclientes, passou a dedicar seu tempo livre à literatura. Mas precisava de bons personagem, e assim nasceu Sherlock Holmes, que por pouco não seria Sherringford Holmes, e o coadjuvante mais famoso da história, doutor Watson: “Que nome dar ao personagem? Ainda possuo a folha de caderno onde anotei várias alternativas. Rebelei-me contra o artifício de colocar nos nomes insinuações sobre o caráter, com personagens chamados Sharp (Agudo) ou Ferret (Furão). Primeiro, foi Sherringford Holmes; depois Sherlock Holmes. Ele não poderia contar as próprias proezas, de forma que era preciso dar-lhe um companheiro banal - um homem culto e ativo, capaz tanto de acompanhá-lo em suas aventuras, quanto narrá-las. Um nome simples e banal para esse homem modesto. Watson serviria. Foi assim que surgiram os meus fantoches e escrevi Um Estudo em Vermelho (A Study in Scarlet)"

No entanto, Um Estudo em Vermelho perambulou de editora em editora, tendo as constantes recusas deixado o autor “magoado, pois tinha certeza de que merecia sorte melhor”. Somente em 1886, a Ward, Lock & Co. mandou-lhe uma pequena nota:

Primeira edição de "Um Estudo em vermelho""Prezado Senhor,

Seu conto foi lido por nós e nos agradou. Não podemos publicá-lo este ano, uma vez que o mercado se encontra saturado de ficção barata, mas, se o senhor não fizer nenhuma objeção a que ele saia no próximo ano, podemos pagar £25 pelos direitos de autor.
Atenciosamente,
Ward, Lock & Co.

30 de out. de 1886.”

Doyle quase não aceitou a proposta (eu também ficaria MUITO reticente, depois da ficção barata), não tanto pelo valor quase irrisório, mas pela demora, pois achava que o livro poderia lhe abrir caminhos. Entretanto, em vista da série de negativas, resolveu garantir a publicação. O livro foi lançado no ano de 1987 e, não obstante as constantes reedições em todo o globo, doyle só ganhou os tais £25 por ele.

O sucesso do livro (principalmente nos Estados Unidos, pois na Inglaterra não se saiu tão bem) abriu as portas para o escritor, sem no entanto lhe permitir abandonar o consultório, mesmo com os pacientes correndo na direção contrária. Em contrapartida, tinha tempo para escrever, e diversos contos de Holmes foram publicados em uma revista londrina.

Nesse ponto de sua vida é que Doyle nos mostra quão pouco os escritores têm controle sobre o que escrevem: após duas séries do detetive, ele resolveu buscar outros ares, e por fim as suas histórias. Aproveitou a catarata de Reichenbach, a qual havia conhecido durante umas férias na Suíça, e a transformou no túmulo de Sherlock no livro "O Problema Final", publicado em 1893. O alarido de desgosto dos leitores foi tão surpreendente quanto poderoso, sendo organizado até passeata pelas ruas de Londres.

Mesmo assim, o autor foi reticente por dez anos, até que as propostas se tornaram financeiramente irrecusáveis. Em 1903 surge "A Aventura da Casa Vazia", no qual o detetive reaparece, sob o escopo de uma escapada fantástica.

Nesse interlúdio, Doyle auxiliou seu país no conflito com a África do Sul, supervisionando um hospital estabelecido na África e escrevendo artigos defendendo os interesses da Inglaterra. Por esses atos recebeu, em 1902, o título de Sir.

Doyle criou ainda o famoso Professor Challenger, de “O Mundo Perdido”, além de ter escrito vários artigos e livros sobre a doutrina espírita, religião que abraçou.

Morreu aos 71 anos, em 1930, devido a complicações de um ataque cardíaco. Os livros de Sherlock Holmes, apesar do atrito entre o criador e a criatura, o imortalizaram, angariando uma legião de fãs em todo mundo. Uma prova disso é que até hoje os correios londrinos recebem cartas endereçadas a 221-B Baker Street, endereço do escritório do perspicaz detetive.

Romances de Sherlock Holmes

Um Estudo em Vermelho (1887), O signo do quatro (1890), O Cão dos Baskervilles (1902), O Vale do Medo (1915)

Coletânea de contos Holmes:

As Aventuras de Sherlock Holmes (1892), As Memórias de Sherlock Holmes (1894), A Volta de Sherlock Holmes (1905), Seu Último Adeus (1917), O livro de casos de Sherlock Holmes (1927), Coleção completa de histórias de Sherlock Holmes (1928).

Apuleio


A crise ideológica de Roma no século dos Antoninos, quando o ceticismo cortesão se entrelaçou ao crescente influxo dos cultos orientais, serviu de pano de fundo à elaboração da obra de Apuleio, notável figura da literatura, da retórica e da filosofia platônica de sua época.

Lúcio Apuleio nasceu em Madaura, na Numídia (moderna Argélia), por volta do ano 124. Educado em Cartago e Atenas, viajou pelo Mediterrâneo, interessando-se por ritos de iniciação como os associados ao culto da deusa egípcia Ísis.

Versátil e familiarizado com os autores gregos e latinos, ensinou retórica em Roma antes de regressar à África para casar-se com uma rica viúva, cuja família o acusou de ter recorrido à magia a fim de conquistar seu afeto. Para defender-se de tal acusação escreveu a Apologia (173), obra da qual emanam as informações disponíveis sobre sua vida.

Escreveu ainda diversos poemas e tratados, entre os quais Florida, coletânea de trabalhos de eloqüência, mas a obra que lhe deu fama foi a narrativa em prosa em 11 livros a que chamou Metamorfoses e se tornou conhecida como O asno de ouro. São aí relatadas as aventuras do jovem Lúcio, que é transformado por magia em burro e só recupera a forma humana graças à intervenção de Ísis, a cujo serviço se consagra.

O episódio mais destacado dessa obra-prima de Apuleio -- o único romance da antiguidade a chegar completo aos nossos dias -- é a bela fábula de "Amor e Psiquê", que pode ser interpretada como narração puramente estética ou, então, como alegoria da união mística. O episódio, aliás, destoa do estilo do romance em geral, pois este relaciona cenas grotescas, terrificantes, obscenas e, em parte, deliberadamente absurdas.

O tema de "Amor e Psiquê" foi retomado por muitos escritores, entre os quais, no século XIX, os poetas ingleses William Morris e Robert Bridges. Outras passagens de O asno de ouro reapareceram no Decameron, de Giovanni Bocaccio, no Don Quixote, de Miguel de Cervantes, e no Gil Blas de Alain Le Sage. Apuleio morreu em Cartago, provavelmente após o ano 170.

Fonte:Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

O curioso porquinho-da-índia

No século XVI, quando os navegadores espanhóis buscavam um novo caminho para as Índias, em busca de especiarias, aportaram por engano em terras sul-americanas, mais exatamente no atual Peru. Após provarem "churrascos" de certo animal que os nativos conheciam por “Cuí” (e assim o chamam até hoje por causa dos seus gritos curtos, semelhantes ao som emitido pelos porcos), simpatizaram com ele e o adotaram como mascote.

Voltaram para o velho continente com vários deles nas malas e um nome equivocado: porquinho-da-índia. Mas as confusões não pararam por aí. Logo após a chegada à Espanha, os "porquinhos-da-índia" peruanos se transformaram em moda e se espalharam por toda a Europa e o Novo Mundo, não mais como alimentação como eram e ainda são utilizados no Peru, mas como animais de estimação.

Michael Schleissner, um aficionado criador alemão de porquinhos há 32 anos, esclarece: "Existe uma teoria de que tal nome lhe foi atribuído porque os navegantes (agora ingleses), ao retornarem da América do Sul trazendo o mascote predileto da Europa, paravam na Guiné, um país da costa africana. Ao saber da parada, as pessoas achavam que o bichinho vinha da Guiné, e não do Peru.

E ele continua: "Outros atribuem o nome porco-da-guiné ao preço que era cobrado pelos marinheiros ingleses pelos bichinhos, um ‘guinea’, uma moeda de ouro muito utilizada na época". Em inglês, esses roedores são chamados de guinea pigs.

Este curioso roedor e companheiro das crianças é uma ótima opção de animal de estimação. Com um temperamento sociável e de fácil manejo, é uma mascote que tem sucesso garantido.

Em relação a outros roedores, leva vantagem por ser mais lento e, portanto mais fácil de ser encontrado e apanhado. Embora aprecie uma soneca, o porquinho sempre estará disposto a um passeio ou brincadeira.

Ele se adapta bem ao ser humano se acostumado desde pequeno, aceitando bem o cativeiro. Raramente morde, a não ser que se sinta ameaçado.

O porquinho-da-índia se alimenta com comida de coelho em pelotas (peletizada), feno, ou capim, legumes (exceto o alface, que pode causar diarréia) e frutas frescas. Brócolis e couve-flor são legumes maravilhosos por causa da alta quantidade de vitamina C.

Comidas novas devem ser apresentadas aos poucos, uma de cada vez, para se ter certeza que o porquinho não terá uma reação ruim a elas.

O macho chega a pesar entre 1 kg e 1,2 kg e a medir 25 cm quando adulto. Já as fêmeas são mais leves, com aproximadamente 20 cm de comprimento e entre 800 e 900 gramas de peso.

Vive, em média, quatro anos. Para o primeiro acasalamento, se recomenda que o macho tenha de três a quatro meses e as fêmeas de três a sete meses. Jamais depois de sete meses. O período de gestação é de 59 a 72 dias, sendo a média de 62 dias.

A fêmea do porquinho-da-índia tem, em média, de dois a três filhotes. O tamanho ao nascer é de 7,62cm. A idade ideal para o desmame é de três semanas.

Fontes: http://pt.shvoong.com; http://www.petfriends.com.br.

A origem da cerveja

A cerveja (do latim cerevĭsĭa, que por sua vez vem do gaélico) é uma bebida produzida a partir da fermentação de cereais, principalmente a cevada maltada, e acredita-se que tenha sido uma das primeiras bebidas alcoólicas a serem desenvolvidas pelo ser humano. É qualquer uma das variedades de bebidas alcoólicas produzidas pela fermentação de matéria com amido, derivada de cereais ou de outras fontes vegetais.

História

Historicamente, a cerveja era já conhecida pelos sumérios, egípcios e mesopotâmios, desde pelo menos 4.000 a.C. Como os ingredientes usados para fazer cerveja diferem de acordo com o local, suas características (tipo, sabor e cor) variam amplamente.

A notícia mais antiga que se tem dessa bebida vem de 2600 a 2350 a.C. Desta época, arqueólogos encontraram menção no Hino a Ninkasi, a deusa da cerveja, de que os sumérios já produziam a bebida. Já na Babilônia dá-se conta da existência de diferentes tipos de cerveja, originadas de diversas combinações de plantas e aromas, e o uso de diferentes quantidades de mel. O Código de Hamurabi, rei da Babilônia entre os anos de 1792 e 1750 a.C., incluía várias leis de comercialização, fabricação e consumo da cerveja, relacionando direitos e deveres dos clientes das tabernas.

Posteriormente, no antigo Egito, a cerveja, segundo o escritor grego Ateneu de Náucratis (século III d.C.), teria sido inventada para ajudar a quem não tinha como pagar o vinho. Inscrições em hieróglifos e obras artísticas testemunham sobre o gosto deste povo pelo henket ou zythum, apreciada por todas as camadas sociais. Até um dos faraós, Ramsés III (1184-1153 a.C.), passou a ser conhecido como "faraó-cervejeiro" após doar aos sacerdotes do Templo de Amon 466.308 ânforas ou aproximadamente um milhão de litros de cerveja provenientes de suas cervejeiras.

Praticamente qualquer açúcar ou alimento que contenha amido pode, naturalmente, sofrer fermentação. Assim, bebidas semelhantes à cerveja foram inventadas de forma independente em diversas sociedades em redor do mundo. Na Mesopotâmia, a mais antiga evidência referente à cerveja está numa tábua sumeriana com cerca de 6.000 anos de idade, na qual se veem pessoas tomando uma bebida através de juncos de uma tigela comunitária. A cerveja também é mencionada na Epopéia de Gilgamesh. Um poema sumeriano de 3.900 anos, homenageando a deusa dos cervejeiros, Ninkasi, contém a mais antiga receita que sobreviveu, descrevendo a produção de cerveja de cevada utilizando pão.

A cerveja tornou-se vital para todas as civilizações produtoras de cereais da antiguidade clássica, especialmente no Egipto e na Mesopotâmia. O Código Babilônico de Hamurabi dispunha que os taverneiros que diluíssem ou sobretaxassem a cerveja deveriam ser supliciados.

A cerveja teve alguma importância na vida dos primeiros romanos, mas durante a República Romana, o vinho destronou a cerveja como a bebida alcoólica preferida, passando esta a ser considerada uma bebida própria de bárbaros. Tácito, em seus dias, escreveu depreciativamente acerca da cerveja preparada pelos povos germânicos.

No idioma eslavo, a cerveja é chamada piwo (pronuncia-se "pivo"), do verbo pić(pronuncia-se "pítch"), "beber". Por isso, piwo pode ser traduzido como "bebida", o que demonstra a importância que lhe é concedida.

O Kalevala, poema épico finlandês coligido na forma escrita no século XIX, mas baseado em tradições orais seculares, contém mais linhas sobre a origem da fabricação de cerveja do que sobre a origem do homem.

A maior parte das cervejas, até tempos relativamente recentes, eram do tipo que agora chamamos de ales. As lagers foram descobertas por acidente no século XVI, quando a cerveja era estocada em frias cavernas por longos períodos; desde então elas ultrapassaram largamente as cervejas tipo ale em volume (veja abaixo a distinção).

O uso de lúpulo para dar o gosto amargo e preservar é uma invenção medieval, atribuída aos monges do Mosteiro de San Gallo, na Suíça. O lúpulo é cultivado na França desde o século IX. O mais antigo escrito remanescente a registrar o uso do lúpulo na cerveja data de 1067 pela Abadessa Hildegarda de Bingen: "Se alguém pretender fazer cerveja da aveia, deve prepará-la com lúpulo."

No século XV, na Inglaterra, a fermentação sem lúpulo podia dar origem a uma bebida tipo ale - o uso do lúpulo torná-la-ia uma cerveja. A cerveja com lúpulo era importada para a Inglaterra (a partir dos Países Baixos) desde cerca de 1400, em Winchester. O lúpulo passou a ser cultivado na ilha a partir de 1428. A Companhia dos Fabricantes de Cerveja de Londres foi longe a ponto de especificar que "nenhum lúpulo, ervas, ou coisa semelhante será colocada dentro de nenhuma ale ou bebida alcoólica enquanto a ale estiver sendo feita - mas somente um licor (água), malte e uma levedura". Contudo, por volta do século XVI, "ale" veio a referir-se a qualquer cerveja forte, e todas as ales e cervejas continham lúpulo.

Preparação

Via de regra, as cervejas são feitas com água, cevada maltada e lúpulo, fermentados por levedura. A adição de outros condimentos ou fontes de açúcar não é incomum. A cerveja é resultado da fermentação alcoólica preparada de mosto de algum cereal maltado, sendo o melhor e mais popular a cevada.

A água corresponde a aproximadamente 90% na composição da cerveja. Mas não importa de qual localidade ela venha, pois a água utilizada nas atuais cervejarias passa por um processo de “preparação”, que a transforma em água cervejeira. Essa tecnologia, aliada a rígidos controles de qualidade, fazem com que o líquido usado em qualquer fábrica seja igual. Antigamente, a origem dessa água e as suas características tinham um efeito importante na qualidade da cerveja, influenciando, por exemplo, o seu sabor. Muitos estilos de cerveja foram influenciados ou até mesmo determinados pelas características da água da região.

Dentre os maltes, o de cevada é o mais frequente e largamente usado devido ao seu alto conteúdo de enzimas, mas outros cereais maltados ou não maltados são igualmente usados, inclusive: trigo, arroz, milho, aveia e centeio.

A introdução do lúpulo foi relativamente recente na sua composição. Acredita-se que tenha sido introduzido apenas há umas poucas centenas de anos atrás. Usa-se a flor do lúpulo para acrescentar um gosto amargo que equilibra a doçura do malte e possui um efeito antibiótico moderado que favorece a atividade da levedura de cerveja em relação a organismos menos desejados durante a fermentação como os frequentemente encontrados em corpos em decomposição ou fezes de animais. As leveduras, nesse processo, metabolizam os açúcares extraídos dos cereais, produzindo muitos compostos, incluindo o álcool e dióxido de carbono. Dezenas de estirpes de fermentos naturais ou cultivados são usados pelos cervejeiros, sendo, de um modo geral, sortidos por três gêneros: ale ou de fermentação alta, lager ou de baixa fermentação, e leveduras selvagens.

As cervejas costumam ter entre 4 a 5% de teor alcoólico, ainda que este possa variar consideravelmente conforme o estilo e o cervejeiro. De fato, existem cervejas com teores alcoólicos desde 2% até mais de 20%.

Tipos de cerveja

Há muitos tipos diferentes de cerveja. Uma descrição detalhada dos estilos de cerveja pode ser encontrada na página de Internet da Beer Judge Certification Program (Programa de Licenciamento dos Avaliadores de Cerveja).

Lager

As lagers (em especial as claras) são, provavelmente, o tipo mais comum de cerveja consumida. Elas são originárias da Europa Central (provavelmente da atual Alemanha), tirando seu nome da palavra germânica lagern ("armazenar"). De baixa fermentação, são tradicionalmente armazenadas em baixa temperatura por semanas ou meses, clareando, amadurecendo e ganhando maior quantidade de dióxido de carbono. Atualmente, com o aperfeiçoamento do controle de fermentação, muitas cervejarias de lagers usam períodos consideravelmente menores para armazenamento a frio (de 1 a 3 semanas).

Embora existam muitos estilos de lagers, a maioria delas é clara na cor, com alto teor de gás carbônico, de sabor moderadamente amargo e conteúdo alcoólico entre 3-6% por amostra. Os estilos de lager incluem: Bock, Heineken, Doppelbock, Eisbock, Munchner Helles, Munchner Dunkel, Maibock, Dry Beer, Export, Märzen (feita somente para a Oktoberfest bávara), Pilsener e Schwarzbier (cerveja preta).
[editar] Malzbier

Malzbier

Malzbier é um tipo de cerveja, doce e com baixo teor alcoólico (geralmente entre 0 - 1%), de cor escura, que é fermentada com uma cerveja normal, porém com a fermentação de levedo por volta do 0 °C. O CO2 e o açúcar é adicionado depois. A Malzbier é geralmente usada como uma bebida energética.

Ale

Cervejas de fermentação alta, especialmente populares na Grã-Bretanha e Irlanda, incluindo as mild (meio-amargas), bitter (amargas), pale ale (ale clara), porter (cerveja escura muito apreciada por estivadores) e stout (cerveja preta forte).

As cervejas de fermentação alta tendem a ser mais saborosas, incluindo uma variedade de sabores de cereais e ésteres produzidos durante a fermentação que lhe conferem aroma frutado; são também de baixo teor de gás carbônico, fermentadas e servidas idealmente numa temperatura mais elevada do que as lagers. Diferenças de estilo entre cervejas de fermentação alta são muito maiores do que aquelas encontradas entre as cervejas de baixa fermentação e muitos estilos são difíceis de categorizar. A cerveja comum da Califórnia, por exemplo, é produzida usando o fermento para lagers em temperaturas para ales. As cervejas à base de trigo são geralmente produzidas usando um fermento para ales e então armazenadas, às vezes com um fermento para lagers. A cerveja belga Lambic é produzida com fermentos selvagens e bactérias, nativos da região do vale do rio Zenne (Pajottenland), perto de Bruxelas. Ale verdadeira é um termo para as cervejas produzidas usando métodos tradicionais e sem pasteurização.

Porter

Cerveja do tipo ale produzida originalmente na Inglaterra, a porter é fabricada a partir do processo de fermentação alta, assim chamada porque ela ocorre a uma temperatura elevada, entre 15 °C e 20 °C, fato que leva as leveduras a subirem à superfície, resultando em uma cerveja forte e encorpada.

Pilsen

Cerveja do tipo lager, amarga, de coloração dourada e bastante transparente. É o gênero de cerveja mais consumido em todo o mundo, pertencem a este gênero cervejas como Carlsberg, Brahma, Quilmes, Budweiser... (basicamente todas as cervejas mais consumidas do planeta). O nome pilsen é derivado de Pilsen, nome alemão da atual cidade de Plzeň, localizada na República Checa, onde este estilo de cerveja foi originalmente produzido.

Cerveja sem álcool

Durante o processo de fabricação da cerveja é possível interferir na produção durante a fermentação, em que, alterando o tempo, a temperatura e a pressão, é possível produzir tradicional e naturalmente a cerveja sem álcool. Atualmente é também utilizado outro processo, em que através de um tipo de microfiltragem é possível retirar o álcool da cerveja.

Fontes: Wikipédia;