segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Belita

Belita (Maria Gladys Belita Olive Lyne Jepson-Turner), dançarina, atriz e atleta olímpica, nasceu em Nether Wallop, Hampshire, Inglaterra, em 25/10/1923, e faleceu em  Montpeyroux, França, em 18/12/2005. Participou com o nome de Belita Jepson-Turner junto à equipe de patinação da Grã-Bretanha, nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1936. Em seguida, sua carreira se voltou para Hollywood.

Com uma formação de balé clássico russo, era considerada muito superior às outras artistas de patinação na época. Começou a aparecer como bailarina, tendo como parceiro Anton Dolin, no Dolin-Markova Ballet.

Participou em filmes como "Never Let Me Go" (1953), com Clark Gable e "The Cherry Orchard", com Charles Laughton. Atuou em várias produções, incluindo "Silver Skates" (1943), "Laday, Let's Dance" (1944) e o filme noir "Suspense” (1946), altamente rentáveis para Monogram Pictures.

Em 1946 se casou com Joel Belita McGinnis e se divorciou em 1956. Voltaria a se casar, agora com o ator irlandês James Berwick (1967-2000).

Em 1956 Belita se retirou da patinação, reaparecendo brevemente no gelo no Madison Square Garden, em Nova York, em 1981, no curta-metragem "Solitude", de Duke Ellington.

Ela retirou-se para viver em Montpeyroux, França, onde morreu em 2005, aos 82 anos.





Fonte: Wikipédia.

Dieta antissódio


Será que o seu prato de comida está salgado demais? Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que sim. O brasileiro consome mais que o triplo do sal do que deveria - são 12g ingeridas contra as 3g recomendadas diariamente pelo Instituto Nacional de Cardiologia. Isso acontece porque além do sal que acrescentamos à comida, ingerimos também diversos produtos industrializados que são ricos nesse ingrediente. 

O maior problema do consumo desenfreado é que o sal é a principal fonte de sódio, nutriente que em excesso traz um caminhão de males para a sua saúde. Hipertensão, retenção de líquidos, inchaço e cálculo renal fazem parte da lista.

A boa notícia é que é possível reduzir as quantidades de sódio em nosso corpo com mudanças na alimentação - não apenas cortando o sal e o sódio escondido dos alimentos, como também ingerindo nutrientes que favorecem sua excreção, diminuindo sua concentração no organismo. Confira quais são eles:

Potássio: o melhor amigo

Para entender porque o potássio é tão importante para reduzir os níveis de sódio no organismo, primeiro devemos saber que o sódio e o potássio tem uma relação bem próxima exercendo as funções em nosso corpo. "A pressão sanguínea é regulada, em parte, por um balanço entre potássio e sódio dentro das células, sendo o primeiro relaxador das paredes dos vasos sanguíneos, e o segundo responsável pelo aumento da pressão arterial", explica o nutricionista Wellington Pinheiro, de São Paulo. Dessa forma, ingerir alimentos ricos em potássio induz a eliminação do sódio pelos rins, diminuindo sua concentração em nosso corpo. "Diversos estudos têm demonstrado que o aumento da quantidade de potássio na dieta pode reduzir muito o risco de doenças cardiovasculares e têm efeitos positivos sobre a pressão sanguínea", completa o especialista. Banana, batata, peixes, abóbora e damascos secos são exemplos de alimentos ricos em potássio.

Água

Quando a concentração de sódio aumenta demasiadamente, o cérebro envia uma mensagem para aumentar a ingestão de água. "Sensores localizados nos vasos sanguíneos e nos rins identificam que há excesso de sódio e promovem uma reação em cadeia que tenta aumentar o volume de líquido no sangue, sendo necessária a ingestão de água", explica o nutricionista Wellington. Portanto, beber água é essencial para o controle de sódio no organismo, evitando complicações como aumento da pressão arterial, cálculo renal e retenção de líquidos.

Água de coco

Além de atuar na redução dos níveis de colesterol, ajudando a prevenir doenças cardiovasculares, a água de coco é uma fonte natural de potássio e tem ação diurética, auxiliando duplamente a diminuir os níveis de sódio em nosso organismo. "É importante ressaltar que a água de coco não substitui a água natural e seu consumo diário deve ser de até três copos de 300ml cada", alerta a nutricionista Sandra da Silva Maria, da Clínica Gastro Obeso Center.

Chás diuréticos

Plantas como alfafa, hibisco, cabelo de milho, cavalinha, dente-de-leão, rosa-mosqueta e folha de abacate rendem chás com alto potencial diurético, além de favorecer o bom funcionamento dos rins, ajudando na eliminação de sódio pela urina. "É importante ressaltar que os chás diuréticos não só ajudam na eliminação de sódio, como também de água, e por isso não devemos esquecer a hidratação", diz o nutricionista Wellington. "A quantidade recomendada seria de quatro xícaras divididas durante o dia."

Alimentos que hidratam

A ingestão de água pode se dar não apenas com os líquidos, mas também enriquecendo a dieta com frutas e legumes que possuem altas quantidades de água em sua composição, complementando a hidratação e auxiliando assim na eliminação de sódio pela urina. "Melancia, abacaxi e morango são exemplos de frutas com alto potencial de hidratação", afirma a nutricionista Sandra. Pepino, tomate, cenoura e alface estão no time de verduras e legumes ricos em água.

Leite e iogurtes

O excesso de sal estimula a excreção do cálcio pela urina, favorecendo o aparecimento de pedras nos rins e doenças como osteoporose. Ao ingerir leite e derivados, você não só está aumentando as quantidades de potássio em seu corpo como também está repondo as perdas de cálcio que o sódio proporciona. Um estudo chinês publicado no periódico Nutrition descobriu que a ingestão de leite tem um impacto positivo no combate à hipertensão, justamente por favorecer a excreção de sódio. "Entretanto, é importante ficar de olho na tabela nutricional, principalmente de iogurtes e outros derivados industrializados do leite, pois estes podem levar conservantes e até mesmo sódio", ressalta Wellington Pinheiro.

Ômega3

"Esse nutriente é precursor da prostaglandina, substância que aumenta a excreção renal do sódio e melhora a vascularização", explica a nutricionista Sandra. Um estudo da Universidade Northwestern (EUA) acompanhou 85.000 mulheres por 10 anos e descobriu que o ômega 3 ajuda a reduzir a pressão arterial. Peixes (salmão, atum e truta), linhaça, nozes, brócolis e feijão são algumas fontes desse nutriente.

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Fonte: Minha Vida
Texto: Carolina Gonçalves

A banana na dieta


Quem está fazendo dieta, e por isso mesmo, com um pouquinho de estresse em função das mudanças na rotina alimentar, pode usar a banana como aliada neste período. Além de diminuir a fome, a fruta fornece energia ao corpo, já que possui amido em sua composição. E por ser rica em vitamina B, a banana ajuda a acalmar o sistema nervoso, diminuindo o estresse. 

Além dessas vantagens, a banana possui nutrientes que promovem o crescimento de bactérias benéficas no intestino, ajudando a reduzir as toxinas produzidas pelo colón intestinal.

A fruta também estimula o sistema imunológico e, por conter alta concentração de potássio, ajuda no controle da pressão arterial e na prevenção do Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Graças à vitamina B6, presente na banana, a produção de serotonina, hormônio do prazer é ativada, diminuindo sintomas de tensão pré-menstrual. Ela diminui também a retenção de líquidos e combate a insônia e depressão.

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Fonte: Bem Star
Texto: Yasmin Barcellos

Melanoma: fique atento

Neste verão tome muito cuidado com a exposição direta aos raios solares. Muitos já sabem do risco de câncer de pele por essa razão, mas os cuidados devem ser redobrados, visto que o câncer de pele pode ser um melanoma.

Pouco conhecido pelos brasileiros, o melanoma é o tipo mais grave de câncer de pele e, em seu estágio mais avançado, pode ser fatal. O melanoma geralmente tem cura quando é tratado em sua fase inicial.

No entanto, na fase metastática, em que o tumor se espalhou pelo organismo, é fatal em 75% das pessoas diagnosticadas em um período de um ano.

A idade média de diagnóstico da doença é 57 anos e a idade média de óbito é 67 anos. De acordo com dados divulgados pelo Inca, o Brasil deve registrar, apenas em 2013, mais de seis mil novos casos de melanoma.

O melanoma é o câncer de pele com pior prognóstico devido ao seu alto potencial de produzir metástases com bastante rapidez. Trata-se de um câncer caracterizado pelo crescimento descontrolado de células produtoras de pigmentos (melanócitos) localizadas na pele.

Existem muitos fatores de risco para o melanoma, desde o histórico familiar da doença, até mutações genéticas e exposição ao sol, que contribuem para seu desenvolvimento. Geralmente tem maior incidência em pessoas de pele clara e pode surgir em áreas protegidas do sol, apesar de o maior número de lesões aparecerem nas áreas que ficam expostas à radiação solar.

O melanoma, quando descoberto em seu estágio inicial, é tratado e controlado, mas em casos mais avançados a chance de cura é mais difícil. Os diferentes tipos de melanoma têm várias características únicas que auxiliam no seu diagnóstico. Estas características podem ser identificadas por alguns critérios, conhecidos como o ABCD do melanoma:

A = assimetria;
B = borda irregular ou borrada;
C = cor variada, com tonalidades diferentes;
D = dimensão e evolução de um sinal na pele maior que 6mm (tamanho de uma borracha de lápis), embora alguns melanomas possam ser menores.

Nevos cutâneos (mais conhecidos como pintas ou sinais) que têm essas características devem ser examinados por um médico, normalmente um dermatologista, que fará um diagnóstico mais preciso e poderá encaminhar o paciente para avaliação e tratamento mais específico com cirurgiões oncológicos ou oncologistas, se necessário.

Os tipos mais comuns da doença são o melanoma expansivo superficial (de crescimento lento, geralmente nas pernas, costas ou no peito), melanoma nodular (crescimento mais rápido e, na maioria das vezes identificado no peito, costas, cabeça ou pescoço) e lentigo maligno melanoma (geralmente encontrado em pessoas com idade avançada).

Entre os tratamentos já conhecidos, como quimioterapia e radioterapia, o Ipilimumabe é um novo tratamento para casos de melanoma avançado pré-tratado metastático ou inoperável, cuja base de ação é a imunoterapia: o medicamento estimula o sistema imunológico do paciente, de forma que o próprio organismo combata o câncer.

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Fonte: Vila Mulher
Texto: Jessica Moraes

O massacre da "Sabiá"

Não há brasileiro, vivo ou morto, que não tenha uma vizinha gorda e, além de gorda, patusca como uma viúva machadiana. Dirão os idiotas da objetividade que vizinha é a que mora ao lado, ou defronte, ou ali na esquina ou, ainda, na mesma rua. O caso não me parece tão simples. O que eu chamo de vizinha é, antes de mais nada, um certo tipo físico, uma certa e generosa adiposidade. Dizia-me um amigo, a propósito de não sei de quem:

— "Gorda como uma vizinha".

Aí está dito tudo. E se tiver varizes, melhor. Ah, esquecia-me das brotoejas. É preciso que desponte, no seu decote, uma constelação de brotoejas. Assim é, fisicamente, a vizinha. Do ponto de vista de caráter, sentimentos e modos tem de ser patusca. Imaginem uma víbora gaiata — é a vizinha, como a imaginava o nosso Machado de Assis.

Se, por acaso, mora ao lado uma senhora esguia, de lindas maneiras e nobres sentimentos — estejamos certos de um equívoco, de uma fraude ou de uma confusão de endereço. Reside a dois passos, mas é a falsa vizinha, a antivizinha, sem nada de machadiano.

Fiz esta breve introdução para concluir: — tenho, na minha rua, uma senhora que é a vizinha perfeita, irretocável. Está sempre na janela. Eis aí um costume típico. Como se sabe, a janela foi a televisão das gerações passadas. Hoje, tudo mudou. Há pessoas que passam anos e não usam a janela nem para cuspir. Resumindo: — a janela só existe e sobrevive nas letras do Chico Buarque de Holanda.

Mas onde é que eu estava? Ah, na vizinha gorda, a quem chamam de "Moby Dick", a baleia. E a santa senhora, instalada no seu primeiro andar, toma conta de tudo e de todos. Vê quem chega, quem parte, quem namora e quem prevarica.

Ontem, ao sair de casa, quem vejo eu? A vizinha.

Quase atravessei a rua. Mas já a vizinha crispava no meu braço a sua mão pequena e voraz de gorda. Não tive outro remédio senão parar. Agrediu-me com a pergunta:

— "O que me diz do Festival?".

Não me lembro se disse "Gostei" ou "Não gostei". Agora me lembro. Minha resposta foi exatamente esta:

— "Mais ou menos".

Só. Por coincidência, também ela achara "mais ou menos". Vendo, ali, uma similitude de gosto, de sentimentos, vibrou a vizinha. Conversamos uns quinze minutos. E, por fim, quando me despedi, ela fez mistério, fez suspense. Disse, sem desfitar-me:

— "Nada como um dia depois do outro".

Aquilo ficou na minha cabeça. "Nada como um dia depois do outro." Só uma vizinha gorda diria isso. Sim, a frase era um achado de vizinha gorda, patusca e cheia de varizes. Mas como ia dizendo: — despedi-me e, em seguida, apanhei o táxi. Vim para a cidade ressoante do "Nada como um dia depois do outro". E, então, pensei no Festival.

Em São Paulo, quando se escolheu a música paulista, os fanáticos de Vandré promoviam uma apoteose para o seu ídolo e, ao mesmo tempo, massacravam a música de Caetano Veloso. E não só a massacravam, como também massacravam o autor. Se vocês assistiram ao teipe da Paulista, hão de se lembrar. Pela primeira vez viu-se uma pobre canção linchada. A canção, digo eu, e respectivo autor.

E mais: — enquanto Caetano Veloso queria cantar, a platéia — sapateando como uma espanhola — fazia um coro feroz, unânime e obsceno. Mas o artista deu-lhe o bravo troco. Chamou os jovens ululantes de "imbecis", "analfabetos", "débeis mentais" etc. etc. E disse tanto que a obscenidade emudeceu. O comportamento de tal platéia — e toda ela "festiva" — foi de uma indignidade inédita.

Vejam como cabe, aqui, o "Nada como um dia depois do outro" da minha vizinha. No Rio, novamente, apoteose para Vandré e vaia para "Sabiá". Em São Paulo, porém, o "Proibido" foi realmente proibido pela platéia, e saiu do Festival. Aqui, o vaiadíssimo "Sabiá" ganhou e vai representar o Brasil.

Mas o que ainda me assombra é o poder de promoção da "festiva". O povo acha graça e vamos e venhamos: — o simples nome de "festiva" é um apelo ao ridículo. Realmente, há o ridículo, sem prejuízo, todavia, do gênio promocional das esquerdas. O leitor não tem noção do que sejam os bastidores da glória, do sucesso, da consagração. Hoje, só se é poeta, romancista, sociólogo, crítico, cineasta, se as esquerdas o permitirem. Cabe então a pergunta: — e por quê? Vejamos.

Porque a "festiva" infiltrou-se nas redações, nas rádios, nas TVs. Há um escritor que não escreve, não lê, não pensa? Outro que é cineasta inédito? E outro ainda um romancista que não fez, nem fará jamais um romance? Como desfilam em passeatas e xingam os Estados Unidos — são grandes sociólogos, cineastas, romancistas e poetas. E há o caso de Gilberto Freyre.

As esquerdas o abominam. Por que, não se sabe, ou, por outra, sabe-se perfeitamente. Gilberto Freyre é um homem livre. Pensa, vejam vocês e pasmem: — pensa. Pois bem. Até outro dia era, na vida intelectual do Brasil, uma presença enorme, obrigatória, obsessiva. Lembro-me de que, certa vez, as grandes figuras literárias do Brasil propunham que ele fosse o nosso candidato ao prêmio Nobel. E, súbito, desaba sobre o seu nome e sua obra um vil silêncio. É solidamente ignorado pelos nossos jornais. Não há mais notícia, nem reportagem, nem crônica, nem artigo sobre Gilberto Freyre. Acabou? Morreu? Deixou de pensar, ler, escrever? Não, mil vezes não.

Simplesmente, não aceitou a pressão das esquerdas. E estas, que têm a posse de todos os meios de promoção, não falam em Gilberto Freyre, negam-lhe uma notícia de duas linhas ou uma vaga referência. Bem. Volto ao Festival.

Vejam vocês: — a "festiva", com o seu horror ao risco, não deu um tiro em 31 de março, não matou um passarinho em 1º de abril. E nem vai mover uma palha ou tirar uma cadeira do lugar. Mas só se tem talento com a sua licença. E, domingo, no Maracanãzinho, as esquerdas caíram do cavalo. Esperavam o primeiro prêmio para Vandré e quem ganhou foi "Sabiá". Entre parênteses, não nego o talento de Vandré. Sua "Marselhesa" nada tem de "Marselhesa" e, pelo contrário, soa como berceuse e o próprio autor a canta como tal.

Mas, berceuse ou "Marselhesa", há talento. E o resultado doeu na "festiva". Logo, com aquela sua coragem sem risco, saiu pelas redações, rádios e TVs. O nosso Vandré teve uma imprensa que nem Rui, nem o barão do Rio Branco, nem Santos Dumont mereceram. Mas era pouco. A glória impressa era pouco. E que fizeram elas, as esquerdas? Vejam que golpe bem imaginado. Na terça-feira, em jornais, rádios e TVs, largaram a bomba:

— Tom e Chico iam renunciar.

Nada descreve o meu espanto. O prêmio, se não me engano, é de 25 milhões. Vinte e cinco milhões — o brasileiro não é assim. Mesmo o nosso milionário não é assim. Um dia, o Walther Moreira Salles ganhou um prêmio menor no "Seu Talão". Pois meteu-se na fila e foi buscar o dinheiro. Por que, e a troco de que, Tom e Chico iam enfiar no bolso de Vandré os 25 milhões? O Chico não está presente. E, se o Tom aceitasse a coação sentimental e realmente idiota, estaria merecendo um urgente tratamento psiquiátrico.

Sim, e nós o amarraríamos num pé de mesa e lhe daríamos água numa cuia de queijo Palmira.


[3/10/1968]


Teatro Brasileiro - Nelson Rodrigues; A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues —seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Menininha viciada


Foi noutro dia, num convescote patrocinado por conhecido doador de sangue desta praça (existem duas espécies de doadores de sangue: os que têm conta no Banco do mesmo nome e os que dão coquetel. Exemplo: Jorginho Guinle é doador de sangue tipo B). Enfim, foi na residência de um tipo B.

Nossa televisão, graças a Deus, enguiçara mas — sabem como são os ossos do ofício — tínhamos que assistir a um programa muito do calhorda, só porque uma membra da nossa frota telefonara dizendo que trabalhava nele.

Nós não tínhamos nada com isso, pois não cobramos taxa sobre os cachês das nossas protegidas. Mas é que era estréia e a moça fez a flor dos Ponte Pretas prometer que assistiria. Palavra empenhada, palavra cumprida — costuma ser o nosso lema, quando não aparece uma outra enxutinha no caminho da razão, é lógico.

Onde estávamos? Ah... sim! Então a televisão enguiçou e não apareceu nenhuma outra mulher. O jeito era cumprir a palavra e assistir ao programa. Por isso, telefonamos para um amigo que reside no mesmo prédio que nós e perguntamos se podíamos subir (ele é dois mais acima) para usar da sua televisão:

— Prazer imenso, amigo! — berrou ele do outro lado do fio, numa prova cabal de que estava triscado pelo álcool.

Então subimos. Ele nos recebeu de copinho na mão e explicou que a visita não seria apenas para ver televisão. Imagine que ia dar um coquetel dentro de minutos. As moçoilas em flor estavam prestes a chegar e ficariam encantadas de encontrar ali aquela surpresa: o maior expert em mulheres, em carne e osso (mais carne que osso).

Fizemos ver que estávamos com a barba por fazer, que a camisa estava respingada de pasta de dente, que o intento era só ver o programa e voltar ao tugúrio. Mas qual. Ele argumentou que Humphrey Bogart também era displicente e nunca dormiu sozinho.

 E tanto insistiu que, depois de ver o vexame da nossa protegida, ficamos para os salgadinhos.

— Que tipo de damas teremos aqui? — indagou Stan. — Senhoras condescendentes, figurinhas ainda não inauguradas ou manicuras?

— Figurinhas ainda não inauguradas — respondeu o anfitrião.

E de fato. Pouco depois começavam a chegar moçoilas assim — como diremos — "entreaberto botão, entrefechada rosa" (obrigado, Joaquim Maria). Chegavam coloridas de carmim, sorriam para fotógrafos imaginários e sentavam com aquele cuidado das que querem deixar aparecer a anágua. Foi então que percebemos o quanto estão intoxicadas de entrevistas essas mocinhas de hoje.

Pois imaginem vocês que — só para puxar conversa — perguntamos a uma delas:

— O que é que você faz, meu bem?

E ela, ajeitando-se na cadeira:

— Estudo culinária, adoro "Nuit de Noêl", a minha cor predileta é o verde. Leio muito, minha leitura preferida é a Sagan, vou à praia e acho Teresa Sousa Campos a mulher mais elegante que eu já vi.

E antes mesmo que pudéssemos pronunciar uma sílaba, perguntou:

— Quando é que vai sair?

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

Mentalidade de carburador


Estava a pracinha posta em sossego, com as criancinhas brincando na grama, raros casais em colóquios, aproveitando o bucólico (lembra nome de remédio antigo. .. duas gotas de bucólico para sua asma) recanto. Havia um sorveteiro de um lado e um pipoqueiro do outro, ambos vendendo regularmente as respectivas mercadorias. No bar, que ficava em frente à praça, um garçom servia cafés esporádicos. Era, pois, um anoitecer tranqüilo, calmo, acalentador.

Foi nessa altura dos acontecimentos que apareceu o lambretista de blusão de couro e óculos de aviador. Parou a

 lambreta em frente ao bar, mas não parou o motor. Pelo contrário. Acelerou violentamente, fazendo bastante barulho para impressionar as domésticas. Depois desligou a máquina, saltou meio sobre o gaúcho empinado e deu dois passos para melhor admirar sua incômoda propriedade.

O sorriso que espalhou em volta, para os que ficaram parados, com raiva, era um sorriso de superioridade muito do Marlon Brando. Começou a andar novamente em direção ao bar, enquanto ia tirando as luvas de couro que — só Deus sabe por que — os lambretistas usam. No bar deu um assovio para chamar o garçom. Era um autêntico carburator boy, a olhar para todos com ar de desprezo e profunda superioridade.

Bebeu de um trago o conhaque vagabundo (como os cawboys fora de moda) e voltou solene para a calçada, onde um monte regular de garotas e debilóides espiava a lambreta. Abriu caminho entre eles com os cotovelos e tornou a montar. Podia ligar a máquina e sair, mas não era ele homem capaz de resistir à tentação de botar mais um pouquinho de banca.

Sentado na lambreta, fingiu que consertava um parafuso. Depois calçou outra vez as luvas lentamente, como um cirurgião à beira de uma operação importante. E aí ligou outra vez o motor e acelerou ao máximo. Toda a pracinha sentiu estremecer o solo. Mais uma olhada para a direita, outra para a esquerda e saiu como uma bólide, jogando fumaça na cara da gente.

Na esquina vinha um lotação. O lambretista tentou manobrar, mas o lotação foi mais ligeiro, atirando-o longe. E ao vê-lo no meio da rua, com escoriações generalizadas, todos respiraram com alívio.

É que, hoje em dia, o castigo anda de lotação.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.