quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Suplício chinês

Era um hotelzinho pacato e que só recebia hós­pedes durante o verão. Clima de montanha, boa comida e muito sossego. Enfim, essas bossas.

Durante a maior parte do ano os cozinheiros ficavam dando peitada um no outro. Não tinham mesmo nada pra fazer!!! Cidade pequena, sabe como é? Igual a Cachoeirinha, onde nasceu Primo Altamirando. Diz ele que a popu­lação da cidade não aumenta porque sempre que nasce um filho... foge um pai.

Mas voltando ao hotelzinho: o velho escrivão do car­tório local, um cara solteiro e doido por mulher, morava lá e sua constante reclamação era justamente a falta de hospedagem feminina, para que ele pudesse praticar o salutar esporte da paquera.

Por longo tempo foi assim. O escrivão sendo o mora­dor mais antigo e fiel, ocupava o melhor quarto (o quarto nupcial, que hotelzinho mixa também tem dessas bestei­ras) e era tarado como um Pelé em Santos. Até que — um dia — um coronel político foi ao hotel e pediu um quarto para a filha. A mocinha — que era o que havia de mais redondinho e cor-de-rosa na região — ia casar e passaria a lua-de-mel ali.

Então foi feita a troca. O dono do hotel conseguiu convencer o escrivão de mudar de quarto e o pilantra topou logo, desde que ficasse num quarto ao lado. Lua-de-mel era o que mais incomodava o serventuário da justiça, porque ele ficava olhando o casalzinho na hora do jantar e, de noite, não tinha jeito de dormir: ficava acordado, imaginando coisas.

No dia do casamento o escrivão fechou o cartório mais cedo, mandou a justiça para o inferno e chegou no hotel antes da hora. Não quis conversa com ninguém e, quando não viu o casal na sala de jantar achou que os dois tinham comido no quarto. Alvoroçado que só bode no cercado das cabritas, subiu para seus aposentos provisó­rios e só reapareceu no saguão no dia seguinte, mais páli­do que o Conde Drácula.

— Mas o senhor não dormiu bem no outro quarto? O vizinho fez muito barulho? — perguntou o solícito gerente.

— Pois é... sabe como são essas coisas. Casal em lua-de-mel no quarto ao lado, sempre incomoda, né? A gente fica pensando besteira — insinuou o escrivão.

— Mas... — o gerente estava boquiaberto: — o casal não veio. O quarto estava vazio. Apareceu aqui um chinês com dor de dente. Eu botei o chinês lá — e acrescentou: Coitado do chinês, gemeu a noite toda.
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Por: Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).

Fonte: FEBEAPÁ 1: primeiro festival de besteira que assola o país / Stanislaw Ponte Preta; prefácio e ilustração de Jaguar. — 12. ed. — Rio de Janeiro; Civilização Brasileira, 1996.

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