O Templo de Ártemis foi erigido em homenagem à deusa grega com o mesmo nome. Localizava-se na cidade de Éfeso - região da atual Turquia -, e destacou-se pela grandiosidade arquitetônica. É considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Quando os gregos encontraram na Ásia Menor habitantes que cultuavam uma deusa identificada como Ártemis, resolveram dar início a construção de um pequeno templo em sua homenagem.
A deusa Ártemis era a protetora dos bosques, da caça e dos animais selvagens, e como todo deus grego tinha uma correspondência romana, também é conhecida por Diana. A construção desse primeiro templo foi simples, não seria ainda o grande Templo de Ártemis que entraria para história.
Durante o Período Arcaico da Grécia Antiga, no século VI a.C., o conquistador Creso, então rei da Lídia, ordenou a construção de um grande templo, em Éfeso, em homenagem à deusa Ártemis, para ampliar o pequeno templo anterior que já havia passado por uma série de avarias.
Para realização da obra, foram contratados os arquitetos Quersifrão e seu filho, Metagenes. As obras começaram em torno de 550 a.C. e demoraram 200 anos para se completarem. Segundo consta, centenas de virgens sacerdotisas participaram da construção do templo, essas mulheres acreditavam na superioridade feminina e praticavam a abstinência sexual e artes mágicas.
Após os 200 anos de construção, o resultado da obra foi encantador. O Templo de Ártemis era composto por 127 colunas de mármore em estilo jônico dispostas em filas duplas, todas decoradas com obras de arte, tendo cada uma 20 metros de altura. Tinha 138 metros de comprimento e 71,5 metros de largura.
Um dos elementos mais famosos do templo era a escultura da deusa Ártemis que ficava em seu interior. A obra de arte era produzida em ébano, ouro, prata e pedra preta, cercada por esculturas em bronze de Praxíteles. A escultura da deusa tinha uma saia comprida coberta com relevos de animais cobrindo suas pernas e quadris. Era caracterizada ainda pelas três fileiras de seios que possuía, simbolizando sua fertilidade. Na cabeça havia um ornamento em forma de pilar.
O Templo de Ártemis se constituiu assim no maior templo do mundo antigo, representando um grande feito da civilização grega e do helenismo.
Infelizmente, pouco restou do templo atualmente. O Templo de Ártemis passou por duas grandes destruições. Duzentos anos após sua construção, um grego chamado Heróstrato, com o intuito de se tornar imortal, incendiou o templo, em 356 a.C.. O estrago causado por Heróstrato levou 20 anos para ser reparado, ação promovida por Alexandre III da Macedônia. Mas no século III d.C. veio a grande queda, na época os godos invadiram as províncias romanas na Ásia Menor e na península balcânica e arrasaram o Templo de Ártemis em 262.
Atualmente, o que resta deste templo são algumas esculturas e objetos que estão expostos no Museu Britânico, em Londres, e uma única coluna do templo, que se manteve firme após tantos terremotos e saques no local. Conhece-se bem o Templo de Ártemis, pois há uma documentação muito bem detalhada sobre essa maravilha do mundo antigo.
Fontes: Wikipedia; pt. shvoong.com.
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domingo, 25 de março de 2012
sábado, 3 de março de 2012
Estátua de Zeus em Olímpia
Na cidade grega de Olímpia, na planície do Peloponeso, estava a quinta maravilha da antigüidade: a estátua de Zeus, esculpida pelo célebre ateniense Fídias, no século V a.C., quando a cidade já caíra sob o domínio de Esparta. Essa é considerada sua obra-prima. Tanto os gregos amavam seus trabalhos que se dizia que ele revelava aos homens a imagem dos deuses. Supõe-se que a construção da estátua tenha levado cerca de oito anos. Zeus (Júpiter, para os romanos) era o senhor do Olimpo, a morada das divindades.
A estátua media de 12 a 15 metros de altura - o equivalente a um prédio de cinco andares - e era toda de marfim e ébano. Seus olhos eram pedras preciosas. Fídias esculpiu Zeus sentado num trono. Ele esculpiu a estátua com material de joalheiro. Na mão direita levava a estatueta de Nike, deusa da Vitória; na esquerda, uma esfera sob a qual se debruçava uma águia. Supõe-se que, como em representações de outros artistas, o Zeus de Fídias também mostrasse o cenho franzido. A lenda dizia que quando Zeus franzia a fronte o Olimpo todo tremia.
Quando a estátua foi construída, a rivalidade entre Atenas e Esparta pela hegemonia no Mediterrâneo e na Grécia continental mergulhou os gregos numa sucessão de guerras. Os combates, no entanto, não prejudicaram as realizações culturais e artísticas da época. Ao contrário, o século V a.C. ficou conhecido como o século de ouro na história grega devido ao extraordinário florescimento da arquitetura, escultura e outras artes.
Em 170 a.C., um terremoto abalou o templo e a estátua. O monumento foi restaurado, mas no século IV sofreu novo ataque, quando o imperador Constantino de Bizâncio determinou que fosse retirado todo o ouro que decorava o templo.
Transferida para Bizâncio em 420, foi destruída por um incêndio em 475.
A estátua de Zeus desapareceu sem deixar vestígios em Constantinopla no século V d.C., local para onde a colossal estátua tinha sido transladada, quando quase todo seu material precioso de ouro, marfim e pedras preciosas já tinha sido retirado.
Fontes: Wikipédia; HistoriaMais.
A estátua media de 12 a 15 metros de altura - o equivalente a um prédio de cinco andares - e era toda de marfim e ébano. Seus olhos eram pedras preciosas. Fídias esculpiu Zeus sentado num trono. Ele esculpiu a estátua com material de joalheiro. Na mão direita levava a estatueta de Nike, deusa da Vitória; na esquerda, uma esfera sob a qual se debruçava uma águia. Supõe-se que, como em representações de outros artistas, o Zeus de Fídias também mostrasse o cenho franzido. A lenda dizia que quando Zeus franzia a fronte o Olimpo todo tremia.
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Local onde se encontrava a estátua |
Em 170 a.C., um terremoto abalou o templo e a estátua. O monumento foi restaurado, mas no século IV sofreu novo ataque, quando o imperador Constantino de Bizâncio determinou que fosse retirado todo o ouro que decorava o templo.
Transferida para Bizâncio em 420, foi destruída por um incêndio em 475.
A estátua de Zeus desapareceu sem deixar vestígios em Constantinopla no século V d.C., local para onde a colossal estátua tinha sido transladada, quando quase todo seu material precioso de ouro, marfim e pedras preciosas já tinha sido retirado.
Fontes: Wikipédia; HistoriaMais.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
O umbigo do mundo
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"Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo." (c. 650 a.C. - 550 a.C.) |
Situado na Grécia, no que foi a antiga cidade chamada Delfos (que hoje já não existe), no sopé do monte Parnaso, nas encostas das montanhas da Fócida, a 700 m sobre o nível do mar e a 9,5 km de distância do golfo de Corinto.
Delfos era um recinto e um complexo de construções num terreno sagrado para os antigos gregos, onde se realizavam os Jogos Píticos e havia um templo consagrado ao deus Apolo, originalmente consagrado à Pítia. Neste templo, as sacerdotisas de Apolo (Pitonisa) faziam profecias em transes. As respostas e profecias ali obtidas eram consideradas verdades absolutas. Hoje, suspeita-se que os transes e visões das sacerdotisas eram provocados por gases emitidos por uma fenda subterrânea no local.
Das rochas da montanha circundante brotam várias nascentes que formam fontes. Uma das fontes mais conhecidas desde tempos muito antigos era a fonte de Castália, rodeada de um bosque de loureiros consagrado ao deus Apolo. A lenda e a mitologia contam que no monte Parnaso e próximo desta fonte se reuniam algumas divindades, deusas menores do canto e da poesia, chamadas musas, e as ninfas das fontes, chamadas náiades. Nestas reuniões Apolo tocava a lira e as divindades cantavam. Conta-se que o oráculo de Delfos ganhou tamanho significado mágico após o deus Apolo matar a serpente Phyton neste local, daí que se deriva o nome das sacerdotisas (pitonisas).
O oráculo de Delfos influenciou significativamente a colonização grega das costas do sul da Itália e da Sicília. Chegou a ser o centro religioso do mundo helênico.
A Fócida ou Fócia é uma antiga região do centro da Grécia atravessada pelo grande maciço do monte Parnaso. Na época da Grécia clássica uma parte desta região, a que está situada junto desse monte, tinha o topónimo de Pyto (ou Pito), em grego Πυθω. Este lugar é conhecido como Delfos, ou seja, Pyto e Delfos são sinônimos. O porto de Itea era o acesso por mar mais próximo de Delfos.
O recinto inclui ainda os chamados tesouros (θεσαυρυς), que eram pequenas construções semelhantes a capelas onde se guardavam os ex-votos e os donativos que frequentemente eram muito valiosos. Sabe-se que existiam estes tesouros: tesouro de Siracusa, tesouro de Cirenea, tesouro de Cnido, tesouro de Sifnos, tesouro de Sición (muito importante), tesouro de Tebas, tesouro de Corinto, tesouro dos etruscos e tesouro dos atenienses (o único restaurado).
Fontes: Wikipedia; Educaterra.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Sócrates
Sócrates nasceu em Atenas em 470/469 a. C. e morreu na mesma cidade em 399 a.C., condenado devido a uma acusação de "impiedade" - ele foi acusado de ateísmo e de corromper os jovens com a sua filosofia, mas, na realidade, estas acusações encobriam ressentimentos profundos contra Sócrates por parte dos poderosos da época. Ele era filho de um escultor, chamado Sofronisco, e de uma parteira chamada Fenarete.
Ao contrário de seus predecessores, não fundou uma escola, preferindo também realizar seu trabalho em locais públicos (principalmente nas praças públicas e ginásios), agindo de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas as pessoas, fascinando jovens, mulheres e políticos de sua época.
Segundo Reale & Antiseri (1990), depois de algum tempo seguindo os ensinos dos naturalistas, Sócrates passou a sentir uma crescente insatisfação com o legado desses filósofos, e passou a se concentrar na questão do que é o homem - ou seja, do grau de conhecimento que o homem pode ter sobre o próprio homem.
A descoberta de que o homem é a sua psyché
Enquanto os filósofos pré-Socráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder à questões do tipo: "O que é a natureza ou o fundamento último das coisas?" Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: "O que é a natureza ou a realidade última do homem?"
A resposta a que Sócrates chegou é a de que o homem é a sua alma - psyché, por quanto é a sua alma que o distingue de qualquer outra coisa, dando-lhe, em virtude de sua história, uma personalidade única. E por psyché Sócrates entende nossa sede racional, inteligente e eticamente operante, ou ainda, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Esta colocação de Sócrates acabou por exercer uma influência profunda em toda a tradição européia posterior, até hoje.
Ensinar o homem a cuidar de sua própria alma seria a principal tarefa a ser desempenhada por ele, Sócrates, e por todos os filósofos autênticos. Sócrates acreditava vivamente ter recebido essa tarefa por Deus, como podemos ler na Apologia de Sócrates, de Platão: "(...) é a ordem de Deus. E estou persuadido de que não há para vós maior bem na cidade que esta minha obediência a Deus. Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não deveis cuidar só do corpo, nem exclusivamente das riquezas, e nem de qualquer outra coisa antes e mais fortemente que da alma, de modo que ela se aperfeiçoe sempre, pois não é do acúmulo de riquezas que nasce a virtude, mas do aperfeiçoamento da alma é que nascem as riquezas e tudo o que mais importa ao homem e ao Estado."
Segundo Reale & Antiseri (1990), um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para provar essa tese é o seguinte: uma coisa é o instrumento que se usa e a outra é o sujeito que usa o instrumento. Ora, o homem usa o seu corpo como instrumento, o que significa que a essência humana utiliza o instrumento, que é o corpo, não sendo o próprio corpo. Assim, à pergunta "o que é o homem?", não seria lógico reponder que é o seu corpo, mas sim que é "aquilo que se serve do corpo", que é a psyché, a alma. Esta mesma alma seria imortal e fadada a reencarnar tantas vezes fosse necessárias até a alma se aperfeiçoar de tal forma que não precisasse mais voltar a este planeta.
O "daimonion" socrático
Entre as acusações contra Sócrates estava a de que ele estava introduzindo novos daimonions, novas entidades divinas. Em sua Apologia, Sócrates diz: "A razão (...) são aquelas acusações que muitas vezes e em diversas circunstâncias ouvistes dizer, ou seja, que em mim se verifica algo de divino ou demoníaco (...) uma voz que se faz ouvir dentro de mim desde que eu era menino e que, quando se faz ouvir, sempre me detém de fazer aquilo que é perigoso e que estou a ponto de fazer, mas que nunca me exortou a fazer nada". Ou seja, o daimonion socrático era "uma voz" que lhe vetava determinadas coisas, o que o salvou várias vezes de perigos e experiências negativas (Reale & Antiseri, 1990, p. 95). Ela não lhe revelava nada, apenas vetava algumas coisas que lhe eram perigosas.
O daimonion socrático é algo muito específico que diz respeito muito particularmente à excepcional personalidade de Sócrates, colocando-se no mesmo plano de um tipo de mediunismo que se fazia presente em certos momentos de concentração muito intensa, e outros momentos bastante próximos aos arrebatamentos de êxtase em que Sócrates (assim como ocorria com Buda, Plotino, Joana D'Arc, etc) mergulhava algumas vezes e que duravam longamente, coisa da qual tanto Platão quanto Xenofonte falam expressamente.
Jostein Gaarder fala que as pessoas ainda hoje se perguntam por que Sócrates teve de morrer. Então ele faz um paralelo entre Jesus e Sócrates: ambos eram pessoas carismáticas e eram consideradas pessoas enigmáticas ainda em vida. Nenhum dos dois deixou qualquer escrito, e precisamos confiar na imagem e impressões que eles deixaram em seus discípulos e conteporâneos. Ambos eram mestres da retórica e tinham tanta autoconfiança no que falavam que podiam tanto arrebatar quanto irritar seus ouvintes. E ambos acreditavam falar em nome de uma coisa que era maior do que eles mesmos. Ambos desafiavam agudamente os que detinham o poder na sociedade, apontando sem piedade as hipocrisias e falsos fundamentos em que se assentavam para cometer toda sorte de abusos e injustiças. Foi isto que, no fim, lhes custou a vida. Afinal, os que questionam são sempre perigosos para os poderosos e pseudo-sábios de todas as épocas.
A maneira como Sócrates fazia as pessoas conhecerem-se a si mesmas também estava ligada à sua descoberta de que o homem, em sua essência, é a sua psyché. Em seu método, ele tendia a despojar a pessoa da sua falsa ilusão do saber, fragilizando a sua vaidade e permitindo, assim, que a pessoa estivesse mais livre de falsas crenças e mais susceptível à extrari a verdade que também estava dentro de si. Sendo filho de uma parteira, Sócrates costumava comparar a sua atividade com a de trazer ao mundo a verdade que há dentro de cada um. Ele nada ensinava, apenas ajudava as pessoas a tirarem de si mesmas opiniões próprias e limpas de falsos valores, pois o verdadeiro conhecimento tem de vir de dentro, de acordo com a consciência, e não se pode obter expremendo-se os outros. Até mesmo na atividade de aprender uma disciplina qualquer, o professor nada mais pode fazer que orientar e esclarecer dúvidas, como um lapidador tira o excesso de entulho do diamante, mas não o faz. O processo de aprender é um processo interno, e tanto mais eficaz quanto maior for o interesse de aprender. Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento.
Em certo sentido, dizemos que quando uma pessoa "toma juízo", ela simplesmente traz à consciência algo muito claro que já estava "dentro" de si. Assim, as finalidades do diálogo socrático são a catarse e a educação para o autoconhecimento. Dialogar com Sócrates era se submeter a uma "lavagem da alma" e a uma prestação de contas da própria vida. Como disse Platão: "quem quer que esteja próximo a Sócrates e, em contato com ele, põe-se a raciocinar, qualquer que seja o assunto tratado, é arrastado pelas espirais do diálogo e inevitavelmente é forçado a seguir adiante, até que, surpreendentemente, ver-se a prestar contas de si mesmo e do modo como vive, pensa e viveu".
Em seu método, ao iniciar uma conversa, Sócrates sempre adotava a posição de uma pessoa ignorante, que apenas "sabe que nada sabe". E justamente por usar esta afirmativa, ele forçava as pessoas a usarem a razão. Ele entrava de tal forma na conversa, e de tal forma a dominava, que era capaz de aparentar uma maior ignorância ou de mostrar-se mais tolo do que realmente era. Seus discípulos mais fieis já sabiam que quando o opositor caia nesta jogada, logo logo levaria um tombo tremendo quando o quadro se invertesse. Esta era o método de Sócrates: usar a ironia.
Foi assim que ele expôs muito das fraquezas do pensamento ateniense. Um encontro com Sócrates podia significar o risco de expor-se ao ridículo. Mas as pessoas que passaram por isto e conseguiram superar o choque do orgulho ferido, indo até o fim no processo cartático, acabavam por extrair de si mesmo a resposta em tudo lógica e compatível com os problemas expostos, dando-lhe a solução. O resultado é que o indivíduo sentia uma verdadeira sensação de iluminação, de descoberta, de der dado à luz algo de valioso que havia dentro de si, mas de que não tinha a mínima consciência. Foi assim que Sócrates conquistou fervorosos discípulos. Mas se a pessoa entregava-se ao orgulho ferido, tornava-se um inimigo feroz. E esta foi a razão que lhe custou a vida.
(por Carlos Antonio Fragoso Guimarães).
Bibliografia sugerida:
* "Sócrates" - Coleção Os Pensadores, Editora Abril, São Paulo, 1987
* Gaarder, Jostein. - "O Mundo de Sofia", Companhia das Letras, São Paulo, 1995
* Reale, Giovanni & Antiseri, Dario. - "História da Filosofia", Vol. I, Ed. Paulus, São Paulo, 1990
Fonte: http://www.geocities.com/CapitolHill/8992/socrates.htm
Ao contrário de seus predecessores, não fundou uma escola, preferindo também realizar seu trabalho em locais públicos (principalmente nas praças públicas e ginásios), agindo de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas as pessoas, fascinando jovens, mulheres e políticos de sua época.
Segundo Reale & Antiseri (1990), depois de algum tempo seguindo os ensinos dos naturalistas, Sócrates passou a sentir uma crescente insatisfação com o legado desses filósofos, e passou a se concentrar na questão do que é o homem - ou seja, do grau de conhecimento que o homem pode ter sobre o próprio homem.
A descoberta de que o homem é a sua psyché
Enquanto os filósofos pré-Socráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder à questões do tipo: "O que é a natureza ou o fundamento último das coisas?" Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: "O que é a natureza ou a realidade última do homem?"
A resposta a que Sócrates chegou é a de que o homem é a sua alma - psyché, por quanto é a sua alma que o distingue de qualquer outra coisa, dando-lhe, em virtude de sua história, uma personalidade única. E por psyché Sócrates entende nossa sede racional, inteligente e eticamente operante, ou ainda, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Esta colocação de Sócrates acabou por exercer uma influência profunda em toda a tradição européia posterior, até hoje.
Ensinar o homem a cuidar de sua própria alma seria a principal tarefa a ser desempenhada por ele, Sócrates, e por todos os filósofos autênticos. Sócrates acreditava vivamente ter recebido essa tarefa por Deus, como podemos ler na Apologia de Sócrates, de Platão: "(...) é a ordem de Deus. E estou persuadido de que não há para vós maior bem na cidade que esta minha obediência a Deus. Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não deveis cuidar só do corpo, nem exclusivamente das riquezas, e nem de qualquer outra coisa antes e mais fortemente que da alma, de modo que ela se aperfeiçoe sempre, pois não é do acúmulo de riquezas que nasce a virtude, mas do aperfeiçoamento da alma é que nascem as riquezas e tudo o que mais importa ao homem e ao Estado."
Segundo Reale & Antiseri (1990), um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para provar essa tese é o seguinte: uma coisa é o instrumento que se usa e a outra é o sujeito que usa o instrumento. Ora, o homem usa o seu corpo como instrumento, o que significa que a essência humana utiliza o instrumento, que é o corpo, não sendo o próprio corpo. Assim, à pergunta "o que é o homem?", não seria lógico reponder que é o seu corpo, mas sim que é "aquilo que se serve do corpo", que é a psyché, a alma. Esta mesma alma seria imortal e fadada a reencarnar tantas vezes fosse necessárias até a alma se aperfeiçoar de tal forma que não precisasse mais voltar a este planeta.
O "daimonion" socrático
Entre as acusações contra Sócrates estava a de que ele estava introduzindo novos daimonions, novas entidades divinas. Em sua Apologia, Sócrates diz: "A razão (...) são aquelas acusações que muitas vezes e em diversas circunstâncias ouvistes dizer, ou seja, que em mim se verifica algo de divino ou demoníaco (...) uma voz que se faz ouvir dentro de mim desde que eu era menino e que, quando se faz ouvir, sempre me detém de fazer aquilo que é perigoso e que estou a ponto de fazer, mas que nunca me exortou a fazer nada". Ou seja, o daimonion socrático era "uma voz" que lhe vetava determinadas coisas, o que o salvou várias vezes de perigos e experiências negativas (Reale & Antiseri, 1990, p. 95). Ela não lhe revelava nada, apenas vetava algumas coisas que lhe eram perigosas.
O daimonion socrático é algo muito específico que diz respeito muito particularmente à excepcional personalidade de Sócrates, colocando-se no mesmo plano de um tipo de mediunismo que se fazia presente em certos momentos de concentração muito intensa, e outros momentos bastante próximos aos arrebatamentos de êxtase em que Sócrates (assim como ocorria com Buda, Plotino, Joana D'Arc, etc) mergulhava algumas vezes e que duravam longamente, coisa da qual tanto Platão quanto Xenofonte falam expressamente.
Jostein Gaarder fala que as pessoas ainda hoje se perguntam por que Sócrates teve de morrer. Então ele faz um paralelo entre Jesus e Sócrates: ambos eram pessoas carismáticas e eram consideradas pessoas enigmáticas ainda em vida. Nenhum dos dois deixou qualquer escrito, e precisamos confiar na imagem e impressões que eles deixaram em seus discípulos e conteporâneos. Ambos eram mestres da retórica e tinham tanta autoconfiança no que falavam que podiam tanto arrebatar quanto irritar seus ouvintes. E ambos acreditavam falar em nome de uma coisa que era maior do que eles mesmos. Ambos desafiavam agudamente os que detinham o poder na sociedade, apontando sem piedade as hipocrisias e falsos fundamentos em que se assentavam para cometer toda sorte de abusos e injustiças. Foi isto que, no fim, lhes custou a vida. Afinal, os que questionam são sempre perigosos para os poderosos e pseudo-sábios de todas as épocas.
A maneira como Sócrates fazia as pessoas conhecerem-se a si mesmas também estava ligada à sua descoberta de que o homem, em sua essência, é a sua psyché. Em seu método, ele tendia a despojar a pessoa da sua falsa ilusão do saber, fragilizando a sua vaidade e permitindo, assim, que a pessoa estivesse mais livre de falsas crenças e mais susceptível à extrari a verdade que também estava dentro de si. Sendo filho de uma parteira, Sócrates costumava comparar a sua atividade com a de trazer ao mundo a verdade que há dentro de cada um. Ele nada ensinava, apenas ajudava as pessoas a tirarem de si mesmas opiniões próprias e limpas de falsos valores, pois o verdadeiro conhecimento tem de vir de dentro, de acordo com a consciência, e não se pode obter expremendo-se os outros. Até mesmo na atividade de aprender uma disciplina qualquer, o professor nada mais pode fazer que orientar e esclarecer dúvidas, como um lapidador tira o excesso de entulho do diamante, mas não o faz. O processo de aprender é um processo interno, e tanto mais eficaz quanto maior for o interesse de aprender. Só o conhecimento que vem de dentro é capaz de revelar o verdadeiro discernimento.
Em certo sentido, dizemos que quando uma pessoa "toma juízo", ela simplesmente traz à consciência algo muito claro que já estava "dentro" de si. Assim, as finalidades do diálogo socrático são a catarse e a educação para o autoconhecimento. Dialogar com Sócrates era se submeter a uma "lavagem da alma" e a uma prestação de contas da própria vida. Como disse Platão: "quem quer que esteja próximo a Sócrates e, em contato com ele, põe-se a raciocinar, qualquer que seja o assunto tratado, é arrastado pelas espirais do diálogo e inevitavelmente é forçado a seguir adiante, até que, surpreendentemente, ver-se a prestar contas de si mesmo e do modo como vive, pensa e viveu".
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No ano 399 a.C. o filósofo Sócrates foi condenado a morte e obrigado a tomar cicuta. |
Em seu método, ao iniciar uma conversa, Sócrates sempre adotava a posição de uma pessoa ignorante, que apenas "sabe que nada sabe". E justamente por usar esta afirmativa, ele forçava as pessoas a usarem a razão. Ele entrava de tal forma na conversa, e de tal forma a dominava, que era capaz de aparentar uma maior ignorância ou de mostrar-se mais tolo do que realmente era. Seus discípulos mais fieis já sabiam que quando o opositor caia nesta jogada, logo logo levaria um tombo tremendo quando o quadro se invertesse. Esta era o método de Sócrates: usar a ironia.
Foi assim que ele expôs muito das fraquezas do pensamento ateniense. Um encontro com Sócrates podia significar o risco de expor-se ao ridículo. Mas as pessoas que passaram por isto e conseguiram superar o choque do orgulho ferido, indo até o fim no processo cartático, acabavam por extrair de si mesmo a resposta em tudo lógica e compatível com os problemas expostos, dando-lhe a solução. O resultado é que o indivíduo sentia uma verdadeira sensação de iluminação, de descoberta, de der dado à luz algo de valioso que havia dentro de si, mas de que não tinha a mínima consciência. Foi assim que Sócrates conquistou fervorosos discípulos. Mas se a pessoa entregava-se ao orgulho ferido, tornava-se um inimigo feroz. E esta foi a razão que lhe custou a vida.
(por Carlos Antonio Fragoso Guimarães).
Bibliografia sugerida:
* "Sócrates" - Coleção Os Pensadores, Editora Abril, São Paulo, 1987
* Gaarder, Jostein. - "O Mundo de Sofia", Companhia das Letras, São Paulo, 1995
* Reale, Giovanni & Antiseri, Dario. - "História da Filosofia", Vol. I, Ed. Paulus, São Paulo, 1990
Fonte: http://www.geocities.com/CapitolHill/8992/socrates.htm
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Guerra de Tróia, mito ou realidade?
A guerra entre troianos e gregos talvez nem tenha acontecido. Se aconteceu, a causa pode não ter sido o rapto de Helena. Como pode não ter existido o famoso cavalo de madeira que iludiu os troianos: quem sabe os gregos atacaram pelo mar. “Quando a lenda fica mais interessante do que a realidade, publique-se a lenda”. (John Ford, cineasta americano).
Melhor exemplo dessa verdade não existe do que a Guerra de Tróia. com seu cavalo fantático, o rapto de Helena pelo apaixonado Páris, o herói Aquiles e seu calcanhar vulnerável, os deuses e as deusas do Olimpo assanhadíssimos, divididos entre gregos e troianos e fazendo, periodicamente, com que a sorte favorecesse um ou outro lado graças aos seus poderes divinos. Tudo isso está contado na Ilíada, poema épico de Homero, escrito aí pelo século IX a.C.
Mais recente e quase tão fantasiosa quanto a lenda que pretende conferir, é a batalha travada há bem uns cem anos por historiadores e arqueólogos em torno do que haveria de verdade nos episódios narrados por Homero. A lenda conta que a guerra foi provocada pelo rapto de Helena, a filha de Tíndaro, o rei de Esparta. Helena era tão bonita, tinha tantos pretendentes, que seu pai já previa alguma coisa desse tipo, tanto que promoveu uma grande reunião de todos os interessados e obteve deles um compromisso: qualquer que fosse o escolhido por Helena, os demais se comprometiam a defender o casal contra as ofensas que pudesse sofrer.
Helena escolheu Menelau, que graças a essa preferência tornou-se, além de seu marido, rei de Esparta. E a vida correu feliz e serena até o dia em que Páris, filho do rei de Tróia, Príamo, conheceu Helena e por ela se apaixonou. Páris não tinha sido um dos pretendentes preferidos, não estava amarrado ao compromisso por Tíndaro, e fez o que era muito comum na época: raptou Helena e levou-a para Tróia. Os gregos até que tentaram negociar e esquecer o episódio, mas os troianos não aceitaram.
Assim, Agamenon, irmão do ofendido Menelau, convocou todos os antigos pretendentes à mão de Helena, lembrou-lhes o pacto de fidelidade e organizou a primeira expedição contra Tróia. Foram dez longos anos de luta em que a sorte ora pendeu para um lado, ora para outro. E acabou sendo Ulisses, um guerreiro grego sem nenhum poder extraordinário, a não ser uma cabeça fértil para inventar truques e expedientes, quem pensou no estratagema que os levaria à vitória: construir um grande cavalo de madeira, capaz de abrigar, em seu interior, alguns guerreiros.
Os troianos, que consideravam o cavalo um animal sagrado, recolheram o presente deixado diante do portão de suas muralhas, acreditando ser um reconhecimento da derrota por parte dos gregos, e passaram a noite comemorando a vitória. Os soldados escondidos dentro do cavalo aproveitaram a festa para sair, abriram os portões — e Tróia foi invadida e destruída. Nasceu ai a expressão presente de grego. Essa é a lenda, em linhas bem gerais.
Em 1870 o negociante alemão Heinrich Schliemann, autodidata e arqueólogo amador, após estudar detidamente os textos de Homero, lançou-se à localização de Tróia, fazendo escavações por conta própria. Detevesse na colina de Hissarlik, na entrada do estreito de Dardanelos, atual Turquia. Em companhia da mulher, Sofia, e de outros colaboradores, descobriu vasos de ouro, jarras de prata, braceletes e colares cuidadosamente fabricados. Deduziu, então, que teriam pertencido a um rico e poderoso senhor: seria o tesouro de Príamo, rei de Tróia e pai de Páris. Mas a declaração de Schliemann, de que havia encontrado Tróia e seu famoso tesouro, não resistiu aos ataques dos historiadores especializados.
Hoje, a maioria dos arqueólogos afirma que o tesouro apresentado por Schliemann não passava de um conjunto de peças isoladas recolhidas durante as escavações. O grande mérito do pesquisador alemão foi descobrir que na colina de Hissarlik existiram várias Tróias, cada uma construída sobre as ruínas da outra, e que a região estava habitada desde a Idade do Bronze, por volta de 3 000 a.C, até o ano 400 da nossa era. Ao todo existiram nove Tróias. As primeiras Tróias de I a V, correspondem à Idade do Bronze egeu; Tróia VI, ao Bronze médio e final; Tróia VII teria sido habitada por um povo diferente que deixou o local cerca de 700 a.C, época que corresponde ao início de Tróia VIII; e, por fim, Tróia IX, que era a cidade romana de Ilium Novum.
Como foi possível fazer de uma montanha a base de várias cidades? Especialistas explicam que Tróia I estava sobre a base e ali se levantaram casas feitas de pedra, terra, adobe, madeira e palha; pouco resistentes, eram sujeitas a incêndios que rapidamente as destruiam por estarem, além do mais, muito próximas umas das outras. Na época do cobre e do bronze, as cidades apenas começavam a se desenvolver. Se ocorria um terremoto ou um incêndio, tirava-se o que era aproveitável das ruínas, aplainava-se o que restara e construíam-se novas casas em cima. Assim, uma cidade se edificava sobre a outra. Era costume naquela época jogar no chão desde restos de comida até utensílios quebrados. Mas, a partir de determinado momento, ficava insuportável conviver com a sujeira e então cobria-se o chão com uma espécie de capa de barro e tudo ficava novo e limpo.
O pouco recomendável costume dos troianos teve pelo menos uma serventia: ajudou os arqueólogos a descobrir se as casas — das quais, na maioria das vezes, só ficavam os muros — foram habitadas por muito ou pouco tempo. Para Schliemann, a Tróia de Príamo era a Troía II. Depois de sua morte, em 1890, outro pesquisador, o arqueólogo Wilhelm Dörpfeld, também alemão, prosseguiu as escavações em 1892 e 1893 e estabeleceu que Tróia VI tinha sido o cenário da guerra. No entanto, pesquisadores da universidade norte-americana de Cincinatti, que ali realizaram escavações de 1932 a 1938, concluíram que Tróia VII era a Tróia de Príamo. A chave para se saber qual era a Tróia da guerra era provar a existência do inimigo, isto é, dos gregos do final da Idade do Bronze, a época de Tróia VII.
Tudo estaria esclarecido não fosse por uma questão: embora Homero diga que Tróia foi destruída por um incêndio, as últimas escavações provam que o que houve ali foi um terremoto e que depois os assentamentos continuaram. Diante disso, o historiador inglês Moses Finley, falecido em 1986, abriu fogo: "Não há uma só prova consistente de que a colina de Hissarlik coincida com a Tróia da Idade do Bronze que Homero descreve, nem de que a guerra entre troianos e gregos tenha alguma vez existido. Propomos tirar definitivamente a guerra de Tróia dos livros de História".
Entretanto, uma descoberta do lingüista Calvert Watkins, professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, desmontou um dos principais argumentos dos críticos de Homero. Ao examinar primitivos documentos escritos em uma extinta língua da antiga Anatólia, na região orienta do que hoje é a Turquia, Watkins encontrou o seguinte fragmento de texto:"... quando vinham os alcantilado de Wilusa..." Para ele, o fragmento seria parte de uma primitiva Ilíada escrita em hitita, a língua dos troianos. Os alcantilados de Wilusa (que significam rochas escarpadas de Wilusa) são, segundo Watkins, os que aparecem na Ilíada como "os alcantilado’ de Ilíon". Tróia era também chamada de Ilíon. Tal descoberta derrubava a teoria de que uma cidade grande e poderosa como Tróia, que apoiava o império hitita, não constava dos testemunhos escritos sobre aquele povo. Os críticos de Homero também duvidavam da descrição dos funerais de Pátroclo — grande amigo do guerreiro Aquiles — mencionados no final da Ilíada O poema diz que ele foi cremado. Os céticos afirmavam que naquela época não era costume cremar os mortos.
Recentemente, porém, arqueólogos alemães, que há três anos realizam escavações no porto de Tróia, na baia de Besica, sob o comando do professor Manfred Körfmann, da Universidade de Tübigen, descobriram vestígios de piras onde os mortos eram cremados. Mas se Tróia existiu, será que isso quer dizer necessariamente que houve também a guerra de Tróia? Como e por que ela se deu? Ao que parece, os motivos foram mais banais do que o resgate da honra de Menelau e, sua mulher, Helena. Como a corrente marítima na parte mais estreita dos Dardanelos é muito mais forte, um barco mercante da Idade do Bronze só poderia chegar ao Mar Negro se contasse com bons ventos a seu favor. Mas, à excessão de uns poucos dias do ano, o vento sopra na direção oposta, de Leste a Oeste. Por isso, os gregos preferiam desembarcar suas mercadorias no porto de Tróia para que fossem transportadas até o Mar de Mármara — a meio caminho entre o estreito e o Mar Negro — através da planície troiana.
Mesmo que resolvessem esperar pelos ventos favoráveis os gregos dependiam dos troianos. E estes certamente cobravam pelos serviços prestados, tais como estadia na baia, abastecimento de água e alimentos, transporte de mercadorias por terra etc. E possível até que os troianos cobrassem pedágio ou saqueassem um barco de vez em quando. Do ponto de vista arqueológico não há nada que prove que Tróia fosse um covil de ladrões, mas é cabível que uma cidade situada no eixo do comércio entre o Mar Egeu e o Mar Negro representasse um problema para os gregos. Logo, qualquer pretexto servia para liquidar aqueles que tanto atrapalhavam seus negócios.
O historiador Francisco Murari Pires, professor de História Antiga da Universidade de São Paulo, acha provável que um evento como a guerra de Tróia tenha existido, embora o conjunto de documentos descobertos não permita uma afirmação exata, precisa. O que a lenda quer preservar, diz ele é que o fim da Idade do Bronze e o inicio da Idade do Ferro correspondem a um período de desestruturação do império hitita. Havia uma situação de conflito permanente entre hititas e gregos. Ambos disputavam o controle sobre os reinos que apoiavam tradicionalmente o império hitita e que, em conseqüência da atuação do gregos, começaram a se desestabilizar
Com base nos conhecimentos históricos e arqueológicos disponíveis, arqueólogo alemão Franz Stephan reconstituiu o que em sua opinião pode ter sido a guerra de Tróia: os tróianos, enfraquecidos por causa de um terremoto, não estavam preparados para enfrentar uma guerra. Os gregos, sabendo disso, atracaram no porto inimigo um veleiro com aparência de barco mercante; só que, em vez de mercadorias, transportava uma tropa de elite. Durante a noite o comando grego tomou a cidade.
Nessa versão, não há lugar para o Cavalo de Tróia. O professor Murari Pires diz que é impossível resolver essa questão. Mas, verdade histórica ou não, a lenda é importante por fixar o principio de que uma guerra não se decide só pela força. "Tanto o valor da astúcia, da manobra enganosa", observa Murari, "quanto o valor guerreiro propriamente dito estão em pé de igualdade."
Por mais que historiadores e arqueólogos tentem demonstrar a veracidade do episódio, o que parece prevalecer na memória do homem comum é a imagem poética da lenda, que tem contornos muito mais fortes do que a realidade. Por mais pesquisas que se façam, é pouco provável que um dia essa situação seja invertida.
Fonte: Superinteressante.
Melhor exemplo dessa verdade não existe do que a Guerra de Tróia. com seu cavalo fantático, o rapto de Helena pelo apaixonado Páris, o herói Aquiles e seu calcanhar vulnerável, os deuses e as deusas do Olimpo assanhadíssimos, divididos entre gregos e troianos e fazendo, periodicamente, com que a sorte favorecesse um ou outro lado graças aos seus poderes divinos. Tudo isso está contado na Ilíada, poema épico de Homero, escrito aí pelo século IX a.C.
Mais recente e quase tão fantasiosa quanto a lenda que pretende conferir, é a batalha travada há bem uns cem anos por historiadores e arqueólogos em torno do que haveria de verdade nos episódios narrados por Homero. A lenda conta que a guerra foi provocada pelo rapto de Helena, a filha de Tíndaro, o rei de Esparta. Helena era tão bonita, tinha tantos pretendentes, que seu pai já previa alguma coisa desse tipo, tanto que promoveu uma grande reunião de todos os interessados e obteve deles um compromisso: qualquer que fosse o escolhido por Helena, os demais se comprometiam a defender o casal contra as ofensas que pudesse sofrer.
Helena escolheu Menelau, que graças a essa preferência tornou-se, além de seu marido, rei de Esparta. E a vida correu feliz e serena até o dia em que Páris, filho do rei de Tróia, Príamo, conheceu Helena e por ela se apaixonou. Páris não tinha sido um dos pretendentes preferidos, não estava amarrado ao compromisso por Tíndaro, e fez o que era muito comum na época: raptou Helena e levou-a para Tróia. Os gregos até que tentaram negociar e esquecer o episódio, mas os troianos não aceitaram.
Assim, Agamenon, irmão do ofendido Menelau, convocou todos os antigos pretendentes à mão de Helena, lembrou-lhes o pacto de fidelidade e organizou a primeira expedição contra Tróia. Foram dez longos anos de luta em que a sorte ora pendeu para um lado, ora para outro. E acabou sendo Ulisses, um guerreiro grego sem nenhum poder extraordinário, a não ser uma cabeça fértil para inventar truques e expedientes, quem pensou no estratagema que os levaria à vitória: construir um grande cavalo de madeira, capaz de abrigar, em seu interior, alguns guerreiros.
Os troianos, que consideravam o cavalo um animal sagrado, recolheram o presente deixado diante do portão de suas muralhas, acreditando ser um reconhecimento da derrota por parte dos gregos, e passaram a noite comemorando a vitória. Os soldados escondidos dentro do cavalo aproveitaram a festa para sair, abriram os portões — e Tróia foi invadida e destruída. Nasceu ai a expressão presente de grego. Essa é a lenda, em linhas bem gerais.
Em 1870 o negociante alemão Heinrich Schliemann, autodidata e arqueólogo amador, após estudar detidamente os textos de Homero, lançou-se à localização de Tróia, fazendo escavações por conta própria. Detevesse na colina de Hissarlik, na entrada do estreito de Dardanelos, atual Turquia. Em companhia da mulher, Sofia, e de outros colaboradores, descobriu vasos de ouro, jarras de prata, braceletes e colares cuidadosamente fabricados. Deduziu, então, que teriam pertencido a um rico e poderoso senhor: seria o tesouro de Príamo, rei de Tróia e pai de Páris. Mas a declaração de Schliemann, de que havia encontrado Tróia e seu famoso tesouro, não resistiu aos ataques dos historiadores especializados.
Hoje, a maioria dos arqueólogos afirma que o tesouro apresentado por Schliemann não passava de um conjunto de peças isoladas recolhidas durante as escavações. O grande mérito do pesquisador alemão foi descobrir que na colina de Hissarlik existiram várias Tróias, cada uma construída sobre as ruínas da outra, e que a região estava habitada desde a Idade do Bronze, por volta de 3 000 a.C, até o ano 400 da nossa era. Ao todo existiram nove Tróias. As primeiras Tróias de I a V, correspondem à Idade do Bronze egeu; Tróia VI, ao Bronze médio e final; Tróia VII teria sido habitada por um povo diferente que deixou o local cerca de 700 a.C, época que corresponde ao início de Tróia VIII; e, por fim, Tróia IX, que era a cidade romana de Ilium Novum.
Como foi possível fazer de uma montanha a base de várias cidades? Especialistas explicam que Tróia I estava sobre a base e ali se levantaram casas feitas de pedra, terra, adobe, madeira e palha; pouco resistentes, eram sujeitas a incêndios que rapidamente as destruiam por estarem, além do mais, muito próximas umas das outras. Na época do cobre e do bronze, as cidades apenas começavam a se desenvolver. Se ocorria um terremoto ou um incêndio, tirava-se o que era aproveitável das ruínas, aplainava-se o que restara e construíam-se novas casas em cima. Assim, uma cidade se edificava sobre a outra. Era costume naquela época jogar no chão desde restos de comida até utensílios quebrados. Mas, a partir de determinado momento, ficava insuportável conviver com a sujeira e então cobria-se o chão com uma espécie de capa de barro e tudo ficava novo e limpo.
O pouco recomendável costume dos troianos teve pelo menos uma serventia: ajudou os arqueólogos a descobrir se as casas — das quais, na maioria das vezes, só ficavam os muros — foram habitadas por muito ou pouco tempo. Para Schliemann, a Tróia de Príamo era a Troía II. Depois de sua morte, em 1890, outro pesquisador, o arqueólogo Wilhelm Dörpfeld, também alemão, prosseguiu as escavações em 1892 e 1893 e estabeleceu que Tróia VI tinha sido o cenário da guerra. No entanto, pesquisadores da universidade norte-americana de Cincinatti, que ali realizaram escavações de 1932 a 1938, concluíram que Tróia VII era a Tróia de Príamo. A chave para se saber qual era a Tróia da guerra era provar a existência do inimigo, isto é, dos gregos do final da Idade do Bronze, a época de Tróia VII.
Tudo estaria esclarecido não fosse por uma questão: embora Homero diga que Tróia foi destruída por um incêndio, as últimas escavações provam que o que houve ali foi um terremoto e que depois os assentamentos continuaram. Diante disso, o historiador inglês Moses Finley, falecido em 1986, abriu fogo: "Não há uma só prova consistente de que a colina de Hissarlik coincida com a Tróia da Idade do Bronze que Homero descreve, nem de que a guerra entre troianos e gregos tenha alguma vez existido. Propomos tirar definitivamente a guerra de Tróia dos livros de História".
Entretanto, uma descoberta do lingüista Calvert Watkins, professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, desmontou um dos principais argumentos dos críticos de Homero. Ao examinar primitivos documentos escritos em uma extinta língua da antiga Anatólia, na região orienta do que hoje é a Turquia, Watkins encontrou o seguinte fragmento de texto:"... quando vinham os alcantilado de Wilusa..." Para ele, o fragmento seria parte de uma primitiva Ilíada escrita em hitita, a língua dos troianos. Os alcantilados de Wilusa (que significam rochas escarpadas de Wilusa) são, segundo Watkins, os que aparecem na Ilíada como "os alcantilado’ de Ilíon". Tróia era também chamada de Ilíon. Tal descoberta derrubava a teoria de que uma cidade grande e poderosa como Tróia, que apoiava o império hitita, não constava dos testemunhos escritos sobre aquele povo. Os críticos de Homero também duvidavam da descrição dos funerais de Pátroclo — grande amigo do guerreiro Aquiles — mencionados no final da Ilíada O poema diz que ele foi cremado. Os céticos afirmavam que naquela época não era costume cremar os mortos.
Recentemente, porém, arqueólogos alemães, que há três anos realizam escavações no porto de Tróia, na baia de Besica, sob o comando do professor Manfred Körfmann, da Universidade de Tübigen, descobriram vestígios de piras onde os mortos eram cremados. Mas se Tróia existiu, será que isso quer dizer necessariamente que houve também a guerra de Tróia? Como e por que ela se deu? Ao que parece, os motivos foram mais banais do que o resgate da honra de Menelau e, sua mulher, Helena. Como a corrente marítima na parte mais estreita dos Dardanelos é muito mais forte, um barco mercante da Idade do Bronze só poderia chegar ao Mar Negro se contasse com bons ventos a seu favor. Mas, à excessão de uns poucos dias do ano, o vento sopra na direção oposta, de Leste a Oeste. Por isso, os gregos preferiam desembarcar suas mercadorias no porto de Tróia para que fossem transportadas até o Mar de Mármara — a meio caminho entre o estreito e o Mar Negro — através da planície troiana.
Mesmo que resolvessem esperar pelos ventos favoráveis os gregos dependiam dos troianos. E estes certamente cobravam pelos serviços prestados, tais como estadia na baia, abastecimento de água e alimentos, transporte de mercadorias por terra etc. E possível até que os troianos cobrassem pedágio ou saqueassem um barco de vez em quando. Do ponto de vista arqueológico não há nada que prove que Tróia fosse um covil de ladrões, mas é cabível que uma cidade situada no eixo do comércio entre o Mar Egeu e o Mar Negro representasse um problema para os gregos. Logo, qualquer pretexto servia para liquidar aqueles que tanto atrapalhavam seus negócios.
O historiador Francisco Murari Pires, professor de História Antiga da Universidade de São Paulo, acha provável que um evento como a guerra de Tróia tenha existido, embora o conjunto de documentos descobertos não permita uma afirmação exata, precisa. O que a lenda quer preservar, diz ele é que o fim da Idade do Bronze e o inicio da Idade do Ferro correspondem a um período de desestruturação do império hitita. Havia uma situação de conflito permanente entre hititas e gregos. Ambos disputavam o controle sobre os reinos que apoiavam tradicionalmente o império hitita e que, em conseqüência da atuação do gregos, começaram a se desestabilizar
Com base nos conhecimentos históricos e arqueológicos disponíveis, arqueólogo alemão Franz Stephan reconstituiu o que em sua opinião pode ter sido a guerra de Tróia: os tróianos, enfraquecidos por causa de um terremoto, não estavam preparados para enfrentar uma guerra. Os gregos, sabendo disso, atracaram no porto inimigo um veleiro com aparência de barco mercante; só que, em vez de mercadorias, transportava uma tropa de elite. Durante a noite o comando grego tomou a cidade.
Nessa versão, não há lugar para o Cavalo de Tróia. O professor Murari Pires diz que é impossível resolver essa questão. Mas, verdade histórica ou não, a lenda é importante por fixar o principio de que uma guerra não se decide só pela força. "Tanto o valor da astúcia, da manobra enganosa", observa Murari, "quanto o valor guerreiro propriamente dito estão em pé de igualdade."
Por mais que historiadores e arqueólogos tentem demonstrar a veracidade do episódio, o que parece prevalecer na memória do homem comum é a imagem poética da lenda, que tem contornos muito mais fortes do que a realidade. Por mais pesquisas que se façam, é pouco provável que um dia essa situação seja invertida.
Fonte: Superinteressante.
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