terça-feira, 1 de maio de 2012

Mulher para o cotidiano

Quem pede conselho sobre mulher está — positivamente — pedindo um conselho inútil. Isto não foi descoberta nossa, embora tivéssemos chegado à mesma conclusão na segunda namorada (sempre fomos muito precoce).

A esta conclusão, em não sendo a pessoa completamente desligada da tomada, é fácil de se chegar, como é fácil descobrir com o tempo que existem mulheres que amam sem o menor sentimento de fidelidade, mulheres que são fiéis sem amar e, para complicar julgamentos, nenhuma mulher é igual com dois homens diferentes, nem nenhum homem ama igual duas mulheres. Assim, não sabemos por que tem gente que pede conselho sobre mulher. Mas o fato é que tem gente que pede.

Um distinto escreve para a coluna "Da Correspondência", mantida pelo brilhante colunista Stanislaw Ponte Preta, e não somente brilhante como também cheio de outras virtudes, pessoa que, por coincidência, é a mesma que ora escreve estas mal traçadas; um distinto escreve — repetimos — para pedir inteiro anonimato (embora coloque nome e endereço na carta, a título de confiança) e pedir também uma opinião sobre a mulher que ama, que é infiel e que — diz ele —, apesar disso, tem por ele muito amor.

Noutro dia, um outro contou a mesma história e na mesma base do "o que devo de fazer". Explicamos a ele que mulher que ama só trai por se sentir diminuída, por incerteza ou por não confiar em si mesma diante do seu amor. Logo, a traidora é muito mais coitada do que o traído.

Claro, existe muita sutileza envolvendo a questão e é preciso que o cavalheiro não seja burro para poder morar no assunto. Difícil dar conselho. Difícil e inútil.

Em todo caso, como o leitor pediu, não custa nada ajudar, contando esta historinha:

Ontem, quando descemos à garagem do prédio para tomar o carro, mal entramos no mesmo, notamos que o desgraçado não pegava. Por mais que apertássemos o arranque, este virava, virava e o carro neca.

O porteiro — um português com veleidades de mecânico — ajudou no que pôde. Levantamos o capo, puxamos fios, limpamos velas... e nada. Afinal, depois de quase duas horas de luta, o carro — sem maiores explicações — pegou.

Nem por isto ficamos menos aborrecido, pois o enguiço nos fez perder diversos compromissos.

Foi então que, para nos consolar, o português cocou a cabeça e sentenciou:

"É, doutor. Carro é pra quem tem dois."

Pois está aí, amigo. Use esta filosofia com mulher. Quando uma enguiçar, você vai na outra.

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Fonte: Tia Zulmira e Eu  - Stanislaw Ponte Preta - 6.ª edição - Ilustrado por Jaguar - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.

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