domingo, 31 de julho de 2011

Bram Stoker, o criador de Drácula

Mundialmente conhecido como o autor do livro Drácula, Abraham "Bram" Stoker nasceu Dublin, Irlanda, em 1847. Aos 16 anos ele ingressou no Trinity College da Universidade de Dublin e filiou-se na Sociedade Filosófica, onde escreveu seu primeiro ensaio, Sensationalism in Fiction and Society.

Tornou-se, mais tarde, presidente desta sociedade e auditor da Sociedade Histórica. Graduou-se em bacharel, com honras, em 1870, indo trabalhar, assim como seu pai havia feito, como funcionário público no Castelo de Dublin, mas continuou estudando meio-período para desenvolver seu mestrado, defendido em 1875.

Stoker era fascinado pelo mundo do teatro (ele ficou impressionado com o ator Henry Irving, que futuramente seria uma figura decisiva na sua vida) e ofereceu-se, sem remuneração, para ser crítico de teatro do jornal Dublin Evening Mail. Suas críticas começaram a aparecer em vários jornais, fazendo com que Stoker fosse bem-recebido nos círculos sociais de Dublin (ele chegaria a conhecer os pais de Oscar Wilde).

Em 1873 foi oferecido a ele a editoração do novo jornal Irish Echo, mais tarde rebatizado como Halfpenny Press, por meio-período e sem remuneração. O fracasso comercial deste jornal o faria pedir demissão em 1874 e, então, ele mergulharia no mundo do teatro, começando a escrever suas primeiras peças de ficção, contos e seriados, que eram publicados nos jornais locais. Seu primeiro texto na linha do terror foi The Chain of Destiny, apresentado como seriado no periódico Shamrock, em 1875.

Neste momento, a figura de Henry Irving entra definitivamente na vida de Stoker. Irving assumiu a direção do Lyceum, em Londres, e convidou Stoker para ser o gerente do teatro. Muitos estudiosos acreditam que a forte figura de Irving, praticamente "sugando" tudo de Stoker, pode ter sido a inspiração para a criação da imagem forte e dominadora do personagem Drácula. A amizade/sociedade entre Stoker e Irving duraria até a morte deste último, em 1905.

Outra figura que pode ter inspirado diretamente o texto de Drácula foi sua esposa, Florence Stoker. Ela era uma das mais lindas e disputadas mulheres de Dublin, tendo sido, inclusive, prometida pelos seus pais para ser a esposa de Oscar Wilde.

Florence escolheu Stoker por causa da segurança do emprego público dele, situação que se alteraria quando ele foi para Londres dirigir o Lyceum. A bela e dominante Florence estava longe de ser a típica esposa dos padrões ingleses da época, ou seja, submissa ao marido: ela se impunha na relação, situação que deixava Stoker constrangido. O domínio de Drácula sobre as mulheres era uma crítica à sua própria vida doméstica.

Durante seus primeiros anos em Londres, Stoker escreveu seu primeiro livro de ficção, uma coletânea de histórias para crianças (Under the Sunset), publicada em 1882. Seu trabalho no Lyceum o obrigava a escrever, sendo que seu primeiro romance publicado, The People, em 1889, nasceu como um seriado para o teatro e foi transformado em livro em 1890.

Os estudiosos não chegaram a uma conclusão das reais razões de Bram Stoker escrever uma obra como Drácula. Podemos notar uma mudança de estilo e temáticas a partir de 1890, pois seus textos ficaram mais ricos e o sobrenatural e o terror ganharam um espaço maior, em particular no conto The Squaw.

Aparentemente, Stoker tomou sua decisão de escrever sobre vampirismo depois de um pesadelo na qual ele viu um vampiro se levantando do túmulo. Ele tinha referências literárias, pois tinha lido Carmilla (1872), de Sheridan Le Fanu, e o conto The Vampyre (1819), de John Polidori, além de tomar conhecimento de discussões sobre o sobrenatural, discussões estas comuns no final do século XIX na Inglaterra.

Mas a inspiração final surgiu nas suas pesquisas sobre um nobre do século XV que viveu na região da Transilvânia, localizada na Romênia, que impediu a penetração dos turcos na Europa, conhecido como Vlad, o Empalador (ou Vlad Tepes), pois este empalava (perfurava com uma madeira pontuda) seus inimigos. O nome Drácula foi tirado do pai deste nobre, chamado Vlad Dracul (este último termo significava diabo ou dragão). E a forma de contar a história através de personagens diferentes em diferentes documentos (diários, cartas, recortes de jornal, etc.) foi inspirada no livro The Moonstone, de Wilkie Collins.

Muitas características da vida de Stoker e da Inglaterra do final do século XIX foram retratadas em Drácula. Já citamos a forte presença de Henry Irving e as dificuldades de Stoker em conviver com Florence - Drácula tinha uma presença poderosa e dominava as mulheres; a presença de um grande número de estrangeiros na Inglaterra, resultado da imigração que ocorreu no período, assustava o homem inglês - não coincidentemente Drácula era estrangeiro, trazendo doenças e desgraças para a "limpa" vida inglesa; sexo e sangue são temas presentes no livro - as doenças venéreas eram o grande temor do homem inglês da época, pois tanto a gonorréia quanto a sifílis eram contraídas através de relações sexuais e contato com sangue, além de não existir cura para ambas; a ciência era fascinante na época - e o confronto entre o sobrenatural Drácula e o mundo científico de Van Helsing deu a vitória a este último.

Publicado em 1897, Drácula recebeu uma acolhida dividida entre a crítica da época, com alguns elogiando a obra como uma poderosa peça de fascinação lúgubre e outros criticando-a pela estranheza da temática e de certa crueza na abordagem. A mãe de Stoker elogiou a obra vigorosamente, comparando-a ao livro de Mary Shelley, Frankenstein. Na época do lançamento do livro, Stoker realizou uma leitura do texto em quatro horas no Lyceum, sendo que o evento foi apresentado completo, inclusive com anúncios, como Dracula, ou The Un-Dead, para proteger a trama e o diálogo de furto literário. Foi a única apresentação dramática de Drácula durante a vida de Stoker.

Nunca mais Stoker escreveria uma obra tão importante como Drácula. Aliás, sua carreira literária entraria em decadência, apesar de ter produzido um grande número de textos na virada dos séculos XIX e XX. Um incêndio no Lyceum destruiu a maior parte do guarda-roupa, adereços e equipamentos, deixando as condições do teatro precárias. A saúde de Henry Irving, já em declínio, piorou. O teatro seria transferido para um sindicato, fechando de vez em 1902.

Irving morreria em 1905. A partir daí, Stoker teria grandes dificuldades para escrever, pois sua saúde também piorara: ainda em 1905 ele teve um derrame e, em seguida, contraiu a doença de Bright, que afeta os rins. Sua saúde foi declinando cada vez mais até sua morte, em sua casa, ocorrida em 12 de abril de 1912.

Florence Stoker herdou os copyrights do marido e deu permissão para o teatrólogo Hamilton Deane transformar Drácula em peça de teatro, o que daria grande fama ao texto de Stoker, precedendo seu futuro sucesso nas telas do cinema - meio este que transformou Drácula num dos mais famosos e conhecidos personagens do século XX.

Por: Orivaldo Leme Biagi, Doutor em História pela UNICAMP, Professor das Faculdades Atibaia (FAAT) e Membro da Academia Literária Atibaiense (ALA).

Bernardo Guimarães

Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, romancista e poeta da segunda geração romântica, nasceu em 1825 e morreu em 1884. Como ficcionista, a capacidade incomum para retratar os costumes regionais o levou à adoção de uma linguagem atravessada por saborosas expressões do interior e, mais do que isso, pelo próprio pitoresco da oralidade provinciana.

Assim, uma de suas contribuições mais importantes foi a de minar o excesso declamatório vigente na época em que viveu. Com Escrava Isaura, romance de denúncia antiescravocrata, o escritor se tornou popular até nossos dias.

Aventurou-se, também, como José de Alencar, pelo romance histórico, folclórico-lendário, indianista e psicológico, mas, contrariamente àquele, com sua poesia, realizou paródias do indianismo com o intuito de, ridicularizando-o, deixá-lo para trás.

Poemas satíricos, obscenos e bestialógicos, filiando-o à corrente satânica do ultra-romantismo, consolidaram o lado boêmio do escritor.

Afastando-se de um lirismo açucarado de muitos poetas de então, ele emprega todo um vocabulário de práticas sexuais explícitas que choca a moralidade conservadora reinante.

Fonte: http://contosassombrosos.blogspot.com/2008/11/bernardo-guimares.html

John Landis

John Landis, cineasta, nasceu em Chicago, Illinois, EUA, em 3 de Agosto de 1950. Aos 17 anos trabalhou como carteiro nos estúdios da Fox. Frequentemente escala diretores e produtores como atores em pequenas papéis em seus filmes. Dirigiu os videoclips das músicas Thriller e Black or White, ambos de Michael Jackson.

Landis é um caso peculiar na lista dos mestres do terror. De fato, o cineasta trabalhou tantas vezes no gênero como fora dele e não há dúvidas que o seu gênero de predileção é antes de tudo a comédia.

Essa forma de distanciação poderia ter feito de Landis um detestável realizador do gênero, mas, felizmente, o realizador nunca deixou dúvidas sobre o seu amor pelo gênero do fantástico, fazendo sempre prova de um grande respeito para com ele. Assim, John Landis deu-nos alguns dos melhores exemplos da fusão entre o riso e o medo, entre a comédia e o terror.

A sua carreira começou com o chanfrado Schlock em 1973, escrito e realizado pelo cineasta. Este low budget  deixou claro de imediato a fusão de gêneros que marcará a sua filmografia. A partir daqui, Landis alternaria puras comédias e filmes de terror paródicos. Seguiram-se, portanto The Kentucky Fried Movie, Animal House, o mítico Os Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers), o não menos mítico Um Lobisomem Americano em Londres, Os Ricos e os Pobres", a sua participação em The Twilight Zone: The Movie, o famoso vídeo para Michael Jackson Thriller, as comédias Into the Night, Spies Like Us, Três Amigos, Cheeseburger Film Sandwich e Um Príncipe em Nova Iorque.

Como se pode verificar, John Landis contribuiu muito mais para o gênero da comédia do que para o do terror, mas Um Lobisomem Americano em Londres valeu-lhe uma merecida entrada no clube fechado dos realizadores do cinema fantástico.

Como praticamente todos os realizadores de gênero da sua geração, a entrada nos anos 90 foi complicada para o cineasta e os seus ensaios no cinema foram pouco convincentes, obrigando-o a desenvolver trabalhos para a televisão. No cinema, sucederam-se o fraco Oscar - Minha Filha Quer Casar, a simpática comédia vampiresca Innocent Blood, ou para esquecer Um Tira da Pesada 3", o desnecessário Blues Brothers 2000 e o inconseqüente Susan's Plan.

O seu trabalho para a televisão, como escritor, realizador e produtor, foi mais empolgante nomeadamente com a fabulosa série Dream On.

Será, portanto um pouco abusivo considerar John Landis um mestre do terror, mas há que reconhecer que muitos dos seus filmes, terror ou não, entraram no inconsciente coletivo dos fãs de filmes do gênero e, pensando bem, a sua participação nas duas temporadas de Masters of Horror parece perfeitamente lógica.

Filmografia

2007 - Don Rickles documentary
2006 - Great sketch experiment, The
2004 - Slasher (TV)
1998 - Plano de risco (Susan's plan)
1998 - Os irmãos cara-de-pau 2000 (Blue brothers 2000)
1996 - Os babacas (Stupids, The)
1994 - Um tira da pesada 3 (Beverly Hills cop 3)
1992 - Inocente mordida (Innocent blood)
1991 - Oscar - Minha filha quer casar (Oscar)
1988 - Um príncipe em Nova York (Coming to America)
1987 - As amazonas na lua (Amazon women on the moon)
1986 - Três amigos! (Three amigos!)
1985 - Os espiões que entraram numa fria (Spies like us)
1985 - Um romance muito perigoso (Into the night)
1983 - No limite da realidade (Twilight Zone: The movie)
1983 - Trocando as bolas (Trading places)
1981 - Um lobisomem americano em Londres (An american werewolf in London)
1980 - Os irmãos cara-de-pau (Blue brothers, The)
1978 - Clube dos cafajestes (Animal house)
1977 - Kentucky fried movie, The
1973 - Schlock

Fontes: FanatiCine; Adoro Cinema - Personalidades.

Recalcitrante

O trocador olhou, viu, não aprovou. Daquele passageiro, escanchado placidamente no banco lateral, escorria um fio de água que ia compondo, no piso do ônibus, a microfigura de uma piscina.

- Ei, moço, quer fazer o favor de levantar?

O moço (pois ostentava barba e cabeleira amazônica, sinais indiscutíveis de mocidade), nem-te-ligo. O trocador esfregou as mãos no rosto, em gesto de enfado e desânimo, diante de situação tantas vezes enfrentada, e murmurou: - Estes caras são de morte.

Devia estar pensando: todo ano a mesma coisa. Chegando o verão, chegam os problemas. Bem disse o Dario, quando fazia gol no Atlético: problemática demais. Estava cansado de advertir passageiros que não aprendeu viajar no coletivo. Não aprendem e não querem aprender. Tendocomprado passagem por 65 centavos, acham que compraram o ônibus e podem fazer dele casa-da-peste. Mas insistiu:

- Moço! O moço!

Nada. Dormia? Olhos abertos, pernas cabeludas, ocupando cada vez mais espaço, ouvia e não respondia. Era preciso tomar providência.

- O senhor aí, cavalheiro, quer cutucar o braço do distinto, pra ele me prestar atenção?

O cavalheiro, vê lá se ia se meter numa dessas. Ignorou, olímpico, a marcha do caso terrestre. Embora sem surpresa, o cobrador coçou a cabeça. Sabia de experiência própria que passageiro nenhum quer entrar numa fria. Ficam de camarote, espiando o circo pegar fogo. Teve pois que sair de seu trono, pobre trono de trocador, fazendo a difícil ginástica de sempre. Bateu no ombro do rapaz:

- Vamos levantar?

O outro mal olhou para ele, do longe de sua distância espiritual. Insistiu:

- Como é, não levanta?

- Estou bem aqui.

- Eu sei, mas é preciso levantar.

- Levantar pra quê?

- Pra que, não. Por quê. Seu calção está molhado de água do mar.

- Tem certeza que é água do mar?

- Tá na cara.

- Como tá na cara? Analisou?

Ferrou-se de paciência para responder:

- Olha, o senhor está de calção de banho, o senhor veio da praia, que água pode essa que está pingando se não for água do mar? Só se...

- Se o quê?

- Nada.

- Vamos, diz o que pensou.

- Não pensei nada. Digo que o senhor tem que levantar porque seu calção está ensopado e vai fazendo uma lagoa aí embaixo.

- E daí?

- Daí, que é proibido.

- Proibido suar?

- Claro que não.

- Pois eu estou suando, sabe? Não posso suar sentado, com esse calorão de janeiro? Tenho que suar de pé?

- Nunca vi suar tanto na minha vida. Desculpe, mas a portaria não permite.

- Que portaria?

- Aquela pregada ali, não está vendo? "O passageiro, ainda que com roupa sobre as vestes de banho molhadas, somente poderá viajar de pé."

- Portaria nenhuma diz que passageiro suado tem que viajar de pé. Papo findo, tá bom?

- O senhor está desrespeitando a portaria e eu tenho que convidar o senhor a descer do ônibus.

- Eu, descer porque estou suado? Sem essa.

- O ônibus vai parar e eu chamo a polícia.

- A polícia vai me prender porque estou suando?

- Vai botar o senhor pra fora porque é um... recalcitrante.

O passageiro pulou, transfigurado: - O quê? Repita, se for capaz.

- Re... calcitrante.

- Te quebro a cara, ouviu? Não admito que ninguém me insulte!

- Eu? Não insultei.

- Insultou, sim. Me chamou de réu. Réu não sei o quê, calcitrante, sei lá o que é isso. Retira a expressão, ou lá vai bolacha.

- Mas é a portaria! A portaria é que diz que o recalcitrante...

- Não tenho nada com a portaria. Tenho é com você, seu cretino. Retira já a expressão, ou...

Retira, não retira, o ônibus chegou ao meu destino e eu paro infalivelmente no meu destino. Fiquei sem saber que conseqüências físicas e outras teve o emprego da palavra "recalcitrante".
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Fonte: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - De Notícias & Não-Notícias Faz-se a Crônica - 2a. edição - Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1975.

Adesão

Diz que era um camarada que ia viajando num trem, no interior de São Paulo. Ia para a sua cidade, para visitar os parentes. No vagão, em que viajava, iam tam­bém os componentes de uma chatíssima embaixada futebolística.

Iam aos berros, alegres, comunicativos e, pelo que o homem pôde ouvir, vinham de uma cidade, próxi­ma, onde venceram um jogo pelo escore de 3 x 2, ga­nhando com isso uma taça de péssimo gosto, a qual — de vez em quando — enchiam de cerveja e bebiam fartamen­te, como faziam os nababos de outros tempos, só que não era cerveja, era champanhe, e também não era na taça, era nos sapatos daquelas "vidas tortas" da belle époque.

O homem vinha imaginando essas coisas, quando um dos jogadores, ao passar rumo ao banheiro, derramou cerveja em sua calça. O homem ficou muito do furioso e levantou-se, para ver se dava um jeito de enxugar. Passou à frente do jogador, entrou no banheiro e trancou a por­ta. Depois tirou a calça, esfregou um lenço e pendurou na janela, para acabar de secar. Foi aí que deu galho, isto é, numa árvore à beira da estrada de ferro, ficou presa a cal­ça a balançar, como a lhe dar adeus.

O homem ficou no banheiro, abilolado. A próxima cidade era a sua cidade, mas como desembarcar nela, sem calça? E estava sentado naquele negócio, chateadíssimo, quando percebeu que o trem ia parar. Abriu a janelinha, desconsolado, no justo momento em que o comboio pa­rava. E foi então que percebeu: o time de futebol ia desembarcar também ali, na sua cidade.

O homem não con­versou. Num instantinho tirou o paletó e a gravata, vestiu a camisa ao contrário, dando a impressão àqueles que o vissem de frente que era a camisa de um goleiro, e desem­barcou no meio dos jogadores, a berrar: — 3 a 2!!! 3 a 2!! — depois correu e entrou num táxi.

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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Vacina controladora

Conforme vocês sabem, o problema da natali­dade se está tornando crucial e como a humanidade ado­ra entortar os caminhos, descobriram a pílula que resol­veria o problema mas criaram o problema do uso da pílu­la.

E, enquanto os políticos e religiosos discutem se po­dem ou não podem tomar a pílula, os americanos, sem­pre apressadinhos, inventaram a vacina.

Agora passemos a palavra a Mr. Frank Norestein, pre­sidente do Conselho de População de Nova Iorque, ór­gão que nenhum de vocês imaginava que existia, mas que existe. Mr. Frank anunciou ao mundo que o controle da natividade, muito mais breve do que se pensa, poderá ser obtido através de vacinas que terão garantia de seis meses a um ano de imunização.

Diz o distinto que o atual ritmo de natividade vem num crescendo tal, que, mais cedo ou mais tarde, até mesmo as entidades religiosas serão levadas a aceitar uma solução médica para tão sério problema.

Aqui o guia espiritual de vocês, que não acredita em nada sem antes consultar a sábia Tia Zulmira, esteve no casarão da Boca do Mato, contando para a velha e experi­ente ermitã o que se propala sobre a vacina, e indagando em seguida o que titia acha disso.

Ela retirou o pince-nez, coçou o nariz, e explicou que os anticonceptivos já existem às pampas e muitos deles são batata. Apenas, razões de ordem religiosa obri­gam a medicina a não caprichar demasiado na fórmula, restringindo com isto a ação dos laboratórios, razão pela qual, de vez em quando, uma consumidora de anticonceptivo penetra pela tubulação.

— De qualquer maneira — acrescentou a veneranda senhora — a melhor vacina para controle de natividade era a que eu adotava, no meu tempo.

— Qual era?

— Cada um dormia num quarto.

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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

O salto da pulga

Estudiosos da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, resolveram o mistério de como pulgas saltam tão longe e tão rápido.

Estudos anteriores já haviam revelado que a energia necessária para catapultar uma pulga a uma distância 200 vezes maior do que o comprimento do seu corpo tinha sua origem em uma estrutura elástica, semelhante a uma mola, presente no organismo do inseto.

Filmagens feitas com câmeras capazes de capturar objetos se movendo em alta velocidade revelaram que o segredo está na forma como as pulgas usam suas pernas traseiras – como alavancas de múltiplas partes.

"Finalmente descobrimos que as pulgas não pulavam se estava escuro", explicou Sutton. "Então, desligávamos as luzes, posicionávamos a câmera para colocar a pulga no plano (de filmagem), acendíamos a luz e a pulga saltava".

Esse ‘efeito alavanca’ permite que as pulgas pressionem suas patas no chão e a liberação repentina da ‘mola enrolada’ projeta o inseto para a frente e para cima, afirmam os cientistas na revista científica Journal of Experimental Biology.

Pulga é o nome comum dos insetos sem asas da ordem Siphonaptera. As pulgas são parasitas externos que se alimentam do sangue de mamíferos e aves. Estes animais podem transmitir doenças graves como o tifo e a peste bubônica.

Elas afetam normalmente animais de estimação, como o gato, o cachorro, entre outros. Elas dependem do hospedeiro para se alimentarem e se protegerem, permanecendo toda a sua vida. Além de provocarem incômodo pelas picadas, transmitem vermes, parasitas sanguíneos e podem induzir a processos alérgicos, diminuindo a qualidade de vida dos animais.

O tamanho de uma pulga dependendo da espécie pode chegar a 5 mm de comprimento.

Fonte: G1 / Wikipédia

Urubus e outros bichos

O primeiro urubu de exportação negociado pelo Brasil foi para a Holanda. Não sei para que é que os súdi­tos da Rainha Juliana queriam um urubu, se o país lá deles é de uma impressionante limpeza. Em todo o caso, como o urubu foi exportado para Amsterdã, limitei-me a dar a notícia.

Depois, outros urubus foram exportados para outras tantas capitais européias. Isto sem contar certos urubus do Itamarati que — verdade seja dita — não foram exportados propriamente. Atravessaram a fronteira "a ser­viço ", para ser recambiados mais tarde.

Mas deixa isso pra lá. Se volto ao assunto é porque leio aqui um telegrama vindo de São Paulo no qual se con­ta que há representantes de jardins zoológicos da Alema­nha, da Holanda e da Itália, nas cidades de Santos, São Paulo e Manaus preparando a compra de diversos urubus.

O fato de haver um representante da Holanda entre os compradores de urubu deixou Bonifácio Ponte Preta (o Patriota) regurgitando de alegria cívica, uma vez que — como ficou dito acima — a Holanda foi a primeira nação a adotar urubu brasileiro. O detalhe deixou o Boni tão exci­tado que chegou a recitar de orelhada um poema de Fa­gundes Varela que começa assim: "Pátria querida, pátria gloriosa, Continua fitando os horizontes..." E depois, olhos marejados de patriotismo, acrescentou:

— Se a Holanda quer mais urubu é porque o nosso urubu está agradando na Europa.

Só não disse que a Europa curvou-se mais uma vez ante o Brasil, porque Bonifácio não é acaciano. É patriota.

Entretanto, se esse detalhe do telegrama impressio­nou o Boni, a mim o detalhe do mesmo telegrama que mais impressionou foi o final, onde se lê: "Os europeus querem também comprar animais embalsamados".

Acho que este negócio também é interessante para nós, mas os europeus vão desculpar: terão que esperar um pouco para adquirir animais embalsamados. Por um dever democrático é preciso que antes eles cumpram os seus respectivos mandatos no Senado.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. —  Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Os pensamentos do Lalau

Sérgio Porto
- No Brasil as coisas acontecem, mas depois, com um simples desmentido, deixaram de acontecer.

- Antes só do que muito acompanhado.

- Quando aquele cavalheiro nervoso entrou no hospital dizendo "eu sou coronel, eu sou coronel", o médico tirou o estetoscópio do ouvido e quis saber: "Fora esse, qual o outro mal do qual o senhor se queixa?"

- Ser imbecil é mais fácil.

- Está dando mais do que cará no brejo.

- Nos trens suburbanos não livram a cara nem de padre, que dirá mulher de minissaia.

- O mais perigoso é que já estão confundindo justa causa com calça justa.

- O Reino Unido não é tão unido assim como eles dizem, não.

- Desligou o telefone com uma violência de PM em serviço.

- Mais monótono do que itinerário de elevador.

- Macrobiótica é um regime alimentar para quem tem 77 anos e quer chegar aos 78.

- Consciência é como vesícula, a gente só se preocupa com ela quando dói.

- Difícil dizer o que incomoda mais, se a inteligência ostensiva ou a burrice extravasante.

- Sempre ouviu dizer que o homem totalmente realizado é aquele que tem um filho, planta uma árvore e escreve um livro. Tinha um filho, plantou uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever um livro sobre isso.

- Quem não tem quiabo não oferece caruru.

- Mania de grandeza é a desses suplementos literários que têm um aviso dizendo que é proibido vender separadamente.

- Pode-se dizer a maior besteira, mas se for dita em latim muitos concordarão.

- Homem que desmunheca e mulher que pisa duro não enganam nem no escuro.

- Todo homem previdente sorri sem falha no dente.

- Mulher expondo teoria sobre educação infantil é solteira na certa.

- Menino mijado, bode embarcado e chefe de Estado, nunca fica despreocupado.

- Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!

- Esperanto é a língua universal que não se fala em lugar nenhum.

- Pra quem gosta de jiló, coruja é colibri.

- Era desses caras que cruzam cabra com periscópio pra ver se conseguem um bode expiatório.

- O terceiro sexo já está quase em segundo.

- As coisas que mais contribuem para avacalhar a dignidade de um homem são, pela ordem, bofetão de mulher e tombo de bunda no chão.

- Caetano Veloso confunde velocidade com trepidação.

- Hoje em dia ninguém é bonzinho de graça.

- A polícia prendendo bicheiros? Assim não é possível. Respeitemos ao menos as instituições!

- O primeiro nome de Freud era Segismundo. Aliás, não só seu primeiro nome como também seu primeiro complexo.

- Às vezes é melhor deixar em fogo lento do que mexer na panela.

- Mais inútil do que um vice-presidente.

- Mais mole que bochecha de velha.

- A polícia anda dizendo que prende um bandido de meia em meia hora, então a gente fica desconfiado que eles assaltam de 15 em 15 minutos.

- Ninguém se conforma de já ter sido.

- Quem desdenha quer comprar, quem disfarça está escondendo, mas quem desdenha e disfarça, não sabe o que está querendo.

- Mulher enigmática, às vezes é pouca gramática.

- Quando um amigo morre, leva um pouco da gente.

- Nem todo rico tem carro, nem todo ronco é pigarro, nem toda tosse é catarro, nem toda mulher eu agarro.

- Quem diz que futebol não tem lógica ou não entende de futebol ou não sabe o que é lógica.

- A diferença entre o religioso e o carola é que o primeiro ama a Deus, o segundo, teme.

- Pediatra sempre capricha na pronúncia quando anuncia sua especialidade, pra evitar mal-entendidos.

- Nem todo gordo é bom, muitos se fingem de bonzinhos porque sabem que correm menos.

- Tinha tal pavor de avião que se sentia mal só de ver uma aeromoça.

- Mulher e livro, emprestou, volta estragado.

- O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.

E para terminar:

- Da minha janela vejo o pátio de um colégio e quando a campainha toca para o intervalo das aulas eu paro de trabalhar e fico olhando, como se estivesse no recreio também.

- O importante é não deixar nunca que o menino morra completamente dentro da gente. Caso contrário, ficamos velhos mais depressa. Dizem que é por isso que os chineses, de incontestável sabedoria, conservam o hábito de soltar papagaio (ou pipa, se preferirem) mesmo depois de adultos. Não sei se é verdade, nunca fui chinês.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/s/sergio.htm