quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Caju amigo do homem

O caju, fruta brasileira que aqui já encontrou o Almirante Pedro Álvares Cabral — hoje estátua nos jardins do Russel e anteriormente descobridor do Brasil —, foi batizado (não Cabral, mas o caju) pelos índios tupis. Acreditavam os silvícolas que o referido fruto nascesse de cabeça pra baixo, impressão esta causada pelo caroço (castanha) que o caju ostenta na sua parte de baixo. Mas isso é besteira porque, pensando bem, não somente o caju, mas todo mundo nasce de cabeça pra baixo.

De como o caju se transformou em amigo do homem, principalmente do homem que bebe e, particularmente, do homem casado, é coisa que Stanislaw, grande sociólogo frugívoro (salvo seja), explica nas linhas subsequentes. Sabemos que certos entreguistas vão dizer que este estudo sobre a brasilidade do caju é bobagem, mas o que se há de fazer? Como dizia Hoffmann, "a inveja é a sombra da glória".

Mas voltemos ao saboroso fruto, cuja nódoa é de amargar e, quando pega na roupa da gente, só sai na safra seguinte, segundo nos revelou o compositor Luís Antônio, que é militar e Flamengo, sendo — portanto — duplamente supersticioso. De qualquer maneira, a nódoa deixada pelo caju mancha tanto a roupa da gente quanto — por exemplo — aquele baile do João Caetano mancha a reputação de rapaz solteiro.

Saboroso, carnudo e pródigo em caldo, o caju — em matéria de serventia — só perde para o boi, animal doméstico de grande utilidade e do qual o homem só não aproveita o suspiro, porque o resto — do chifre ao estrume — já está tudo industrializado. Da castanha do caju se aproveita o caroço para nos fazer beber mais, colocando-o picadinho e terrivelmente salgado, em pratinhos sutis sobre a mesa do bar. Também da castanha se aproveita a tradicional e laxativa cozinha baiana. Vatapá (principalmente) e outros pratos de menor prestígio levam a sua castanhazinha moída, para alegria daqueles que se perdem pela boca, sem dar vez aos intestinos. Ainda desse caroço — responsável pela mancada dos silvícolas acima citada — se faz um magnífico pirão, usado em pratos de bacano, como a galinha à normanda e o pato à Califórnia, embora nem na Normandia nem na Califórnia haja caju, o que prova a versatilidade de sua castanha.

A própria polpa da fruta ora em estudo é útil, pois famílias menos favorecidas do litoral nordestino comem-na ensopada, sempre que lhes falta a mandioca, a batata ou a cenoura, tubérculos mais apropriados para um PFR (Prato Feito Reforçado). O caju pode ser ainda servido em calda, frito, cozido ou liquefeito, sendo que, no último caso, já não é mais caju: é cajuada, mas nem por isto perde a personalidade.

Costuma-se dizer que o cachorro é o melhor amigo do homem, mas a afirmativa é um pouco precipitada. Ninguém bota caju no quintal para tomar conta da casa, mas há muitas coisas que cachorro não tem e que sobram no caju. Afinal de contas, o cachorro não tem castanha, não é saboroso e, na hora do refresco, ninguém espreme um cachorro para fazer uma suculenta cachorrada. E tem mais: dizem que quando o dono é bêbedo o cachorro é sem-vergonha, adesão que não recomenda o cão. Já o caju, ao contrário, é o melhor amigo do homem... do homem que bebe e — acima de tudo — do homem casado.

Há tempos, certo cavalheiro desta praça, cansado de ser espinafrado em casa pela distinta cônjuge, quando chegava com bafo de onça por ter tomado umas e outras nessas tendinhas pela aí, tratou de se dedicar à busca daquilo que tirasse definitivamente o cheiro de bebida da boca de um castigador de alcalinas. Começou — é claro — pelos inventos americanos, como pílulas de clorofila, chiclete, drops e outras bobagens de grande aceitação no mercado e de nenhuma eficiência como tira-bafo.

Já na iminência de desistir, esse abnegado da ciência, certa noite, antes de ir para casa caneado, passou na casa de um conhecido para entregar uma encomenda. E este, na base da gentileza, ofereceu uma cajuada. Como estivesse com sede, o coleguinha de Pasteur aceitou o refresco e, em seguida, foi pro holocausto, digo, foi pra casa. E qual não foi a sua surpresa quando, ao chegar e beijar a megera, digo, a esposa, ouviu da boca desta o elogio: "Sim senhor, assim é que eu gosto. Você hoje não está cheirando a bebida".

O pesquisador, tal como o já referido Almirante Cabral ao descobrir a gente, descobriu a fórmula do engana esposa por acaso. Submeteu o caldo de caju aos mais severos testes — que nem os americanos fazem com foguete, em Canaveral — e deu sempre certo, ao contrário dos foguetes. Chegou a bochechar com "Olho D'água", que é cachaça de persistente aroma, mastigando um caju em seguida e indo para casa, onde, num rasgo de confiança no progresso da ciência, soprava o nariz da mulher, sem que esta sequer percebesse bulhufas.

Homem reconhecido, inventou a expressão hoje universal: caju amigo.

Podíamos ainda enumerar indefinidamente outras vantagens do caju, mas vamos parar por aqui, pois ele é uma riqueza do Brasil e — depois que os contrabandistas do café foram pilhados — é bem possível que os vivaldinos, sempre dispostos a dar beliscão em fumaça, se voltem para o caju e passem a contrabandeá-lo.


Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Rapariga prática



Eis um exemplo de como a nossa imprensa (e as demais do resto do mundo ocidental) brincava com o libido dos leitores de jornais, revistas ou folhetins no começo do século XX, quase em sua totalidade homens. Então nada mudou! A "poética" conversa é transcrita aqui no português da época na edição do "Rio Nu" de 08/08/1903:

Um rapaz todo elegante, / Que se veste com primor, / Em companhia da amante, / Num domingo de calôr, / Faz um passeio campestre / E diante de uma campina, / Exclama: - "Vê tu menina! / Olha que quadro de mestre / Se poderia fazer / Pintando esse campo infindo! / Dá gosto até só de vêr / Um panorama tão lindo! / Oh! Que bonito que é! / Esse campo, com o sol quente, / Fica tão verde que até / Abre o appetite da gente!" 

 Mas a sua linda amante / Mostra parecer que não / Partilha a admiração, / Que o domina neste instante. / Olha p'ra o campo sem fim, / Do sol ardente innundado, / E, a contemplal-o, por fim, / Diz com ar preoccupado: / - "Pois eu cá não gosto nada / De um campo assim descoberto, / É muito melhor, de certo / Uma floresta cerrada, / Onde ha muitos passarinhos, / E onde, com muito prazer, / A gente encontra cantinhos / Em que se possa... metter...

 Fonte: http://memoria.bn.br

Dos sertões ao matagal

Somente porque tem uma bicicleta o camarada não é necessariamente um ciclista. Do mesmo modo o camarada pode ter uma cuíca e não ser sambista, um telefone e não ser telefonista, uma batuta e não ser maestro, uma mulher e não ser casado. Já com este nosso personagem de hoje, a coisa foi diferente: tirou uma máquina de escrever na rifa e resolveu ser escritor.

Como, minha senhora? Se a rifa foi da paróquia de São Judas Tadeu, dirigida pelo Padre Góis, aquele que diz que o referido santo é tão rubro-negro que costuma suar a camisa número 12 quando o Flamengo está jogando? Não senhora. A rifa foi promoção de um amigo que precisava operar a avó. E fique quieta, madame, porque nós vamos contar a história toda.

Deu-se que ele ficou com um bilhete da rifa: o número 312, centena do burro. Quando a coisa correu, saiu premiado e ganhou a máquina de escrever. Não era lá muito nova; pelo contrário, faltava a letra "Q" mas, felizmente, tinha a letra "K" e quem escrevesse podia apelar, escrevendo mais ou menos assim: "Kue linda tarde, kerida — disse Kuincas ao entrar no kuioskue."

Mas isto são detalhes. O importante é kue, digo, que a máquina saiu premiada para ele e, num rasgo de impensado romantismo, resolveu ser escritor. Até então vivia dos seus proventos de aviador mas, entusiasmado pela presença daquela Underwood enferrujada, largou tudo pela nova profissão:

— "Nunca mais serei aviador!" — berrou na solidão do quarto.

O que, madame? Se ele largou a Aeronáutica? Não, dona. Ele era aviador de receita, numa farmácia do bairro. E pare de chatear, senão não conto a história.

Sim, seria um escritor! Mas de quê? Escritor propriamente dito, o único que consegue viver disso no Brasil (por causa das traduções pro estrangeiro) é o Jorge Amado. Outros escritores, por mais escritores que fossem, enriqueciam os editores. E se fosse escritor de contos policiais? Ah... boa idéia. Mas no Brasil é difícil, por causa da concorrência dos americanos do norte. Em cada três escritores americanos, oito escrevem contos policiais. O único escritor brasileiro no gênero é o Luís Coelho, mas este ganha dinheiro aos potes, no Foro de São Paulo. É um grande advogado e por isso é que se dá às veleidades de Conan Doyle do Anhangabaú. Talvez um escritor mais simples: de crônicas mundanas. Sim, cronista mundano.

Olhou-se no espelho e ficou encabulado. Tal como todos os cronistas mundanos, não tinha cara de cronista mundano. A decisão veio de repente. Lembrou-se que, na véspera, durante o bate-papo no café, alguém tinha dito que o último filme de Zé Trindade — "O Empacotador de Fumaça" — tinha dado 10 milhões de renda na cadeia do Luís Severiano.

O que, dona? Se o Luís Severiano está em cana? Ainda não, minha senhora. Por que haveria de estar? O filme tinha dado dez milhões na cadeia, mas cadeia de cinemas do referido cidadão.

Ora, se um filme cocoroca como aquele (ele assistira ao filme no Cine Rian, com uma mão na perna da namorada e outra na sua cocando pulga) tinha dado aquele dinheirão todo, imaginem um filme bem planejado, com um escrito inteligente, como aquele de "O Cangaceiro", que o Lima Barreto fez? É. Ia ser escritor de cinema. Faria um argumento com diálogos sérios, usando como tema algo bem brasileiro. Não usaria cangaceiro porque, de uns tempos para cá, cangaceiro é a mesma coisa que cowboy só que o chapéu é de couro e a aba é pra cima.

Durante uns três meses não fez outra coisa senão escrever e rasgar o que estava escrito. Não desanimou por causa disso. Pelo contrário: quanto mais escrevia, mais sentia que seria capaz de escrever um argumento que seria a redenção do cinema nacional. E, de tanto tentar, acabou encontrando a idéia genial: faria uma adaptação perfeita de "Os Sertões", de Euclides da Cunha. Era a grande epopéia brasileira, na qual poderiam ser incluídos grandes números do nosso folclore, poderiam ser aproveitados os mais sérios intérpretes e ainda sobraria margem para diálogos soberbos. Isto sem contar as possibilidades imensas da história como linguagem cinematográfica e os recursos fotográficos que se poderiam usufruir das cenas imaginadas.

Duraram quase dois anos as suas vigílias, batucando a velha máquina, na adaptação da grande obra literária de Euclides da Cunha em obra supinamente cinematográfica. Suas economias, do tempo em que ainda era aviador (de receitas), já tinham ido pra cucuia. Devia quase 50 contos nos tamboretes da praça, pequenos bancos que se dão ao feio vício da agiotagem. Mas não desistiu.

Depois de tanta luta, viu um dia o trabalho pronto. Estava tinindo. O primeiro produtor que procurou foi o Eurides Ramos, que recusou a proposta. Bem-feito, quem mandou cair nas mãos de Eurides? Foi pro já citado Severiano, mas este também recusou porque estava com 16 fitas do Oscarito prontas para serem lançadas. Procurou aquela turma de São Paulo, que quis transformar os morros de São Bernardo do Campo em Beverly Hills, e penetrou pela tubulação. Nada.

Foi aí que soube de um italiano recém-chegado. Como todo italiano recém-chegado que não é nobre, este era cineasta. Já tinha interessado um outro italiano (este há muito chegado e nobre, além de industrial) a financiar um filme. O nosso abnegado amigo botou a papelada debaixo do braço e foi discutir o assunto com o "cineasta". Foi uma luta dura, na qual capitulou e acabou entrando pelos Canudos, que nem Euclides da Cunha. O "cineasta" já tinha contratado o Alberto Ruschel para fazer o mocinho e o Milton Ribeiro para representar o bandido.

— Aqui onde você botou um número folclórico, fica melhor a gente incluir uma marchinha que a Emilinha Borba vai cantar e vai ser um estouro — propôs o cineasta.

E não adiantava dizer que não. A Emilinha, realmente, defenderia melhor o capital do industrial que, por sinal, achou o argumento ótimo, mas ficou meio chateado porque o mocinho não tinha um amigo. Mandou modificar este detalhe e contratou o Grande Otelo. Enfim, foram introduzidas pequenas modificações no entrecho. Coisa de somenos, que não dava para atrapalhar muito. As lutas dos sertanejos foram devidamente adaptadas para uma briga na boite, cena que só aparecia no fim da fita, para dar mais sustança ao grande final. E o título, para que o tal Euclides da Cunha não viesse depois reclamar direitos autorais, também foi mudado. Em vez de "Os Sertões", passou a ser "Mulheres no Matagal". Vai estrear breve.

Como, minha senhora? O que foi que aconteceu com o grande escritor? Ora, dona. Teve que topar tudo para pagar o que devia. Não, senhora... não está mais escrevendo. Voltou a ser aviador. Está funcionando na Farmácia Santa Teresinha, aberta dia e noite.


Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Da galanteria

Dizem pela aí que a História se repete. Como os cômicos de teatro rebolado, a História se repete. No setor da galanteria, por exemplo, a História não desmente essa teoria. O que foi involução num tempo passa a evolução noutro tempo, para voltar a ser involução numa época adiante. Há muitos anos atrás — o marechal Lott não era nem escoteiro — o homem tratava a mulher com uma deferência de puxa-saco.

Era até chato. Antes, no entanto, isto é, na Pré História, segundo nos contou o Brício de Abreu, mulher só saía da caverna (naquele tempo não havia Lei do Inquilinato ainda, pois ninguém tinha casa: era tudo caverneiro) pra passear com o marido numa condução: cabelo. Sim, o marido agarrava a distinta pelos cabelos e saía puxando pelos caminhos.

Tempos mais amenos cultivaram a galanteria. Teve até um cara que, ao ver a lama se interpondo no caminho de uma dama, tirou a capa brocada que levava aos ombros e atirou no chão, para que ela passasse por cima sem sujar os pés. Isto foi o máximo em charme que a História recolheu. Só não citamos o galante personagem pelo nome porque hoje estamos de memória fraca e empenhamos a Enciclopédia Britânica.

Mas — dizíamos — a História se repete e o que foi galanteria ontem é descortesia hoje. Atualmente homem não está dando muita bola pra mulher, no setor da educação não. Talvez porque as mulheres de hoje são mais badalativas e concorrem com eles em tudo, o fato é que o negócio ficou "mano a mano" e mulher tem que disputar na raça com o homem tudo aquilo que desejar.

Quem não se conforma com isso é Tia Zulmira, senhora que foi broto de outros tempos e que não se adapta ao rebolado atual. Tanto que só fizemos este longo introito para contar o episódio vivido pela sábia macróbia da Boca do Mato, dentro de um ônibus.

A velha foi obrigada a deixar momentaneamente o seu retiro para fazer umas comprinhas no Centro. Para tanto tomou um ônibus e, velha como está, viu-se na contingência de viajar em pé, porque nenhum dos marmanjos refestelados nos bancos se dignou ceder o lugar. Vendo que nenhum tinha educação, Tia Zuzu apelou para o patriotismo deles. Tirou uma bandeirinha do Brasil do bolso e começou a cantar: — "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas..."

Pois nem assim! Ninguém se levantou.


Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Faquirismo e provocação

Os mais assíduos (leitores, naturalmente) devem estar lembrados do que escrevemos no dia em que Silki — o Pele da Fome — entrou novamente numa urna de vidro para tentar recuperar para o Brasil o recorde da dita, ora nas mãos, ou melhor, no estômago do francês Burmah. Escrevemos na ocasião que o grande inimigo desse Didi da inanição seriam as provocações do público, um público que pagava para chatear o faquir.

Já da última vez que Silki bateu o recorde, a coisa tinha acontecido. Inimigos da fome pagavam entrada para ver o faquir, chegavam junto à urna de vidro munidos de pastéis, empadinhas e outras guloseimas, e ficavam comendo na frente dele, para ver o bicho que dava.

O faquir resolveu temporariamente o problema fechando os olhos, para não ver. Surgiu, porém, um torturador requintado que comia a empadinha e cuspia o caroço em cima da urna, com toda a força. Ora, sendo a urna de vidro, o caroço ao bater fazia tiliiiiiimmmm... obrigando o coitado a abrir os olhos de susto.

Agora a provocação foi maior. Silki pretendia ficar mastigando vento 108 dias — temporada que lhe traria o recorde de volta — mas abandonou a urna com 36 dias, vítima de um ataque de nervos e a conselho de seu médico assistente, que o retirou à força ajudado pelo delegado de Costumes e Diversões.

Silki não queria sair, mas seus nervos estavam em tal estado, que foi obrigado a ceder e se internar numa Casa de Saúde, onde ainda se encontra. O secretário do faquir falou à imprensa e contou, revoltado:

— Muitas pessoas, ao visitá-lo, exibiam pratos variados e apetitosos, como galinha assada, empadas, doces etc. E o pior é que, pela madrugada, lá chegavam mulheres trajando roupas escandalosas, algumas até exibindo certas partes do corpo. Silki não agüentou. Vejam vocês que baianada!

O secretário não explicou pra imprensa quais as partes do corpo que as elegantes exibiam, mas isto não importa. Mulher — quando é boa — qualquer parte serve, conforme costuma dizer nosso nefando primo Mirinho — o crápula.

Também não explicou qual das abstinências provocou o estado de nervos de Silki. A gente, porém, tira as conclusões.

Da outra vez ele bateu o recorde mesmo com a provocação de exibições gastronômicas. Desta vez é que começou a novidade de mulher ir provocá-lo. Portanto, dos seus jejuns, ele deve ter sucumbido ao segundo.


Fonte: Tia Zulmira e Eu - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O morto vivo

Naquela noite, enquanto os tropeiros do Brejo se acocoravam ao redor da fogueira, contando histórias, o Zé Piaba fez com que todos se calassem e principiou:

— Nem conto... Quando a “coisa” me deu, eu fiquei imóvel como pedra dormindo em fundo de açude. Por mais vontade que tivesse de me levantar não podia...

Puxou um pequeno tição, acendeu o cigarro de palha e prosseguiu, após algumas baforadas:

— Minha mulher, a Raimunda, quando deu pela “bicha”, achou que eu tinha esticado a canela. Abriu a boca no mundo, a chorar e foi logo chamar o compadre Bernardino para tratar do enterro. O mais interessante é que eu não acreditava na minha morte, pois via e ouvia tudo.

Até não pude esquecer nunca a ocasião que a minha costela se lamentava, dizendo ficar sozinha neste mundão de Nosso Senhor. Eis que o compadre, sem cerimônia, a apertou nos braços, e disse que ela não se incomodasse tanto, que se casaria com ela. Como ele era viúvo, seria um casamento igual, de dois viúvos. Ela ficou mais consolada e tudo ficou combinadinho, ali mesmo nas minhas barbas.

Quando foi noite fechada, começaram a chegar os conhecidos. A Raimunda, a todos que lhe davam os pêsames, ia oferecendo boia de carimã com café.

Mais tarde, coisa dumas 10 horas, enfiaram um pau nos punhos da rede. Lá fora a lua era uma beleza, tomando banho no rio que parecia uma lâmina cortando os campos.

Saíram com o “defunto” e foram pela estrada, cantando umas cantigas horríveis, de arrepiar couro e cabelo. Se eu pudesse teria tremido como queixo de impaludado dos Amazonas. Mais porém eu estava caipora mesmo. Nem para tremer prestava. Nem um sinalzinho de vida. Inda hoje parece que ouço a bruta:

Repouso eterno 
Dai-lhe, Senhor, 
Dá luz perpétua 
O resplandor. 

Quando acabaram essas “ladainhas” já os galos abriam o bico a cocoricar. Eu voltei para o ponto de partida, isto é, para o mesmo lugar em casa, pois o enterro seria no dia seguinte.

De manhã, foi que eu vi o negócio espritar-se mesmo. Iam enterrar-me vivinho da Silva, sem mais nem menos. Mentalmente fiz uma oração à Nossa Senhora das Candeias para que iluminasse o espírito daquela gente e não fizesse comigo aquela judiação. Vocês nem calculam como sofri.

Depois que o Padre rebolou uma porção d'água benta em riba de mim, o enterro foi marchando subindo a ladeira para o cemitério. Eu sentia um terror mortal. Acho que minha garganta estava toda cheia por um nó bem grande que não me deixava gritar. Seria nó mesmo ou apenas suposição? Não sei. O que sei é que, quase na hora H, vi que já podia fazer algum movimento.

Estendi a mão e peguei um dos gajos que iam me levando pelo paletó. Ele se virou e quando deu fé daquilo, nem digo nada: soltou a rede no chão. O outro fez o mesmo. E todos, julgando que eu era alma do outro mundo, deram de gâmbias e catrâmbias. Desandaram a correr que nem um estouro de garrotes bravios.

O compadre Bernardino, o apalavrado futuro marido de minha mulher, pensou que aquilo eram artes do Não-sei-que-diga. Quis meter-me uma carga de chumbo nos couros. Mas felizmente a garrucha negou fogo. E todos corriam com medo de mim como um bando de satanás...

A minha cara-metade só foi para casa depois que o doutor foi ver-me e disse que eu tive um ataque de “calapsia”. Ele disse uma coisa mais ou menos assim. Um nomão feio, arrevesado, que só o tal doutor sabe dizer direito.

E assim eu escapei das garras da morte. Quando à noite apareci de repente num samba, todo lampeiro, o povo quis correr, pensando que era assombração.

O compadre Bernardino é que parece que não gostou nadinha. Pouco tempo depois morreu. Penso que de tristura ou paixão recolhida.

Jayme Sisnando 
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Fonte: Revista O Malho, de maio/1944

Xuxa samba de biquíni dentro de uma taça

Antes de se dedicar à carreira de apresentadora infantil, Xuxa Meneghel fez bastante sucesso como modelo. Nos anos 1980, ela chegou a ser capa de mais de 80 revistas, entre elas, um ensaio nu para a "Playboy", em dezembro de 1982.

No Carnaval de 1983, Xuxa foi atração do baile do Galo, promovido pelo Atlético Mineiro, no ginásio do Mineirinho, em Belo Horizonte. Um vídeo dessa folia, que foi transmitida pela Band, começou a circular na internet e a fazer muito sucesso.

Nas imagens, Xuxa aparece com um biquíni brilhoso, com as cores do clube alvinegro e envolta a uma bandeira do time. A então modelo dança e rebola sensualmente diante dos torcedores, em meio a closes da câmera em seu bumbum. "E os homens como é que estão vendo a Xuxa dentro dessa taça. É melhor que gol?", pergunta uma locutora, durante a transmissão.


"É o povo todo, a galera toda, esperou muito a presença da Xuxa. E quando ela chegou, ela foi recebida de acordo com o que ela é realmente, com a beleza toda dela. A galera toda encantou e fez o maior Carnaval pra chegada de Xuxa aqui no mineirinho, apresentação e abertura do Baile do Galo 1983", responde outro locutor.

Na época do vídeo, Xuxa era namorada do Pelé.

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Fonte: F5.folha.uol.com.br