quinta-feira, 31 de março de 2011

A velha contrabandista

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta.

O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco.

No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo.

Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.

- Juro - respondeu o fiscal.

- É lambreta.

Por: Stanislaw Ponte Preta

A Jane do Tarzan


A atriz irlandesa Maureen O'Sullivan apareceu em mais de 60 filmes de 1930-1986, e foi mãe de sete filhos, incluindo a atriz Mia Farrow.

Nascida na pequena cidade de Boyle, Condado de Roscommon, na Irlanda, em 1911 e educada num convento, em Londres, O'Sullivan foi descoberta pelo diretor de Hollywood Frank Borzage em Dublin International Horse Show e a levou a Hollywood.

Sua primeira aparição como a Jane de Tarzan (Johnny Weissmuller) foi em "Tarzan the Ape Man" (1932). Ela viria a fazer seis filmes de Tarzan e todos sob a bandeira da MGM, entre eles "Tarzan e sua companheira" (1934), e "Tarzan's Secret Treasure" (1941).

Uma das últimas aparições de O'Sullivan no cinema foi com a filha Mia no filme de Woody Allen, 1985, "Hannah e Suas Irmãs", interpretando a mãe da personagem da filha.

Maureen faleceu em junho de 1998, com 87 anos de idade.

Fonte: http://www.cnn.com/

Uma estranha passageira

- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de vôo - e riu nervosinha, coitada.

Depois me pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz o bacano respondendo que estava às suas ordens.

Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente.

Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive que realizar essa operação em sua farta cintura.

Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula:

- Para que esse saquinho aí? - foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.

- É para a senhora usar em caso de necessidade - respondi baixinho.

Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou:

- Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro?

Alguns passageiros riram, outros - por fineza - fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue (1) (embora com tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos para todos os lados.

O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:

- Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?

Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.

Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do "show".

Mesmo os que mais de divertiam com ele resolveram abrir os jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.

Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janela para ver a paisagem) e gritou:

- Puxa vida!!!

Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:

- Olha lá embaixo.

Eu olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o pessoal lá embaixo até parece formiga.

Suspirei e lasquei:

- Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou vôo.


(1) pessoa viva, esperta (Aurélio).

Dois amigos e um chato

Os dois estavam tomando um cafezinho no boteco da esquina, antes de partirem para as suas respectivas repartições. Um tinha um nome fácil: era o Zé. O outro tinha um nome desses de dar cãibra em língua de crioulo: era o Flaudemíglio.

Acabado o café o Zé perguntou: — Vais pra cidade?

— Vou — respondeu Flaudemíglio, acrescentando: — Mas vou pegar o 434, que vai pela Lapa. Eu tenho que entregar uma urinazinha de minha mulher no laboratório da Associação, que é ali na Mem de Sá.

Zé acendeu um cigarro e olhou para a fila do 474, que ia direto pro centro e, por isso, era a fila mais piruada. Tinha gente às pampas.

— Vens comigo? — quis saber Flaudemíglio.

— Não — disse o Zé: — Eu estou atrasado e vou pegar um direto ao centro.

— Então tá — concordou Flaudemíglio, olhando para a outra esquina e, vendo que já vinha o que passava pela Lapa: —Chi! Lá vem o meu... — e correu para o ponto de parada, fazendo sinal para o ônibus parar.

Foi aí que, segurando o guarda-chuva, um embrulho e mais o vidrinho da urinazinha (como ele carinhosamente chamava o material recolhido pela mulher na véspera para o exame de laboratório...), foi aí que o Flaudemíglio se atrapalhou e deixou cair algo no chão.

O motorista, com aquela delicadeza peculiar à classe, já ia botando o carro em movimento, não dando tempo ao passageiro para apanhar o que caíra. Flaudemíglio só teve tempo de berrar para o amigo: — Zé, caiu minha carteira de identidade. Apanha e me entrega logo mais.

O 434 seguiu e Zé atravessou a rua, para apanhar a carteira do outro. Já estava chegando perto quando um cidadão magrela e antipático e, ainda por cima, com sorriso de Juraci Magalhães, apanhou a carteira de Flaudemíglio.

— Por favor, cavalheiro, esta carteira é de um amigo meu — disse o Zé estendendo a mão.

Mas o que tinha sorriso de Juraci não entregou. Examinou a carteira e depois perguntou: — Como é o nome do seu amigo?

— Flaudemíglio — respondeu o Zé.

— Flaudemíglio de quê? — insistiu o chato.

Mas o Zé deu-lhe um safanão e tomou-lhe a carteira, dizendo: — Ora, seu cretino, quem acerta Flaudemíglio não precisa acertar mais nada!

Por: Stanislaw Ponte Preta

quarta-feira, 30 de março de 2011

Monstro da Lagoa Negra

Julie Adams em 'O monstro da Lagoa Negra' - 1954

Com a ajuda de Deus

Tia Zulmira, pesquisadora do nosso folclore, descobre mais um conto anônimo. Conforme os senhores estão fartos de saber, quando uma coisa não tem dono, passa a ser do tal de folclore. Assim é com este conto muito interessante que a sábia macróbia colheu alhures.

Diz que era um lugar de terra seca e desgraçada, mas um matuto perseverante um dia conseguiu comprar um terreninho e começou a trabalhar nele e, como não existe terra bem tratada que deixe quem a tratou bem na mão, o matuto acabou dono da plantação mais bonita do lugar.

Foi quando chegou o padre. O padre chegou, olhou para aquele verde repousante e perguntou quem conseguira aquilo. O matuto explicou que fora ele, com muita luta e muito suor.

— E a ajuda de Deus — emendou o sacerdote.

O matuto concordou. Disse que no começo era de desanimar, mas deu um duro desgraçado, capinou, arou, adubou e limpou todas as pragas locais.

— E com a ajuda de Deus — frisou o padre.

O matuto fez que sim com a cabeça. Plantou milho, plantou legumes, passou noites inteiras regando tudo com cuidado e a plantação floresceu que era uma beleza. O padre já ia dizer que fora com a ajuda de Deus, quando o matuto acrescentou:

— Mas deu gafanhoto por aqui e comeu tudo.

O matuto ficou esperando que o padre dissesse que deu gafanhoto com a ajuda de Deus, mas o padre ficou calado. Então o matuto prosseguiu. Disse que não esmorecera. Replantara tudo, regara de novo, cuidara da terra como de um filho querido e o resultado estava ali, naquela verdejante plantação.

— Com a ajuda de Deus — voltou a afirmar o padre.

Aí o matuto achou chato e acrescentou:

— Sim, com a ajuda de Deus. Mas antes, quando Ele fazia tudo sozinho, o senhor precisava ver, seu padre. Esta terra não valia nada.


Fonte: Ponte Preta, Stanislaw. O melhor de Stanislaw Ponte Preta: crônicas escolhidas; seleção e organização de Valdemar Cavalcanti. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004, p. 85.

Delilah


Hedy Lamarr in "Samson and Delilah" (1949 film).

terça-feira, 29 de março de 2011

Vaca, porém honesta

Durante uma recepção elegante, a flor dos Ponte Pretas estava a mastigar o excelente jantar, quando uma senhora que me fora apresentada pouco antes disse que adorou meus livros e que está ávida de ler o próximo.

— Como vai se chamar?

Fiquei meio chateado de revelar o nome do próximo livro. Ela podia me interpretar mal. Como ela insistisse, porém, eu disse:

— "Vaca Porém Honesta." (*)

Madame deu um sorriso amarelo mas acabou concordando que o nome era muito engraçado, muito original. Depois — confessando-se sempre leitora implacável, dessas que sabem até de cor o que a gente escreve —, madame pediu para que não deixássemos de incluir aquela crônica do afogado.

— Qual? — perguntei.

— Aquela do camarada que ia se afogando, aí os carros foram parando na praia de Botafogo para ver se salvavam o homem. Depois um carro bateu no outro, houve confusão e até hoje ninguém sabe se o afogado morreu ou salvou-se. Lembra-se? Aquela é uma de suas melhores crônicas.

Foi então que eu contei pra ela o caso do colecionador de partituras famosas, que um dia foi a um editor de música procurando o original de certa sonata que fora composta por Haydn e Schumann juntos. O editor ficou olhando para ele e o colecionador esclareceu: - Sei que essa partitura é raríssima, mas eu pagaria qualquer preço por ela.

— Vai ser um pouco difícil — disse o editor — conseguir uma partitura composta por Haydn e Schumann juntos, por vários motivos. Primeiro: quando Schumann nasceu, Haydn tinha morrido no ano anterior.

A leitora que se lembra de tudo que eu escrevi estranhou e perguntou:

— Por que me contou essa história?

— Porque lembra a história que estamos vivendo agora. A crônica sobre o afogado que a senhora diz ser uma das minhas melhores crônicas... quem escreveu foi Fernando Sabino.

Ela achou engraçadíssimo. Papai agrada em festa.

(*) O título, mais tarde, foi trocado, porque a vaca protestou.

Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

Texto extraído do livro "O melhor da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1997, pág. 88.

A dissimulação e suas vantagens

É muito pertinente que se tenha mais mágoa do dissimulado do que do mentiroso, do ladrão, do corrupto, do insolente, porque, afinal de contas, os dissimulados são tudo isso numa criatura só...

“Quando o querubim Lúcifer emanou suas idéias e sentimentos houve acalorada discussão entre os querubins, arcanjos e anjos.

Os arcanjos e também a maioria dos anjos não entenderam e não aceitaram suas idéias, ainda que tenham ficados curiosos sobre estes sentimentos que Lúcifer descrevera.

- Pode-se ocultar encobrir feições e emoções. - Declarou e fez uma demonstração e sua nova habilidade em ocultar seu humor, sua intenção. Deu exemplo de como fingir e disfarçar sentimentos emoções e pensamentos.

- Agora podemos ir e vir sem que o Todo-Poderoso e seu Filho saibam o que estamos fazendo! - Disse ele.

Dissimular é o meio de ter uma vida diferente do que se podem saber ou se possam controlar. Todos podem dissimular. Todos podem ter desejos e pensamentos. Todos aqueles que se nos proibiram. A dissimulação é uma poderosa arma. Aliada a nossa fonte de energia, o rancor e também à inveja tem-se boa agências.

A controvérsia foi tomando o seu lugar e logo havia uma grande dissensão.

- Calma todos! Não é bom essa desinteligência. - Interveio.

A questão é: Quando se podia saber que alguém estava sendo original ou estava dissimulando?

- Isso é perigoso, e não devemos ter tais comportamentos, nem desenvolvermos tais habilidades. Será um perigo para nós mesmos - Disse outro Querubim.

Em respeito à hierarquia estabelecida, somente outro querubim o poderia responder.

- E como é que saberemos - Inquiriu Lúcifer - que você não esta agora dissimulando contrariedade quando deseja mesmo é ser exatamente do jeito que estamos argumentando?

Primeiro houve silêncio, depois, uma estrondosa risada.

O querubim não soube explicar, nem mesmo articular argumento favorável. A dúvida é como uma faca afiada enfiada na carne. Tanto corta para entrar como cortará para sair.

O querubim tentou desarticular tais palavras; mas, como poderia dizer que não estaria dissimulando a resposta? Não teve opções, apenas o silêncio.

A dissimulação foi um dos artifícios melhor usado no início da controvérsia entre o Todo-Poderoso, Lúcifer e seus seguidores. Nunca se soube de suas intenções ocultas.

Se desejamos realizar desejos; se queremos cumprir metas; se é nosso desejo vencer e estar sempre a frente, aprenda a arte de encobrir intenções ou numa só palavra: dissimular.

Saiba dissimular e terá vantagens.” (Por Adão Braga Borges)

Fonte: WebArtigos - Dissimular

Como o Diabo as arma

Sr. Paulino era o marido mais irrepreensível desta cidade em que são raríssimos os maridos irrepreensíveis; entretanto (vejam como o diabo as arma!), um dia foi morar mesmo defronte da casa onde ele morava, na Rua Frei Caneca, uma linda mulher, que lhe deu volta ao miolo.

Apesar de casado com uma senhora ainda bonita e frescalhona, mais nova dez anos que ele, que orçava pelos quarenta e tantos, o Sr. Paulino resolveu chegar à fala com a sua encantadora vizinha, que, pelos modos, era livre como os pássaros.

Pelo menos morava sozinha, e recebia de vez em quando visitas misteriosas de três ou quatro sujeitos discretos que, antes de entrar, olhavam para trás, para adiante e para cima, o que era um meio mais seguro de serem observados.

Essas visitas encorajaram necessariamente o Sr. Paulino; mas... como chegar à fala?... Da sua janela, onde ele raras vezes aparecia, limitando-se a espiar a vizinha por trás das venezianas, o pobre namorado jamais se animaria a fazer o menor gesto suspeito. Resolveu, pois, esperar que alguma circunstância fortuita o favorecesse, ou por outra, que o diabo as armasse.

Não tardou a aparecer a circunstância fortuita, que o diabo armou: uma tarde em que o Sr. Paulino voltava do emprego de guarda-livros de uma importante casa comercial, viu passar na Avenida a linda mulher que tanto o impressionara, e acompanhou-a até a estação do Jardim Botânico, onde ela tomou um bonde para o Leme.

O Sr. Paulino, já se sabe, tomou o mesmo bonde e sentou-se ao lado dela, que lhe cedeu gentilmente a ponta. A sujeita, que era matreira, percebeu que tinha sido acompanhada e aplanava o terreno para uma explicação.

O guarda-livros cobriu o rosto com A Notícia e, fingindo que estava lendo, murmurou:

- Preciso muito falar-lhe.

- Pois fale - respondeu ela fazendo com o leque o mesmo que o outro fazia com a rósea folha vespertina.

- Aqui não; em sua casa. Quando há de ser?

- Quando quiser.

- Amanhã?

- Amanhã, seja! Sabe onde é?

- Sei; mas só poderei lá ir depois das dez horas da noite, quando a rua estiver completamente deserta.

- Por quê?

- Depois lhe direi.

- Bom. Esperá-lo~ei às dez e meia.

- Adeus!

- Até amanhã!

E o Sr. Paulino saltou no Largo da Lapa.

No dia seguinte à hora indicada, o guarda-livros entrava em casa da vizinha, cuja porta achou entreaberta.

- Mas por que todo este mistério? - perguntou a tipa, que o recebeu como se o conhecesse de longos anos.

- É porque moram ali defronte uns conhecidos meus.

- Quem? O tal Paulino?

- Conhece-o?

- De nome apenas; nunca o vi. Querem ver que também você gosta da mulher dele?

- Da mulher de quem?... do Paulino?...

- Sim, faça-se de novas! Aquela é pior do que eu!

- Mas de que Paulino fala a senhora? - perguntou o pobre homem, já trêmulo e agitado.

- Do Paulino que mora ali defronte. A ele nunca o vi, mas tenho visto os amantes da mulher!

- Os amantes da mulher?!...

- Sim, coitado. É ele a sair de casa, e os outros a entrar!...

- Os outros?... Então são muitos?!...

- Mais de um é, com certeza... Já vi dois: um rapaz alto, louro, rosado, elegante.

- Deve ser o Gouveia!

- E o outro baixinho, cheio de corpo, de bigode e pêra, pince-nez azul...

- Deve ser o Magalha-es! Dois amigos!...

E o Sr. Paulino caiu desalentado numa cadeira. Tudo lhe andava à roda. Sentia as faces em fogo. Receou uma congestão cerebral.

A mulher notou que ele estava incomodado, e foi buscar água-da-colônia, que o reanimou.

- Fui, talvez, indiscreta, disse ela; o tal Paulino é seu amigo, e você não sabia...

- O tal Paulino sou eu, minha senhora; sou eu em carne e osso, e agradeço-lhe a informação. Se não viesse à sua casa, jamais saberia o que se passa na minha, e continuaria a ser um marido ridículo sem o saber! Para alguma coisa me serviu essa aventura amorosa!

E o Sr. Paulino saiu sem exigir da vizinha, atônita, outra coisa além de um copo d'água.

No dia seguinte pôs a mulher fora de casa, e cortou a chicote a cara do Gouveia. O Magalhães escondeu-se e não foi encontrado, mas não perde por esperar.

Ora, ai têm como o diabo as arma!

Conto de Artur Azevedo

Papa e outras

O papa está em visita a St Louis, no Missouri. Foi preparada uma sessão de confissão pública a ser transmitida por todos os canais de televisão. A primeira pessoa se ajoelha e se apresenta:

- Eu sou Richard Nixon, e eu pequei.

- E qual é seu pecado, meu filho?

- Mandei colocar microfones no hotel onde estavam hospedados meus adversários.

O papa coloca a mão na cabeça do ex-presidente e diz:

- Eu te abençôo e te absolvo.

O segundo se ajoelha e se apresenta:

- Sou Bill Clinton. Confesso que trai minha mulher.

- Eu te abençôo e te absolvo.

Mais uma pessoa se ajoelha e se apresenta:

- Eu sou Mônica Lewinsky...

O papa a interrompe:

- Eu prefiro que você fique de pé...
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Qual é a zona erógena mais sensível de Mônica Lewinsky?
- O Clintoris.
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E agora uma para lembrar o auge da carreira do glorioso Juca Chaves: Depois de 20 dias de férias no Rio de Janeiro, a garota esta voltando para sua casa, no interior. Assim que senta na poltrona do ônibus, ao lado de um rapaz muito elegante, suspira:

- Enfim juntos!

Espantado, o rapaz vira-se para ela:

- Mas, como? Eu nem lhe conheço!

E ela:

- Desculpe, falava com os meus joelhos!
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Uma mulher diante da indiferença do seu marido, por ser muito feia, foi a uma loja e comprou uma fantasia igual à da "Tiazinha". À noite, vestiu sua fantasia toda excitada. Virou para seu marido e falou:

- Amoooor! Com quem estou parecendo?

- Ah, meu bem, com esta máscara, você está igualzinha ao Zorro.

sábado, 26 de março de 2011

A pescaria

— Fomos uns cinco pescar — conta-nos o amigo que há muito não encontrávamos. Tinha comprado um molinete e, segundo nos confessou, desde menino sonhava em ter o seu próprio molinete. Por isso aceitou o convite.

Quando o encontramos, às 11 horas da noite de sábado, estava cansadíssimo e queria ir dormir. Mesmo assim contou como foi a pescaria.

— Eles me convidaram dizendo que estava dando muito pampo na Barra da Tijuca. Passaram lá em casa às 7, me pegaram e saímos para comprar isca.

Ficaram comprando isca e lá pelas 9 horas entraram num bar para tomar um negócio porque estava ameaçando chuva e era preciso precaução. Às 11 horas, saíram do bar e tinha um camarada na porta vendendo siris.

— Vivos? — perguntamos:

Nosso amigo diz que sim e que, por isso mesmo, era preciso preparar. Ninguém levava comida para a pescaria e, portanto, até que seria bom cozinharem uns siris para fazer o farnel.

Na casa de um dele, a cozinheira foi avisada de que chegariam dentro em pouco com uma centena de siris para preparar. E de fato chegaram, lá pelas duas da tarde.

Foi tudo muito rápido. Às 5 horas os siris estavam prontinhos e todos sentados em volta da mesa, para experimentar. Trouxeram umas cervejas e foram comendo, foram comendo, até que chegou uma hora em que havia mais siris do que fome. Resolveram tomar providências e telefonaram para uns amigos.

— Venham comer siris.

Os amigos chegaram com um violão e uma garrafa de uísque. Uísque vai, uísque vem, deu fome outra vez. Eram oito horas quando a cozinheira salvou a situação com uma panelada de carne-seca com abóbora. Uns sirizinhos antes, como aperitivo, e todos caíram na carne-seca.

Então deu vontade de cantar. Um lá pegou o violão, os outros suas caixas de fósforo e começaram a lembrar sambas antigos.

E nosso amigo, ainda com o caniço e o molinete na mão, confessa:

— Saí de lá agora.

— E a pescaria?

— Pescaria? Que pescaria?


Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

Fonte: Texto extraído do livro "10 em Humor", Editora Expressão e Cultura — Rio de Janeiro, 1968, pág. 54.

Uma loura II

Uma loura


Dick Farney

Uma loura (samba-canção 1951) - Hervé Cordovil

Dick Farney

Todos nós temos na vida
Um caso...
Uma loura...
Você, você também tem

Uma loura é um frasco de perfume
Que evapora...
É o aroma...
De uma pétala de flor

Espuma fervilhante de champagne
Numa taça muito branca de cristal
É um sonho....
Um poema...

Você já teve na vida
Um caso...
Uma loura...
Pois eu, eu tive também

Espuma fervilhante de champagne
Numa taça muito branca de cristal
É um sonho...
Um poema...

Você já teve na vida
Um caso...
Uma loura...
Pois eu (tem direito, né?), eu tive também!

A divisão

Você poderá ficar com a poltrona, se quiser. Mande forrar de novo, ajeitar as molas. É claro que sentirei falta. Não dela, mas das tardes em que aqui fiquei sentado, olhando as arvores. Estas sim, eu levaria de bom grado : as árvores, a vista do morro, até a algazarra das crianças lá embaixo, na praça. 0 resto dos moveis — são tão poucos! — podemos dividir de acordo com nossas futuras necessidades.

Mais Marilyn

sexta-feira, 25 de março de 2011

Futebol com maconha

Tem cara que é tricolor, tem cara que é vascaíno; uns torcem pelo Flamengo, outros pelo Botafogo. Mas, Primo Altamirando tinha que ser diferente: o miserável me confessou noutro dia que é torcedor do "Puxa Firme F.C.", Sociedade Recreativa do Morro do Queimado. Aliás, essa história foi ele que me contou.

Diz que 22 jogadores, mais técnico, massagista, enfermeiro do "Puxa Firme", não tem um que não seja apreciador da erva maldita. O preparo físico do time se resume numa rápida concentração, para puxar maconha. Em véspera de jogo a janela da sede, que fica no sobrado de um botequim, parece até incêndio: como sai fumaça!

No sábado passado, o técnico do time — um tremendo crioulo que atende pelo vulgo de Macarrão, deu o grito: "Olha cambada, amanhã nós tem que jogar comportado. Nós vai enfrentar o time do Padre Evaldo e é em benefício da Igreja."

Vírginia no teatro rebolado

Filho do camelô

Passava gente pra lá e passava gente pra cá como, de resto, acontece em qualquer calçada. Mas quan­do o camelô chegou e armou ali a sua quitanda, muitos que iam pra lá e muitos que vinham pra cá pararam para ouvir o distinto.

Camelô, no Rio de Janeiro, onde há um monte de gente que acorda mais cedo para ficar mais tem­po sem fazer nada, tem sempre uma audiência de deixar muito conferencista com complexo de inferioridade.

Mas — eu dizia — o camelô, olhou pros lados, obser­vando o movimento e, certo de que não havia guarda ne­nhum para atrasar seu lado, foi armando a sua mesinha tosca, uma tábua de caixote com quatro pés mambem­bes, onde colocou a sua muamba.

Eram uns potes peque­nos, misteriosos, que foi ajeitando em fila indiana. Aqui o filho de Dona Dulce, que estava tomando o pior café do mundo (que é o café que se vende em balcão de boteco do Rio), continuou bicando a xicrinha, pra ver o bicho que ia dar.

A Loira e os fósforos

A loira queria preparar um bolo com o namorado, mas os fósforos tinham acabado.

— Faz assim, amorzinho! — disse o namorado, apaixonado — Eu fico aqui preparando a massa e você vai buscar uma caixa de fósforos!

E lá foi a loira. Uma hora depois, ela volta:

— Aqui estão os fósforos! Só achei na padaria que fica há 5 quadras daqui!

— Legal! — disse o namorado, já com a massa pronta — Então vamos acender esse fogo... Ué... Esses palitos não funcionam, amor!

— Impossível! — disse a loira, convicta — Impossível mesmo! No caminho de volta eu testei um por um!

Marilyn dance

Por trás do biombo

O homem é atropelado na rua ou cai fulminado por um ataque cardíaco. Pode morrer de indigestão ou pode morrer de fome, não importa. Depois da morte to­dos são iguais e lá fica aquele corpo estirado no asfalto, logo cercado por duas velas acesas, que mãos piedosas e incógnitas providenciam com impressionante presteza.

O homem está morto e os curiosos o rodeiam, divi­dindo-se entre retardatários curiosos e prestativos infor­mantes.

— "Como é que foi, hem"?

— "Ele sentiu-se mal, coitado. Nós sentamos ele no meio-fio, mas ele acabou morrendo".

— "Pobrezinho!"

Loira policial

A loira trafega por uma rodovia. De repente, ela é parada por uma policial, que também é loira.

A loira policial então diz:

- Me mostre sua carteira de motorista, por favor.

A loira proucura e pergunta:

- Como é mesmo a carteira ?

A loira policial responde:

- Ela é retangular e tem a sua foto.

Então, a loira escontra um espelho retagunlar na bolsa, olha ele e se vê. Ai, entrega para a policial:

- Aqui está!

A policial loira olha e diz:

- Menina! Mas por que você não me disse que era policial também ???

Nota da Loira

Um homem estava sentado lendo um jornal quando apareceu uma loira tossindo engasgada. O homem, assustado, pergunta:

- O que aconteceu, moça?

- Cóf, cóf...É que eu acabei de engolir uma nota de cinqüenta reais...

- Mas, por quê?

- Meu marido que mandou...

- Como assim, o seu marido mandou você comer uma nota de cinqüenta reais? Ele é maluco?

- Não, é porque ele saiu pro trabalho hoje e me deixou um aviso: "Querida, vou para o trabalho. Deixei uma nota de cinqüenta para você. Use para o jantar!"

Diálogo de um reveillon

A madame também estava com a moringa cheia, mas — em comparação com o sujeito que a cumprimen­tou, podia até ser classificada de dama sóbria em festa de pileque. Quando ela passou, o cara levantou a cabeça e falou assim:

-Olá.

A dona não devia ser mulher de olá, porque olhou-o com certo desprezo e não respondeu. Já ia seguindo para atender ao chamado de um outro pilantra que lhe fez si­nal, mas o que dissera olá continuou falando e ela escu­tou:

- Feliz 66 pra você, tá?

Barba, cabelo e bigode

A barbearia era na esquina da pracinha, ali na­quele bairro pacato. Um recanto onde nunca havia bron­ca e o panorama era mais monótono que itinerário de ele­vador. Criancinhas brincando, babás namorando garbosos soldados do fogo em dia que o fogo dava folga, um sorveteiro que, de tão conhecido na zona, vendia pelo credi-picolé, e o português que viera do seu longínquo Alentejo para ser gigolô de bode: alugava dois carrinhos puxados por bodes magros, para as criancinhas darem a volta na pracinha.

Quem estava na barbearia esperando a vez para a barba, o cabelo ou o bigode, só tinha mesmo aquela pai­sagem para ver. E ficava vendo, porque Seu Luís, o barbeiro, tinha uma freguesia grande e gostava muito de con­versar com cada freguês que servia. O cara sentava e Seu Luís, enquanto botava o babador no distinto e ia lhe ensa­boando a cara, metia o assunto:

— E o nosso Botafogo, hem? Vendeu o Bianquini.

Um cara legal

O Carlão era um cara meio trapalhão, desses que cruzam cabra com periscópio pra ver se arrumam um bode expiatório. Vivia confortavelmente instalado num aparta­mento pequeno, porém indecente, e tinha dinheiro para gastar com o chamado supérfluo.

De vez em quando dava umas festinhas em casa e convidava um monte da vida-torta e umas garotinhas dessas que mastigam chiclete de bola com a alegria de retirante quando pega um punhado de farinha. Dessas mocinhas assim no estilo "noiva de Drácula", isto é, que usam batom branco e estão sempre com uma alegre coloração de defunto.

Aquele dia, era um dia especial, pois o Carlão fazia anos e ia ter festinha de arromba. As armas do crime já estavam todas na geladeira: coca-cola, guaraná, rum, vodca, cervejinha — tudo para tomar com bolinhas fabricadas pelos mais categorizados laboratórios bromatológicos do Brasil. Tinha ate uns cigarrinhos diferentes, com cheiro de pano queimado.

Os distintos convidados era o fino. Pelos apelidos a gente via que a turma era pinta brava: "Bomba D'água", "Puxa Firme", "Sutileza", "Julinha Toda Hora","Dedão"? "Mariazinha Vapor", "Odete Prise", "Creuza Deixa Pra Mais Tarde" etc., etc.

O grupo foi chegando e já estava a vitrolinha esquentando, a tocar "Gasparzinho", "Olha o Brucutu", "Help" e outras partituras do mesmo valor musical. Na salinha apertada os pares escorregavam o maior surf em trejeitos que só ultimamente são usados na vertical.

A festa já ia pelo meio, quando tocaram a campai­nha. Era a primeira coisa que se tocava ali que cantor ne­nhum da jovem-guarda tinha gravado. Carlão abriu a por­ta, saiu aquele bafo de fumaça que mais parecia aviso de índio, e quando a fumaça se esvaiu, surgiu por trás dela um velhinho que morava no mesmo andar e que vinha reclamar o barulho.

O Carlão mandou o velhinho entrar e a turma envolveu o recém-chegado, que foi logo cumpri­mentando todos e engrenou um papo-furado muito inte­ressante. Meia hora depois o velhinho estava tão à vonta­de que rebolava frente a frente com Creuza Deixa Pra Mais Tarde um surf legalérrimo, aos gritos incentivadores de "boa, velhinho", "dá-lhe, coroa", "sacode, vovô" e outros que tais.

Nisso a campainha tocou outra vez.

"Diabo de campainha que tá tocando mais que disco de Roberto Carlos" pensou o Carlão. E foi abrir. Agora não era um velhinho. Era uma velhinha. Uma velhinha que também morava no mesmo andar, por sinal que no apartamento do velhinho, em suma, pra que fazer suspense, não é mesmo? A velhinha era casada com o velhi­nho desde o tempo em que Papai Noel tinha barba preta. Foi o Carlão abrir a porta e ela espiar lá pra dentro e ver o folgado ancião badalando firme com a pistoleira acima citada.

Meus irmãos, o pau comeu! A velha até parecia porta-estandarte do Bloco Unidos do Cassetete, conhecida agremiação carnavalesca que, todo ano, desfila junto com as escolas de samba, usando uniforme da polícia e baixan­do o cacete em jornalista.

Entre uma pernada e outra a velhinha abusava do baixo calão com vibrante personalidade. A falecida mãe do velhinho nunca foi tão premiada com xingação.

Foi quando apareceu o síndico do edifício. A coisa já tinha entrado na faixa do escândalo. Gente no corredor, vizinhos nas janelas em frente. Com a sua autoridade no prédio, o síndico agarrou a velha pela saia e separou a briga. Ela protestou:

— Ele é meu marido. Vive dizendo que essas dancinhas modernas deviam ser proibidas e olha só o sem-ver­gonha. Me larga que eu ensino a ele.

Um dos presentes tratou de esclarecer tudo:

— Espera aí, vovó. A senhora está estragando a festa. Afinal de contas foi aí o velho que nos convidou.

E a velha engoliu em seco, virou-se para o Carlão e quis saber:

— Verdade, Carlinhos?

Era. Mesmo com o olhar súplice do velho, Carlão dedurou o vizinho. Quem tinha planejado tudo fora o ve­lhinho. Carlão dava a festa, ele chegava mais tarde, fingin­do que ia reclamar e ficava no pagode. Só não contaram foi com a insônia da velha que, geralmente, dormia como uma pedra.

O Carlão ainda mora no local do crime. Os velhinhos, eu ouvi dizer que se mudaram.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

Anilza no teatro rebolado


A vedete Anilza Leoni no teatro de revista - 1956

O paquera

Conheci o Batalha quando ele ainda era garo­to. Aliás, todos os que foram meninos aqui no bairro co­nheceram o Batalha. Naquele tempo o bairro era calmo, os garotos unidos, havia espaço, era ótimo.

O Batalha era um garoto legal, e só depois que foi crescendo é que foi ficando feio. Ao atingir a puberdade, o Batalha já era tão feio que — francamente - eu estava vendo a hora que ele ia acabar Presidente da República.

Talvez tenha sido a feiúra dele que o levou ao vício de espiar mulher de longe. Namorava à distância, sem que a moça soubesse de nada, para não estragar o namoro.

Uma de suas primeiras experiências amorosas ensinou-lhe esse truque. Laurinha, que era muito bonitinha e mui­to senhora de sua beleza, que a secura da rapaziada exaltava às pampas, era, por isso mesmo, perversa como só ela.

Audrey on the set

Desastre automobilístico

Diz que aconteceu mesmo. O cara que me con­tou falou que o caso era verídico e ficou até de me apresentar ao Cravino, personagem central desta lamen­tável historinha de cunho conjugal.

É que esse tal de Cravino tem uma mulher que eu vou te contar: se ele fosse casado com um tamanduá esta­va mais bem servido. Há uns 50 quilos atrás ela ainda era mais ou menos, isto é, tinha um rebolado não de todo desprezível e um rostinho bem razoável. Mas depois que casou, a distinta só fez engordar e embuchar. Hoje em dia — se o Cravino pudesse — dava ela de entrada em qual­quer crediário.

E, como se não bastasse, a mulher do Cravino é mais ciumenta que um pierrô. Por qualquer coisinha, parte pra ignorância. A coisa foi num crescendo de amargar.

Audrey in the couch II

Como entrou no céu o primeiro advogado

Logo que Santo Ivo morreu, encaminhou-se ao Céu e bateu à porta, que São Pedro não se atreveu a abrir, subestimando as razões do bom santo.

— Faço o que quiseres — repetia o porteiro do Céu —, mas não acho que deva permitir a entrada a um advogado, não só porque nem um tem assento entre os santos, mas também porque; muito ao contrário, juraria que se encontram no inferno todos os de tua profissão.

Santo Ivo não se desconcertou; antes, como bom advogado, teve tão convincentes razões para rebater as de São Pedro que este lhe permitiu finalmente entrar no Céu, mas com a condição de permanecer junto à porta.
O hóspede entrou calmamente, sentou-se no lugar indicado por São Pedro, que foi participar a Nosso Senhor o sucedido...

— Fizeste mal! Muito mal, Pedro! — respondeu Deus, quando acabou de escutá-lo. — Havia resolvido que nenhum advogado entraria no Céu, e tinha cá minhas razões para isso. Mas já que está, deixa ficar; sem embargo, não deixes que ele se misture com os outros santos, pois do contrário acabarão no Céu a paz e a boa harmonia. Não o deixes passar além da porta.

Aborrecido e cabisbaixo, voltou São Pedro aonde estava Santo Ivo e comunicou-lhe as ordens dadas pelo Senhor. O Santo advogado encolheu os ombros e, à guisa de passatempo, começou a entabular conversa com São Pedro.

— Que posto ocupas aqui no Céu?

— Não sabes? Sou o porteiro.

— Por quanto tempo?...

— Para todo o sempre.

— Deixa disso. Só se tiveres algum contrato firmado...

— Não há contrato nem coisa que o valha, e para dizer a verdade não há necessidade disso.

— Como assim? Então não estás vendo, grande ingênuo, que qualquer dia Deus pode ter a idéia de te destituir, sem mais nem menos, do cargo que com zelo vens desempenhando há tanto tempo, sem que possas fazer valer teus direitos?

São Pedro coçou a orelha, e, mais amofinado que antes, foi novamente falar com Deus.

— Vamos lá, que é que pensas?

— Preciso de um contrato em que se declare que sou o porteiro do Céu para todo o sempre. Até hoje temos deixado as coisas andar à vontade; mas se vos der na idéia, qualquer dia me destituís do cargo que com tanto zelo...

— Não te dizia eu? Tudo isso são trapaças daquele advogadozinho que tens na porta e que soube encher-te a cabeça.

E ajuntou depois, tomando uma resolução:

— Anda, Pedro, corre e manda-o entrar imediatamente, pois prefiro tê-lo perto de mim a vê-lo junto à porta.

Eis como entrou no Céu o primeiro advogado.

Extraído do livro “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, Editora Record – Rio de Janeiro, 1985, pág. 178, organização de Afonso Félix de Souza.

Audrey in the couch

Plano Genial

Joaquim Rebolão estava desempregado e lutava com grandes dificuldades para se manter. A sua situação ainda mais se agravava pelo fato de ter que dar assistência a um filho, rapaz inexperiente que também estava no desvio.

Joaquim Rebolão, porém, defendia-se como um autêntico leão da Núbia, neste deserto de homens e idéias.

O seu cérebro, torturado pela miséria, era fértil e brilhante, engendrando planos verdadeiramente geniais, graça; aos quais sempre se saía galhardamente das aperturas diárias com que o destino cruel o torturava.

Naquele dia, o seu grude já estava garantido. Recebera convite para um banquete de cerimônia, em homenagem a um alto figurão que estava necessitando de claque. Mas o nosso herói não estava satisfeito, porque não conseguira um convite para o filho.

À hora marcada, porém, Rebolão, acompanhado do rapaz, dirige-se para o salão, onde se celebraria a cerimônia. Antes de penetrar no recinto, diz a seu filho faminto:

— Fica firme aqui na porta um momento, porque preciso dar um jeito a fim de que tu também tomes parte no festim. Já estavam todos os convidados sentados nos respectivos lugares, na grande mesa em forma de ferradura, quando, ao começar o bródio, Rebolão se levanta e exclama:

— Senhores, em vista da ausência do Sr. Vigário nesta festa, tomo a liberdade de benzer a mesa. Em nome do Padre e do Espírito Santo!

— E o filho? — perguntou-lhe um dos convivas.

— Está na porta — responde prontamente. E, voltando-se para o rapaz, ordena, autoritário e enérgico:

— Entra de uma vez, menino! Não vês que estes senhores te estão chamando?

(1955)

Fonte: Extraído do livro “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, Editora Record – Rio de Janeiro, 1985, pág. 40, organização de Afonso Félix de Souza.

Debbie no balanço

Rolling Stones Geriatric Tour

A supremacia

O diálogo abaixo é verídico, e foi travado em outubro de 1995 entre um navio da marinha norte-americana e as autoridades costeiras do Canadá, próximo ao litoral de Newfoundland.

Os americanos começaram na maciota:

- Favor alterar seu curso 15 graus para norte para evitar colisão com nossa embarcação.

Os canadenses responderam de pronto:

- Recomendo mudar o seu curso 15 graus para sul.

O americano ficou mordido:

- Aqui é o capitão de um navio da Marinha Americana. Repito, mude o seu curso.

Mas o canadense insistiu:

- Não. Mude o seu curso atual.

O negócio começou a ficar feio. O capitão americano berrou ao microfone:

- Este é porta-aviões USS Lincoln, o segundo maior navio da frota americana no Atlântico. Estamos acompanhados de três destroyers, três fragatas e numerosos navios de suporte. Eu exijo que vocês mudem seu curso 15 graus para norte, ou então tomaremos contramedidas para garantir a segurança do navio.

E o canadense respondeu:

- Aqui é um farol, desligo!

Fonte: Pérolas da Velahttp://www.popa.com.br/

Grace Kelly 1955

Pequeno Dicionário das Loiras

Estudiosos por milhares de anos tentam descobrir como funcionam as mentes dessas criaturinhas lindas, que abominam as histórias de Heródoto e detestam a cultura de Cícero: as Loiras.

Eis que um belo dia foi descoberto um pergaminho perdido nas proximidades das pirâmides do Egito. A partir daí os mortais (principalmente aqueles que não tem o que fazer) o intitularam de "Dicionário das Loiras":

Abismado - sujeito que caiu de um abismo;
Abreviatura - ato de se abrir um carro de policia;
Adversário - dia de nascimento do fanho;

quinta-feira, 24 de março de 2011

Feiticeira

Grace gorgeous

Grace Kelly in Jamaica - 1955

Lady Godiva

A bela Lady Godiva teve pena do povo de Coventry, que sofria com os altos impostos do marido. Tanto apelou ao duque, que ele aceitou conceder alterações e reduzir os impostos, mas sob uma condição: que ela cavalgasse nua pelas ruas de Coventry. É mole?

Maureen O'Hara em "Lady Godiva of Coventry" - 1955
 Foi escolhido um dia e toda a população aguardava em expectativa o corajoso ato. Lady Godiva surgiu então, acompanhada a cavalo por duas criadas, estas vestidas normalmente, uma de cada lado da dama. Atravessando o mercado, Godiva mantinha a postura de sempre, relaxada e confiante. Não usava qualquer jóia ou ornamento exceto o seu longo cabelo que lhe escondia o corpo. Todos os que a viram diriam mais tarde que ela apresentava-se decente, e ninguém pensou jamais que estaria despida sob os cabelos. Esta é a versão da história considerada real que terá tido lugar a 31 de Maio de 1057, contada por Roger of Wendover na sua crônica e que providencia inúmeros pormenores acerca do assunto.

Eram parecidíssimas

Peixoto entrou no escurinho do bar e ficou meio sobre o peru de roda, indeciso entre sentar-se na primeira mesa vaga ou caminhar mais para dentro e esco­lher um lugar no fundo. Mas sua indecisão durou pouco. Logo ouviu a voz de Leleco, a chamá-lo:

— Êi, Peixoto, venha para cá!

Estremeceu ao dar com o outro acenando, mas estu­fou o peito e aceitou o convite com ar muito digno, encaminhando-se para a mesa de Leleco.

— Senta aí, rapaz — disse Leleco, ajeitando a cadeira ao lado: — Você por aqui é novidade.

— De fato — concordou Peixoto, evasivo.

Leleco era todo gentilezas: — Que é qui vais tomar? Toma um "Vat", o uísque daqui é ótimo. Você sabe, eu venho a este bar quase todas as tardes. É um hábito bom, este uisquinho antes de ir para casa.

Transporta o céu para o chão

Era um mendigo seresteiro, um misto de coitado e boêmio, que bebeu um pouco mais e ficou alegre. Ora, a alegria de um mendigo resume-se num canto romântico misturado aos palavrões de revolta, único lenitivo para suas amarguras.

Os mendigos, em geral, não dizem pala­vrão, porque vivem da caridade pública. Mas este, de Sal­vador, Cidade de São Salvador, Bahia, tinha bebido umas e outras, talvez com outros humildes como ele, no Cais dos Saveiros, talvez numa tendinha da beira da praia. Isto não ficou esclarecido.

Sabia-se apenas que era um mendigo que — de repen­te — virou seresteiro e saiu cantando pelas ruas de Salva­dor, subindo e descendo suas ladeiras, momentaneamen­te alegre:

Bardot wind

Improvisando


Vâmo fazê um "surasco"?

Zé do Caixão completa 75 anos

José Mojica - Zé do Caixão
Em uma palestra para alunos de cinema da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo há quase duas décadas, o cineasta José Mojica Marins, que completou 75 anos neste domingo, 13/3/2011, urgenciou: “Tem tanta coisa assustadora no folclore brasileiro, Sacis, Curupiras, Cucas, não entendo porque não fazem fitas de terror com esses temas”.

Em uma entrevista recente à Globo News essa semana, ele revela que entre seus futuros projetos está a história que leu em um jornal do interior que um assassino em série foi morto e enterrado e os crimes voltaram a acontecer, quando reabriram o caixão, ele estava vazio.

Desses dois exemplos podemos perceber onde o criador do Zé do Caixão tira suas histórias e inspirações. Ele não olha para fora, numa espécie de colonialismo cultural que estamos tão acostumados a obedecer e sim, mergulha numa espécie de alma - penada- brasileira para iluminar suas trevas cinematográficas.

Grace in Jamaica


Grace Kelly in Jamaica, 1955