sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O rei Pelé, um vascaíno

Pelé nunca escondeu sua simpatia pelo Vasco, tendo sido um torcedor vascaíno durante a sua infância em Bauru. Quis o destino que ele vestisse a camisa do Vasco no início da sua carreira, em junho de 1957, em três partidas no Maracanã, e melhor ainda, que ele marcasse um gol no Flamengo.

Naquela ocasião, a equipe principal do Vasco excursionava na Europa e Vasco e Santos formaram um combinado para participar da Taça Morumbi, um torneio amistoso internacional com partidas no Rio e em São Paulo. O Vasco cedeu ao combinado Paulinho e Bellini, convocados para a seleção brasileira para a disputa da Copa Roca contra a Argentina, e mais Wagner, Iedo, Artoff e Valdemar, reservas que não participavam da excursão. Entre os jogadores cedidos pelo Santos, um adolescente de 16 anos, ainda reserva, despontando para o futebol, cujo nome ninguém sabia ao certo se era Pelê ou Pelé.

O torneio nunca chegou ao fim, pois não despertou muito interesse junto ao público e os seus organizadores resolveram suspendê-lo devido aos prejuízos financeiros. O Combinado Vasco-Santos atuou quatro vezes, as três primeiras no Rio com o uniforme do Vasco e a última em São Paulo com o uniforme do Santos. Pelé marcou gols em todas as partidas, inclusive um sobre o Flamengo. Estas são as súmulas das partidas:

Combinado Vasco-Santos 6 x 1 Belenenses (Portugal)
Data: 19/6/1957
Local: Maracanã
Juiz: Amílcar Ferreira
Gols: Pelé(3), Álvaro(2), Pepe (Vasco-Santos) e Matateu (Belenenses)
Vasco-Santos: Wagner, Paulinho, Bellini, Ivan; Urubatão, Brauner; Iedo (Artoff), Pelé, Álvaro, Jair (Valdemar), Pepe; Belenenses: Pereira, Polido (Moreira), Pires, Carlos Silva; Pires, Vicente (Pelefero); Dimas, Faia, Ricardo Peres, Matateu, Tito.

Combinado Vasco-Santos 1 x 1 Dínamo Zagreb (Iugoslávia)
Data: 22/6/1957
Local: Maracanã
Juiz: Frederico Lopes
Gols: Pelé (Vasco-Santos) e Panko (Dínamo Zagreb)
Vasco-Santos: Wagner, Paulinho, Bellini, Ivan; Urubatão, Brauner; Iedo (Artoff), Pelé, Álvaro, Jair (Valdemar), Pepe; Dínamo Zagreb: Irovic, Sikio, Crocovic, Croncovic; Koskat, Horvat; Panko(Gaspert), Cercovic, Kong, Angic, Lipozonovic.

Combinado Vasco-Santos 1 x 1 Flamengo
Data: 26/6/1957
Local: Maracanã
Juiz: Anver Bilate
Gols: Pelé (Vasco-Santos) e Dida (Flamengo)
Vasco-Santos: Manga, Paulinho, Bellini, Ivan; Urubatão, Brauner; Iedo (Pagão), Pelé, Del Vecchio (Pepe), Jair, Tite; Flamengo: Ari, Joubert, Pavão, Jordan; Jadir (Dequinha), Mílton Copolilo; Luiz Carlos, Moacir, Henrique (Duca), Dida, Zagallo (Babá).

Combinado Vasco-Santos 1 x 1 São Paulo
Data: 29/6/1957
Local: Morumbi
Juiz: Walter Galera
Gols: Pelé (Vasco-Santos) e Nei (São Paulo)
Vasco-Santos: Manga, Paulinho, Bellini, Ivan; Urubatão, Brauner; Iedo, Pelé, Del Vecchio, Valdemar (Darci), Pepe; São Paulo: Paulo, De Sordi (Clélio), Mauro, Riberto; Bauer, Vítor (Ademar); Maurinho, Nei, Gino (Baltazar), Maneca, Sílvio.

Deve ter sido tocante para a reduzida galera vascaína que compareceu às partidas rever um grande ex-ídolo, Jair Rosa Pinto, aos 36 anos, envergando o manto cruzmaltino depois de 11 anos longe de São Januário.

As atuações de Pelé pelo Combinado Vasco-Santos e os comentários nos jornais sobre o nascimento de um "futuro craque de seleção" foram fundamentais para que o então técnico da seleção brasileira, Sílvio Pirillo, decidisse convocá-lo para uma partida do Brasil contra a Argentina pela Copa Roca, no Maracanã, dia 7 de julho de 1957. Foi a estréia do futuro Rei na seleção, aos 16 anos de idade. Ele entrou no segundo tempo no lugar de Del Vecchio e marcou o seu primeiro tento com a camisa canarinho. Mesmo perdendo por 2x1, o time brasileiro foi elogiado e a presença de Pelé foi aclamada.

Fonte(s): http://www.netvasco.com.br

No boteco do José

No boteco do José  (marcha / carnaval, 1946) - Wilson Batista e Augusto Garcez

Vamos lá
Que hoje é de graça
No boteco do José
Entra homem, entra menino
Entra velho, entra mulher
É só dizer que é vascaíno
Que ali tudo lelé


Solta foguete até de madrugada
Canta-se o fado bebendo a champanhada





Linda Batista
Segunda-feira só abre por insistência
Quando o Vasco é campeão
Seu José vai à falência!


Vamos lá
Que hoje é de graça
No boteco do José
Entra homem, entra menino
Entra velho, entra mulher
É só dizer que é vascaíno
Que ali tudo lelé


Fonte: MPB Cifrantiga

Escovas musicais

Americano inventa cada coisa legal, né? Tirante foguete, tudo que americano inventa é legal.

Vejam, por exemplo, a fita durex. Durante toda a história da humanidade o embrulho malfeito foi o horror dos que conduziam objetos debaixo do braço.

Vovô Clorofino — irmão de Tia Zulmira — uma vez passou um vexame no bonde de burro, por causa disso. Entrou, sentou do lado de uma senhora respeitabilíssima que era sua vizinha, e botou o embrulho no colo. Foi chato, o embrulho abriu e apareceram as ceroulas de flanela vermelha, que ele tinha comprado pro inverno.

Se, naquele tempo, já existisse fita durex, Vovô Clorofino não tinha passado pelo dissabor de ter a peça íntima olhada pela dama respeitável, que, segundo se dizia, nunca vira as ceroulas do próprio marido (quando Tia Zulmira conta esta história, Primo Altamirando costuma dizer: "Vai ver o marido não usava.")

Mas, voltemos aos inventos americanos. Agora mesmo eles vêm de inventar escova de dentes musical. Diz que é legal. Trata-se de uma escova que, quando a gente passa nos dentes, ela toca uma musiquinha, para tornar mais ameno o hábito da ablução bucal, se nos permitem o termo. A escova, inclusive, ensina o freguês a escovar os dentes, isto é, só toca a musiquinha se o cara escovar a dentadura no sentido vertical, que é como mandam os odontólogos.

Primo Altamirando, para escovar os dentes é mais duro que o time do Madureira para fazer gols no inimigo. Detesta escovar, Mirinho. Nestes últimos 36 anos, esta tem sido a grande luta de Tia Zulmira: fazer o nefando parente escovar os dentes de manhã.

Sabendo disso, mandamos vir dos Estados Unidos a tal escovinha com música e ontem fomos entregá-la à velha, lá no casarão da Boca do Mato. Explicamos como funcionava e esclarecemos que aquilo era uma esperança: talvez, com música, Mirinho escovasse os dentes:

Tia Zuzu suspirou e explicou que os americanos são práticos demais e, quando inventam as coisas, esquecem que existem pessoas excepcionais. E, num desabafo:

— Escova de dentes com música não vai fazer Mirinho mudar de hábito. Aquele cretino, além de porco, é surdo.

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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

As orelhas dos distintos

Noutro dia uma nota policial — e nós lemos noticiário policial com a mesma freqüência com que castigamos um Marcel Proust, um Leon Nikolayevich Tolstoi, uma Pomona Politis — dizia que determinada doméstica arrancara o nariz do marido, durante uma briga.

Não faz muito tempo, uma outra nota policial dizia que certa dama, ofendida em seus brios exclusivistas, aproveitou o fato de o distinto estar dormindo para lhe arrancar uma orelha, depois o nariz, assim sucessivamente foi arrancando tudo, fazendo do corpo do cônjuge um autêntico joguinho de mal-me-quer.

A notícia, entretanto, não informa se a última coisa arrancada deu bem-me-quer. Tomara que sim.

Agora é um telegrama de Teresina, companheiros. E diz assim: "Um exemplo inédito de ferocidade feminina (isto é bom... vamos repetir: ferocidade feminina) ocorreu nesta Capital, quando Maria Divina, rústica e incontida em seus ciúmes matrimoniais, resolveu castigar de uma vez por todas o seu marido, um Don Juan perigoso".

E prossegue a nota explicando que Maria Divina, armada de uma faca, depois de violento entrevero com o esposo, cortou-lhe as orelhas, informando-o, em seguida, de que podia ir sacudir as penas noutros pombais, porque ela ia dar no pé, levando as crianças.

Ato contínuo — queiram perdoar, mas a expressão ainda é do telegrama — Maria Divina abandonou o lar, após botar as crianças debaixo de um braço e as orelhas debaixo do outro.

O desorelhado, quando socorrido num posto médico, explicou tudo isso às autoridades, que saíram atrás de Maria Divina, não somente para prendê-la, mas também para explicar a ela que não era tão Divina assim, fazendo essas coisas. O telegrama termina dizendo que os filhos do casal foram localizados na casa de uma parenta onde a desorelhadora os deixara, para ir buscar um dia destes.

Quanto à Maria Divina, fugiu (o telegrama diz escafedeu-se... mas, sabem como é, o verbo escafeder não é literariamente dos mais cheirosos e, portanto, não fica bem num livro cheio de bacanidades, como é este que ora lêem)... fugiu — dizíamos — "levando consigo as orelhas do infiel numa bolsa de feira, dizendo a todos que levava as orelhas do marido para mostrar a qualquer outro que tentasse enganá-la".

Você aí, sente o drama, vá.

O marido, lá no posto médico, com sua cabeça chata mais arredondada pouquinha coisa por falta de pavilhões auriculares, enquanto suas orelhas passeiam pelo interior do Piauí, numa bolsa de feira.

Quando adiantam à "fera de Teresina" (este apelido é uma homenagem nossa aos coleguinhas da crônica policial) as orelhas do ex-marido?

Primeiro, que não vão durar muito. Uma cabeça sem orelhas ainda vá, mas orelhas sem cabeça estragam logo. Vejam — por exemplo — as orelhas de Jeff Thomas. São bambas, moles, provavelmente estragadas, pois o dono delas não tem cabeça.

Ponderemos também que a justificativa de Maria Divina não procede. Que adianta ela exibir o seu troféu do ato matrimonial anterior, se marido, quando dá pra sem-vergonha, não respeita nem filho pequeno, quanto mais a orelha dos outros? Só se ela é puxada para o masoquismo e carrega consigo as orelhas do marido para lembrar sempre a traição e sofrer as picadas contumazes que elas costumam desferir no amor-próprio dos que se sabem traídos. Mas nem para atestado de esposa enganada elas servem.

Maria Divina não precisa documentação. Em sociedade tudo se sabe.

E, já que falamos em sociedade, Deus permita que a moda lançada por Maria Divina, em Teresina, não pegue aqui no Rio, entre as senhoras enganadas e enganadoras do "café society".

Vocês já pensaram se elas resolvessem arrancar as orelhas dos maridos traidores?

Dentro de muito pouco tempo, raro seria o grã-fino casado aqui desta Buracap que poderia usar óculos, por falta de apoio pra a armação.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

O massacre de 1950

O melhor jogador da partida: Zizinho
Quando o Bangu goleou o Canto do Rio por 5 a 0 pela primeira rodada do Campeonato Carioca de 1950, ninguém deu muita bola. Afinal, o time de Niterói era um tradicional "saco de pancadas" das equipes do Rio. Ao mesmo tempo, surpreendeu a crônica esportiva, o fato de o Madureira ter batido o Flamengo por 1 a 0, na Gávea.

Para a segunda rodada, o Bangu entrou como favorito no confronto contra o Flamengo, no Maracanã. Havia também um novo ingrediente: Zizinho jogaria contra seu ex-clube. A história contada de diversas maneiras mostra sempre um Zizinho negociado sem seu conhecimento, numa espécie de "aposta" entre o presidente rubro-negro Dario de Melo Pinto e o patrono alvirrubro Guilherme da Silveira Filho.

A transação magoou o "Mestre Ziza" que, ao saber que Silveirinha tinha pago 800 mil réis pelo seu passe, disse assim: "Se o senhor pagou tanto dinheiro assim, é porque valoriza meu futebol. De hoje em diante, sou Bangu e não jogo mais pelo lamengo".

Além de não jogar mais pelo clube da Gávea, passou a ser tradição: sempre que os times se enfrentavam, Zizinho dava o máximo, se esforçava absurdamente, só para mostrar o seu real valor aos dirigentes rubro-negros.

Mais de 42 mil pessoas foram prestigiar o clássico naquele domingo, 20 de agosto de 1950. O resultado final, como já era esperado, foi uma vitória do Bangu. O que ninguém podia acreditar era a elasticidade do placar. Os "Milionários de Moça Bonita" tinham feito 6 gols no "Mengo". A goleada de 6 a 0 foi a maior de todos os tempos aplicada pelos suburbanos no clube da Gávea.

Uma partida que entrou para a história do Maracanã, que só mesmo o público presente ao estádio naquela tarde ou quem escutou a narração pelas ondas do rádio puderam comprovar: "sim, houve um dia que o Bangu fez 6 a 0 no Flamengo". Ao final do 1º tempo, o time já vencia por 3 a 0, com dois gols de Moacir Bueno e um de Sula, cobrando pênalti. Na segunda etapa, Zizinho fez o quarto, de falta; Joel o quinto, de cabeça; e Simões fechou a "tampa do caixão".

Antes do massacre, o time banguense posa para a foto oficial: Mirim, Pinguela, Rafanelli, Luiz Borracha, Sula e Guálter. Agachados: Djalma, Zizinho, Joel, Simões e Moacir Bueno.
Fato curioso ocorreu quando Zizinho encontrou sua mãe após o jogo. A velha senhora reclamou do massacre: "Você, hein? Estava 3 a 0 e você ainda fez um gol?" O craque respondeu com bom humor: "Eu queria ganhar! Se eu pudesse fazer dez, eu teria feito!"

A goleada colocava o Bangu na liderança do Campeonato Carioca de 1950 e jogava o Fla para a lanterna da competição.

Ficha do jogo

Domingo, 20 de agosto de 1950 - Bangu 6x0 Flamengo - Competição: Campeonato Carioca - Local: Maracanã - Juiz: Alberto da Gama Malcher - Público: 42.831;  Bangu: Luiz Borracha, Rafanelli e Sula; Guálter, Mirim e Pinguela; Djalma, Zizinho, Joel, Simões e Moacir Bueno. Técnico: Aymoré Moreira; Flamengo: Garcia, Biguá e Juvenal; Bria, Válter e Bigode; Aloísio, Hermes, Hélio, Lero e Esquerdinha. Técnico: Jayme da Almeida;  Gols: No 1º tempo: Moacir Bueno, Moacir Bueno e Sula (pên.). No 2º tempo: Zizinho, Joel.

Avaliações Individuais

Luiz Borracha - Foi empenhado, a rigor, somente uma vez com perigo. Foi num chute de Hermes, que ele agarrou com firmeza;  Rafanelli - Surgiu como uma das grandes figuras do embate, brilhando intensamente; Sula - Essa promessa que surge, cumpriu trabalho exato, à altura do valor do quadro; Mirim - Muito bom. Distribuiu e defendeu cem por cento bem; Pinguela - Foi um dos grandes homens em campo. Está em grande forma e será neste Campeonato uma das figuras mais salientes; Guálter - Firme na marcação e preciso nos despachos; Djalma - Manobrou para o conjunto, aparecendo pouco aos olhos do público, mas rendendo muito; Zizinho - Uma vez mais foi o motor banguense. Um portento, tal como nos jogos da Copa do Mundo; Joel - Foi um centroavante inteligente e quando passou para a extrema esquerda não decaiu, ao contrário, manteve o ritmo; Simões - Desenvolveu seu trabalho com requintada precisão; Moacir Bueno - Foi um constante perigo para Garcia.

A frase

"Esse foi o troco que eu dei a eles. Metemos 6 a 0. Foi a única partida que minha mãe me viu jogar. Quase me bateu na saída. Ela disse: 'Você, hein? Estava 3 a 0 e você ainda fez um gol?'. Eu queria ganhar. Se eu pudesse fazer dez, eu teria feito."  Zizinho (Eleito o melhor em campo pela imprensa)

A mais obscura jornada do Flamengo

"Uma das mais obscuras jornadas da vida do Clube de Regatas do Flamengo foi cumprida na tarde de domingo, no Maracanã, pela equipe rubro-negra. Apresentando em campo um team verdadeiramente desconexo, incorrendo ainda no erro de uma aventura, que foi o lançamento precipitado de Hermes, o Flamengo emudeceu os olhos de sua torcida, caindo por uma contagem que atinge tremendamente o prestigio do clube da Gávea.

Para o Flamengo, este Campeonato está com o "teto zero", para usarmos uma expressão da aviação. Não há visibilidade, não há horizontes para o rubro-negro. Sua administração colhe os frutos de haver cuidado mais da política do que da própria expressão do quadro para o Campeonato da cidade.

O Bangu quis cuidar, única e exclusivamente, de si mesmo, do seu quadro, que um bom quadro de profissionais é o melhor reflexo de um clube. O Bangu já está vendo que a frase popular - "plantando dá" - tem total razão de ser. A vitória de domingo, precisamente sobre um dos chamados "grandes" veio comprovar que não são vãos os esforços de seus responsáveis e que jamais serão vãs as tarefas construtivas em qualquer setor da vida.

Está de parabéns o Bangu pela sua estupenda vitória. Vitória que veio como efeito natural do amplo domínio exercido pelo seu conjunto, cujas manobras táticas foram perfeitas e cujo padrão de jogo é o que se pode exigir de um grande esquadrão. A sua linha média foi precisamente aquilo que o Flamengo não pôde ser, uma peça de vai e vem dentro da equipe, o traço de união entre as ultimas linhas e a vanguarda. Defenderam os três intermediários banguenses com a mesma maestria e firmeza com que nunca deixaram seu trio final desprotegido e o ataque jamais deixou de contar com seu apoio. A harmonia da equipe residiu mais nesse particular. E o desequilíbrio do team rubro-negro esteve antagonicamente, no fato da linha média jamais ter apoiado ou defendido com acerto." (Revista Esporte Ilustrado, 24 de agosto de 1950)

Fonte: www.bangunet.net/novidades

Ademir de Menezes, o Queixada

Combinava o brilho do craque e o faro dos artilheiros. Centroavante inteligente, observava e explorava as deficiências dos zagueiros adversários como poucos, para concluir com chutes fortes e precisos dados com os dois pés. Ademir também ficou famoso por suas arrancadas fulminantes que costumavam resultar em gols. Conquistou cinco vezes o Campeontato Carioca jogando pelo Vasco (1945/49/50/52) e pelo Fluminense (1946), tornando-se artilheiro estadual em 1949 com trinta gols e em 1950 com 23. Representava um perigo tão grande para os adversários que muitos técnicos passaram a reforçar a defesa com mais um jogador, o quarto zagueiro do 4-2-4. Na Seleção, marcou 35 gols em 41 partidas e tornou-se artilheiro máximo da Copa de 1950 com nove tentos.

Ademir de Menezes (Ademir Marques de Menezes), futebolista, nasceu em Recife, PE, em 08/11/1922, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11/05/1996. Apelidado de "Queixada" devido ao queixo proeminente, foi um cultuado artilheiro revelado pelo Sport Club do Recife, para muitos o maior jogador a ostentar no peito o leão rampante e a Cruz de Malta, símbolos do rubro-negro pernambucano e do Vasco da Gama.

Pela seleção brasileira, foi campeão sul-americano em 1949 e artilheiro da Copa do Mundo de 1950, com nove gols. É também, junto com outros atletas, o terceiro maior artilheiro da Copa América, com treze gols marcados.

Ademir iniciou sua carreira em 1938 no Infantil do Sport Club do Recife. Após brilhar no time infantil do Sport, conquistando os títulos pernambucanos da categoria em 1938 e 1939, o craque foi promovido à equipe principal rubro-negra. Estreou no futebol profissional em 1939, aos 16 anos de idade, em um Sport x Tramways pelo Campeonato Pernambucano. Naquele ano, o ainda muito jovem Ademir jogaria apenas mais um jogo, um amistoso em Salvador, do qual participou como suplente.

Em 1940, Ademir aos poucos começou a ganhar espaço na equipe principal. Disputou vários amistosos como titular do time. Porém, no Pernambucano, apesar de ter participado de diversas partidas, na grande maioria delas entrou como suplente.

O ano de 1941 foi aquele em que a estrela de Ademir brilhou mais forte em sua passagem pelo Sport. Embora tivesse apenas 18 anos durante a maior parte da temporada, conquistou a titularidade absoluta e o status de craque da equipe. Levantou a taça do Pernambucano daquele ano de maneira invicta, como artilheiro da competição com 14 gols. Foi neste campeonato que Ademir fez seu único hat trick com a camisa rubro-negra. A vítima foi o Náutico, numa goleada por 8x1, em pleno Estádio dos Aflitos.

No final da temporada, o Sport partiu para sua primeira excursão ao Sul e Sudeste do país, sob o comando do argentino Ricardo Diez. Esta excursão ficou marcada na história pelos excepcionais resultados obtidos pelo rubro-negro pernambucano, em um tempo no qual o restante do Brasil considerava quase inexistente o futebol nordestino. Foram 18 jogos: 11 vitórias, 2 empates e 5 derrotas. Daquele time brilhante, Ademir era o gênio.

Após uma exibição de gala contra o Vasco, dirigentes do clube carioca iniciaram negociação para contratá-lo. Na volta da excursão ao Recife, já em 1942, Ademir jogou dois jogos de despedida pelo Sport e partiu para o Rio de Janeiro, onde integrou um dos maiores times da história do Vasco, e para muitos do futebol mundial: o "Expresso da Vitória".

A estréia do “Queixada” foi contra o América no campo do Botafogo, em Março de 1942. Estava em disputa o Troféu da Paz e o Vasco o conquistou ao vencer por 2 a 1, gols de Viladônica (2) e Nelsinho para os rubros. A partir de então, os confrontos envolvendo Vasco e América ficaram sendo conhecidos como Clássico da Paz.


Na equipe, Ademir teve como companheiros Barbosa, Augusto, Laerte, Eli, Danilo, Jorge, Alfredo, Ipojucan, Maneca, Friaça, Tesourinha, Dejair e Chico, dentre outros.

Apesar de seu passe ter custado apenas 800 mil-réis, Ademir foi o primeiro profissional a exigir luvas (40 contos), mas o Vasco pagou 45 contos e venceu a disputa com o Fluminense para tirá-lo do Sport Club do Recife. Seu salário era de 500 mil réis.

No ano de 1946, porém, o técnico Gentil Cardoso, contratado pelo Fluminense, em uma célebre frase afirmou: “Dêem-me Ademir e eu lhes darei o campeonato”.

Ao marcar o gol da vitória de 1 a 0 sobre o Botafogo no jogo final, em São Januário, o Tricolor sagrou-se campeão em 1946, naquele que é considerado o mais emocionante Campeonato Carioca da história, pois sendo disputado por pontos corridos terminou com quatro equipes empatadas em primeiro lugar, sendo necessária uma disputa extra entre eles que ficou conhecida como Supercampeonato.

Segundo Ademilson Marques de Menezes, seu irmão, antes de jogar no Vasco Ademir era tricolor: “Nossa família sempre torceu para o Fluminense. O time de botão do Ademir era o do Fluminense. Como ele vinha para o Fluminense e ficou no Vasco, fez amizade com os portugueses e tornou-se vascaíno. Foram doze anos de Vasco”.

Ao voltar ao Vasco, em 1948, Ademir ajudou a equipe a conquistar um de seus mais importantes títulos, o Campeonato Sul-Americano de Campeões, num empate em 0x0 com o River Plate de Di Stéfano.

Porém, devido à trágica derrota na final da Copa do Mundo de 1950, onde o Vasco cedeu 8 jogadores, sendo 6 titulares (Barbosa, Augusto, Danilo, Maneca, Ademir e Chico), o esquadrão cruz-maltino não teve um reconhecimento ainda maior na história. Nesta competição, Ademir foi o artilheiro com nove gols.

Em 1957, Ademir retornou ao Sport Club do Recife, clube que o revelou, para encerrar sua carreira. Despediu-se do futebol vestindo a camisa do clube pelo o qual admitia torcer desde criança. Seu último jogo foi um amistoso entre Sport e Bahia, na Ilha do Retiro, a 10 de março daquele ano.

Ademir explicou o encerramento de sua carreira com uma simples frase: “Abandonei o futebol antes que ele me abandonasse”, segundo ele “quando um jogador encerra sua carreira, ele está contrariando a ele mesmo, por isso é tão difícil parar”.

Após o fim de sua carreira, Ademir Menezes, que tantas alegrias havia dado à imensa torcida vascaína como jogador, agora assumia o cargo de técnico do Vasco no ano de 1967, estreitando ainda mais seus laços com o Clube da Colina do qual Ademir é um dos maiores ídolos da história até hoje. A carreira de Ademir como técnico, porém, não chegou nem perto de ser bem sucedida como sua carreira de jogador. Ademir ficou menos de um ano no comando do Vasco. Após a experiência como técnico, Ademir se tornou comentarista.

Seu estilo de jogo deu origem à posição de “ponta de lança”; sua versatilidade em atuar em qualquer posição do ataque e sua habilidade nas arrancadas a caminho do gol obrigou a adoção de novos sistemas de jogo pelos técnicos para tentar contê-lo.

Não tomava grande distância da bola para chutar, sem mudar o passo, partia para bola surpreendendo muitas vezes o goleiro.

No time que jogava, longos lançamentos eram feitos para aproveitar sua velocidade. No Vasco teve lançadores como Ipojucan e Danilo (“o Príncipe”).

Fontes: Wikipedia; Revista Placar.

Zizinho, o "Mestre Ziza"

Os torcedores que compareceram ao treino do Flamengo naquela tarde de 1939 estavam preocupados com Leônidas, que saiu de campo mancando. Nem haviam notado que em seu lugar entrou um rapaz magricela. Mas bastou que Thomaz Soares da Silva pegasse na bola para todos os olhos se voltarem para ele. Zizinho, era assim que o chamavam, driblou quatro, marcou um gol. Minutos depois, marcou outro. "Era tudo ou nada. Se pegasse a bola tinha que sair driblando sem parar senão o técnico nem ia me notar", recorda.

Considerado o jogador mais completo antes do surgimento de Pelé, Zizinho possuía uma técnica refinada, rica em dribles curtos, chutes venenosos e passes medidos. Chamado de Mestre Ziza, jogou no Bangu, Flamengo (tricampeão em 1942/43/44), São Paulo (campeão em 1957). Na Seleção foi titular absoluto durante toda a década de 40 e escolhido o melhor jogador da Copa de 1950. Cabe a ele a honra de ter sido o primeiro jogador de futebol que mereceu o tratamento de gênio. Como dizia o cronista Nelson Rodrigues: "Não há bola no mundo que seja indiferente a Zizinho".

Zizinho (Thomaz Soares da Silva), futebolista, nasceu em São Gonçalo, RJ, em 14/09/1921, e faleceu em Niterói, RJ, em 08/02/2002. Começou nas divisões de base do Byron, de Niterói, e foi revelado e jogou entre 1939 a 1950 no Flamengo sediado no Rio de Janeiro, e com ele o time ganhou o seu primeiro tricampeonato estadual em 1942, 1943 e 1944, além do Campeonato Carioca de 1939.

Selecionado brasileiro na final da Copa de 1950: Johnson e Mário Américo (massagistas); Barbosa (goleiro), Augusto, Danilo Alvim, Juvenal, Bauer, Ademir, Zizinho, Jair, Chico, Friaça e Bigode.

Antes da estréia na Copa do Mundo de 50, foi vendido para o Bangu Atlético Clube, clube que defendeu por 6 anos e do qual foi o 5º maior artilheiro, com 120 gols. Zizinho, sobre sua saída do Flamengo, comentou ter sido a maior mágoa de sua vida e dor maior até que perder a copa de 50, pois apaixonado de corpo e alma pela equipe rubra-negra a qual defendeu por tantos anos, teve seu passe vendido ao Bangu por uma fortuna (segundo registros 800 mil cruzeiros) sem sequer ser consultado. Um dirigente do Bangu, Guilherme da Silveira, confirmou a negociação e Zizinho assinou o contrato sem sequer ler. Segundo se conta ele só fez um comentário: "Se o Senhor pagou tanto pelo meu passe é porque reconhece o meu futebol". No livro "Nação Rubro-negra" de Edilberto Coutinho, Zizinho desabafou "Difícil dizer o que me magoou mais, se a perda da Copa de 50 ou a minha saída do Flamengo... acho que foi a saída do Flamengo, a maneira como os homens que dirigiam o Flamengo fizeram a transação me machucou muito... nunca aceitei" e na sua primeira partida contra o ex-clube deixou clara a sua mágoa com o Bangu goleando por 6x0 naquela que foi uma de suas melhores partidas.

Na Copa de 50 seu estilo de jogar maravilhou os torcedores e ajudou o Brasil a chegar até a final; e mesmo apesar da derrota surpreendente de 2 a 1 para o Uruguai, foi considerado o melhor jogador daquela copa. Zizinho é considerado por muitos o jogador mais completo depois de Pelé, tendo marcado 145 gols pelo Flamengo e 31 pela a seleção.

Craque da Copa de 50, Zizinho (centro) ao lado de Décio e Nívio. Atuou no Bangu de 1950 a 1957.

Em 1957 teve uma passagem pelo São Paulo, onde conquistou seu quinto título estadual, marcando 24 gols. Seu último clube foi o Audax Italiano, do Chile. Zizinho foi considerado por Pelé como o seu ídolo. Tudo porque quando o Rei estava começando a carreira de jogador no Santos Futebol Clube, ele viu Zizinho atuando pelo São Paulo Futebol Clube, em 1957 onde conquistou o Campeonato Paulista daquele ano. Suas atuações impressionaram tanto o futuro Rei do Futebol, que ele sempre o cita como ídolo e inspiração, ao lado de seu pai, Dondinho.

Zizinho foi o responsável pelo surgimento de outro craque: Gérson. Zizinho era amigo do pai de Gérson, e quando ele iniciou a carreira de jogador, sempre ouvia atentamente os conselhos do "Mestre Ziza" (apelido carinhoso de Zizinho), no tocante à marcação, visão de jogo, distribuição de passes, e partindo em velocidade com a bola dominada. Em agradecimento, o "Canhotinha de Ouro" sempre que entrevistado, cita carinhosamente Zizinho como seu mentor e incentivador na carreira de jogador.

Após encerrar a carreira, Zizinho tornou-se fiscal de rendas do Estado do Rio de Janeiro, função que exerceu até a aposentadoria.

Morreu em 8 de fevereiro de 2002 vítima de problemas do coração.

Fontes: Wikipedia; Revista Placar; e-biografias.

Maria Della Costa

Maria Della Costa (Gentile Maria Marchioro Della Costa Poloni), atriz, modelo, produtora e empresária, nasceu em Flores da Cunha, RS, em 1/1/1926. Filha de agricultores originários da cidade italiana de Veneza, aos 14 anos, é lançada como modelo pelo empresário Justino Martins, da revista Globo de Porto Alegre.

Já no Rio de Janeiro estréia como show-girl no Cassino Copacabana. Em 1944, estréia no teatro em A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Em seguida vai para Portugal estudar arte dramática com a atriz Palmira Bastos, no Conservatório de Lisboa.

De volta ao Brasil, passa a fazer parte do grupo Os Comediantes e participa de espetáculos como: Rainha Morta, de Henry de Montherlant (1946); em 1947, Terras do Sem Fim, de Jorge Amado; Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues; e Não Sou Eu, de Edgard da Rocha Miranda.

Funda em 1948, junto com seu marido, o ator Sandro Polloni, o Teatro Popular de Arte, e estréia a peça Anjo Negro, de Nelson Rodrigues, no Teatro Fênix, Rio de Janeiro.

Em 1954 inaugura sua própria casa de espetáculos, o Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, projetado por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Sandro Polloni, à frente da casa, cria um repertório considerado um dos melhores do teatro brasileiro. Montagens como Tobacco Road, de Erskine Caldwell e Jack Kirkland (1948), A Prostituta Respeitosa, de Sartre (1948), Com a Pulga Atrás da Orelha, de Feydeau (1955), A Moratória, de Jorge Andrade (1955), Rosa Tatuada, de Tennessee Williams (1956), e A Alma Boa de Setsuan, de Brecht (1958), marcam essa fase.

A Companhia segue por uma excursão pela Europa e em 1963 lotam por 45 dias casas de espetáculos em Buenos Aires. Ao visitar Nova York conhece o autor Arthur Miller e dele traz, para comemorar os dez anos de seu teatro (1964), a famosa peça Depois da Queda, dirigida por Flávio Rangel. Com esse mesmo diretor faz também os espetáculos Homens de Papel, de Plínio Marcos (1967), Tudo no Jardim, de Edward Albee (1968), entre outros.

No cinema atuou em diversos filmes: O Cavalo 13 (1946) e O Malandro e a Grã-fina (1947), ambos sob a direção de Luiz de Barros; Inocência (1949); Caminhos do Sul (1949); e Moral em Concordata (1959). É dirigida pelo italiano Camillo Mastrocinque no premiado Areião (1952), produção da Maristela Filmes. Já na televisão teve pouca participação: fez a novela Beto Rockfeller, na TV Tupi, em 1968, e na TV Globo atuou em Estúpido Cupido (1976) e Te contei? (1978).

Em São Paulo, no bairro da Bela Vista, foi fundado em 1954 um teatro que leva seu nome. Nos palcos do Teatro Maria Della Costa passaram os melhores atores e atrizes do teatro brasileiro, bem como importantes cenógrafos, como Gianni Ratto e Franco Zampari.

A atriz foi imortalizada em obras de alguns dos mais representativos nomes das artes plásticas do Brasil. Além de duas esculturas de Vitor Brecheret, foi retratada por Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Djanira, Guanabarino e Noêmia Cavalcanti.

Em 1992, deixou os palcos para administrar seu hotel, o Coxixo, na cidade histórica de Paraty (RJ).

Fontes: Wikipedia; UOL Biografia - Maria Della Costa.

Margarida Max

Margarida Max
No fastígio do Teatro de Revista do Rio de Janeiro, uma linda mulher de sua voz e de sua beleza, para prestigiar a Música Popular Brasileira, nos espetáculos em que estrelava. Era no palco que se tornava rainha.

A partir de 1920, até meados dos anos 40, uma moreninha paulista, de olhos tentadores, que a lenda garantia ter nascido em Roma e se apaixonado pelo Brasil, foi uma das figuras femininas mais importantes do teatro de revista nacional.

Filha de italianos, nascida em São Paulo e criada em Franca, onde era conhecida como a Margarida do Max, nome de um eterno noivo, rompeu com a cidade e o noivado ao se tornar atriz de uma companhia itinerante que por lá passou.

Margarida Max em 1927
No Rio de Janeiro, adere ao teatro de revista, no qual se torna uma de suas principais vedetes, estrela de grandes montagens, cercada de nomes que ficariam célebres. Sílvio Caldas, Joraci Camargo, Luiz Iglésias, Luiz Peixoto, Olegário Mariano, Vicente Celestino, Otília Amorim, Viriato Correia, Mesquitinha, OduvaldoViana, Palmeirim e tantos outros.

Como as demais prima-donas do teatro de revista, Margarida Max lançava músicas, ficando famosa sua interpretação do samba Braço de Cera, de Nestor Brandão. Mas seu grande êxito foi na revista Brasil do Amor, de 1931, quando lança a versão definitiva de No Rancho Fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo. Um sucesso nacional, que saltou do palco da revista para ser cantado pelo Brasil inteiro.

Margarida não teve carreira longa, morreu aos 54 anos, já retirada. Mas antes viveu anos de glória, como uma das mulheres mais cobiçadas da época.

Fonte: História do Samba - Editora Globo

O mistério da casa mal-assombrada

"À noite, o espectro vagava pela solidão" — isto dito assim, parece Shakespeare, mas não é. Trata-se do trecho de um dos contos de assombração que Tia Zulmira escreveu recentemente.

Aliás, a sábia macróbia da Boca do Mato tem um talento que às vezes se confunde um pouco com o do autor de "Hamlet". Não é o caso, porém, quando se trata dos referidos contos mal-assombrados que a velha deu para fazer agora. Para que vocês tenham uma idéia, este seu sobrinho e difusor transcreve abaixo um deles:

"O casal mudara-se para aquela casa velha havia dois meses e nunca soubera antes que a casa tivesse fama de mal-assombrada. Se soubesse, talvez não tivesse alugado o imóvel, mesmo porque o casal não era inglês, que é tarado por fantasma. Na Inglaterra, um castelo mal-assombrado é sempre alugado mais caro, porque lá é "bem" o chamado contato social com espectros.

A casa de que falo, no entanto, era em Brás de Pina, onde fantasma tem menos cartaz que o time do Canto do Rio.

Mas — dizia — talvez os novos inquilinos não tivessem alugado o imóvel. Não que o casal acreditasse nessa besteira de assombração; tanto o distinto como a esposa (que ele, no mau gosto inerente à plebe ignara, chamava de "minha patroa") eram pessoas de certa idade. Sabem como é: depois de várias baianadas da vida, algumas pessoas já não acreditam em azar e chutam despacho com farofa amarela, galo preto e charuto barato com a mesma displicência de um jogador de futebol batendo bola antes do treino.

Mas havia a filha, mocinha de 20 anos, muito nervosa e que, quando soube que a casa tinha fama de abrigar figurinhas fantasmais, ficou mais nervosa ainda. Os pais não sabiam que havia fantasma em Brás de Pina, porque quem já morou em Brás de Pina nunca mais quer voltar e, muito menos, depois que já morreu. Vai daí, foram morar na casa.

Já viviam ali há uns dois meses quando, uma tarde, a mocinha voltava da fila do leite, onde aguardara, durante quatro deliciosas horas, a sua vez de comprar um litro, e — no caminho — encontrou a vizinha. A vizinha era mais fofoqueira que mãe-de-vedete-argentina-do-teatro-rebolado. Mal começou a conversar com a mocinha nervosa, perguntou se os fantasmas apareciam muito ultimamente

— Que fantasmas???!!! — perguntou a mocinha, já apavorada.

Aí a vizinha explicou a fama da casa, explicou que ali costumavam aparecer almas penadas pelos corredores, depois de meia-noite, e havia mesmo uma assombração que era famosa, pois aparecia com uma regularidade de cobrador da Light (mesmo em época de racionamento).

Está na cara que a mocinha nervosa entrou em casa tremendo às pampas. Inclusive, diga-se, a mocinha era dessas nada desprezíveis. Pelo contrário, era assim o número que a gente calça; tamanho universal, muito mais pra boa do que pra intelectual. Por isso que as pernas que tremiam eram até muito bem torneadas. Quando ela entrou foi aquele escarcéu. Choradeira, tomada de calmante, os pais dizendo que aquilo era bobagem, etc.

O fato é que, daquele dia em diante, toda noite os moradores ouviam estranhos ruídos e até o velho, que era cético de doer, começou a acreditar mesmo que a casa era visitada por uma assombração.

A mocinha, no entanto, embora reclamasse muito da onda noturna, estava cada vez mais viçosa. Deixou de ser nervosa e havia em seus reclamos uma certa falta de convicção.

Um dia, o velho, pela manhã, encontrou uma ponta de cigarro no corredor; como ele não fumasse (nem fantasma fuma), desconfiou de que ali havia lingüiça por debaixo do feijão.

De noite ficou na sala, escondido atrás de uma cortina, espiando. Pouco depois entrava na casa a assombração. Era um sargento da aeronáutica.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

Bronca de esquina

Tia Zulmira, cheia de experiência e transbordante de saber, não se cansa de repetir: "Bronca é a arma do otário." E é isso mesmo. Dar a bronca, até hoje não adiantou o lado de ninguém.

Mas a senhora que blasfemava, na esquina, ainda não morou nesse detalhe e espinafrava o marido, para gáudio dos circunstantes, que torciam ao derredor.

Era uma senhora assim dos seus 50 carnavais. Um pouco castigada pelas intempéries da vida, mas ainda bastante sacudida. Pelo menos, disposta a botar os rapazes da Radiopatrulha pra trabalhar. Ciumenta aos potes, era o que se podia deduzir ou o que deduziu aqui o batucador datilográfico que, incorporado à turba ignara, esperava o fim da cena pra ver o bicho que ia dar.

Foi — para sermos mais precisos — na esquina da Avenida Nossa Senhora de Copacabana com a Rua Santa Clara, quer dizer, duas artérias do tráfego com nomes de santas, mas que nem assim a dona respeitava. Pelo que ficou exposto, o senhor grisalho que ouvia a espinafração com visível mal-estar era o marido e vinha pela calçada, em sentido contrário à senhora que berrava (sua esposa), de braço dado com uma mariposa do luxo e do prazer — como tão bem classificou um certo tipo de moçoilas desajustadas o poeta urbanista Orestes Barbosa. Apanhado no flagra, soltou a mariposa e estava ali, ouvindo aquilo tudo, com platéia das mais seletas.

Para ver o porquê do ajuntamento, chegou um Cosme. Ou talvez fosse um Damião; não temos certeza. Esses guardas quando policiam sozinhos a gente nunca sabe se é um Cosme ou um Damião. O importante é que ele chegou, pigarreou e lascou em dialeto carioca:

— Qual é o "causo"?

O senhor explicou que não era nenhum, que sua mulher estava nervosa, que iria levá-la dali, etc., etc. Foi pior. Ela gritou que com ele não ia nem pro inferno. Tinha 25 anos de casada e já estava cheia das suas perfídias. Vejam vocês, casada há 25 anos e ainda tinha um ciúme daquele tamanho. Já era tempo para acostumar-se com o marido que tinha.

Aí o senhor grisalho não agüentou mais. Ia passando um lotação. Ele abriu caminho entre os curiosos e entrou na terrível condução, sem ao menos ver se era via Túnel Novo ou via Túnel Velho, o que nos deixa com a leve desconfiança de que ele queria era cair fora dali. Foi chato porque o lotação não foi em frente logo. Ainda ficaram entrando outros passageiros, do que se aproveitou a bronqueadora para também abrir caminho entre os presentes e ficar apontando pra janelinha, a dizer: "Vai... mas vai mesmo, desalmado. Não é a primeira vez que você me abandona."

O lotação meteu uma segunda e foi embora, mas ela não desistiu. Ficou procurando testemunhas para o seu infortúnio de ter um marido sempre disposto a amarrar a cabrita do lado de lá do cercado. Foi então que o rapaz ao seu lado ficou identificado como filho do casal. Até então era um rapaz consternado, assistindo à cena. Agora, ela o segurava pelo braço e espumava:

— Está vendo o cretino que você tem como pai?

Todos olharam pro rapaz. O Cosme (ou seria um Damião?) segurava o braço direito, o rapaz o braço esquerdo da mulher, mas ela não queria sair. Queria era mostrar a todos o infortúnio que a perseguia há 25 anos. Dava conselhos às moças em volta para não casarem, que os homens não prestam, que isso, que aquilo. Estava na bica para se tornar ridícula.

O filho, cansado de tentar livrá-la da curiosidade pública, deu um puxão mais forte no braço que estava sob sua responsabilidade. Isto foi o bastante para lembrá-la de que ele estava ali. Voltou-se de novo contra ele:

— Tá vendo que pai você tem? E não adianta querer me levar. Ele é que tinha de ir comigo e fugiu. Seu pai é um cretino.

O filho não agüentou mais:

— Que é que eu tenho com isso, mamãe? Quem escolheu meu pai foi você.

Gargalhada geral. Até o Cosme (ou talvez Damião) riu.

A velha calou a boca e foi andando. O filho, atrás, aliviado.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.

Levantadores de copo

Eram quatro e estavam ali já ia pra algum tempo, entornando seu uisquinho. Não cometeríamos a leviandade de dizer que era um uísque honesto porque por uísque e mulher quem bota a mão no fogo está arriscado a ser apelidado de maneta. E sabem como é, bebida batizada sobe mais que carne, na COFAP. Os quatro, por conseguinte, estavam meio triscados.

A conversa não era novidade. Aquela conversa mesmo, de bêbedo, de língua grossa. Um cantarolava um samba, o outro soltava um palavrão dizendo que o samba era ruim. Vinha uma discussão inconseqüente, os outros dois separavam, e voltavam a encher os copos.

Aí a discussão ficava mais acalorada, até que entrasse uma mulher no bar. Logo as quatro vozes, dos quatro bêbedos, arrefeciam. Não há nada melhor para diminuir tom de voz, em conversa de bêbedo, do que entrada de mulher no bar. Mas, mal a distinta se incorporava aos móveis e utensílios do ambiente, tornavam à conversa em voz alta.

Foi ficando mais tarde, eles foram ficando mais bêbedos. Então veio o enfermeiro (desculpem, mas garçom de bar de bêbedo é muito mais enfermeiro do que garçom).

Trouxe a nota, explicou direitinho por que era quanto era etc. etc., e, depois de conservar nos lábios aquele sorriso estático de todos os que ouvem espinafração de bêbedo e levam a coisa por conta das alcalinas, agradeceu a gorjeta, abriu a porta e deixou aquele cambaleante quarteto ganhar a rua.

Os quatro, ali no sereno, respiraram fundo, para limpar os pulmões da fumaça do bar e foram seguindo calçada abaixo, rumo a suas residências. Eram casados os quatro entornados que ali iam. Mas a bebida era muita para que qualquer um deles se preocupasse com a possibilidade de futuras espinafrações daquela que um dia — em plena clareza de seus atos — inscreveram como esposa naquele livrão negro que tem em todo cartório que se preze.

Afinal chegaram. Pararam em frente a uma casa e um deles, depois de errar várias vezes, conseguiu apertar o botão da campainha. Uma senhora sonolenta abriu a porta e foi logo entrando de sola.

— Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores completamente bêbedos, não é?

Foi aí que um dos bêbedos pediu:

— Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós quatro é o seu marido que os outros três querem ir para casa.
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Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
Fonte: O MELHOR DE STANISLAW - Crônicas Escolhidas - Seleção e organização de Valdemar Cavalcanti - Ilustrações de JAGUAR - 2.a edição - Rio - 1979 - Livraria José Olympio Editora.