quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ivan, o Terrível


Ivan, o Terrível foi o primeiro czar da Rússia, e seu comportamento arbitrário e cruel levou muitos a compara-lo a Vlad o Empalador, o Drácula histórico. Ivan herdou o título do Grão-Duque de Moscovy quando tinha 3 anos de idade e cresceu observando as famílias líderes (os boiardos) de sua terra liderarem os países por um período de caos, à medida em que lutavam entre si por parcelas de poder.
Tinha 17 anos quando um Conselho de Escolha surgiu para efetuar reformas. Embora eles tenham tido sucesso em acabar com o caos, Ivan discutiu continuamente com seus membros sobre uma vasta quantidade de assuntos administrativos.

Em 1564, frustrado, abdicou repentinamente. Quando o povo exigiu seu retorno, pôde ditar os termos de sua reintegração e obter o poder quase absoluto. Movimentou-se rapidamente para estabelecer sua própia elite governamental, a Oprichnina, que retirou grande parte do poder remanescente das mãos do boiardos.

O reinado de duas décadas de Ivan foi marcado, em parte, pela sua conquista das terras ao longo do Rio Volga e por seu movimento para a Sibéria, assim como a desastrosa guerra em que se envolveu quando tentou sem sucesso capturar a Livônia (hoje Estônia).

Ele é mais lembrado, todavia não por suas ações políticas, mas por sua conduta pessoal. No afã de estabelecer, agia rapidamente na punição (e às vezes execução) de muitos que desafiavam seu reinado ou que de alguma forma mostrassem desrespeito pelo que ele considerava seu status engrandecido.

Entre as tendências excepcionais mais lembradas pelos seus conteporâneos, Ivan possuía um senso de humor negro, bem similar ao que fora atríbuido a Vlad. Freqüentemente, esse humor caracterizava as torturas e execuções daqueles que se tornavam o objeto de sua ira.

Conforme assinalou um historiador, S. K. Rosovetskii, muitas das histórias sobre Ivan eram variações daquelas atribuídas a Vlad um século antes. Por exemplo, havia a história folclórica romena sobre os cidadãos moradores da cidade de Tigorviste, a capital de Drácula. Os cidadãos tinham caçoado do irmão de Drácula. Em represália, ele reuniu os principais cidadãos (os boiardos) após as celebrações da Páscoa e, em suas melhores roupas, fez com que marchassem na construção do Castelo de Drácula. Ivan, reporta-se, fez algo parecido na cidade de Volgoda quando as pessoas o viram na manhã da Páscoa. Juntou-as todos ainda em suas melhores roupas de festa e construiu uma nova muralha para a cidade.

Talvez a mais famosa história de Drácula contada a partir de Ivan se referia ao enviado turco que se recusou a tirar seu chapéu na presença de Drácula. Este, em seguida, pregou o chapéu do homem a sua cabeça. Ivan, reporta-se, fez o mesmo com um diplomata italiano (ou, num relato alternativo, com um embaixador francês).

Ivan, como Vlad, muitas vezes se virava contra poderosas figuras da sociedade russa e as humilhava para evitar seu retorno à dignidade de seus cargos. Conta-se a história, por exemplo, de seu ataque sobre Pimen, o representante metropolitano russo-ortodoxo de Novgorod. Despiu-o de suas vestes litúrgicas e vestiu-o de ministrel ambulante (uma ocupação rejeitada pela igreja) e montou um casamento satírico no qual Pimen se casaria com uma égua. Apresentando o despido prelado com os sinais de seu novo status, uma gaita de foles e uma lira, Ivan despachou-o da cidade.

Ivan era diferente de Vlad com relação ao seu apetite sexual, tinha sete esposas e cerca de 50 concubinas. Também deixou os seus sucessores imediatos com uma herança mista. Embora tivesse expandido o território da Rússia, deixou o país na bancarrota e o descontentamento com seu reinado cresceu de forma contínua. Ivan, todavia, morreu de forma pacífica enquanto jogava xadrez, no dia 18 de março de 1584.

Fonte: the fallen angel web.

O major da cachaça

Havia no bairro um grupo de bebedores da melhor qualidade. A turma se reunia no fundo de um armazém de secos & molhados, onde existiam uma mesa, ampla e algumas cadeiras. No começo eram uns poucos, mas depois o grupo recebeu algumas adesões, e os aderentes sentavam em caixotes vazios, que era o que mais tinha no fundo do armazém.

Está claro, sendo um grupo de bebedores, embora fosse o local uma firma — como ficou dito — de secos & molhados, nunca ninguém da turma se interessou pelos secos. Era tudo gente dos molhados. E de tal forma eram que acabaram inventando uma espécie de hierarquia de bebedores.

Reparem que estou a chamá-los de bebedores e não de bêbados; isto é, a turma era consciente e não um vulgar amontoado de pés-de-cana.

Mas, eu dizia, resolveram inventar uma hierarquia baseada no maior ou menor rendimento de cada um, na admirável (pelo menos para eles) arte de curtir um pileque com dignidade. Assim, aqueles que fossem uns frouxos e não passassem de uns tantos cálices, seriam cabos ou sargentos; os que conseguiam agüentar dose maior seriam tenentes, e acima os capitães, majores... enfim, a graduação subia na ordem direta da cachaça de cada um ou, como disse um deles, mais cínico pouquinha coisa, na capacidade de virar gargalo.

Um detalhe importante que, depois de inventado esse pequeno exército da pinga, todos passaram a respeitar foi a obediência ao posto. Um tenente nunca entrava em qualquer lugar público sem bater continência para um major, pedir licença para permanecer no recinto, etc.

Foi quando Geraldina conheceu Adamastor, que era major já fazia mais de um ano. Saiu com ele uma noite, para jantar, e ficou muito impressionada. Estavam os dois esperando os pratos encomendados, quando aproximou-se um cavalheiro e, fazendo continência para Adamastor, falou:

— Dá licença, Major?

—À vontade — respondeu Adamastor, meio cabreiro, por causa da presença dela.

Aquilo deu a Geraldina um certo orgulho. Afinal, aquele cavalheiro que a acompanhava não era um qualquer. Tinha a sua importância, recebia certas deferências. É verdade que Geraldina era nova no bairro e nunca suspeitaria em que exército Adamastor servia no posto de major.

E digo mais. Pouca gente sabia daquela brincadeira. Sim, porque quem não era da turma encarava a combinação do grupo como simples brincadeira, ainda que a seriedade com que eles se davam ao ritual da continência provasse que — pelo menos os do exército da cachaça — não tinham aquilo em conta de brinquedo.

Mas voltemos a Geraldina e ao Major Adamastor. Continuaram a sair juntos, tornaram-se namorados e, mais do que isto, comprometidos. Adamastor já tinha levado Geraldina para conhecer sua família e vice-versa. À beira de um noivado, portanto.

Foi então que, um dia, conversando com uma tia fofoqueira de Adamastor, Geraldina disse: — Uma das coisas que eu mais admiro no Adamastor é a importância dele, Dona Babilônia (a tia chamava-se Babilônia, embora jamais pudesse ser incluída entre as 7 maravilhas do mundo, muito pelo contrário — velha vesga estava ali). Mal Geraldina fez aquela cândida confissão, Dona Babilônia meteu lá um muxoxo e uma cara de nojo, para lascar:

— Que importância que nada, minha querida. O Adamastor é um beberrão. Sabe que título de major é esse? Pois é por causa de cachaça. Aqueles moleques que fazem continência para ele também são bêbados. Quem bebe mais cachaça vai subindo de posto.

Geraldina ouviu aquilo tudo gelada, mas como já gostasse de Adamastor, não quis mais pensar no assunto. Sabem como é: só o amor constrói para a eternidade. Mas também não ia deixar que ele continuasse a enganá-la nas suas bochechas com aquela besteira de major. E foi batata.

À noite o casal combinou um cinema, e estavam ambos na fila, para comprar entrada, quando apareceram dois sujeitos. Pararam em frente de Adamastor, bateram a devida continência e perguntaram se podiam entrar na fila também. Adamastor respondeu que sim, que podiam. E ficou murcho dentro da roupa, sem olhar para Geraldina, numa atitude que ela antes pensava que fosse de modéstia e agora estava achando que era de cinismo.

Pobre Geraldina, não percebia que Adamastor não tinha o menor orgulho do título. Pelo contrário, sentia-se um injustiçado, tanto assim, que, ao ouvir a bronca, revoltou-se pela primeira vez.

— Não seja cretino, Adamastor — disse ela. — Não fique com esse fingimento, não. Então não sei por que é que esses vagabundos o chamam de major?

E Adamastor: — Pois fique sabendo que é uma injustiça, ouviu? Tem nego lá no armazém que bebe muito menos do que eu e já é coronel.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

O apanhador de mulher

Foi num dia aí que eu tive que ir ao Recife!

Eu sou danado para chegar atrasado no Galeão. Eu e o conforto. Eu ainda chego. Atrasado mas chego. O conforto é que está demorando um bocado. Em matéria de aeroporto internacional, deviam mudar o nome daquele cercado para Galinhão — parece um galinheiro, ficava mais condizente. Mas isto deixa pra lá.

Dizia eu que tive de ir ao Recife e fui mesmo. Fui o último a entrar no avião e sentei ao lado de um cara que tinha uma cor puxada para o esverdeado:

— Esse sujeito deve ter um fígado desses que se deixam subornar pelas hostes inimigas. Ou então é desses que têm mais medo de avião do que "beatnik" de sabonete.

Mas não. Mal o avião levantou vôo, o cara pediu um uísque duplo à aeromoça e puxou conversa. Explicou que estava saindo do Rio por causa de uma mulher. E que mulher, seu moço! Dessas que nem presidente de associação de família bota defeito. Ela soube que ele estava andando com a Julinha.

— Manja a Julinha? — ele me perguntou.

Não. Eu não manjava, e era um trouxa por causa deste detalhe. A Julinha era uma das melhores coisas que podem acontecer a qualquer sujeito apreciador do gênero.

E assim foi o cara, até Vitória. Na hora em que o avião ia descer, ele estava explicando que ali, na capital capixaba, tinha tido grandes momentos. Mas grandes momentos mesmo. Se meteu com uma pequena ótima, sem saber que ela tinha duas irmãs melhores ainda. E ele foi pulando de uma para outra.

— Apanhei as três, tá bem? — batia na minha perna e dizia, balançando a cabeça, com um sorriso vitorioso (talvez em homenagem à já citada capital capixaba). E repetia para mim: — Apanhei as três!

Depois da escala em Vitória, tentei sentar longe do folgazão, mas me dei mal. Ele me viu sozinho na poltrona, isto é, com a poltrona do lado dando sopa, e não conversou. Pediu mais um uísque duplo à aeromoça e retomou o assunto mulher. Descreveu como é que foi com a mulher do quinto andar lá do prédio onde ele mora. No começo não queria. Sabe como é — a gente não deve se meter com essas desajustadas que moram perto, porque fica fácil de controlar. E parecia que ele estava adivinhando. Todo dia de manhã era uma bronca, porque todo dia de manhã — é lógico — saía uma mulher do seu apartamento, e a dona do quinto andar ficava na paquera.

— Mandei andar, viu?

— Qual?

— A do quinto.

— Ah, sim...

Entre Vitória e Salvador o sujeito já tinha apanhado mais mulher do que o falecido Juan Tenório. Mas nem por isso deixou de contar mais umas duas ou três aventuras amorosas, enquanto aqui o filho de Dona Dulce aproveitou a boca para comer uns dois ou três acarajés. Era eu com acarajé e ele com mulher. Desisti até de me livrar do distinto. No Recife cada um de nós iria para o seu lado e eu não veria mais o garanhão.

Retornamos ao avião. Ele, firme, do meu lado. Pediu outro uísque duplo à aeromoça — a qual, inclusive, elogiou, afirmando que tinha umas ancas notáveis.

— Hem, hem? Notáveis! — e me catucava com o cotovelo.

Foi quando sobrevoávamos Penedo que ele confessou que já tinha casado três vezes. Felizmente não tivera filhos, mas mulher não faltou. Depois do terceiro casamento, com várias senhoras de diversos tamanhos e feitios intercalados entre cada casamento, resolveu que não era trouxa.

— Comigo não, velhinho. Chega de casar! — nova catucada: — Comigo agora é só no passatempo. Por falar nisso, você tem algum compromisso no Recife?

Fingi que tinha. Uma senhora que não poderia ser suspeitada, caso contrário poderia sair até tiro. Ele compreendeu. Embora tremendo boquirroto, concordou que, às vezes, é preciso manter o sigilo. Mas era uma pena eu não estar disponível no Recife. Ele conhecia umas garotas bem interessantes. Era bem possível que, já no aeroporto de Guararapes, algumas estivessem à sua espera.

— Você dá uma espiada — aconselhou-me. Se alguma delas me conviesse e — naturalmente — se a tal senhora inconfessável falhasse, eu poderia ficar com duas ou três de suas amiguinhas, para umas farras em Boa Viagem:

— A gente vai para a praia. De noite... aqueles mosquitinhos mordendo a gente.

Disse isso com tal entusiasmo na voz que, por um instante, eu cheguei a pensar que ele gostasse mais do mosquitinho do que de mulher. Mas foi só por um instante. Enquanto o avião manobrava e descia no Recife, o cara ainda falou numa prima lá dele, pela qual tivera uma bruta paixão.

Aí o avião parou, todo mundo desamarrou o cinto e — coisa estranha — o meu companheiro de viagem voltou a ficar esverdeado.

Saímos, apanhamos as malas e, quando eu ia pegar um táxi, lá estava o cara sozinho, também atrás de condução. Ele me viu, sorriu e explicou:

— Olha, meu velho, aquilo tudo era bafo. Eu não apanho ninguém. Eu tenho é pavor de avião e só falando de mulher é que eu perco o medo.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora

Teatro de Revista - Parte II

Considerada uma das maiores estrelas do teatro de revista em todos os tempos, a paulista Margarida Max, formou, com Augusto Aníbal e João Lins, o trio principal de atrações da revista 'Onde está o Gato". De autoria de Geysa Bôscoli e Luiz Iglésias foi montada em 1929, no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro.

Nos anos 20, o nome mais famoso a ter suas composições levadas a cenas foi José Barbosa da Silva, o Sinhô, que se auto-intitulava o Rei do Samba. Chegou à proeza – em duas ocasiões – de ter o mesmo samba cantado em duas revistas diferentes, encenadas simultaneamente. Além dele. A fase é de destaque para Freire Júnior, Eduardo Souto, Henrique Vogeler, Luiz Peixoto, Lamartine Babo, Hekel Tavares, Ary Barroso, entre outros.

Desde Pelo telefone, o propalado primeiro samba gravado, detecta-se um vínculo mais forte entre o teatro de revista e o samba. Inspirados na gravação do cantor Bahiano, os revistógrafos Álvaro Pires e Henrique Júnior apresentavam, no dia 7 de agosto de 1917, no Teatro Carlos Gomes, na praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, a revista Pelo Telefone. A repercussão do samba no Carnaval daquele ano não se transmitiu ao espetáculo, que ficou em cartaz apenas uma semana.

A que consegue êxito digno de nota, com mais de quatrocentas representações, e a revista Pé de Anjo, musicada pelo paranaense Bento Mossurunga e Bernardo Vivas. Nela aparecem as figuras de Júlia Martins, que gravou dezenas de duetos com o pioneiro Bahiano, nos discos da Casa Edison, e uma estreante que viria a ser a maior das vedetes de todos os tempos, a paulista Margarida Max. O sucesso era a marcha Pé de anjo, de Sinhô, que consolidou a aliança entre o teatro de revista e a música popular.

Tanto assim que, no mesmo 1920, estréia a revista Papagaio Louro, com mais um samba de Sinhô, Fala meu louro, e no Teatro São José, Quem é bom já nasce feito, aproveitando o nome de outro samba dele. Quem apresenta é Otília Amorim, uma das grandes vedetes que disputavam as preferências do público carioca.

No ano seguinte, a revista Reco-Reco, estrelada pela mesma Otília, com música de Bento Mossurunga, destaca a presença do “tenor” Francisco Alves, vestido de malandro e cantando um samba que dizia: “Olha a menina / sem saia / freguês”. No Teatro São José, um samba de Caninha (José Luiz Morais) dava o que falar e o que cantar, emprestando seu nome à revista Esta nega qué mi dá. Francisco Alves e Otília lançaram o samba a duas vozes.

Uma “figurinha de brasileira petulante”, no dizer do crítico Mário Nunes, estreava na revista em 1922, destinada a ser a maior lançadora de talentos de toda a história do gênero. Vinda de espetáculos circenses, Araci Cortes iniciava a carreira em Nós pelas costas, estreada no Teatro Recreio, na última noite do ano de 1921.

Chegaram então as francesas e as espanholas. As comemorações do centenário de independência do Brasil, enchendo o Rio de Janeiro de festas e convidados, mais as presenças das coristas européias incendiaram os teatros de revista. As modificações começaram a ser adotadas e a aparecer já nos novos espetáculos. Um samba classificado como “à moda paulista”, composto por Eduardo Souto, transforma-se no sucesso do Carnaval de 1923 e na revista do mesmo nome. Tatu subiu no pau, montada pela empresa Paschoal Secreto, no Teatro São José, ultrapassando cem representações.

Ai se eu pudesse voá
O elenco completo da revista "Ai se eu pudesse voá", montada no Rio de Janeiro, no final dos anos 20. Na fotografia destacam-se o ator Brandão Sobrinho, que está logo abaixo do estandarte, e o cantor Vicente Celestino, o último da esquerda, na fileira do meio. A estrela com o leque, é Vitória Soares.

Luiz Peixoto chega de Paris e encena Meia noite e trinta, colocando no palco tudo o que aprendera lá. É a pá de cal no enterro da velha revista, que agora tem gosto refinado em cenários, guarda-roupa, iluminação, textos, e oferece muito melhores condições aos seus lançamentos musicais. Francisco Alves é uma das atrações, ao lado de sua mulher Nair. Além de cantar, dança desenvolto com ela. Ainda em 1923, Chico Alves participaria, junto com da iniciante Araci Cortes, da revista Sinhô de ópio, na qual interpretava um almofadinha cantor. A partir daí, sua presença torna-se mais rara até por volta de 1930, quando abandona o teatro e passa a se interessar mais por gravações e programas radiofônicos. Durante 15 anos, o teatro de revista foi a sua vitrine.

Um êxito estrondoso marcou o aparecimento, como estrela, de Margarida Max. A cinco de maio de 1924, estreou no Teatro Recreio, de Marques Porto e Afonso de Carvalho, a revista À La Garçonne, que modificaria costumes no país. Depois de trezentas representações, excursionou pelo Brasil, lançando a moda dos cabelos curtos para mulheres, “a lá garçonne” ou “a la homme”, tal como usava Margarida. Bonita, vistosa, talentosa e jovem, com enorme força interior, que faria dela a maior das vedetes do gênero. Iniciava ali uma carreira que acabaria por desbancar a estrelíssima Otília Amorim, vencendo as concorrências de Antônia Denegri, Eva Stachino, Lia Binatti, Zaíra Cavalcanti e da própria Araci Cortes, que ao final seria sua sucessora, sem contudo, alcançar seu status de grande dama do teatro de revista.

Uma das vezes em que o destino fez com que Margarida e Araci se cruzassem deve-se a um samba clássico. Araci lançou, em 1929, na revista É de Outro Mundo o samba de Ary Barroso e J. Carlos, A Grota Funda. Em 14 de maio de 1931, Margarida Maux, na revista Brasil do Amor, lança a versão definitiva do samba, agora com letra de Lamartine Babo e rebatizada como... No Rancho Fundo.

Fonte: http://teatrobr.blogspot.com

Teatro de Revista - Parte I

Uma das primeiras montagens de Walter Pinto - Teatro Recreio -  Rio de Janeiro, anos 40.

O Teatro de revista é um gênero de teatro musicado caracterizado por passar em revista os principais acontecimentos do ano. A encenação é feita numa sucessão de quadros onde os fatos são revividos com intenção e humor. Tudo em meio a muitas danças, canções e outros números musicais.

Surgido no Rio de Janeiro em 1859, com a revista de Justino de Fiqueiredo Novais intitulada As surpresas do Sr. José da Piedade, relacionada ao ano de 1858 em dois atos e quatro quadros. Essa revista foi estreada no Teatro Ginásio, dia 15 de janeiro de 1859. Esse novo gênero de teatro com música firmou-se definitivamente a partir da década de 1880, com o aparecimento do magnifico Artur de Azevedo que se tornou o maior nome do teatro musicado brasileiro em todos os tempos.

No início, as revistas brasileiras sofreram a influência das revistas européias, até 1887, com a encenação da revista La gran via, por uma companhia espanhola. Nessa revistas as coristas cantavam em coro e não se movimentavam pelo palco. As revistas brasileiras inovaram e ganharam estilo próprio mesmo antes do final da década de 1880 quando passou a lançar músicas de sucesso popular.

O tango Araúna ou Xô, araúna, da revista Cocota, de Artur Azevedo, encenada em 1885, é considerada como a primeira música que saiu do palco para as ruas, para o domínio popular. Depois veio a cançoneta A missa campal, de Oscar Pederneiras, 1888, cantada, também, na revista de Oscar pederneiras. Em seguida vieram outras composições que fortificaram ainda mais esse tipo de teatro musicado.

Entre as mais famosas da época, tivemos o tango As laranjas da Sabina, com letra de Artur de Azevedo, que foi lançado pela soprano italiana Ana Manarezzi na revista A República, de Artur e Aluízio Azevedo, em 1890; o lundu Mugunzá, de F. Carvalho, lançado em 1892 na revista portuguesa Tim-tim por tim-tim, e o tango brasileiro Gaúcho, de Chiquinha Gonzaga, tocado pela primeira vez na revista Zizinha Maxixe, de autoria do ator Machado Careca, em 1897, que se tornou um dos maiores sucessos da música popular brasileira de todos os tempos, sob o nome de Corta-jaca.

Além de veículo da popularização de canções populares, o teatro de revista abrigou e deu nome a uma série de maestros-compositores, como a própria Chiquinha Gonzaga, Paulino Sacramento, Nicolino Milano, Bento Mossurunga, Antonio Sá Pereira, Sofonias Dornelas, Adalberto Gomes de Carvalho.

A partir da década de 1920, o teatro de revista sofreu a influência do cinema e seu tempo foi diminuído e passaram a concorrer, também, com os mágicos o que conduziu o gênero para o show, cuja tendência aumentou na década de 1930 com os espetáculos internacionais dos cassinos. Em 1935, foi encenada no Teatro Recreio, a revista de Freire Junior, intitulada Bailarina do cassino. Dessa forma a importância do teatro musicado passou para os shows de boate ou de teatros com o objetivo de atender a um público mais exigente.

O teatro de revista dando sucesso às músicas populares

Até o começo dos anos 20, o teatro de revista que se fazia no Brasil ainda era rudimentar, sem muita preocupação com guarda-roupas, cenários e mesmo com os próprios espaços onde era encenado. Naqueles momentos, aportam no Rio de Janeiro duas companhias européias que iriam ditar a mudança completa do comportamento do gênero, tanto no palco como fora dele.

Salvyano Cavalcanti de Paiva conta, no livro Viva o rebolado, como foi a reação nacional à presença da companhia francesa Ba-Ta-Clan: “Despertaram interesse, surpresa e sensação a saúde e a marcação das coristas, de corpo escultural, a música viva e funcional, os cenários magnificentes, a movimentação de luzes e cores que ampliava os efeitos estéticos e cenográficos e, em especial, o apelo erótico alcançado mediante a mostra generosa do nu feminino – que a Censura, no primeiro momento, não ousou proibir para não parecer matuta... Isto chocou mais aos empresários que ao público; verificaram, por fim, o acanhado das suas realizações. A conseqüência mais imediata foi a supressão das meias e das grosseiras roupas de malha das coristas. E tentativas de melhorar, enriquecer, as apoteoses: isto representou mudança radical na cenografia e nos figurinos e a introdução de uma coreografia consciente nos números de dança coletiva, até então executados na base do improviso”.

As observações se prestam também à companhia madrilense Velasco, que junto com a francesa trouxeram a feérie para o público carioca. Foi tal o impacto das mulheres européias no país que, em São Paulo, um jovem tentou suicidar-se, saltando do viaduto do Chá, por amor a uma das francesinhas, e Juca Paranhos, futuro barão do Rio Branco, casou-se com a corista belga Marie Stevens.

A primeira revista brasileira não chegou a ficar em cartaz uma semana, por falta de público e proibição da censura, após a estréia. Denominava-se As surpresas do Sr. José da Piedade e foi encenado no Teatro Ginásio, no Rio de Janeiro, em 1859. A segunda tentativa foi em 1875, com a A Revista do Ano de 1875, escrita por Joaquim Serra, mas que acabou fracassando por excesso de sátiras políticas. Ainda nesse ano, do mesmo Serra, Rei morto, rei posto dá sinais de que público começava a aceitar o novo tipo de teatro.

O grande sucesso brasileiro apareceria em 1883, com o O Mandarim, espetáculo de Artur Azevedo e Moreira Sampaio, com a participação do cançonetista e compositor Xisto Bahia, considerado um dos maiores artistas populares de sua época e, segundo o próprio Artur Azevedo, “o ator mais nacional que tivemos”. Como revista inteiramente brasileira, a primeira carnavalesca a ser montada intitulava-se O Boulevard da Imprensa de Oscar Pederneiras.

Portugal nos manda, em 1892, suas cançonetistas da revista Tintim por tintim, com bastante êxito. A revista como balanço do ano desaparece no início do século. É o momento em que a música começa a tomar espaço maior no palco e o Carnaval a ser um dos seus principais motes, envolvendo-se o teatro de revista com as grandes sociedades carnavalescas, como os clubes dos Fenianos, Tenentes do Diabo, dos Democráticos e outros.

Na revista O Maxixe, em 1906, é lançado Vem cá mulata (Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre), no mesmo ritmo do título. Vira grito de guerra dos Democráticos nos carnavais seguintes, tal êxito que foi no palco. É um dos primeiros exemplares do teatro de revista como lançador de músicas que o povo adotaria de imediato. A fase das revistas do ano ficara para trás. O público crescente deixava-se seduzir por um tipo de teatro que alcançava uma estrutura tipicamente brasileira, mais que isso, carioca, e a revista assumia agora o papel que cumpriria nos anos seguintes, de lançadora de sucessos da música popular brasileira.

Cidade essencialmente musical, mesmo assim, o Rio de Janeiro só veria o prestígio do teatro de revista consolidado, nos últimos anos da década de 10 e nos primeiros da de 20. Assumida inteiramente a função de vitrine, abriria os palcos para compositores populares, que os levariam à celebridade, transformaria vedetes-cantoras nas mulheres mais desejadas e cobiçadas do país. Desejo e cobiça que, muitas vezes eram orientados para diferentes finalidades, visto que, na realidade, os compositores as desejavam como intérpretes de seus sambas nos palcos revisteiros e cobiçavam o resultado financeiro que, certamente, adviria de um lançamento feito por uma daquelas deusas.

Fonte: http://teatrobr.blogspot.com